sábado, 15 de novembro de 2014

A grande festa de Lagoa dos Açores. O Escoteiro Chefe lusitano vai chegar!


Lendas Escoteiras.
A grande festa de Lagoa dos Açores.
O Escoteiro Chefe lusitano vai chegar!

                        Dizem e me garantiram ser verdade que esta história aconteceu em uma cidade do sul. Cidade pequena, pessoas bem intencionadas e belos grupos escoteiros. A boataria dizia que Lagoa dos Açores iria receber a visita do Escoteiro Chefe de Portugal. Foi à conta. Preparam uma festança. Comissão de recepção, comissão do baile e a maioria dos chefes fizeram uniformes novos.  Dona Flancácia e Dona Bucycleide corriam de casa em casa contando a novidade e pedindo donativos para a festança. Dona Pamonia e dona Naninha enfeitavam ruas e avenidas. O Senhor Tomenodes da Vendinha dissera que ele era duque. Descendente do Marques de Pombal. Doutor Macbeti o prefeito se reuniu-se com o Delegado Pancrácio, Doutor Jacumé o Juiz e os chefes dos Grupos Escoteiros. Ali todos eram amigos. UEB, FET, AEBP, Bandeirantes, Escoteiros Florestais. Todos amigos, ali não havia divergências. Don Panchito das Torres Altas o fundador da cidade devia estar orgulhoso.

                         Dizem que festa como esta só quando Lagoa dos Açores recebeu a Ferrovia e a presença do Presidente da Republica Doutor Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca. Quando a Jamiloca a primeira locomotiva chegou soltaram foguetes, banda de música ouve desfile dos estudantes e dos Escoteiros. Uma comidaria sem precedentes que durou três dias. Seu Samuel Ramalho Ramires Ramos, o mais antigo padeiro de Lagoa dos Açores dava risadas o dia inteiro. – Um patrício! Graças a Deus! Se  for um Duque vou dar a ele uma corrente de ouro de São Fidelis. Chefe Micaleide Soraia convidou os chefes de todos os grupos escoteiros para uma reunião. A reunião no Theatro Municipal foi perfeita. Todos discutiram a programação e a recepção ao Duque Escoteiro Chefe de Portugal. As bandeirantes prepararam bandeirolas vermelha verde, amarelo, azul branco e preto. O Professor Arquimomedes disse ser as cores de Portugal.

               Piquitito Modinha era um escroque. Varias vezes foi preso por enganar os outros. No fundo não era um mau sujeito. Afinal seus pais foram os maiores fraudadores e vigaristas que o estado conheceu. Dizem que até hoje estão no xilindró na Ilha de Alcatraz. Isto mesmo. Piquitito Modinha nunca matou ninguém, mas adorava passar a pernas em quem pudesse. Afinal enquanto houver idiotas São Jorge não anda a pé ele dizia. Foi preso muitas vezes, mas sempre era solto. Piquitito Modinha cortava o cabelo quando viu em um jornal na barbearia que Lagoa dos Açores iria receber um príncipe. Era o Escoteiro Chefe Dom Manuel Pero Vaz de Caminha de Portugal. O maior Escoteiro Chefe de todos os tempos! Minino! Meu Deus! Pensou Piquitito Modinha. Desta vez vou enricar mesmo. Olhou no espelho da barbearia, sorriu e disse: Piquitito Modinha você é bom cara, muito bom! - Cacilda! Desta vai vou acender charuto com nota de cem! Bolou um plano. Ficou dias pensando. Prá dar certo tenho de fazer um uniforme, mas eles lá da terrinha usam outro. Melhor fazer igual o deles. Calça marrom, sapato preto, camisa marrom clara e um chapéu. Não vai ser mole. Mas tenho tempo. Procurou Praquitinha sua noiva. - Me empresta um dinheiro? Vais receber em dobro. Praquitinha sabia que não ia receber nada de volta mais ela gostava de Piquitito. Não ia negar.

                  Enviou um telegrama para Seu Samuel Ramalho Ramires Ramos da padaria dizendo o dia e a hora que ia chegar. Cilene Maria era lobinha. Quieta. Quase não falava. Adorava os lobinhos e era da Matilha Azul. Quando iam acantonar ela ficava encantada com as árvores, com a grama, com os lagos e riachos de águas frias e gostosas. Adorava ver  por e o nascer do sol. Conhecia uma por uma as constelações no céu. Naquele sábado a Akelá Juely comentou sobre a honra que todos teriam em conhecer o Escoteiro Chefe de Portugal. Contou para os lobos que ele lá em Portugal ele era querido, todos faziam continência, era carregado quando visitava os grupos escoteiros, enfim era um Escoteiro inigualável.                Cilene Maria ficou desconfiada. Sua mente rebuscava na memoria todos os livros escoteiros que lera. Sabia que havia não só uma, mas três associações escoteiras em Portugal. De qual ele representava? Viu o nome dele. Enorme, isto hoje em dia não mais existe. Conde com Duque, com infante, com príncipe regente que só Dom Pedro II foi quando seu pai voltou para Portugal. Não estava certo. Muita coisa errada. Soube que ele o Escoteiro Chefe mandou varias fotos de Baden Powell que ele chamava de Lordi Badi Pawell. Ele era analfabeto? Era de um homem magrelo, novo, cabelo preto, e uma das fotos sorrindo. Era banguelo. Faltava dois dentes na frente. Aquele não era e nunca foi Lord Baden Powell.

