domingo, 30 de agosto de 2015

E Mister Nagy chegou à cidade.


Lendas Escoteiras.
E Mister Nagy chegou à cidade.

                             Duas e meia da tarde. O ônibus parou no ponto final em frente à Praça Afonso Pena. Mister Nagy desceu com sua pose número quatro. Ele tinha várias. A de grande Chefe, a de tristeza, a de piedade, a de devoto e a de admiração. Um ator nato Mister Nagy. Desta vez estava com seu uniforme de tergal caqui, e ninguém diria que ele tinha feito uma viagem de doze horas com ele. Estava impecável. O lenço bem postado, o meião com as estrias perfeitas e podia medir os quatro dedos da dobra. O cinto marrom nem parecia Velho de tanto que ele engraxava. A fivela brilhava parecia ouro puro. O chapéu já gasto com o tempo nem parecia ter seu tempo de uso por anos e anos de escotismo. Quem dera Mister Nagy não tinha o escotismo no coração. Era um escroque. Um enganador, um falsário um fingido que merecia o desprezo de todo mundo. Sorrindo com pose de grande chefão se dirigiu ao melhor hotel da cidade. Melhor? Bem era o único.

                            Loreta a arrumadeira sorriu quando ele entrou. Nos seus 35 anos e solteira ainda sonhava com um príncipe encantado. Polyana atendia atrás de um balcão marrom e ficou encantada com os trejeitos e cavalheirismo de mister Nagy. – Pois não senhor? – Um quarto senhorita, o melhor, por favor! – Assine aqui e só escreva quantos dias irá ficar. Mister Nagy a olhou e seu sorriso fez tremer Polyana. Seu coração gritou que ela estava amando com seus dezessete anos de idade. – Pode me dizer quem é o Chefe do Grupo Escoteiro da Cidade? – Pastor Walfrido senhor! – Mora há dois quarteirões do hotel. – Obrigado. Mister Nagy esfregou as mãos de contente. Desta vez não iria sair da cidade com mixarias como as outras. Em Ponte Azul conseguiu cinco mil, em Valdória oito mil. Lembrou-se do seu maior golpe em Serra Dourada. Quase cem mil! Ficou sem “trabalhar” por meses. No seu quarto tomou um banho, usou um perfume barato, passou “gumex” nos cabelos, não se esqueceu do se lenço da Insígnia de Madeira e desceu com seu sorriso encantador saindo à procura do Pastor Walfrido.

                            Era uma templo simples, pequeno, mas ele sabia que ali era uma mina de dinheiro. Todas as igrejas sempre geravam rendas enormes dos seus seguidores. Ninguem na templo. Bateu palmas, uma senhora muito educada perguntou: - Quer falar com o Pastor? – Está lá nos fundos cuidando da hora comunitária. O Senhor pode entrar e ele vai receber o Senhor. O Pastor era baixinho, pequeno mesmo, magro, jeitão de caipira nordestino. Com uma enxada capinava um canteiro ajudado por mais cinco fieis. Assustou quando viu Mister Nagy, lavou as mãos correndo e veio cumprimenta-lo. Mister Nagy s apresentou: Pastor sou Comissário da UEB com uma missão sublime. Estamos para fechar, nossas finanças foram bloqueadas e não temos como manter o escotismo brasileiro. O Senhor sabe o que o novo presidente fez com nossas poupanças!

                         Pastor Walfrido o convidou para irem até sua casa. Sua esposa veio correndo para cumprimenta-lo. Na porta do Tempo começaram a chegar escoteiros, lobinhos, seniores e pioneiros. Todos já estavam sabendo do figurão Escoteiro que chegou a cidade. – Grade Chefe! O que eu posso fazer para ajudar? Colaborar meu caro Pastor. Em nome de Deus o senhor tem de conversar com todos os jovens e adultos, pais, mães, simpatizantes e se conhecer algum politico tentar convencê-lo a ajudar a União dos Escoteiros do Brasil. Nosso escotismo não pode acabar! Pastor Walfrido esfregou as mãos. Tinha dúvidas, mas se ele não fosse honesto não estaria de uniforme. Que Deus lhe iluminasse para conseguir o possível para a UEB. A ordem foi expedida e duas horas depois a sede cheia de meninos escoteiros. Muitos adultos e simpatizantes. Mister Nagy esfregou as mãos de contente. Desta vez vou enricar pensou.

