sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Ashanti, uma pioneira no Rio da Esperança.


Lendas Escoteiras.
Ashanti, uma pioneira no Rio da Esperança.

      A chalana seguia seu curso rio abaixo. Dos dois lados mata fechada. Já tínhamos passado por dezenas de igarapés. As barrancas mostravam a cheia do ano passado. O rio Madeira ali não era majestoso, dizem que ele tem mais de 2.500 quilômetros de extensão. Dizem ainda ser o maior afluente do rio Amazonas. Diziam também que se chamava Cuyari, assim conhecido pela grande nação dos Tupinambás a muitos e muitos anos atrás. Meu nome é Ashanti e sou uma pioneira. Com mais alguns pioneiros estávamos fazendo a aventura de nossas vidas. - Dois dias haviam se passado desde a saída de Humaitá (terra da Mangaba) no norte do Pará. Passamos pela BR-319 que liga Porto "Velho" a Manaus. Bem próximo, a Usina hidroelétrica do Jirau parecia que não ia sair do papel nunca. Um conflito entre o sagrado e profano. Ninguém sabia mais se ali era a Cachoeira do Padre ou o Caldeirão do Inferno. Mas essa é outra historia. O comandante do barco, o Velho Mestre Antoninho das Mercês se tornou um grande amigo.

          Eu me divertia com as pequenas vilas ribeirinhas antes de chegar a Santarém. Trata-Sério Macacos e Ilha Teotônio. Em Santarém pretendíamos ver se conseguiríamos um vôo da Força Aérea Brasileira até Cuiabá ou São Paulo. Não foi difícil um tenente que fora Escoteiro se prontificou a nos ajudar. No inicio foi uma viagem encantadora. Ver a floresta Amazônica era um grande espetáculo. Ashanti foi um apelido que eu ganhei de Leo um pioneiro amigo. Meu nome era Loreta Montes. Gostava do apelido, pois já tinha lido a história. Os Ashanti Foram muito influentes na colonização europeia. Éramos doze pioneiros, mas frequente menos de seis. Clãs nem sempre temos todos. Faculdade trabalho cada um estava em busca do seu futuro. Uma curva forte e todos sentiram uma batida forte e um estrondo. O barco adernou e boa parte ficou submersa.


        - Quando o barco adernou e fui para dentro do rio contava Ashanti. Em minutos parte dele ficou submersa. A sorte era que todos os pioneiros estavam juntos no convés. Nadaram até a margem e voltaram para procurar sobreviventes. Graças a Deus todos se salvaram. - A noite chegou e com ela o frio. Na margem a floresta escura não tínhamos como ver nada. Leo organizou tudo. Uma fogueira, secar as roupas de todos. Perguntei ao mestre Antoninho se conseguiu mandar o S.O. S. a capitania. Disse que não, mas que no dia seguinte com o atraso viriam procurar. Ashanti gostava do Leo. Uma paixão escondida. Ele era um verdadeiro líder. Contava para nós histórias fantásticas quando foi Escoteiro e sênior. Chefe Bartilio e Chefe Edna eram os mestres pioneiros. Marido e mulher, mas não entendiam quase nada de pioneirismo. Leo quando fez a investidura, deu um novo ânimo ao Clã. Passou a entusiasmar a todos, criou atividades diferentes. As atividades depois de sua chegada mudaram por completo. A última no pico do Itatiaia valeu por tudo. O fogo foi aceso na Alguém achou um isqueiro.

           - Éramos mais de quarenta passageiros. Alguns conseguiram dormir outros não. O dia amanheceu. Lindo, um sol maravilhoso. Mestre Antoninho calculou que lá pelas duas ou três horas deveria chegar ajuda. Parentes e encarregados dos portos onde o barco devia apoitar deveriam estar preocupados e avisariam a capitania. Dito e feito, antes das duas o barco patrulha da marinha e um da capitania, surgiram na curva do rio. Pela manhã alguns pioneiros mergulharam em busca de nossas mochilas e das malas e sacolas dos passageiros. Com fome embarcamos no barco da Capitania. Não tínhamos comido nada. No barco nos ofereceram um lanche. Chegamos a Santarém a noitinha. Eu sinceramente amava o Leo. Ele era meu ídolo no Clã. Tinha uma namorada que não se interessava em ser pioneira e ele bondoso compreendia. Era difícil ficar ao lado dele sem ter esperança.

