terça-feira, 17 de maio de 2016

As aventuras do Escoteiro Chico Landi.


Lendas escoteiras.
As aventuras do Escoteiro Chico Landi.

                            Eu conhecia pouco Chico Landi. Ele com 12 e eu quase Pioneiro havia enorme distância. Mas sua história todos conheciam. Ele mesmo quando entrou para o restrito Primeiro Grupo de Giwell um dia em reunião só dos IMs tive a oportunidade de ouvir dele toda a história que era contada no grupo e que virou mito e lenda. Sei que parte da historia aconteceu. Disse que seu pai era um fã incondicional de Chico Landi, um famoso automobilista brasileiro o primeiro a participar da Formula um. Motivo de seu nome. Seu apelido de Centelha na Tropa não pegou. Chico Landi gostava de dizer bem alto: - Escoteiro não corre, voa! Escoteiro que é Escoteiro não chora da risada! A chuva para o Escoteiro é como pétalas de rosas a cair em seu rosto! Não existe para o Escoteiro a palavra impossível.

                Tinha um caderno onde colecionava frases e ele mesmo inventava na hora outras tantas. A Baguira Vera não sabia como a Akelá Rosinha tinha tanta paciência com Chico Landi. Era um ótimo lobo, mas não parava de falar – Kelá! Tem dois meses que fomos ao acantonamento, vamos fazer outro! Kelá chega de reunião na sede. Vamos passear no campo! Chico Landi adorava a natureza. Quando passou para os Escoteiros tudo mudou. Era uma Tropa quase autônoma de chefia. Marcio o Chefe tinha pouco tempo para dedicar e deixava os monitores agirem sob a sua supervisão. Algumas vezes acampavam juntos e a Tropa seguia sozinha sem adultos. Monty o Guia da tropa dizia sempre: – Onde tem um Escoteiro tem uma Tropa e onde tem uma Tropa tem aventuras. Chico Landi deixou de ser bom aluno. Dona Laurinda conversou com seus pais. – Chico Landi deixou de estudar, só vive nas nuvens, Chico Landi não pode continuar assim, só fala em escotismo, escotismo e mais nada! Doutor Juvenal pai de Chico Landi era um pai compreensivo. Conversou longo tempo com o filho.

                 Chico Landi adorava o pai. Seguia seus conselhos a risca. Mas Chico amava o campo. Adorava correr pelas campinas, espantar as borboletas colher flores silvestres e ficar horas vendo os raios de sol de um amanhecer. Ele gostava de cantar. Sabia fazer nós, reconhecia na natureza qualquer gorjeio, qualquer canto – Olhe! Ouçam! É o pássaro Preto do serrado perdido aqui nas campinas! Pegadas? Chico era um bam, bam. Nos acampamentos sua Patrulha Lobo era a primeira a dar o grito para o almoço, jantar, inspeção, formaturas e sempre motivando a patrulha. - Monty, por que não ganhamos? Monty ria, ora, ora Chico Land, não podemos viver em um acampamento. A sede precisa de nós. Humm! Se é assim vamos fazer um Salcedo! Para quem não sabe Salcedo era um apelido que deram ao Comando Crow. Eles faziam diferente, um de cada lado, ao se encontrarem tinham de passar um pelo outro. Sempre um despencava no chão. A vida era bela para Chico Landi. Uma família que o amava, um grupo Escoteiro respeitado pela comunidade, uma Tropa de aventuras e uma Patrulha sem igual.

                      Não vamos esquecer Dona Laurinda a professora e o Padre Gabriel. Eles também faziam parte da família feliz de Chico Landi. A vida tem destas coisas, quanto menos se espera o destino bate na porta. Desta vez foi uma pancada forte do destino na vida de Chico Landi. Seis bandidos resolveram assaltar o Banco do Brasil da cidade. Prenderam os quatro praças e o sargento Nonô na cadeia. Acharam que a cidade estava dominada. No banco Pinta Cega um vaqueiro da fazenda Luvião não achou graça. Mandaram todo mundo deitar dando chute nas costas e na cara dos clientes. Zé Pinga Cega não levava desaforos para casa. Seu 38 dentro do bolso de seu paletó.

