quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A morte do bandido Gaudêncio Cicatriz.


Lendas Escoteiras.
A morte do bandido Gaudêncio Cicatriz.

               - Venha Chefe se assente, aproveita o fogo quente, pois este inverno vai ser de lascar. Se quiser tome um cafezinho, esquente a goela, vale a pena para enfrentar este frio que aqui está a gelar. Na lata do doce de mamão, tem biscoito, bolo de agrião, torta de avanhagá. Portanto não se faça de rogado, você é meu convidado e nesta fogueira pequena muitos causos eu vou contar. Mas não só eu, pois se você tiver um “contozinho” está livre para narrar. São noites como esta que nos fazem lembrar dos tempos que já se foram, das noites de acampamentos, das viagens contra o vento, portanto se assente, sorria, divirta e preste atenção, pois histórias Escoteiras nunca perdem o lugar. Agorinha mesmo eu pensava, em uma patrulha falada, que correu mundo e viu tantas coisas que um dia ficou famosa, eita patrulha formosa das bandas lá do sertão. Já dizia o seu lema, Patrulha vai com calma, o luar é a luz do sol que está dormindo, não deixem acordar.

                    Tunico, Paulinho e Nonato, eram um triunvirato mateiro e como bons escoteiros em pouco tempo e em qualquer lugar sabiam fazer um abrigo, daqueles que não temiam o vento, a tempestade, a força da chuva molhada. Janilson o monitor completava os quatro amigos, que não se faziam de rogados quando iam acampar. – Acho que foi Tunico que contou da festança que ia acontecer na cidade do Odorico, aquela do cemitério que defunto não tinha lugar. Isto tinha acontecido há muito tempo atrás. A cidade agora todo ano, pipocava de festejos, comida farta, as moçoilas na praça a passear e querendo namorar. O Padre da procissão na Igreja lotada fazia a turma rezar. – Porque não ir lá? Vai ser de rachar e quem sabe uma nova aventura vai começar? O Conselho da Tropa Sênior aprovou. Coloque na ata disse Janilson, e não se esqueçam de assinar. Tropa Sênior? Bem eram quatro somente, dizem que Escoteiro não mente, pois onde tem um Sênior ele faz a Tropa funcionar.

                   Partiram de madrugada. A ideia era chegar lá à tardinha, menos de doze léguas não era longe o lugar. Na subida da Serra do Berimbau eles avistaram uma cavalgada de homens maus. Quem seriam? Devem ser vaqueiros do lugar. Um monte, um punhado deviam ir à cidade rezar. Passaram por eles na curva do Sol Poente, fizeram a saudação disseram tchau e seguiram em frente. Às cinco da tarde chegaram. Odorico não era grande, três ruas calçadas de pedra sabão uma praça de aluvião, toda incrementada e na igreja cheia o povo rezava. Barriga roncando de fome. A quem procurar para esquentar pança? Um homem bigodudo deu as boas vindas, e perguntou: - Pança cheia ou vazia? Lá foram eles na casa do prefeito para jantar. Sujeito bom e direito sempre a bater no peito: - Esta é minha cidade aonde um dia vão me enterrar! Barriga cheia demais comeram até fartar. O sol já ia se pondo, na Serra do Maribondo e a Patrulha Estrela não querendo fazer besteira lá foram eles para a praça paquerar.

                         Tunico e Paulinho foram até o campinho e as barracas em minutos estavam prontas para morar. Voltaram logo prá praça, meninas cheia de graça, Nonato e Janilson rodeados de moçoilas bonitas, com seus vestidos de chita, cabelos longos jogados para trás. Vida boa de Escoteiro, um olhar sempre treteiro, Tunico namorava Maria, Paulinho com Janaina, Nonato com Sebastiana e Janilson com Isabel com seus lábios cor de mel. E viva Baden-Powell pensavam se não fosse o general escoteiro não teriam cabedal para tão belas “guapas” namorar. Contavam suas façanhas, nem deram em suas entranhas que entravam no lugar os cavaleiros que passaram por eles bem rentes na curva do sol poente. - Devem vir para a festança, quanto mais melhor. Sejam bem vindo turma, mesmo não sendo escoteiros viajantes bem ligeiros são bem vindos ao lugar.

                E eis que um corre, corre acontece. A tarde se foi anoitece. O prefeito chegou esbaforido falando e gaguejando, pé na taboa escoteiros, pois esta bandidada vai tomar conta do lugar. Não dava mais prá correr e até o anoitecer ficaram presos no lugar. As moçoilas chorando a rodo, famílias se consolando, bandidos avançando tomando o rico dinheirinho do povo do lugar. Passa a carteira sô moço! Se me matar de desgosto te mando para aquele lugar. Tiraram a calça do delegado, que por sinal um folgado, um tiro pipocou no ar. O delegado caiu, e suas calças sumiu. Pelado dançava tango, fazendo graça para o bando e depois ficou a chorar. O povo todo na praça, ninguém a mostrar que tem raça. Cada um se defendia, seu dinheiro escondia mais eis que de repente um tiro silvou o ar. Gaudêncio Cicatriz, que já escapara por um triz, levou um balaço na testa e sem fazer nenhuma festa caiu de maduro no ar.

                Os capangas de Gaudêncio, chorando tirando o lenço ameaçavam matar, quem foi? Estavam a perguntar. Ninguem soube ninguém viu. Nesta hora a escoteirada sumiu. Em menos de uma hora, temendo levar um pito, atravessaram correndo toda a serra do cabrito. Seis horas pedalando, lá iam eles cantando. Que aventura danada, vamos contar prá escoteirada que na cidade de Odorico, deixamos fama no lugar. “Eita” turma da estrela cadente, não perderam nenhum dente, e toma sossego agora, rezem prá Nossa Senhora, conseguiram escapar e tudo ficou anotado no livro de ata escriturado e depois bem assinado, para postergar no presente e claro no futuro também. Dizem que Sênior não chora, só pede ao Santo Expedito, gente boa não é mito, proteger a turma escoteira, que não tem mais pasmaceira quando contam da cidade. Cidade do Odorico, cemitério de cabrito, defuntos ali não tem vez.


                  E agora meu amigo, em volta do fogo amigo. A história da cidade de Odorico, em volta deste “foguito” já contei o que ia contar. Agora é sua vez de narrar. Conte agora uma história, para ficar na memória, pois sei que não carrega andor, és bamba e de historias sei que é um bom contador. É bom demais conversar, ao pé do fogo contar, belas histórias ligeiras, como aquelas Escoteiras que todos adoram contar. A lua no céu sorria, ao amanhecer sabia que de novo ia encontrar o seu amado sol, cantando rataplã do arrebol! As fagulhas coloridas, vão para o céu sofridas, agora quem conta é você, ou quem sabe uma canção, eu não vou dormir agora, não passou da minha hora, que vai meu boa noite, durma bem e até mais!

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