sexta-feira, 6 de maio de 2016

A Sentinela.


Conversa ao Pé do Fogo.
A Sentinela.

                     Houve um tempo que não existe mais, tempo  da sentinela, do vigia, do guarda, do vigilante o olheiro ou como queiram chamar. Quem foi Escoteiro ou Sênior têm sempre uma boa história para contar das noites frias de inverno ou nas quentes do verão. Ficar de sentinela, muitas vezes era osso duro de roer. Os causos a beira de uma conversa ao pé do fogo ou mesmo uma montagem de um esquete no fogo de conselho a contar como enfrentamos nas noites escuras, armados de facão e bastão, um apito brejeiro a espera do ataque que não vinha. Era como viver o mocinho nas pradarias a ver se algum índio iria chegar para atacar o comboio das carroças e carruagens que desbravam trilhas e estradas do oeste selvagem. A mocinha dentro da carroça a dormir, o índio que sorrateiramente chegava rastejando, um tiro no ar e o ataque mortal.

                     Tivemos muitos jovens escoteiros, ou mesmo seniores batutas nas lides a espera de uma boa briga com os Coyotes ou os selvagens com seus tacapes mortais. A patrulha no seu campo antes de dormir o monitor gritava Vado o primeiro turno é seu! Nossa! Quanta importância era ser o primeiro. Todos iam dormir. Eu ali em pé rodando em volta da barraca, vendo a cada sombra um inimigo, uma vontade enorme de apitar o S.O.S aquele Velho código universal de socorro, utilizado para alertar quando alguém se aproximava. Conheci um Escoteiro que era metido a valente e no terceiro turno diz que viu um gigante se aproximando do campo de patrulha e se pôs a apitar feito um louco até que a patrulha toda acordada queria saber onde estava o gigante. Nada menos que um pequeno galho no escuro da noite ao sabor do vento subia e descia naqueles troncos fortes que não o deixavam cair.

                      E quantos valentes sentinelas, tremendo, com pensamentos aventureiros, pediam a Deus que invadissem o acampamento para que ele pudesse salvar a patrulha ou a Tropa da invasão do inimigo?  Estes a gente se divertia, o sol chegando, o terceiro e o quarto turno não chamados e ele o segundo turno dormindo abraçado a um tronco em volta de uma foguito já imberbe e acabado. Foi-se o tempo. A aventura acabou. Ainda existem Sentinelas? Guardas? Vigias? Vigilantes e afins? Acho que não. Olhar ao longe, ver o triscar de um galho pisado, sentir o cheiro trazido pelo vento, orelhas em pé olhos arregalados ouvindo sons imagináveis para depois contar aos escoteiros de aventuras que eles podiam dormir em paz. Se fosse hoje seria fácil atacar o acampamento. A maioria vidrado no seu celular sem sabe o que acontece em sua volta.  

                     O meu maior causo de sentinela aconteceu com um famoso batalhão do Tiro de Guerra da minha cidade. Um sargentão valente, jovens crescidos brincando de soldados, fuzil no ombro a marchar o sargentão gritando: - O que? Eles respondiam: Soldados do Brasil! Onde? Eles respondiam: Nas matas do Brasil! A gente menino Escoteiro ou Sênior a admirar os periquitos verdes sabendo que iriam guardar nossas fronteiras do inimigo se aparecer. Nunca esqueci o fato, o relato, o conto que garanto ser verdade e que passo agora a narrar. Perguntem ao Rael, Taozinho, Fumanchu ou mesmo ao Darci. Foi demais. Acampados acima da Ponte de São Raimundo, as margens do Rio Doce, nas quebradas do Iguaçu, um conjunto de belas tocas ou cavernas que o rio quando caudaloso construiu. Dava para dormir folgado, sem armar barracas e moitas de bambus se oferecendo para serem cortadas e construídas belas pioneiras da vida.

                      Lá estávamos nós, a Patrulha Sênior, nos divertindo, nadando no rio, alguns construindo um pesqueiro com lascas de bambus na curva do rio em um belo remanso, para pescar uns piaus, quem sabe um dourado ou mesmo um surubim que habitavam naquela época a bacia do Rio Doce. Hoje um monte de lama que alguns irresponsáveis deixaram um desastre acontecer. Tudo corria a contento, e eis que surgiu o batalhão de soldados do Tiro de Guerra. Paramos para ver a soldadesca montar suas barracas. O sargento Nonato no alto do seu bigodão gritava sem parar. Se era incentivo não sei, mas palavrões se jogavam no ar. À tardinha chegou um caminhão com a comida da macacada, ou melhor, dos periquitos verdes. Chamá-lo de periquito era uma desonra. Briga na certa. Soubemos que o famoso Capitão Joquinha prendia nas celas do quartel.

                     Darci veio correndo avisar que tinha encontrado uma bela abobora amarela das grandes. Era grande mesmo. Fizemos uma maca para trazê-la para o acampamento. O plano era simples e conhecido. Ficamos a tarde toda preparando. Com calma para não cortar no lugar errado. As seis ela estava no ponto. Toda limpa por dentro, uma pequena tampa em cima que só cabia uma mão, na frente boca de com dentes pontiagudos, olhos enormes e vista de longe era uma feiticeira má que iria atacar sem dó e sem piedade. Três velas em pontos escolhidos com folhas verdes para a fumaça e às onze e quarenta da noite acendemos as velas e eu mesmo nadei até parte do rio mais profunda. A correnteza não era tão forte assim. Em menos de cinco minutos ela passaria em frente ao acampamento dos soldados do Brasil. Dito e feito. Jacinto conhecido com Jacu estava de guarda. Apoitamos no alto do morro para ver os acontecimentos.

                    O primeiro tiro depois outro e a soldadesca dormindo acordou e cada um pegou seu fuzil e atirou como nunca. Gritavam sem parar: - É o capeta! É o Demônio! Deus do céu, de onde surgiu este satanás? Tiros e tiros. Gideão pegou a metralhadora ponto 30 e abriu fogo na pobre abobora que nem sei quantos tiros recebeu. O Sargento Nonato no alto de seu porte de machão deu um belo tiro e a abobora se partiu afundando. Corremos para o acampamento e dormimos o sono dos anjos. Duas semanas depois na reunião de sede eis que no portão o Capitão Joquinha, na sua pose de General adentrou sede adentro. Chamou o Chefe João Soldado. Ele olhando para nós. Mãe do céu, lá vem encrenca da boa. Dito e feito. Fomos chamados e perfilados em linha na posição de sentido na frente do capitão. Ele no alto de sua pose de General nos olhou de cima em baixo, passeou em frente de cada um olhou cabelo, chapéu, nariz e sapato engraxado. Seus olhos choviam chispas vermelhas.

- Patrulha Pelicano? – Sim senhor Capitão!
- Foram vocês que aprontaram com o exército brasileiro? – Sim senhor capitão!
- Se acham os tais e os melhores escoteiros do Brasil? – Sim senhor capitão.
- Então foram seis merdinhas que nem saíram das fraldas e botaram as forças armadas do Brasil para correr? – Ninguem disse nada. A coisa engrossava.
Ele começou a rir, depois gargalhava. A gente sem saber o que fazer começou a rir também. A cidade ficou sabendo e em cada ponto em cada esquina ou barbearia não se falava outra coisa: - Os escoteiros do Brasil botaram para correr o Exercito do Brasil!  

Bem, parte verdade. Posso jurar. Mas histórias são histórias, outro dia tenho outra para contar. Kkkkkk.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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