                  Nenhum dos bandidos reparou nele. Era um anão de um metro e cinquenta, magro e um bigodinho a lá Charles Chaplin. Com três tiros Zé Pinga Cega matou três, mais um tiro e outro caiu estrebuchando no chão. Dois correram e Zé Pinga Cega correu atrás. Eles abriram fogo e o Zé Pinga Cega recebeu um balaço nos quadris, mesmo caído atirou. Não acertou ninguém e desmaiou. Os bandidos fugiram sem levar nada. Levaram Zé Pinga Fogo para o Hospital de Eldorado a vinte quilômetros dali. O povo na praça assustado custou para notar que atrás de um pé de Jabuticaba Chico Landi gemia e cantava. Um canto triste. Ele cantava o Rataplã. Ninguem ouviu a principio. Dona Modesta viu. Deu um grito. Chico Landi sangrava seu rosto branco como cera. Mais um para o hospital de Eldorado. Ele tentou imitar o seu herói querendo caminhar com suas próprias pernas.

                  Ainda estava vivo. Uma bala perdida. Chico Landi ficou entre a vida e a morte. A escoteirada, a lobada e os chefes iam ao hospital de Eldorado visitarem-no. Dona Neném sua mãe dia e noite ao seu lado. Seu Pai o Doutor Juvenal fez tudo que podia. Chico não iria morrer, mas estava tetraplégico. Nunca mais iria andar. A noticia caiu como uma bomba na cidade. A lobada e a escoteirada choravam. O Padre Gabriel convidou toda a cidade para uma grande missa e pedir a Deus por Chico Landi. Era o menino mais alegre da cidade. Vivaz, grande Escoteiro, amante da natureza, era uma infelicidade ele ficar assim.

                A praça tomada, toda a cidade estava lá. Muitos Escoteiros eram coroinhas e no altar ajudavam na missa. Muitos com os olhos cheios de lagrimas, A Akelá Rosinha, a Baguira Vera e o Balu Nonato choravam como bebês. Monty o Guia da Tropa estava firme com seu bastão em pé ao lado do altar. Não chorava, mas seu coração estava sangrando. A ambulância com o Doutor Juvenal e dona Neném chegaram na praça. Chico Landi em uma cadeira de rodas chorava. Todos olharam para ele e soluçando. Alguém gritou – Uma palma para Chico landi! A praça ribombou de cima em baixo. Chico olhava sem acreditar. Ele não podia estar tetraplégico. Deus não ia dar a ele este caminho. Um grito enorme na multidão. Um silêncio sepulcral. Chico Landi se esforça e fica em pé. Impossível diziam os médicos que o assistiram. Chico sorria. Cambaleando foi até o altar. O padre Gabriel ajoelhou e gritou – Um milagre! Um milagre! Louvado seja Deus! Um coro de palmas durou bem uns vinte minutos. Sorrisos em profusão.

                 Os seis patrulheiros da Lobo o carregaram dando uma volta pela praça. Chico Landi ria e chamava em alto e bom som – “Monty, Monty”! Eu quero acampar! Eu quero voltar ao campo nesta primavera, eu quero ver as flores no monte Sariel, eu quero beber a água da fonte do roncador. Monty, Oh! Monty. Papai e mamãe estão sorrindo eles não vão dizer não. Chico landi levantou do banquinho de madeira que ele mesmo tinha feito. Eu juro por Deus que é verdade. Eu juro por tudo neste mundo. Chico landi com lágrimas parou de contar. Vi um enorme raio de sol iluminando aquela noite. O fogo que eram só brasas reacendeu. As fagulhas da noite iluminaram aquela clareira onde estávamos.


                 Uma brisa gostosa vindo do norte nos pegou de pronto. Olhei para Jota Mauro, ele sorria. Olhamos de novo para Chico Landi, ele olhava para o céu. Uma grande estrela brilhante estava lá. A maior estrela que eu já vira até então. Parecia que ela e ele eram um só. Lembrei-me de Chico Xavier: - Em minhas preces de todo dia, sempre peço coragem e paciência. Coragem para continuar superando as dificuldades do caminho naqueles que não me compreendem. E paciência, para não me entregar ao desânimo diante das minhas fraquezas!... “E guardemos a certeza pelas próprias dificuldades já superadas que não há mal que dure para sempre.”.

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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