sábado, 6 de fevereiro de 2016

A Árvore dos sonhos.


Lendas escoteiras.
A Árvore dos sonhos.

                       Ela sempre existiu na Rua da Felicidade, lá no final do bairro dos Grandes Amores. Ficava bem em frente à igrejinha dos Noivos felizes. Era um belo Jequitibá, enorme, frondoso e interessante, embaixo de sua sombra sempre existiu uma camada de grama verde macia e que nunca crescia. Ideal para deitar e sonhar. A sua volta flores silvestres nasciam em qualquer época do ano. A que mais se sobressaia eram as bromélias. Sempre floridas e perfumadas, um perfume que embalava os sonhos dos amantes que ali passavam. Minha Avó disse que quando nasceu ela já estava lá. Se for verdade ela teria mais de cem anos. Eu a descobri por acaso. Um dia andando sem rumo topei com ela. Encantei-me. A sombra convidativa me fez sentar e logo estava encostado ao seu tronco macio. Fechei os olhos. Dormitava. Foi minha primeira vez. Voltei lá muitas outras vezes. Fiquei amigo do Jequitibá. Um dia assustei quando ouvi sua voz. Passou a narrar os sonhos e desejos dos que a procuravam. A princípio me assustei depois embalado pela brisa suave que ela fazia questão de soprar de leve em meu rosto passei a absorver através da mente o que ela insistia em me contar.

                       Tininho, um Escoteirinho feliz foi o primeiro. Um dia descobriu o Jequitibá. Como eu ele também se encantou. Voltava do seu primeiro dia de Escoteiro. Fechou os olhos, deitou na grama macia convidativa e sem perceber passou a narrar através da mente para a Árvore dos Sonhos um pouco de sua vida. Sempre quis participar. Seus pais contra. Fez tudo e nada. Era seu sonho ser Escoteiro. Não sabia a quem apelar. Um dia ouviu uma música, decorou e passou a cantar todas as tardes na varanda de sua casa. A música era uma velha conhecida do velho oeste americano. “Suzana”. Dizia - ¶Minha mãe vou lhe pedir, e não a quero aborrecer, para ser um homem forte, um Escoteiro eu quero ser! – Vou para o campo, aprender a trabalhar, não serei um peso morto e não darei o que falar! O meu Chefe, saberá me ensinar, andar pela floresta sem espinhos atrapalhar!¶ - E assim Tininho cantou por semanas e meses. Um dia seu pai se encheu e viu que precisa mudar. Viu que ele cantava plangente, queixoso e triste. Afinal era seu sonho de menino. O levou ao Grupo Escoteiro. A maior alegria de um menino sonhador aconteceu. Tininho voltou lá muitas vezes, muitas vezes contou seu sonho à árvore dos sonhos encantados sempre com um grande sorriso nos lábios.

                       Foi em uma tarde quente de agosto que a Árvore dos sonhos recebeu Nalvinha. Ela deitada na sombra gramada sonhava. Nalvinha sonhava em ser Escoteira. Com quinze anos procurou o grupo Escoteiro próximo a sua casa. Foi aceita e entrou na Patrulha Flor de Lis. Nalvinha vibrava com tudo. Ia para a casa, para a escola e sempre sua mente voltada para os escoteiros. Nalvinha não se achava bonita. Nunca achou, mas Totonho se apaixonou por ela. Ela não pensava em amores, pois o escotismo era sua vida. O pior aconteceu em um acampamento. Ela procurava lenha seca próximo ao seu campo de Patrulha. Totonho a segurou pelo ombro e a jogou ao chão. Nalvinha assustada gritou com ele e ele não parava, queria beijá-la a todo custo. Balbuciava que ela era sua vida, que a amava que viver sem ela era melhor morrer. O Chefe Lourenço ouviu seus gritos. O caso foi levado a Corte de Honra. A decisão foi unânime. Totonho seria expulso tão logo voltassem do acampamento. Nalvinha perdoou Totonho. Pediu ao Chefe que não o mandasse embora. Foi perdoado com uma suspensão de dois meses. – O tempo passou. Hoje Nalvinha é casada com Totonho. Vivem felizes como dois grandes amantes. Walace e Rosália são seus filhos. Nalvinha sorria de olhos fechados. Ela era a mais feliz do mundo. Um grande amor, dois lindos filhos e o Escotismo que vivia em seu coração.

