sábado, 6 de dezembro de 2014

Muitas saudades do Chefe Gerônimo, muitas...


Lendas Escoteiras.
Muitas saudades do Chefe Gerônimo, muitas...

            Naquela campa sombria a tarde caia mansamente. O sol não disse adeus e partiu em silêncio sabendo que ia voltar sempre. Meus amigos escoteiros também se foram. Eu não conseguia sair dali. Eu sabia que a alma do Chefe Gerônimo já tinha ido para o céu. Eu sabia que ele estava com seus amigos e sabia que ele nunca iria ficar ali para sempre. Mesmo assim, mesmo sabendo que existe vida depois da morte eu não conseguia aceitar aquela partida. Era difícil para mim, pois nunca amei meu pai como amava o Chefe Gerônimo. Sua partida fora para mim um choque brusco, um adeus que não acreditava, ele eu sempre pensei que nunca poderia morrer. Que morressem todos, menos ele. Eu sempre tive seu sorriso, sua força, sua coragem suas belas palavras preso em meu coração. Queria ser como ele, pois era meu herói, meu pai que nunca tive minha mãe que também se fora sem me dizerem adeus. Agora ele? Estava perdendo um a um aqueles que amava.

           Nazareno veio me buscar. – Lone, você tem que ir comigo. Você não pode ficar aqui para sempre. Aceite meu amigo a partida dele. Ele se foi e nada o fará voltar de novo. Ele falava e meu coração sangrava. Eu não o ouvia. Eu só ouvia a voz do meu Chefe, daquele que foi meu guia e me abandou partindo para o céu. Eu sabia que por baixo daquela terra fofa ele dormia naquele esquife frio, sem a brisa do campo que ele tanto gostava, sem poder ver o alvorecer de um novo dia no acampamento, sorrir como sempre sorriu nos fogos de conselho, estalar a língua e dizer para mim: Magnifico Lone, magnifico, pena que está sem sal. Ele dizia isto e ria a mais não poder. Agora ali sozinho, sem ninguém para abraçá-lo, sem ninguém para dizer a ele: - Chefe! Sábado aonde vamos? – Chefe! Precisamos voltar na Colina da Beija Flor. – Chefe! Por favor, não vá, volte eu preciso de você! Eu queria dizer a ele tantas coisas, dizer que se hoje sou alguém foi por causa dele. Queria dizer que eu não sabia ficar sozinho, que eu não podia rezar rir e sem ele só podia chorar! Porque a morte é tão cruel? Porque perdemos as pessoas que mais amamos? Porque Deus não me levou também?   

              Eu me lembrava de tantas coisas, minha mente era uma panela quente, como á agua límpida da bica do sol nascente, como se fosse no último acampamento que fizemos Na Serra dourada. O mundo para mim agora era um redemoinho com ele sempre  presente na minha mente. Lembro que um dia em um acampamento de monitores ele disse a todos nós em uma noite estrelada, um vento sul gostoso, milhões de vagalumes a voar naquela clareira da Mata do Falcão: - Gente precisamos aprender a sorrir, precisamos aprender a dar um abraço, precisamos sentir que todos nós somos irmãos. Um dia um de nós irá partir, mas a morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais. Palavra que não entendi, e ainda não entendo. Eu sei que ele ria e me olhava encarando: - Lone, quem não teme a vida não teme a morte! – Verdade? Mas você se foi meu Chefe, você me deixou aqui sozinho o que vai ser de mim? Nazareno passou o braço em meu ombro e me disse baixinho: - Lone, ele não está mais aqui, está junto de Deus, ele vai voltar sempre para nos iluminar o caminho. Falar o que? Responder o que para Nazareno? Eu estava engasgado, meus olhos molhados não secavam e eu achava que não ia secar nunca.

               Nazareno meu Monitor, tentou sorrir e não conseguiu. Meu lenço me apertava e me sentia mal naquele uniforme que um dia foi tudo para mim e hoje nem sei mais o que ele é. Tudo aconteceu ontem, cheguei em casa da minha tia onde morava e ela me disse – O Chefe Gerônimo morreu! – Não acreditei um susto sim eu levei. – Tia não brinque comigo. Mas era verdade, ninguém sabia que seu coração já não era o mesmo. Porque ele não me disse? Por quê? Eu daria o meu coração para ele, era só pedir! – Menino de quinze anos nem sabe o que diz. Corri a casa dele e lá estava cheia de gente. Entrei suspirando e ele deitado na cama inerte. Dona Alzira preparava o caixão. Negro, horrendo. – Deus! Não deixe que ele fique ali, ali não é seu lugar. Os Escoteiros se abraçavam, todos sabiam que o nosso Chefe, o nosso líder havia partido. Pensei em partir daquela metrópole levado pela mão de Nazareno. Pedi a ele que me desse mais um tempo. Precisava rezar, não queria sair dali com ódio no coração pelos que lá no céu o chamaram sem deixar que ele nos desse adeus, um até logo.

                  Fiquei só, ajoelhei fechei meus olhos. Uma luz azul forte que machucava minha vista, eu vi o Chefe Gerônimo, de uniforme, impecável como sempre foi. Sorria para mim, colocou sua mão em cima da minha fronte e disse a mais bela mensagem que um dia ouvi. Lone não chore preste atenção no que disse Santo Agostinho. A morte não é nada, eu somente passei para o outro lado do caminho. Eu sou eu, você é você. O que eu era para você eu continuarem sendo. Dê-me o nome que você sempre me deu. Fale comigo como você sempre fez. Você continua vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do criador. Não utilize um tom solene ou triste, continue a rir daquilo que nos fazia rir juntos. Reze, sorria, pense em mim, reze por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi. Sem ênfase de nenhum tipo, sem nenhum traço de sombra ou tristeza. A vida significa tudo o que ela sempre significou o fio não foi cortado, porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho... Você meu amigo que aí ficou, siga em frente, a vida continua, linda e bela como sempre foi!

                E como ele tivesse montado em um cavalo alado partiu. Meus olhos molhados seguiam sua trilha no céu. Levantei e não chorei mais. Eu tinha de ser um homem como ele sempre quis que fosse. Voltei com Nazareno, calado a pensar que ele estava agora junto de Deus no céu. Sabia que iria demorar a aceitar sua partida, mas ela era uma realidade. Por muitos anos continuei Escoteiro. Um dia parti para longe em busca de sonhos que precisavam realizar. Até hoje as lembranças do Chefe Gerônimo permanecem. São lembranças boas, dos tempos que corríamos pelos campos, pelas campinas, em busca de um novo local de campo. Quantos foram? Muitos disto eu tenho certeza.  Muitas vezes ele me aparecia em sonhos sempre a dizer: - Saudade é uma dor que fere dois mundos. Eu sabia o que ele queria dizer.


             Todos temos medo da morte, rimos quando alguém nasce e choramos quando alguém parte. O importante é dizer para si próprio as belas palavras de um morador das estrelas: - Que eu jamais me esqueça que Deus me ama infinitamente, que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, pois... A vida é construída nos sonhos e concretizada no amor!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....