Conversa ao pé do fogo.
O Troféu Eficiência da Patrulha Corvo.
Zé
Lineu olhava sua patrulha com admiração. Ele foi escolhido como monitor,
ninguém dava nada por ele, magrinho, piquitito, cabelos crespos e olhos
pequeninos, estava querendo aprender a ser líder. Quando foi escolhido leu
muito sobre liderança, leu tudo que o Chefe Leão indicou. Havia três meses que
fora eleito. Não sabia por que tinha sido escolhido. Na corte de honra os
monitores das outras três patrulhas não concordaram muito. – Chefe, sendo uma
nova patrulha com novos patrulheiros um sub nosso deveria ser o escolhido e
indicado. – Chefe Leão não disse nada. Afinal foi decisão da patrulha. Quando
ele tentou explicar que precisavam de alguém mais experiente eles foram contra.
Afinal se decidiram assim que seja. Não dizem que precisamos aprender a fazer
fazendo?
Tonico
Souza foi aclamado Submonitor. Zé Lineu deixou que cada um escolhesse o local
que ficariam na formação e qual o cargo preferido. Parecia que tudo estava
combinado. João Moreno ficou com a intendência. Pedro Luiz como bombeiro e
aguadeiro. Joel Siqueira sorriu quando disse que seria o cozinheiro. Manolo
Xavante ficou como Construtor e na sede Almoxarife. Sobrou para Zico Capixaba ser
o socorrista e lenheiro. Faltava o cargo de escriba e Zico Capixaba assumiu até
entrar o oitavo Escoteiro da Patrulha Corvo. Todos se sentiram importantes. Era
uma patrulha nova, com menos de três meses de atividade, mas que não deixavam
por menos seus afazeres obrigações e responsabilidades. Na sede as outras
patrulhas davam risadas. Eram escoteiros mais antigos, muitos primeira classe e
outros tantos segunda classe. Os Corvos eram amadores perto deles.
Na primeira
Corte de Honra que Zé Lineu compareceu, gostou do rito, do simbolismo e do
respeito que ali imperava. Laércio Barbosa era o monitor mais antigo. Tinha
três anos de lobo e já ia entrando nos quinze anos. Breve iria fazer a Rota Sênior.
Zé Lineu nunca duvidou de sua capacidade e quando o Chefe Leão comentou na
Corte sobre o próximo acampamento e a conquista do Padrão Ouro de Eficiência de
campo ele ficou boquiaberto. Era demais para ele. Olhou para os outros
monitores e viu seus olhos brilharem. Na reunião de patrulha na casa de João
Moreno ele expor como seria o Padrão Ouro de Eficiência. Todos ouviram
atentamente – Todos os dias cinco pontos para as barracas bem armadas e
conservadas. Dez pontos para a verificação na inspeção dos objetos individuais.
Vinte ponto para a limpeza das panelas. Vinte pontos para o campo limpo sem
nada da cidade espalhado. Vinte pontos para a apresentação pessoal. O uniforme
limpo e bem passado para as inspeções e para o cerimonial de bandeira.
- Monitor! –
Disse Zico Capixaba, uniforme limpo e bem passado no campo? Zé Lineu riu e
respondeu – Dizem que existe uma técnica que só os escoteiros sabem. Portanto
vamos saber como é e treinar para quando estivermos acampados. Zé Lineu
continuou – Serão quatro dias de acampamento no Vale da Tartaruga. O Chefe vai
levar os monitores lá para conhecer no próximo domingo. Prometo ver tudo e
contar para vocês. Cada dia os pontos serão comunicados na Bandeira após o
Hasteamento. A Patrulha que alcançar o primeiro lugar no último dia ganha um belo
troféu em forma de Totem e feito em couro especial. Não esqueçam tudo que
fizermos durante o dia também vale ponto. As chamadas, as formações, os
sorrisos e a limpeza. Os jogos terão menas pontuação. Vamos nos preparar. Sei
que é impossível sermos os melhores, mas não custa tentar.
