quarta-feira, 2 de abril de 2014

Nunca mais vou te esquecer A história de Audrey, um Pioneiro.


A recordação é o perfume da alma. É a parte mais delicada e mais suave do coração, que se desprende para abraçar outro coração e segui-lo por toda a parte.

Nunca mais vou te esquecer
A história de Audrey, um Pioneiro.


                     Não gosto de contar histórias como esta. A tristeza existe, mas não devemos ficar presa a ela. Quem conheceu Andrey nunca pensou que ele fosse chegar aquele ponto. Um jovem cheio de alegrias, um sorriso que conquistava a todos, e uma vontade de ajudar e ser irmão fraterno deixou perplexo a todos que o conheceram. Nas sessões escoteiras que ele passou deixou saudades. Lembro quando ele entrou já com nove anos como lobinho. Parecia que estava sempre sorrindo. Na matilha azul todos o adoravam. A Akelá e os demais assistentes quando ele não ia às reuniões ficavam preocupados. Era amado por todos.
          
                    Na tropa foi a mesma coisa. Não podia ver alguém precisando de ajuda que lá ia ele para ajudar. O Chefe Nando no inicio não se incomodou, mas via que muitos estavam aproveitando de sua bondade. Nada que uma Corte de Honra não resolvesse. Audrey não só era bom Escoteiro como também um excelente aluno. Suas notas o deixavam sempre em primeiro ou segundo lugar na classe. Os professores diziam que ele iria longe. Quando fez quinze anos passou para os seniores. Nunca foi Monitor. Audrey tinha o escotismo no coração, mas não era líder. Sua maneira de liderar era com amor. Sua voz era baixa e nunca em tempo algum alguém o viu perder a paciência.
                  
                    Sua família não era rica, mas eram remediados. Seu pai trabalhava na Petrobrás e ficava em uma plataforma marítima por quase vinte dias. Depois retornava e ficava com a família mais quinze dias. Eram os dias de maior alegria para Audrey. Ele sua mãe e seu pai passeavam muito. Cinema, parques e várias vezes iam para o litoral nos fins de semana. Seu pai voltava para o trabalho e a casa ficava vazia. Os dias passavam as semanas, os meses e em pouco tempo Audrey fez dezoito anos. Pensou em dar um tempo na sua vida Escoteira, mas estavam formando um Clã Pioneiro e insistiram com ele para participar. Não eram muitos. Ele e mais seis. Destes tinham duas moças. Audrey já conhecia ambas dos seniores.

                     Devido aos afazeres profissionais e também a maioria dos pioneiros se preparando para os vestibular do fim de ano, faziam as reuniões aos sábados, entre sete da noite as nove. Muitos faltavam. Teve dias de apenas dois estarem presentes. Foi então que Lucio um pioneiro que fora escoteiro e só voltou após adulto chegou com seis novos pioneiros. Foi um dia que o Mestre Pioneiro Senhor Antônio não estava presente. Audrey não concordou muito com a entrada de vários assim. Nenhum deles tinha sido Escoteiro e sem o Mestre não deviam participar. Uma garota morena, cabelos curtos linda de nome Patrícia olhava insistente para Audrey. Isto até o deixou meio sem jeito. Não que nunca tivesse namorado, já namorou sim, mas por pouco tempo e não deu certo.

                     Audrey soube depois que participavam de um clube em um bairro bem visto pela sociedade e resolveram todos eles entrarem nos pioneiros, pois queriam fazer coisas diferentes. Que coisas diferentes? Audrey ficou cismado. Mas como tinha bom coração os recebeu de braços abertos. Patricia não saia de perto dele. Mesmo se mantendo respeitoso, pois Audrey tinha a Lei Escoteira como filosofia de vida, Patricia era totalmente diferente. Risonha, piadista, abraçava todo mundo e até o Mestre Pioneiro Senhor Antônio conversou com ele uma noite o alertando. Sabia que estavam todos preocupados com ele. No entanto os seis novatos não perdiam uma reunião. Um dia sem estarem devidamente preparados para a investidura lá estavam eles uniformizados. Ninguém contestou.

