segunda-feira, 6 de julho de 2015

A barraca dos sonhos de Tião Muriel.


Lendas Escoteiras.
A barraca dos sonhos de Tião Muriel.

                     No aniversário dos quatro anos Tião Muriel chorou o tempo todo. Sua mãe dona Quiçá fez tudo para acalmá-lo e não conseguiu. Seu Pai Antonio dos Prazeres quando chegou à noite viu o berreiro do filho e ficou incomodado. Não acreditou na esposa o motivo de seu choro – Ele quer uma barraca de presente Antonio! – Barraca? Onde ele arrumou esta ideia? Ninguém entendeu nada. Seu Antonio já tinha comprado para ele um Jipe, enorme, verde que dava para ele brincar a vontade. Afinal foi seu pedido de aniversário. Mas não ele agora queria uma barraca. De onde tirou esta? – Papai, ele disse com sua vozinha meiga, Periquito tem uma! Seu Antonio se lembrou de Periquito. Ele tinha seis anos e meio e era lobinho. Tião Muriel ainda não tinha idade e não podia participar. – Olhe Tião, prometo que quando você for Escoteiro compro uma para você. Ajudou? – Não ajudou. Tião Muriel não chorou mais, mas todos sabiam de sua tristeza. Pouco sorria, pouco falava.

                   -  Melhor comprar esta barraca disse sua mãe Dona Quiçá. Eu sei mulher, mas onde vou arrumar o dinheiro? Já passei nas lojas Bacamarte e a mais barata para duas pessoas custa duzentos e oitenta reais! Não se sabe como Maísa ficou sabendo. Maísa era Akelá do Grupo Escoteiro Três Irmãos. – Olhe seu Antonio, vamos resolver assim, Tião Muriel terá sua barraca. Infelizmente não posso doar, mas eu tenho uma que sempre levo quando vou acantonar com os lobinhos. Posso emprestar e quando formos o senhor me devolve! – Quando Tião Muriel soube ficou pensativo – Mas tenho de devolver papai? Claro filho, quando eles retornarem a barraca volta para você! – Assim não quero. Quero uma minha! – E agora? Eu tenho a solução! Falou Tomé, Monitor da Patrulha Touro que era vizinho de Tião Muriel. Ele vai conosco no próximo acampamento! – Mas como? Disse o pai. Ele só tem quatro anos. – Deixa comigo, vou tomar conta dele. Claro que não vai ter uniforme nem nada. O senhor prepara uma mochila para ele com a lista que irei fornecer. A patrulha já sabe e quer fazer uma boa ação! O Chefe Mostarda na Corte de Honra concordou.

                       Duas semanas depois Tião Muriel com a mochila nas costas, dando risadas foi no seu primeiro acampamento Escoteiro. Não saiu uma única vez distante de Tomé o Monitor. Ajudou em tudo que podia. Até água no córrego foi buscar. Chefe Mostarda de longe sempre olhando – Falou para Tomé ficar de olho. Era uma responsabilidade muito grande. A noite chegou, Tião Muriel queria ir para a barraca – Ainda não Tião, ainda teremos o jantar e o Fogo de Conselho. - O que é isto? Perguntou. Tomé explicou e Tião adorou, até esqueceu um pouco da barraca. Quando ele finalmente foi para sua barraca à coisa degringolou! – Não vou dormir com ninguém na barraca! Ele disse.  Quero dormir sozinho! – E agora? O melhor é pedir a Tininho, Sacopemba e Marreco, Escoteiros da patrulha para se apertar em outras barracas de outras patrulhas. Tomé estava de cara fechada. O berreiro de Tião não estava no gibi. O Chefe Mostarda veio ver o que era e se arrependeu em ter deixado Tião vir.

                     Finalmente o silêncio aconteceu. Tião Muriel podia dormir sozinho em sua barraca. Entrou, sorriu e deitou com as mãos em sua nuca. Olhava o teto da barraca e sorria mansamente. Fechou os olhos e quando abriu viu que estava em um local verde, muita grama gostosa para dar cambalhotas e um menino de olhos azuis, cabelos vermelhos o pegou pela mão e saíram voando pelo céu. – Eu sei que você queria dormir na barraca para se encontrar comigo - Ele disse. Fui eu quem lhe colocou na cabeça ter a sua barraca. Eu precisava falar com você. Seu destino está feito, você vai partir para a Estrela do amor dentro em breve. Eu moro lá e estarei esperando por você. Um dia nós dois fomos irmãos, você sempre me protegeu mesmo quando a barraca do circo pegou fogo. Lembro que você tentou de tudo para me ajudar e não conseguiu. Lembro que você ficou por anos se sentindo culpado.

                      - Agora finalmente iremos ficar juntos outra vez. Esqueça por alguns anos seu pedido de barraca, seja bom com seus amigos Escoteiros, lembre-se que seus pais o amam e eles estarão conosco breve, todos vocês vão partir depois de um terrível acidente. Mas isto tem de acontecer, foi programado e foi você e seus pais quem escolheram. O menino o abraçou e o beijou na face. Não disse seu nome. Tião Muriel sabia quem era. Acordou em pleno dia com a alvorada dos escoteiros. Levantou e procurou Tomé pedindo desculpas. Foi um belo acampamento. Marcou muito a vida de Tião. Quatro anos depois Tião já era um lobinho. Um bom lobinho cumpridor dos seus deveres com a lei do lobinho. A Alcateia e os chefes o amavam. O dia fatídico chegou. Seu pai com muito custo comprou um carrinho, resolveram ficar uns dias na praia. Na descida da serra faltaram freios e o carro caiu em uma ribanceira. Todos morreram e o Grupo Escoteiro ficou consternado com aquela partida por muitos anos.


                         Tião acordou junto com seus pais e viram um clarão azul que quase os cegava se aproximando deles. No clarão avistaram Antonio Pedro. Ele estava de branco com uma linda bata, acompanhado de uma senhora vistosa também de branco. Era a mãe de sua mãe, a sua avó Amélia. Deram as mãos, se abraçaram e partiram para a estrela do amor onde seria a sua nova morada. Hoje eles moram em uma casinha branca, com um jardim de muitas flores, onde os pássaros cantam canções lindas, onde perto tem uma nascente de águas cristalinas e bem em frente a sua casa tem uma linda barraca verde brilhante, onde Tião sempre dorme.  Dizem que lá no céu eles vivem felizes para todo o sempre! – Amém.   

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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