domingo, 11 de janeiro de 2015

O destino de Naná que nunca foi Escoteira.


Lendas Escoteiras.
O destino de Naná que nunca foi Escoteira.

              Não vamos crucificar Naná, afinal com seus catorze anos se sentia como moça feita. Diziam que era namoradeira, passava em revista todos os jovens de sua idade ou mais do bairro onde morava. Todos diziam que ela gostava de usar saias curtinhas se pintava demais e outros tantos, e quando passava pela rua ninguém perdia o seu andar de modelo nota dez. As moçoilas há invejavam. Tinham um enorme ciúme por ela ser bonita e vistosa. Ela trazia a cobiça de muitos homens do lugar. Mas Naná não era assim como diziam, era bem diferente. Namorava sim, pois sempre procurou sua alma gêmea e nunca encontrou. Nunca deixou que alguém a tocasse. Seus namoros eram em casa e sempre quando sua mãe estava presente. Vestia-se como gostava e nunca seria uma Filha de Maria como muitas, que se cobrem da cabeça aos pés, mas que no escurinho haja lugar para se esconder com seus namorados. Mas a língua do povo todos sabem como é venenosa! Cruel! Que machuca fundo no coração, pois ninguém importava se ela ficaria triste se iria chorar ou sorrir. Problema dela, diziam.  

                    Todo mundo tem seu dia em que sua vida vai mudar para sempre. É só esperar e ele acontece. Faz parte do livre arbítrio onde podemos escolher nosso caminho para toda a vida. Naná soube por uma vizinha que uma Editora na Praça da Liberdade estava aceitando jovens escritores para um concurso que iria se realizar proximamente. Pegou o ônibus no terminal da Lapa. Vazio, escolheu o lugar para sentar. Juntou as folhas da história que tinha escrito poucas folhas não mais de que vinte. Ela poderia ser escolhida? Não sabia. Seu conto era simples, tipo a Gata Borralheira do século XXII. Ela gostava, o lia todos os dias. Eis que no ponto da Coriolano subiu diversas jovens escoteiras. Ela não as conhecia de perto. Já tinha visto seus uniformes, já tinha lido sobre elas, mas nunca se aprofundou o que era e como se faz escotismo. Elas sorriam, cantavam baixinho, sempre em grupo, e uma Chefe dos seus trinta anos que olhava para elas como se fossem suas filhas.

                    Naná se encantou com elas. Várias sorriram quando olharam para aquela menina, de sainha curta, muito batom e cabelos curtos bem penteados. – Você gosta assim? Perguntou uma delas. Naná não soube responder. Outras conversaram com ela e a aceitaram como ela estava sem criticas, sem olhares maldosos. Ao descer na Estação da Luz  ela ouviu a voz da Chefe – Mocinha quer ir conhecer os segredos da Estação da Luz conosco? – Porque não pensou Naná. – Para não se perder vais ficar na Patrulha Cisne Branco. Naná sorriu internamente. Que seria isto? Melhor aceitar, pois ela estava gostando das meninas. Nunca tinha feito amizades assim e as que tinha não podia confiar. Claro que tinha um objetivo, mas que podia ser adiado. Agora estava disposta a conhecer as Escoteiras e claro os segredos da Estação da Luz.

                  Foi o dia mais bonito na vida de Naná. Quando elas partiram deixando o endereço da sede seus olhos se encheram de lágrimas. A sede não era longe e nem perto. Tinha que tomar uma condução e a viagem seria de mais ou menos uma hora. Daria tudo para ser uma delas, pois sempre se considerou só, amigas que não se podia confiar e encontrou nas Escoteiras uma sinceridade nata, pois sempre diziam que a Escoteira é amiga de todos e irmãos dos demais Escoteiros. Lindo isto. Nunca pensou que alguém poderia dizer isto para ela. Os dias foram passando e Naná adiando conhecer a sede das Escoteiras. Veio o Natal, o ano novo e o carnaval. Naná nem se lembrava mais das Escoteiras e voltou a sua rotina. Uma tarde de maio o carteiro entregou uma correspondência. Ficou surpresa. Nunca tinha recebido uma a não ser os desaforados e-mails que as moçoilas do seu bairro enviava a ela.

                 - Naná, nunca esquecemos de você. Ficamos todas esperançosas de sua visita. Você não veio. Sabemos que isto acontece em muitos jovens. Nossa Chefe já dizia que nem todos nasceram para participar da tropa de Baden-Powell. Mas lembre-se nossas portas estão abertas sempre. Sua presença será para nós uma honra! – E agora? Naná não aguentou e chorou. Seu coração bateu forte. O que é isto meu Deus! Nunca ninguém disse ou escreveu para mim assim! Mostrou a carta para sua mãe. Ela a incentivou a visitar as escoteiras. Ela sabia que iria, sabia que elas com aquela cartinha a tinham conquistado. Foi a uma lan house perto de sua casa. Não tinham computador pois o dinheiro era escasso. Ficou horas lá pesquisando sobre escotismo. Muita coisa incompreensíveis para ela, mas adorou como elas aprendiam a viver a vida ao ar livre. Já tinha decidido. Seria uma Escoteira. E olhe seria para sempre. Preparou-se no sábado com um vestido simples mais comprido e não usou nenhuma maquiagem. Tinha um boné que ganhou de um americano e o colocou na cabeça. No ponto a espera do ônibus ela só tinha sonhos de como seria ser mais uma, agora pertencendo a uma grande fraternidade que diziam não ter fronteiras.


                   O ônibus não estava cheio. Sentou perto da porta. Quando ia dar a partida o motorista foi surpreendido por vários rapazes marginais encapuzados. Jogaram gasolina e botaram fogo. Não houve tempo para nada, o fogo se alastrou por todo o interior do ônibus. Naná tentou sair, mas a porta trazeira estava fechada. Na sua frente uma senhora com um filho pequeno no colo gritava. Tirou seu sapato e quebrou o vidro empurrando a filha da mulher pela janela e lá fora alguém o segurou. Ela e a mulher não conseguiram sair. Morreram queimadas em um ônibus, em uma tarde sonolenta de abril. O mundo continuava a existir. Em muitos lares o sorriso estava firme com as famílias que viviam um amor fraternal. Alguém a ajudou a sair do ônibus. Viu seu corpo lá fora e centenas de pessoas olhando o ônibus já com as chamas se apagando. Sentiu a pessoa que a abraçava e dizia – Vamos minha filha, não há mais nada a fazer aqui. Olhou bem e viu que esta pessoa estava com um uniforme de Escoteira. Subiu aos céus com ela. Seus olhos brilhantes não choravam mais, não sentia mais dores era como se ela estivesse protegida por alguém que sempre a amava muito. Passaram perto da lua, e escondido entre as estrelas ela chegou ao seu destino.              

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