                     O pior aconteceu em uma viagem que fizeram a Monte Sião. Um novo Clã estava sendo formado e fizeram o convite ao Clã. Uma surpresa. Mais de quarenta pioneiros e pioneiras. Ninguém que tinha sido Escoteiro. Antes pertenciam a uma comunidade de jovens da igreja local e resolveram formar um Clã. Interessante, o Grupo foi fundado para eles, ainda não havia nenhum pedido para uma Alcatéia e uma tropa. Depois da cerimonia de Investidura uma surpresa. Os quarenta novos pioneiros tinham organizado uma Balada no clube da cidade. Uma tremenda festa. Muitos comes e bebes e o chope correu célere. Ninguém reclamou, pois se consideravam adultos e uma festa como aquela não era para se jogar fora. Patricia não largava Audrey e sempre com um copo de vinho ou outra bebida a mão fazia com que Audrey também bebesse. Um conjunto da cidade por sinal excelente abrilhantou com musicas atuais.

                     Lá pelas duas da manhã Audrey não se sentia bem. Não estava acostumado com bebida. Sentia-se zonzo, o estomago revirando, e Patricia dizendo para ele beber mais e mais. Já madrugada ela o arrastou até um local ermo e insistia em fazer amor ali com ele. Forçava Audrey a aceitar, ele insistia que não e ela insistia que sim. Beijos e abraços e ela dizendo que o amava que era sua paixão, que ele era homem ela mulher e tinham direitos. A bebida fez efeito em Audrey. A beijou e ela tirou suas roupas. Audrey mesmo tonto estava atônito. Nunca em tempo algum isto aconteceu com ele. Foi então que onde estavam foi iluminado por flashes. Vários dos amigos dela do clube tiravam foto e filmavam. Que vergonha! Mesmo bêbado Audrey não sabia o que fazer. Estava praticamente nu. Nunca pensou que isto fosse acontecer. Seus irmãos pioneiros do Grupo não o ajudaram e junto aos outros davam risadas de escarnio. Em tempo algum deram proteção e sim sorrisos maliciosos.

                    Audrey descobriu que tudo foi planejado por Patrícia. Uma aposta entre ela e seus amigos do clube. Ela apostou que em menos de dois meses ia colocá-lo em situação vexatória para provar que pioneiros não são diferentes. São iguais a todos os homens. Audrey não tinha e nunca teve ódio de ninguém, tentava odiá-la e não conseguia. Suas fotos foram parar na internet. Em sua cidade seus amigos não foram solidários. O grupo Escoteiro não escondeu sua decepção e resolveram lhe dar uma suspensão de um ano. Uma vergonha! Audrey não sabia onde se esconder na cidade. Sua vida foi virada ao avesso. E o pior ele amava realmente Patricia. Nunca pensou que ela fosse fazer isso.

                     Sua mãe e seu pai ficaram sabendo do acontecido. Acharam que ele nunca mais devia voltar ao grupo. Eles lhe viraram as costas. Quase onze anos participando e uma armadilha odiosa, agora do conhecimento de todos ele não devia nunca mais vestir o uniforme de Escoteiro. O que adiantou a promessa? O que adiantou a palavra fraternidade? Ele sabia que o assunto virou fofoca na cidade e alem disto ser suspenso? Audrey não sabia o que fazer. Deixou a barba crescer. Usava um chapéu esquisito achando que com isto escondia sua vergonha. Não conversava com ninguém. Uma dor tremenda por dentro. Traído por quem nutria um amor sincero, sem malicias, e ele mesmo com seu coração de ouro pensou em perdoá-la. Mas ela nunca mais o procurou. Um mês depois o Mestre Pioneiro o Senhor Antônio o procurou em sua casa. Junto com O Diretor Técnico e todos os pioneiros do Clã. A conversa foi franca e sem pieguice. O Clã tinha dado um ultimato ao Grupo Escoteiro. Audrey devia voltar. Sempre fora um Escoteiro padrão e hostilizá-lo daquela maneira era um absurdo. Se o Grupo não o aceitasse de volta todos do Clã pediriam demissão.