Durante
os dois meses que antecederam o acampamento nunca se viu uma patrulha como a
Corvo treinando e praticando tudo que deveriam fazer. As demais patrulhas
assistiam a tudo sorrindo. – Joílson sub da Pantera ria a beça dos pata tenra
(assim chamados por serem novatos). Para todas as patrulhas a Corvo sonhava e
nunca poderiam conquistar o Troféu Eficiência. Impossível. – Nas reuniões eram
motivo de chacotas, mas o Chefe Leão não gostou. Chamou os monitores e os
alertou para o respeito e a fraternidade. O dia chegou. Partiram em um caminhão
da prefeitura. Uma hora e meia de viagem. A chegada, o arvorar da bandeira, a
escolha do campo pelas patrulhas, todas elas lutando para darem o grito do café
pronto, do almoço pronto, do jantar pronto, eram um brilho para os olhos do
Chefe Leão.
No
primeiro dia todos formados na porta da sede e como sempre aquela alegria
geral. No campo cada monitor junto a sua patrulha pode escolher seu campo. Os
patrulheiros do Corvo se assustaram no primeiro dia. Não fizeram quase nada e
foram os últimos a darem o grito nas refeições. Na hora de Dormir Zé Lineu
reuniu a patrulha. Tentou encorajar, mas todos só queriam dormir. Levantaram
cedo. A ginastica o café e a limpeza do campo tomou toda a manhã. As nove em
ponto o Chefe chegou para iniciar a inspeção. Bela tentativa, mas na bandeira
viram que ficaram em último lugar. Foi Manolo Xavante quem deu ânimo a todos.
Um dia vá lá, mas dois dias? Somos escoteiros ou ratos? – Bem dito, no segundo
dia ficaram em terceiro e no terceiro dia em segundo. Agora a maioria das
patrulhas olhavam os corvos de maneira diferente. Veio o último dia. Dia
esperado.
Os
corvos ficaram boa parte da noite fazendo pioneirías. Pequenas mas com enorme
utilidade. Fizeram uma chaminé para o fogão para evitar a fumaça nos olhos do
cozinheiro, fizeram um WC nos trinques e João Moreno construiu com madeira um
lugar para assentar. Pela manhã Zé Lineu passou os olhos no campo. Zico
Capixaba com folhas de coqueiro fez um belo capacho. As fossas de líquido e
detrito tinham tampas tipo sanfona, abriam a um toque de um cipó. A casinha de
lenheiro estava perfeita. Tudo nos trinques mesmo. Neste dia quem fazia a
inspeção eram os monitores. Este só não fazia na sua. Cada monitor olhou com
atenção as pioneiras. Zé Lineu notou que nas outras patrulhas eles não tinham
igual. Tonico Souza o sub recebeu todos com a canção do Cucu. Até mesmo as
vozes treinadas e a maneira de cantar fazendo gestos foi perfeito.
No
cerimonial de bandeira um frenesi em todos. Quem seria o primeiro? O monitor da
Anta sabia que ele não iria conseguir. O Monitor da Pica Pau também. Só o
monitor da Onça tinha esperança. Zé Lineu que viu o campo de todas as patrulhas
não cabia de contente. Desta vez seriam os primeiros. Os olhos de Zé Lineu
brilhavam. Chefe Leão fez o suspense. Baixinho sem gritar anunciou o primeiro
lugar – A Patrulha... Onça ganhou o troféu eficiência! Ninguem acreditava no
que ouvia. O Chefe Leão disse para todos: - A luta foi tremenda, todos
mereciam, os Corvos tinham tudo melhor que as outras, mas não obedeceram ao
horário de silencio e ficaram a noite toda fazendo as pioneiras. É certo isto?
Não, obedeceram as ordens. Meus parabéns aos corvos e espero que no próximo
acampamento eles ganhem de igual para igual com as outras patrulhas!
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