                      Era bom deitar sobre a relva verde da Árvore dos sonhos. Quanta coisa ela me contou. Ah! Joel Simon. Um dia passou por ali viu a árvore e resolveu tirou uma soneca. Joel Simon era Chefe. Oito anos de atividade e recebeu sua Insígnia de Madeira. Joel Simon reviveu tudo que aconteceu com ele como chefe. Uma tela enorme surgiu em sua mente. Ali sua vida passava rapidamente. Quando resolveu entrar foi por causa de Carlinho, seu filho de sete anos. Queria ser lobinho. Porque não? Lá foi com ele. Nunca viu tanta alegria em uma criança. Resolveu entrar, pois tudo o atraía ali. Marly foi contra. Sua esposa estava ficando amarga. Ele tentava manter seu casamento, mas estava difícil. Insistia para Marly ir com ele. Um dia ele se acidentou em um acampamento. Acidente simples. Tentava descer por uma corda no alto de uma árvore. Perdeu o equilíbrio e caiu. Fraturou um braço e uma perna. Os escoteiros valentes o levaram até a estrada. Chamaram a ambulância. Marly quando soube ficou possessa. – Queria por que queria vê-lo fora do Grupo Escoteiro. Um dia ela resolveu se divorciar. Ele fez tudo para que não acontecesse. Não houve jeito. Ela foi embora. Não foi com ninguém. Voltou para a casa de seus pais. Deixou Carlinho com ele. Hoje ela voltou se arrependeu. Ele a abraçou e a beijou apaixonadamente. Ela pediu para ir ao Grupo Escoteiro com ele. Gostou. Disse que ia ser Chefe. Ah! Joel Simon, o Chefe Escoteiro mais feliz do mundo!

                Mas nem todos os sonhos são felizes. Noêmia era professora do Grupo Escolar Padre Eustáquio. Um dia viu uma Alcatéia de lobinhos passando em frente à escola. Era sábado. Ela fora lá porque precisava colocar em dia as provas que os alunos fizeram na semana. Noêmia tinha vinte e cinco anos e solteira. Não era bonita. Nunca foi. Ao nascer tiveram que operar sua boca. Um rasgo enorme. Uma parte dos lábios finos e outro grosso demais. Seus alunos olhavam para ela com medo. Fazia tudo para conquistá-los. Mas era difícil. Pensou em procurar o grupo. Não sabia o que a esperava. Um Chefe prepotente, rancoroso, a recebeu mal. Ela não sabia o que fazer. Ele dizendo a ela que não precisavam de ninguém. Que ela primeiro devia operar os lábios. Nenhum Escoteiro ou lobinho iria gostar dela. Que ela se tocasse. Noêmia saiu dali chorando. Ao atravessar a rua um ônibus a atropelou. Ficou tetraplégica. Sua mãe a levava sempre a Arvore dos sonhos. O Jequitibá chorava com ela. A embalou muitas vezes tentando com seu néctar retirado de sua folhas verdes como a servir de bálsamo para sua tristeza.

                     Ah! Eu gostava muito de ficar ali debaixo do Jequitibá frondoso. Tornamo-nos grandes amigos. Um dia vi dois homens da prefeitura dizendo que tinham de serrá-la. Impossível! Não podiam. Alegaram que ela ia cair. Cupins em seu tronco o demonstravam. Chorei muito. Ela não chorou. Disse-me que já era hora de partir. Ela estava cansada, precisava de uma nova morada para descansar dos trezentos anos que viveu na terra. Pediu-me para tirar uma muda. Tão logo ela se fosse que eu devia plantar um filho seu ali. Uma tarde vi que meu amado Jequitibá partira para outra vida. Plantei a muda. Um ano ele já dava sombra. Aos seis anos era um belo Jequitibá frondoso. Nunca esqueci o velho jequitibá. Quantos sonhos ele me contou. Durante anos ia lá sempre. Deitava na sombra gostosa e na grama verdinha macia. Meu Deus! O novo Jequitibá passou a dividir comigo os sonhos de quem o procuravam! Sou um homem de sorte. Valha-me Deus! Quantos amigos eu fiz, como é bom viver uma vida de felicidade e ser amigo de uma Árvore dos sonhos me faz feliz e renascer todos os dias!
                                

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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