quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O lobisomem de Onda Verde e o valente Escoteiro Pedrito.



A história é a verdade que se deforma, a lenda é a falsidade que se encarna.

O lobisomem de Onda Verde e o valente Escoteiro Pedrito.

            Debora Bottcher uma poetiza sintetizou de uma maneira estupenda como seria as lendas que correm pelo mundo. Ela tem um poema lindo, que parte dele diz: - “Sou lenda, porque a lendas correm livres junto ao vento, buscando as vozes da memória para que alcancem as histórias perdidas no tempo”. Não que Pedrito o cozinheiro da Patrulha Coruja fosse o “faloreiro”, ou melhor, um garganta na cidade de Onda Verde. Afinal Onda Verde no interior de São Paulo era considerada uma cidade com o melhor ar do mundo. Onde se podia sentir o aroma das flores, onde se podia ver a relva verde como se fosse uma onda espalhada sem mar. Calma, pacífica, menos de vinte mil habitantes era um paraíso para os que nasceram lá. Mas o Escoteiro Pedrito nascido e criado lá não era fácil. Contava “patacas”, valentias e até criava histórias impossíveis, e que ele sempre era o herói. Seu Chefe de tropa sempre disse a ele do primeiro artigo da lei. Uma só palavra. – Pedrito deixa de ser garganta! Dizia sempre. Ainda bem que todos sabiam que sua imaginação era fértil, e compreendiam.
   
            Mas eis que um fato aconteceu e tudo mudou de repente. Um boato surgiu do nada e serviu de motivo para que todos habitantes não saíssem à noite. Contava-se a boca pequena que alguns moradores juraram ter visto um lobisomem rondando a cidade na ultima semana. Até os escoteiros que tinham o costume de ir às sede a noite na Rua Garça ficaram com medo e só saiam em patrulhas e nunca sozinhos. Sempre tinha os mais entendidos que diziam que o perigo era só nas noites de lua cheia e em uma encruzilhada. “Aí então era um Deus nos acuda” O monstro passava a atacar animais e se não tivesse atacava os homens ou as mulheres. Diziam que ele adorava sangue humano. Só volta ao normal quando vem o raiar do sol.

            Naquela quinta a lua era quarto crescente. Na sede da Rua Garça todas as patrulhas estavam reunidas com o Chefe Naldinho e o Assistente Renato. Lá estavam os águias, os corujas, os touros e os elefantes. Ninguém faltou. Sabiam do grande jogo e ninguém queria perder. Seria uma “Busca ao Tesouro Perdido” na cidade. Achavam que seria um jogo estupendo. Seis pistas espalhadas pelos quatro cantos de Onda Verde. A primeira seria uma espécie de carta prego. Cada Patrulha deveria abrir em determinada hora em um ponto da cidade. O que não estava agradando a todos era o horário do jogo. O Chefe tinha determinado que fosse de seis da tarde às dez da noite. Assim ele disse o jogo seria mais difícil e para encontrá-lo seria preciso olhos de coruja. Claro os Corujas também não ficaram muito animados. A conversa de esquina do lobisomem amedrontava a todos. Menos Pedrito.

           Para mostrar coragem ele dizia que ia achar o tesouro e “caçar” o lobisomem. Mostrava os braços estendidos fazendo pose de como ia derrubar o Lobisomem com um soco somente. No meio da testa. A Patrulha se reuniu para discutir sobre o jogo. Mas Lavério um Escoteiro antigo entrou com o assunto do lobisomem. Disse que fizera uma pesquisa sobre Lobisomens e que ele se originou de uma lenda antiga. Segunda a lenda, o lobisomem seria o sétimo filho após uma sequência de filhas mulheres. Ele seria um homem normal, que se transforma em meio lobo meio homem durante as noites de lua cheia. A lenda dizia que as Quartas feiras de cinzas e a Sexta feira santa seriam os dias mais propícios para o aparecimento do lobisomem. Quando ele aparece para se saciar de sangue humano, dizia Lavério.

          Todos deveriam tomar cuidado, continuou Lavério, quando os cães ficassem agitados, não parassem de latir, pois eles poderiam ter avistado o Cachorro grande que nada mais nada menos seria o lobisomem. A Patrulha ficou muda. Ninguém dizia nada. Pedrito logo se levantou. Se ele aparecer me chame, dou um jeito nele! Todos riram. Naquela noite foram para casa juntos. O ultimo a chegar seria Pedrito. Quando Nando ficou na casa dele ele sozinho, começou a ficar com medo. Agora sem ninguém na esquina da Peçanha ele pensava se topasse com o Lobisomem. Nem pensar! Que Deus me ajude! Saiu correndo virou a próxima esquina e entrou em sua casa espavorido.