                       Seu pai foi contra. Achava que ele não tinha motivos para voltar. Foram contra ele. O ridicularizaram. Viraram as costas quando ele mais precisava. Sua mãe foi a favor, devia voltar cabeça erguida, quem não deve não teme. Não foi fácil para Audrey tomar uma decisão. Mas ele tomou. Voltou ao grupo. Olhava seu distintivo de promessa. Lembrava-se de tudo. Prometera ter honra, cumprir seu dever e ao seu modo tinha ajudado a todos que o procuravam ou não. O que diziam não era verdade. Ele tinha a consciência tranquila. Amava o escotismo. Com todo seu coração. Tinha de voltar.

                      Seis meses depois voltavam de uma atividade na Fazenda da Fortuna. Um ótimo local para acampamento e gentilmente cedida pelo seu proprietário aos escoteiros. Era um domingo. Quatro quilômetros a pé até o entroncamento onde pegariam o ônibus para a cidade. Ao chegarem ao trevo um automóvel em alta velocidade se desgovernou e bateu a toda em um caminhão tanque. Um estrondo se fez notar. Audrey correu até o automóvel. Tinha duas pessoas dentro. O motorista estava morto, a cabeça esmagada pela lataria do caminhão. Ao seu lado uma moça. Gemia de dor. Incrível, era Patricia. Desacordada. Todos gritaram para ele que se afastasse. O caminhão tanque começara a pegar fogo e a explosão era eminente. Audrey tirou sua faca. Com o cabo quebrou o vidro. Sozinho arrastou patrícia até um lugar seguro.

                        O socorro dos bombeiros não demorou. A explosão aconteceu. Parecia uma bomba de alto teor explodindo. Eles estavam em lugar seguro. Patricia foi socorrida. Levada ao hospital. Dois dias depois ele foi visita-la. Estava inconsciente. Seus pais o abraçaram e agradeceram pelo gesto. Pediram perdão pelo que ela lhe fizera. Ficou sabendo que ela poderia ficar paralitica. Talvez perdesse a voz e a memória. Audrey deu a mão aos seus pais. Vamos rezar só Deus sabe o que deve ser. Que seja feita sua vontade.

                       Cinco meses depois estavam em reunião de sede. Era o dia que Audrey ia receber a Insígnia de BP. Ele se sentia outro homem. Alem desta comenda tão importante sua alegria era maior. Passara no vestibular de medicina. Seu sonho. Sempre querendo ajudar. Uma surpresa – Patrícia adentrou na sala em uma cadeira de rodas. Levantou com tremenda dificuldade. Caminhou até ele. Ajoelhou e pediu perdão. Uma cena comovente. Inolvidável. Todos ficaram com lágrimas nos olhos. Audrey a abraçou. A beijou ternamente no rosto. Uma palma Escoteira explodiu. Os pais de Patricia também estavam lá. Os pais de Audrey também. Ninguém poderia esconder a alegria que sentiam.

                        Audrey passou a visitar patrícia. Ela andava com dificuldade. Não era mais aquela moça arrogante do passado. Precisava ainda de ajuda em quase tudo que fazia. Pediu a Audrey para aceita-la de novo nos pioneiros. Sabia que não poderia fazer tudo que eles faziam, mas um dia ela iria conseguir acompanhar. O Clã ficou em duvida. Audrey insistiu. Foi aceita. Passaram a sair juntos. Audrey voltou a sentir o amor e a paixão de antes. Cinco anos depois Audrey foi fazer residência em um hospital da capital. Ia sempre a sua cidade visitar Patricia. Ela aos poucos já andava sem ajuda.

                       Casaram-se logo após Audrey abrir seu consultório médico na periferia da cidade. Pretendia se dedicar aos pobres. Patricia o apoiou. E sempre estava lá. Como enfermeira ajudava. Não era mais Pioneiro. Agora era um Chefe de Tropa Sênior. Patricia ria com seu novo uniforme, pois foi convidada a ser Assistente dos Lobinhos. O Doutor Audrey foi feliz para sempre com patrícia. Tiveram dois filhos. Rita e Lovegildo. Sua bondade foi reconhecida em toda a cidade. Quando se falava em escoteiros todos se lembravam dele. Ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião. Um lema de escoteiros para ser lembrando para sempre!                       

“Só nos recordamos verdadeiramente daquilo que nos era destinado. A memória não lê as cartas alheias”.
Ekelund Vilhelm


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