sábado, 21 de março de 2015

Lamparina, um Monitor inesquecível.



Lendas Escoteiras.
Lamparina, um Monitor inesquecível.

                  Quantos monitores eu conheci em minha vida? Acho que centenas deles e olhe muitos foram meus amigos quando juntos convivemos em centenas de atividades Escoteiras. Lamparina eu nunca esqueci. Lembro-me quando passou para a tropa. Tinha corpo de um menino de doze ou treze anos. Forte. Não sei como vivia como lobinho. Pensei como ele seria com seu uniforme azul fazendo o Grande Uivo. Foi direto para a Patrulha Touro. Foi ele quem escolheu. Confidenciou-me que um touro era parecido com ele. Sempre olhando para frente e nunca desistindo de nada. Sabia de sua força por isto ser um Touro o fazia feliz. Todos sempre tiveram o máximo de respeito por ele. Maniento o Monitor do Touro não acreditou muito naquele menino metido a forte e sorridente. Foi logo chegando quando faziam uma reunião de patrulha dizendo: Monitor! No Acampamento do fim do mês na Cachoeira dos Macacos quero que dê para mim como função construir as pioneiras básicas do campo. Sozinho. Por favor! – Use os demais em outras funções!

                Quando Maniento contou para Sorridente seu Sub Monitor logo o boato se espalhou. Ninguém ria na sua presença. Sabiam que um empurrão dele era tombo na certa. Maniento não se fez de rogado. Disse para Canela e Porteira, os responsáveis pelas pioneirias de campo que iriam deixar Lamparina fazer o que queria. – Monitor! – Disse Porteira, mas ele é um lobinho o que sabe de pioneirias? Deixa prá lá. Vamos ver o que ele sabe e se quer ser metido que seja. Dá tempo para pescar e comer umas goiabas vermelhas no sítio do Seu Tomeu. Ficaram boquiabertos na volta. O danado do Lamparina tinha construído uma bela Mesa Tripé, o toldo estava esticado e montado, havia bancos em volta para todos e dois lugares para convidados. O Fogão suspenso e o lenheiro deixou Mosquito o cozinheiro estupefato. Perfeito! E com lenha para dois dias! E as fossas de líquido e detrito? Nunca viram iguais. Todas abrindo as tampas automaticamente com duas cordas esticadas. Cordas não, cipós!

                  Quando Pé de Cabra foi procurar um matinho para suas necessidades Lamparina gritou para ele: - Siga a seta! E não é que o novato fez uma privada perfeita? Daquele dia em diante Lamparina teve um enorme respeito da patrulha. Fazia questão de fazer bem feito. Seus nós, amarras e costuras de arremate eram de dar inveja. E com que facilidade ele usava um cipó, uma machadinha e um facão. A tropa ficou sabendo e muitos querendo aprender com Lamparina. E não ficou só nisto não. Tornou-se perito em orientação, lia mapas e croquis com facilidade, dominava com facilidade uma bússola Prismática ou a Silva. Em um acampamento construiu um relógio de sól. Até o Chefe veio ver e aplaudir. Era de uma criatividade incrível. O que fez de artimanhas e engenhocas deixavam todos perplexos.  Chefe Montserrat pensou vários dias o que fazer com o crescimento Escoteiro dele. Pelo que via bastava fazer a jornada e entregar a Primeira Classe. Mas como? Ele não tinha nem a segunda classe? Era um simples Escoteiro noviço.

                 Bem o tempo encarregou de tudo. Lamparina se tornou um herói na Tropa Escoteira Visconde de Mauá. Não era soberbo, nunca foi. Sua humildade contrastava com sua força agilidade e inteligência. Quando Maniento passou para sênior assumiu a monitoria. Um exemplo para os demais. Pé de Cabra, Canela e Porteira que tinham três anos de patrulha e eram Primeira Classe não reclamaram. Era natural que Lamparina assumisse. O Chefe Montserrat recebeu um convite para um Curso de Monitores que chamavam de Ponta de Flecha. Ele não simpatizava muito com o curso. Achava que os dirigentes do curso eram pomposos demais e muitas vezes ensinavam aos monitores normas e cerimonias diferente do que fazia. Isto em tropas novas poderia trazer discórdias, pois nem sempre o menino está pronto para entender o objetivo do curso. Claro se tivesse um Chefe da tropa presente e ativo no curso vá lá. Mas isto nem sempre acontecia.

                     Quando Montserrat foi fazer uma visita, pois estava trabalhando e não pode participar da equipe, viram os chefes boquiabertos com Lamparina. Praticamente levou os monitores a aprenderem as técnicas, como fazer, como planejar, com entender seus patrulheiros, como ser um amigo e irmão e ao mesmo tempo liderar e ser liderado e até muitos dos chefes não saiam de perto dele. Ah! O meu amigo Lamparina. Ficou até aos dezessete anos no Grupo Escoteiro. Um belo dia disse que recebeu uma bolsa de estudo para uma faculdade na capital. Muito choro, muitas tristezas muitos apertos de mão e ele partiu em uma tarde fria de um setembro cujo ano nunca esqueci. Mil novecentos e cinquenta e nove! Fez uma falta enorme ao Grupo Escoteiro. Sem ninguém perceber se tornou um líder de todos. Desde os lobinhos até os pioneiros todos o amavam. Passou mais de dois anos sem voltar à cidade de Pedra Quebrada. Eu mesmo como sênior em qualquer Fogo de Conselho ou em uma conversa ao pé do fogo me lembrava dele. Era um mago, um palhaço lindo, um contador de histórias sem igual. Dedilhava um violão com maestria que muitos pensaram que ele seria um dia um cantor famoso.

                       Sempre a cada dois anos ele voltava. Para ele era um volta a Giwell no seu Grupo Escoteiro que tanto amou. Fazia questão de chamar a todos da patrulha, pois lá ainda estava Maniento, Canela, Porteira, Mosquito, Sorridente e Pé de Cabra para um acampamento. Fazia gosto de ver os sete uniformizados, com seus chapelões, orgulhosos com suas mochilas e suas bandeiras ao vento indo descobrir novas florestas, novas campinas, explorando vales e serras altas nas montanhas que circundavam nossa cidade. Eu mesmo que não era da patrulha sonhava em um dia ser convidado por ele. Quando esteve pela última vez deu um abraço apertado em todos. – Amigos agora ficará difícil minha volta sempre aqui ao grupo. Vou partir, uma proposta de trabalho na Suíça vai me tirar o sonho de estar com vocês sempre. Deixo com vocês meu coração, meu amor e minha amizade. Nunca vou esquecer vocês. Nunca. Todos viram em seus olhos naquele homenzarrão forte e alto lágrimas que caiam no chão sagrado de sua cidade.


                         È como se diz por aí - A razão por que a despedida nos dói tanto é que nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham sido e sempre serão. Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas nós nos encontramos. E talvez a cada vez tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos. Isso significa que este adeus é ao mesmo tempo um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio do que virá. O adeus triste e choroso valeu por todos aqueles que viveram ao seu lado. Nunca mais voltou e por onde anda deve ter enormes saudades como nós temos por ele. Lamparina, um Monitor que a gente nunca esquece e que se podia se orgulhar!   

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