           Os dias foram passando. A Patrulha se encontrando e se preparando para o grande jogo. Na sexta feira seria entregue aos Monitores uma carta prego dando a primeira pista. Sabiam que no envelope só estaria escrito o local e o horário aonde eles os Corujas deveriam abrir. As instruções só quando abrissem. Conheciam as cartas prego. Não era segredo, mas ninguém sabia como era a primeira pista. Naquele dia era noite de lua cheia. Não ficaram na sede até tarde como era costume. Só comentaram sobre a carta que tinham recebido e “diabos” o local para abrir seria na Rua Balalaica, em frente ao portão do cemitério! Caramba! Pedrito não gostava dali. Claro seria às seis da tarde, mas mesmo assim ele não gostava do cemitério. Jurava ter visto um dia uma alma do outro mundo voando baixo em cima das catacumbas.

               Pedrito naquela noite não pensava em assombração, capetas, ou mesmo o tal lobisomem que por sinal estava sendo esquecido por toda a cidade. Assoviava baixinho uma linda canção Escoteira que aprendera no último acampamento e pensava como seriam lindo as montanhas e lagos existentes na canção. Disseram que assim cantavam os caçadores de peles daquele país, no passado, quando não conseguiam caçar nada e voltavam em seus caiaques cantando tristonhos e saudosos de suas famílias que há tempos não viam. Ao virar a esquina da Rua do Papagaio, viu um vulto correndo em direção ao Matadouro do seu Luizão. Para dizer a verdade em outras épocas Pedrito teria corrido sim em direção a sua casa, mas, como estava sem histórias para contar, resolveu correr atrás do vulto. Nem olhou para trás e quando olhou era tarde de mais.

                 Viu o vulto passar pelo matadouro e entrar no cemitério. Nove da noite ele começou a tremer e deu meia volta. Deu de cara com o Lobisomem. Enorme, parte de cima peluda, dentes enormes, olhos vermelhos chamejantes, unhas dos pés e das mãos enormes. O bicho o pegou pelo lenço Escoteiro e o levantou no ar. – Quem é você magrelo papudo? Perguntou. – Pedrito tremendo e já molhando sua calça curta respondeu chorando – Sou o Pedrito Senhor Lobisomem! – Pare de borrar de medo e seja homem! Falou o Lobisomem. – Mas sou um menino Senhor Lobisomem, bom Escoteiro da Patrulha Coruja, bom filho, bom aluno. Solte-me pelo amor de Deus! – O lobisomem chegou sua boca fedida no seu rosto e disse – Vou lhe dar uma mordida na orelha, se gostar vou tirar todo seu sangue, se não gostar quebro seu pescoço e o deixo ir embora! – Pedrito estava quase desmaiando de medo. Sem perceber quando o Lobisomem ia morder a sua orelha ele foi mais rápido. Deu uma dentada na orelha dele. O bicho berrou! Maldito disse. E o soltou levando a mão na orelha.

                Ninguém soube explicar, mas a Patrulha toda apareceu para ajudar Pedrito, estavam com seus bastões e o Lobisomem tentou correr e caiu na calçada bem em frente ao portão do cemitério. Ao cair a mascara de lobisomem se soltou e todos viram que era “Seu” Chulápio, o coveiro do cemitério. – Então é o Senhor o Lobisomem não “Seu” Chulápio, fingindo e assustando todo mundo. “Seu” Chulápio choramingando pediu pelo amor de Deus que não contassem para ninguém. Ele não tinha diversão nenhuma no cemitério. Nem mesmo uma alma do outro mundo ou um fantasma apareciam mais. Deixaram-no sozinho, pois tinha mais de seis meses que não morria ninguém na cidade.

                  A patrulha ficou com pena do “Seu” Chulápio. Prometeram não contar nada. Mas o Pedrito, ora, ora. O Pedrito contava para todo mundo da mordida que deu na orelha do Lobisomem. Todos riam e olhe, Pedrito fazia questão de passar em frente ao cemitério todas as noites de lua cheia. A cidade passou a admirar sua coragem. O Lobisomem apareceu outras vezes e não deixou de fazer alguns habitantes correrem feito loucos. Alguns juraram de pé junto que viram muitas vezes em noite de lua cheia, o Lobisomem abraçando Pedrito. Quem não gostou foi à mãe de Pedrito. Teve que dar muitas lavadas na calça de Pedrito. O jovem Escoteiro valente tinha “borrado” ela de tal maneira que quase teria sido melhor comprar uma nova.

                  Bem, deixa o Lobisomem para lá. O jogo da Caça ao Tesouro Perdido foi um sucesso. Melhor para Pedrito que junto a sua Patrulha acharam a sexta pista fácil. Claro, com a ajuda do “Seu” Chulápio que viu o Chefe colocando o tesouro no Mausoléu da família Crispim. Ninguém soube da ajuda e nem Pedrito contou para ninguém. O Tesouro? Oito canivetes suíços. Lindos. Valeu. Certo ou errado, Pedrito era um bom escoteiro. E como caçador de Lobisomens e Vampiros sua fama correu mundo. Mundo? Claro, mundo de Onda Verde, a cidade que ele viveu e morreu amando para sempre.

E quem quiser que conte outra...
       
Sou Lenda, 
porque as lendas são envoltas em Mistérios e Magias.
São uma criação dos caminhos da mente, da vaga imaginação da liberação dos silêncios da alma...





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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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