domingo, 4 de janeiro de 2015

Gilbert, um Escoteiro em busca da trilha dos elefantes.


Lendas Escoteiras.
Gilbert, um Escoteiro em busca da trilha dos elefantes.

                        Há muito queria contar esta história. Mas porque achei meio infantil e desconexa desisti. Hoje pensando pensei – Porque não? Lá vai então. – Nas minhas andanças por este enorme país eu fui parar em uma cidadezinha chamada Nova Matusalém. Isto mesmo. Este era o nome. Na pensão da Dona Esther eu fiquei sabendo de que a muitos e muitos anos existiu um Grupo escoteiro na cidade. – Porque acabou? Perguntei. – Não sei. Porque não vai até a pracinha? Olhe no banco que fica em frente à Matriz. Vai encontrar Narciso ele é um velhote gente boa. Ele gosta de conversar e foi Escoteiro naquela época. – Não me fiz de rogado. Adoro conversar com antigos chefes. Eles sempre têm histórias maravilhosas para contar. Almocei, tirei um cochilo e parti para a praça. Não havia erro, com seus 80 anos lá estava ele. Um belo sorriso, no ombro direito uma pombinha amarelada, no esquerdo um Pintassilgo e um Bem-te-vi.

                    Parei na sua frente e alegre eu lhe disse – Sempre Alerta chefe! Ele imediatamente ficou em pé e solenemente respondeu Sempre Alerta. – Sente-se aqui ao meu lado. Há tempos que não converso com um Escoteiro. Ficamos ali conversando até sete da noite. O convidei para comermos um peixe em um restaurante que diziam maravilhas. Aceitou. Um velhote e tanto. Educado, simples e gentil. Histórias e histórias foram contadas. Mas teve uma que me chamou atenção. Do Escoteiro Gilbert e seu Elefante-africano. – Aqui? Perguntei. Aqui mesmo e começou a contar a história.

                   - Gilbert era Escoteiro há pouco tempo. Eu estava nos seniores e quase não tínhamos contato. Fiquei sabendo que ele insistiu com a Patrulha para atravessarem a Mata dos Macacos Cinzentos. Jurou que do outro lado iriam encontrar uma manada de elefantes. Ninguém acreditou naquela história absurda. Nem pensar disseram. Era uma mata que ficava a mais de setenta quilômetros, atrás da Serra do Ouro Negro. Eu já tinha ouvido falar dela. Poucos se arriscavam a ir lá. Um nevoeiro denso cobria a mata. Disseram de muitos que entraram e desapareceram. Todos sabiam que do outro lado da mata ficava a cidade de Tarumim. Havia até um projeto de cortar a mata com uma estrada, mas devido à falta de verba o projeto foi adiado. Gilbert não desistia. Procurou-nos um sábado – Será uma aventura e tanto! Disse a todos os seniores. Eu sei o caminho. O vi em meus sonhos. Depois da mata vamos encontrar o Vale do Tigre e lá uma manada de elefantes. Lá também tem leões, girafas, hipopótamos uma fauna gigantesca que hoje nem na África se encontra. É lindo lá. Campinas verdejantes, árvores com copas redondas, cascatas e cachoeiras enormes!

                        Achamos graça de Gilbert. Ele implorou ao Chefe Cardinho, falou com a Akelá Laurita. Nada. Era um sonho louco. Inacreditável. Quem iria pensar em ir a um local de sonhos de um Escoteiro? Em uma segunda feira Gilbert não foi à escola. Seus pais foram alertados. Procuraram em todos os lugares e nada. Ele não era gazeteiro. Nunca foi. Era sim um ótimo aluno. Dois dias a procura de Gilbert. Nada. Natalino um boiadeiro disse ter visto um jovem de bicicleta rumando para a Mata dos Macacos Cinzentos. Chefe Cardinho, Moliere e os seniores estavam na sede naquela quinta preparando para partir em busca de Gilbert. Todos tinham muita experiência. Não sabiam o que iriam encontrar na mata. Mas a vida de um Escoteiro esteva em jogo e seus pais inconsoláveis.

                        Quando estavam saindo um belo susto. Impossível! Gilbert entrou montado em um enorme elefante branco, com duas enormes presas de marfim. Enormes orelhas mais de duas toneladas de peso. Ele ria. Batia palmas. No centro da sede o elefante com sua tromba o colocou no chão e ficou sentado em duas patas. A cidade em peso acorreu para ver. Os pais entre alegres e preocupados previam um castigo para ele. Fazer o que com o elefante? O delegado disse que na cidade próxima tinha um circo. Mandaria alguém lá e ver se interessariam. Gilbert gritou. - Não podem fazer isto! Pelo amor de Deus! – Seus pais o levaram para casa. Um sermão, e a proibição de sair do quarto por uma semana. Sem escoteiros por dois meses. A mãe o levaria a escola e o iria trazer. No dia seguinte o quarto vazio. Ele pulou a janela do segundo andar e sumiu. Correram na sede. O elefante também sumiu.

                          Natalino o boiadeiro contou que quando estava recolhendo uma vacada parida, o viu sentado em um elefante entrando na Mata dos Macacos Cinzentos. Gritaria. Onde este escoteiro estaria novamente! Um mês! Sim, um mês desaparecido. Passou todo setembro sem dar as caras. Muitos acharam que ele tinha morrido. Apareceu em um domingo de sol. Sorridente. Seus pais desistiram do castigo. Gilbert pediu que pudesse de tempos em tempos visitar seus amigos elefantes. Tinha levado uma máquina fotográfica. Varias fotos de animais que não existiam no Brasil. Não acreditavam nem nas fotos. Seus pais concordaram. Sabiam que ele iria fugir se o prendessem. Ficou famoso na Patrulha e no grupo. Todos o reverenciavam. Pediam para contar a história do Vale do Tigre. Ele sorria e nada dizia. – Como chegar lá? Ele sempre sorrindo e calado.

                         Quando fez dezoito anos despediu do seu pai e de sua mãe. Foi na reunião de tropa e abraçou a todos no Grupo Escoteiro. Disse que iria partir. Ia morar no Vale do Tigre para sempre. O Chefe, um soldado dos bombeiros e dois seniores o seguiram de longe. Viram-no entrando na mata. Entraram atrás. Uma enorme cachoeira. Nem sinal de Gilbert. Sumiu nas brumas que invadia a mata e nada conseguiam ver. Sei que a cada ano aparece. Montando sempre em um elefante. Abraça seus pais fica um ou dois dias e depois desaparece.


                        Olhei para Narciso. Ele sorria. Saímos do restaurante. Ele me acenou dizendo adeus. Na esquina vi que ele estava montado em um elefante branco. Corri até ele. Sumiu na curva da estrada. Verdade? Mentira? Não queria contar. Nunca mais voltei à Nova Matusalém. Nunca descobriram a terra maravilhosa do Vale do Tigre. Eu juro que é verdade. Gostaria mesmo de passar uma temporada naquele vale maravilhoso. Mas a vida não é como a gente quer. A vida é feita de sonhos e só quem sonha tem o direito de fazer o que quiser de sua vida!

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