                 Cilene Maria procurou a Akelá Barafunda e comentou. Não adiantou. Falou com o Chefe Micaleide Mosquiteiro Soraia. Ele também duvidou. Ninguém acreditava nela Ela sabia que o talzinho que se fazia passar por Escoteiro Chefe era um enganador. Procurou então o Seu Samuel Ramalho Ramires Ramos da padaria. Ele a ouviu calmamente pensando. Também tinha duvidado do primeiro telegrama. Disse a Cilene Maria que ia investigar. Passou um telegrama para seu irmão em Coimbra e pediu que investigasse. Cinco dias mais tarde chegou à resposta. Chamou Cilene Maria e mostrou o que seu irmão escreveu. Ela também havia investigado a foto do tal Lordi Badi Pawell. Agora era armar um plano. O delegado entrou no meio. O dia chegou!

                      O Trem serpenteava na beira do Rio Luar do Sertão. Uma fumaceira danada na chaminé anunciava a modernidade. Berlamino o maquinista sabia que uma alta “otoridade” estava viajando no seu trem. Piquitito Modinha viajava de Primeira Classe. Com seu uniforme de Escoteiro lusitano e seu chapéu que custou uma nota. Mandou fazer um lindo lenço dourado. Amarelo, verde e um pouco de azul. Comprou um anel grande de brilhantes para prender o lenço. Na mala alguns presentes que conseguiu comprar nas mãos do Caixeiro Paraguaise.                         Quando atravessaram à ponte do Rio Luar do Sertão ele viu pela janela a cidade. Riu de leve. Depois riu mais. Agora gargalhava. Disse para sí baixinho – Piquitito Modinha, você é brilhante. Será o maior golpe de todos os tempos. Desta vez tu vais encher as burras de dinheiro. Praquitinha sua noiva pensava quando ele voltasse. Iria visitar a “horopa” com ela. Ela ia ver a Torri efailde. O Arco do Truque. Contaram para ele maravilhas do tal Palácio das Vertentes. Iria mostrar para ela o Bigue Bende. E depois nas Américas ela ia ver a Estatueta qui liberta tamem. Eles iriam falar gringo, falar françoá, ingreis. Seriam recebidos por reis e rainhas e quem sabe teriam um tituro de pobresa? Já pensou? - Lord Duque Piquitito Modinha? Misse Duquesa de Orleanas dona Praquitinha Castiana? E assim ele sonhava. O trem apitando. A cidade chegando. Ele sorrindo de oreia a orêia.

                Olhou pela janela, a estação apinhada de gente. Uma escoteirada sem tamanho. Todo mundo ali para vê-lo. O trem parou. Silêncio. E a Banda que pediu? Pegou sua mala, desceu. Ninguém bateu palma. Cacilda, o que houve? Onde eu errei? Meu uniforme está impecável aprendi a fazer o nó de escoita e barso pelo seilo. Até sei fazer a saudação deles e eles estão me olhando deste jeito? Uma mão bateu em seu ombro. – Olá Piquitito Modinha. Quanto tempo eim? Meu Deus! Era a voz do delegado Caroço de Manga! Uma longa salva de palmas. O delegado agradeceu. Colocou as algemas em Pitito Modinha. Entraram de novo no trem. Uma vaia sem tamanho.


                   Por muitos anos Piquitito Modinha foi cantado em prosa e verso em todos os fogos de conselhos que a cidade conheceu. Cilene Maria recebeu todas as honras possíveis. Não só do Grupo Escoteiro, mas de toda a cidade. Ela dizia que não tinha feito mais que sua obrigação, era lobinha, mas não dizem que os escoteiros estão Sempre Alerta e os lobinhos abrem os olhos e os ouvidos? Alguém disse para ela - Parabéns Cilene! Valeu! São assim os Escoteiros. Eles sempre estão Sempre alerta vivendo a lei e a promessa que um dia fizeram.  Nunca mais esqueci de  Pitito Modinha. Sei que até hoje está preso em Alcatraz e dizem que quando for solto vai aprontar de novo. Que o diga Praquitinha que o esperava todos os dias na porta da Cadeia. Seus sonhos de condessa acabou. Disseram-me que esperou por muitos e muitos anos a soltura de Piquitito Modinha. Um Escoteiro Chefe que nunca foi.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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