terça-feira, 26 de maio de 2015

Da vida nada se leva.


Lendas Escoteiras.
Da vida nada se leva.

¶ Neste mundo eu choro a dor, por uma paixão sem fim
Ninguém conhece a razão porque eu choro num mundo assim...

                     Não foi por falta de aviso, eles foram muitos e ele nunca atendeu ou nunca se interessou. Cataclisma sempre foi assim, na tropa o chamavam de Cataclisma o sovina. Seu nome mesmo era Antonio das Mercês. O apelido ninguém soube quem deu e por que. Alguns monitores mais antigos diziam que ele fora Escoteiro, bem se tivesse sido não aprendeu nada dos valores que o escotismo tem. Muitos o alfinetavam por ele ser um mão de vaca, que só pensa em acumular riquezas e quando partisse desta para melhor, ou para pior se for o caso, não levará consigo os seus bens materiais. Eu mesmo disse a ele muitas vezes que um dia iria enfeitar com seu paletó um esquife de madeira com muitos lírios em volta. E do outro lado ele só poderia apresentar na porta do céu o que ele tivesse feito de bom aqui na terra. – Cataclisma, ajude os outros! Só suas obras terão valor do outro lado. Bem não vou dizer que ele era ruim de todo, nada disto. Afinal Lena do seu Tadeu gostou dele e casou. Mas ela comeu o pão que o   “diabo” amassou.

¶ Quando lá no céu surgir uma peregrina flor
Pois todos devem saber que a sorte me tirou foi uma grande dor.

                       Cataclisma era daqueles que no acampamento ficava dosando os alimentos. Sei que muitos Grupos Escoteiros doam as sobras para algum empregado do sítio ou uma família pobre que mora por ali. Isto traz paz e elogios aos Escoteiros o que é muito bom para conservar locais de acampamento. Cataclisma não, ele não fazia isto juntava tudo e levava para sua casa. Sempre dizia que é de grão em grão que a galinha enche o papo. Interessante que ninguém nunca o viu sair com a família. Lena e Tadeuzinho nunca saiam com ele. Às vezes aparecia na missa ou em uma atividade Escoteira onde havia comes e bebes gratuitos. Olhe, vou dizer uma verdade pelo menos sua mulher e seu filho andavam bem vestidos. Se era a Lena a responsável eu não sei. Ele trabalhava na Loja de Materiais de Construção do seu Nestor. Era bem considerado e bem quisto. Dizem que estava lá desde os quinze anos. Qual o seu salario ninguém sabia, se tinha deposito em banco era segredo absoluto.

¶ Lá no céu, junto a Deus em silêncio a minha alma descansa
E na terra, todos cantam eu lamento minha desventura desta pobre dor.

                      Muitos brincavam com ele por ele seguir a risca os dez mandamentos do pão duro: - Nunca dizer: - Pode ficar com o troco. Não colocar a mão no bolso em vão. Amar seu bolso como a si mesmo. Lembrar que tudo tem seu preço então, vamos às promoções!  Pechinchar sob todas as formas. Não desperdiçar. Ir às compras somente aos domingos, quando quase tudo está fechado. Valorizar cada centavo. Analisar o custo/benefício. Emprestar sempre com juros. Jurar é pecado, cobrar juros não! – risos. Se ele seguia ou não fica o dito pelo não dito. Por outro lado alguns diziam e eu fico em dúvida que ele seguia mesmos os dez artigos da Lei do Escoteiro. Ele nunca perdia um aniversário. Não levava presentes, mas sempre seu bornal a tira colo. Ele dizia para todo mundo: - Vá lá que pode sobrar alguma coisa!

¶ Ninguém me diz que sofreu tanto assim
Esta dor que me consome não posso viver.

                      O Padre Eugenio vivia dizendo a ele: Cataclisma faça boas obras, elas serão as únicas que irão com você quando partir deste mundo. Ele dava risadas sem ofender é claro e dizia ao padre: - Sou Escoteiro Padre. Sigo as leis e sou bom cidadão. Olhe, ele não deixava nada para trás, só andava olhando para o chão. Quem sabe encontraria alguma coisa que os outros tivessem jogado fora? Eu mesmo nunca o vi entrar no açougue ou na Loja Abil famosa por seus materiais eletrônicos. Em sua casa só tinha um radinho a pilha que ele nunca usava. Nena seguia a novela das nove na casa de Marilda sua vizinha. Quando em qualquer atividade Escoteira surgia uma taxa para todos, ele dizia que não ia. Todos sabiam o porquê. Cotizavam e pagavam sua taxa mesmo sabendo que ele tinha no Banco Santander um dinheirão. Quanto ninguém sabia. Bem mesmo sendo bom Escoteiro, seguir suas leis um dia Cataclisma bateu as botas. Começou a sentir dores no peito e não quis ir ao pronto socorro: - Ir para que? Ele dizia. E depois tem receita e remédios e não vou gastar com bobagens!

¶Quero morrer vou partir pra bem longe daqui
Já que a sorte não quis me fazer feliz.

                    O que sei é que depois que morreu, Nena reformou sua casa, fez um belo jardim e casou de novo. E olhe que foi com o Ricardão aquele que nunca fez nada e só vivia à custa das amantes que tinha. Vive sorrindo na varanda, não faz nada e sempre Nena trazendo para ele um tira-gosto e uma cerveja gelada. Comprou até um carrinho novo. No Grupo Escoteiro poucos foram ao seu féretro. Pocahontas uma Escoteira foi a única a depositar flores na sua nova morada. Bem teve o Jadilson que tocou sua corneta e errou varias vezes no tom. Em vez de tocar o silencio, tocou o debandar. Risos. Quem me contou não vou dizer, mas Palito um escoteirinho da Pantera me jurou que o Médium Sabe Tudo contou para ele o seguinte: - Ele saiu do seu corpo, olhou para um lado e outro e não viu ninguém. Andou sem esmo até que encontrou duas porteiras. Em uma um cabra feio de chifre que parecia o diabo, na outra um velhinho de barbas brancas – Ele perguntou: - Para onde eu vou? O Velhinho disse: Trouxe as boas obras? Porque aqui só vale o que de bom você fez na terra!  

¶ Quando lá no céu surgir uma peregrina flor
Pois todos devem saber que a sorte me tirou foi uma grande dor.

                  Dizem, ou melhor, Sabe Tudo disse que o Diabo dá risadas até hoje. Convenhamos que nada mais se soube, mas queira ou não Cataclisma foi Escoteiro e sei que o diabo passa longe de qualquer um que se disser um Badeniano de Coração. Que seja assim, mas que sirva de lição para os que acharem que boas obras é sinal de fraqueza. O bom Escoteiro só sabe fazer o bem e olhe... Sem olhar a quem!

Nota – Saudades de Matão é de autoria de Tonico e Tinoco. Por sinal uma das minhas preferidas para cantar em noites de luar

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