sábado, 11 de julho de 2015

Escafederam com Don Pedrito no cargo de prefeito. Culpa? Os escoteiros!


Lendas escoteiras.
Escafederam com Don Pedrito no cargo de prefeito. Culpa? Os escoteiros!

                  Linguarudo foi quem me contou. Ele sentado no banquinho de madeira na porta da Barbearia Tapioca contava coisas do arco da velha. – Como foi? Perguntei! – Ele sorriu mostrando uma fileira de dentes cariados, mal tratados com aquele sorriso mocho. – A culpa foi dele! Queria ser o maioral sempre dizia ser o tal e não deu vez aos escoteiros. Os vereadores puxa-sacos quando viram a pressão, pois fizeram até procissão não deu outra. Cassaram o mandado do Cabrito, isto é de Dom Pedrito. Entre Dona Malvina bisbilhoteira e Dona Sinhá lavadeira melhor mandar o prefeito para o caixa prego! Deu 18 votos a favor da cassação, um contra e uma abstenção. Claro Don Pedrito esperneou, chamou todos de traidores e ladrão, Bico Doce seu advogado reclamou na Corte Suprema e deu em nada. Pé no traseiro do prefeito, bem feito, não teria sido melhor ser altaneiro e ajudar a formar o Grupo de Escoteiros?

                   Tudo começou em um sábado de sol, velhos na praça do arrebol, crianças jogando pelada na rua, outros soltando papagaios, outros quebrando vidraças e outros fazendo arruaças. As lavadeiras dando conta do recado com as vizinhas no portão, Os homens no Bar do Zebedeu, os fofoqueiros na Barbearia Tapioca o vereador de Lua Verde, cidade pacata, todo mundo sabia da vida de todo mundo, mas nunca houve um roubo, uma morte a não ser por morte morrida e nunca matada. Eis que adentraram na cidade sete escoteiros a toda velocidade nas suas bicicletas floridas. Freiaram bonito na Praça Don Cabrito. A meninada largou o que fazia e ficou em volta deles admirando. Cada um mais bacana que o outro. Chapelões incríveis, cinto de couro com fivela a ouro, meias de futebol, caça curta, um lenço vermelho no pescoço preso por um anel com desenho de ouro. Era bacana demais. Traziam uma bela mochila amarrada no bagajeiro, em volta dela lonas verdes, preso no guidom várias bandeirolas e uma maior do Brasil.

                    O Chefe deles, com seus quatorze anos falou: - Aqui é Jaboticabal? A meninada com moral e engasgada disse siiiim! Outros amigos nosso já chegaram? A meninada engasgada disse nãaao! Tem um campinho para a gente acampar? Ai foi à conta, o campinho era de Don Pedrito e ele não arredou pé. No meu campo não. Se eles quiserem vão acampar no barreiro ou no inferno! A meninada gritou, chamaram mamãe e papai que vieram correndo depressa demais. Porque não prefeito, disseram eles! – Porque não quero aqui quem manda sou eu! Gentil Salgado foi correndo procurar Mané Leitão dono da Padaria Chimarrão. Ele tinha um terreno arborizado, uma nascente e tudo gramado. - Acampem a vontade ele disse! Mas não se esqueçam de mim nas próximas eleições! Dito e feito, a escoteirada foi para lá, barracas em pé, lona na mesa, até dona Maria Tereza ficou de pronto chulé, sentindo o cheiro do café, inveja danada do fogão tropeiro que fizeram.

                    À tardinha uma revoada de escoteiros, uma duas três. Seis patrulhas pedalando, chegando, armando suas barracas no campo do seu Leitão. Todos se abraçavam, uma alegria tremenda, cantando canções ligeiras, e um tal de Rataplã! Fogueira abastada afastou o vento sul o frio que soprava. A meninada em volta. Olhos arregalados! Gente que coisa bonita! Se eles são aventureiros eu também quero ser um Escoteiro, diziam todos. À noite eles fizeram uma fogueira, brincaram de Chiquito Pedrosa o contador de piadas do lugar. Fizeram mil brincadeiras, na fogueira só zoeira, e no final chamaram todos do lugar. Mãos entrelaçadas meus amigos, agora vamos cantar. Era bonito demais, até dona Malvina Bisbilhoteira e Dona Sinhá Lavadeira se puseram a chorar.  O Chefe deles, um menino bem afeiçoado, falou alto para a meninada ouvir. Amanhã é o último dia que ficaremos aqui. Pela manhã estão todos vocês convidados, haverá jogos, canções e treinamento vamos fazer patrulhamento Quem quiser ser um aventureiro amanhã será um Escoteiro! E para participar põe-te em guarda e toma tempo.

                  Gente era bom demais. Mais de duzentos moleques correndo, fazendo patrulhas, brincando de gente grande. O povo todo de olho arregalado olhava todo arrepiado aquela alegria sem fim. Era um tal de Lobo, lobo, Leão Touro e Jabuti, um gritava aqui e outro ali. Aprenderam a fazer um nó de frade, um nó de pescador, um nó de arnês, meu Deus quantos nós! Outros aprendiam semáforas, Morse, Passo Escoteiro e alguns a mapear o céu, procurando estrelas do meio dia para se orientar. Gostoso foi às brincadeiras, de olhos fechados, correndo para todo lado para o tesouro achar. Foi Mosquito e Joelho Bichado, dois meninos muito calados que gritaram! Eu quero ser Escoteiro, para sempre! E agora José? Os meninos escoteiros com seus chapelões mateiros se foram, disseram que talvez um dia iriam voltar.

                     Uma comissão foi formada. - Don Pedrito! Vamos os escoteiros organizar! – Nem necas, se querem me pregar uma peça escolha outro, pois nesta eu não entro. A meninada na porta da prefeitura chorava. Urra, urra que este prefeito de araque suma de Lua Verde. Ninguém merece ter defeito, com este tal de prefeito que não ajuda ninguém. Mané Leitão da Padaria Chimarrão prometeu ajudar. – Organizo o grupo, vou ser o Chefe do grupo, mas mandem o prefeito passear, e junto com dona Pastora sua patroa, joguem os dois nas masmorras e façam de mim prefeito do lugar. Dito e feito, o prefeito se escafedeu. Nem mesmo o Zebedeu que gostava de uma lambança o ajudou na mudança. Mané Leitão foi eleito, de uniforme Escoteiro foi empossado prefeito, as patrulhas deram o grito em ovação ao salvador e pioneiro, aquele que organizou os escoteiros.


                   Linguarudo sorria de leve, olhando meus cabelos cor de neve, dizia: - No dia da inauguração, escoteiros de montam chegaram de todo lugar. Disseram-me que eram mil outros cinco mil, sei lá para mim não interessa se foi mil ou um milhão, mas a festança foi demais. Depois de todos promessados, uniformizados, um churrasco foi realizado, cem bois, duzentos cabritos, leitões chegavam de todo lugar. Na fazenda Galinhada os galos jogavam praga e ficaram sem nenhuma galinha para namorar. Até Dom Casmurro o Bispo de Montreal, que estava se preparando para ser um cardeal veio à festa prestigiar. Eu de matuto não sou bobo, olhei Linguarudo de novo, e pensei: - Na hora da sesta e esse cara quer me fazer de besta! Ele querendo adivinhar, me apontou a Rua Pelanca, e disse sem muita tranca: - Foi dali que eles dominaram o lugar. E não é que logo em seguida, de cada casa de cada ermida, surgiam jovens meninos, de uniforme e calça curta, um caqui e seu meião, um lenço e um chapelão, corriam daqui para ali dizendo: Vamos todos! É hora da reunião!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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