                Ele a levava em muitas atividades, ela sempre com olhar de enfado. Tinha um ciúme doentio quando ele estava conosco. Em Santarém a  Capitania nos ofereceu hospedagem em quartos até razoáveis. Não saímos pela cidade. Permanecemos ali, pois o sono era enorme. Aproveitamos para telefonar aos nossos familiares. A noticia do naufrágio já era do domínio público. No dia seguinte eu e o Léo ficamos conversando muito tempo sobre um lindo céu estrelado. Dizia que iria terminar o namoro. Eu não disse nada.  Fui dormir pensando no Leo. Sonhei com ele um sonho de amor. Pela manhã fomos ao aeroporto. Demos sorte, um capitão da aeronáutica tinha sido escoteiro e conseguiu um vôo para São Paulo às duas da tarde. A viagem tranquila logo se transformou em um inferno. O comandante pediu para colocar o cinto e ficar em posição abaixada. Tremi de medo. Rezei muito. Olhei para o Leo e os demais. Ficamos assustados. Um tenente disse para ficarmos calmos, pois iram fazer um pouso de emergência. A pista encontrada cheia de buracos, feito pelo exercito com dinamite para que aviões de contrabandistas não usassem. Descemos. Uma pancada forte, fortíssima. O avião rodopiou e se partiu ao meio. Leo foi jogado a grande distancia preso à poltrona. Mais ninguém teve ferimentos graves. Corremos até lá. Leo tinha um corte profundo na perna e outro no couro cabeludo. Muito sangue.

     Um dos tripulantes era medico. Fez ali os primeiros socorros. Senti uma pontada enorme no coração. Não podia perder o Leo. Nada foi planejado assim. Fiquei ao lado dele o tempo todo. Não demorou um helicóptero da FAB chegou. Levou-nos todos até Belém do Pará. Tivemos que ficar mais cinco dias lá. Léo recuperava bem e deu para retornarmos a nossa cidade. A vida voltou ao normal em nossas vidas e no clã. Foi então que tive uma bela surpresa. No final da reunião ele me procurou e convidou para um cinema. Meu coração explodiu. Ele me disse que tinha terminado tudo. Descobrira que me amava. Incrível! Tudo que eu queria e sonhava. Nosso namoro era lindo. No Clã todos se regozijavam.

    Ficamos juntos no Clã até os vinte e um anos. Léo se formou em Engenharia mecatrônica. Recebeu uma proposta de um conglomerado de Hospitais sediados em Boston, nos Estados Unidos. Pediu-me em casamento. Queria que eu fosse com ele. Não titubeei um minuto. Meus pais acharam que eu devia me formar. Meu coração bateu mais forte. Em Boston moramos em uma bela casinha. Vi diversas vezes jovens da Boy Scouts, mas não senti atração em participar com eles. Quem sabe aqui temos entre nós escoteiros aquele carinho, aquele sorriso franco. Faz oito anos que estou aqui. Sempre relembro com saudades os belos momentos da minha vida escoteira. Meu antigo Clã não sai nunca da minha mente. Meus amigos também. Aquela aventura no Rio Madeira ficou gravada em minha memória para sempre. Não o chamo de Madeira, para mim é o Rio da Esperança. Foi ali que minha vida mudou. Quando conto isso para amigos que temos aqui, eles não acreditam.


                A esperança é a maior e a mais difícil vitória que a gente pode ter sobre a alma. Ela existe, está sempre fincada em nosso pensamento. Antes eu dizia que a esperança poderia alterar qualquer coisa. Claro, no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro. Seria isso mesmo? Sei o que é absoluto porque existo e sou relativa. Minha ignorância é realmente a minha esperança: não sei adjetivar. Olhando para o céu fico tonta de mim mesma. Tenho dois filhos lindos, são a minha vida. Sempre conto para eles a noite, deitada no tapete azul da sala que chamo de Rio Esperança, em frente à lareira, tudo que senti, vi e aconteceu comigo no escotismo. Eles me olham de maneira enigmática. Não entendem nada do que eu falo. Afinal um tem quatro e o outro cinco anos. Mas olho para eles, sorrio, e digo: - Meus filhos nunca percam a esperança. E então me lembro do poeta Fernando Pessoa, que dizia: - Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida. Amo o escotismo. Sempre amei e nunca irei esquecer os momentos felizes que lá passei no meu Clã...

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