                            A coleta demorou quatro dias. Não era muito, mas chegava a mais de vinte mil reais. Alcione tinha oito anos. Lobinha desde os sete. Pegou na mão de Mister Nagy. – Minha vó quer conhecer o senhor. Pode ir hoje à minha casa? Mister Nagy não podia dizer não. Foi com Alcione. Uma casa prá lá de humilde. Um barraco por assim dizer. Mas limpa de corpo e alma. Quando entrou a Vó de Alcione tentou ficar em pé para recebê-lo. Quase não conseguiu. – Fiz um café para o senhor, também tem um pedaço de bolo. Os olhos de Mister Nagy correu pela casa, uma cozinha e uma sala conjugada. Três cadeiras. Um fogão a lenha. Uma cristaleira com o vidro quebrado. Era de uma pobreza sem igual. Doutor Chefão disse a Vó de Alcione após o café. Alcione me contou as dificuldades dos escoteiros do Brasil. Eu só tenho trinta reais até chegar o fim do mês. Mas vou tirar vinte para o senhor. Alcione concordou ficarmos sem jantar por duas semanas. E nosso escotismo merece muito mais. Mister Nagy estava irrequieto. Não sabia o que dizer, tinha vergonha de abrir a boca para agradecer.

                           No dia da sua partida a praça estava cheia. Todos queriam dizer adeus. Mister Nagy nunca pensou que seria assim. Saia das cidades onde dava seus golpes sorrindo e chamando todo mundo de otário. Quando Alcione com suas mãozinhas cheias de flores lhe deu uma rosa branca Mister Nagy chorou. Ela pôs a mão em sua face – Não chore Chefão. Diga ao Escoteiro Chefe que nós tentamos ajudar. Se um dia a gente puder ajuntar mais algum vamos enviar para o senhor! Vovó me disse que quando receber o Salario Mínimo que ela tem direito vai dar mais duzentos reais! Chefe Nagy não aguentou mais. Chorava a cântaros. Em sua mente ele se amaldiçoava. O Pastor Walfrido veio até ele e pediu desculpas por não terem mais. O Grupo Escoteiro deu um bravo para ele. Apressado subiu para o ônibus. Na sua poltrona um velhinho banguelo e sorridente enfiou a mão no bolso, tirou cinco reais e deu para ele.


                           O ônibus partiu. Cinco dias depois o Delegado Lamparina chegou à cidade. Procurou o Pastor Walfrido. Tirou da maleta um saco cheio de dinheiro. O pastor assustou. – Pastor! Ele disse. Mister Nagy se entregou na minha cidade. Disse o que era, um escroque e ladrão. Resolveu devolver o dinheiro de vocês. Aqui pensou em dar mais um golpe como tantos outros que aplicou em diversas cidades em nome de um movimento escoteiro que ele nunca pertenceu. Estudou sim como eram, mas nada entendia. Roubou de um Chefe um uniforme. Ele disse que quer ser julgado e condenado. E se um dia sair, se o aceitarem irá trabalhar para o senhor. Sem salário, bastaria a comida e uma cama! Pastor Walfrido chorou ali no seu tempo silencioso. Agradeceu a Jesus pela alma de Mister Nagy. Ele já lhe dera o perdão porque quando apareceu pela primeira vez sabia quem ele era. Tinha lido em uma revista. – Mas ele se perguntava: Quem sou eu para condenar? 

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