terça-feira, 3 de maio de 2016

Um grande amor para recordar.


Lendas Escoteiras.
Um grande amor para recordar.

                      A patrulha não tinha simpatia por ele. Por qualquer motivo fazia desafios, queria brigar, falava palavrões e Joshua o monitor da Coruja perdeu a conta de quantas vezes o levou a Corte de Honra. Theo não se importava, para ele tanto faz ficar como sair. Sabia que no fundo amava o escotismo. Era uma válvula de escape para seu estilo belicoso e sua própria Avó sempre o aconselhara, mas ele nunca prestou atenção. Aos doze anos se tornou um dos mais perfeitos e perfeccionista construtor de pioneirías. Parecia que sempre fizera o mesmo, mas sabiam que ele nunca foi de Grupo Escoteiro algum. No campo era o lugar onde se sentia bem. Não ligava muito para o espírito de patrulha. Queria ter liberdade de ir e vir, buscar um bambu, uma vara de qualquer madeira nas matas ao redor. As demais patrulhas admiravam o campo da Coruja. Sempre perfeito. Chegavam e em pouco tempo tinham um fogão suspenso, uma mesa e bancos para sentar.

                     Theo tinha seu próprio facão, sua própria machadinha e não gostava de usar sisal. – Melhor um bom cipó trançado ou não, verde ainda, pois daria mais segurança e um aspecto mateiro – Dizia. Quem sabe era isto que salvava Theo de ser desligado do grupo. Para o Chefe Volante tanto fazia ele ficar ou não. Fazia seu trabalho com os rapazes e não era daquele de se interessar por um individualmente. Theo era bom em artimanhas e engenhocas. Suas fossas com tampas fáceis de abrir eram conhecidas por todos que acamparam com ele. Um dia retirou em um pequeno poço que fez atrás do campo água potável através de encanamentos de bambus e uma pequena bomba d’água feita com madeira de lei. Foi um sucesso. Isto deu aos Corujas uma fama que poucos tinham nos campos de patrulha.

                   Theo continuou mal educado. Nunca foi prestativo. Quando lhe diziam da Lei do Escoteiro sorria e dizia: - Ela não enche barriga! Pelo que os seus amigos de patrulha sabiam ele nunca fez uma boa ação. Na formatura não respeitava o garbo, se mexia, fingia dormir e escorar no Escoteiro da frente. Nonô o Cozinheiro nunca teve sua ajuda. Ele só se importava com suas pioneirías e mais nada. Ficava o tempo todo com o facão na mão a imaginar o que construir. Seu Catavento foi sucesso. Seu WC é comentado até hoje.  Ao quatorze anos Theo pensou em sair do Escoteiro. Não estava mais motivado. Nesta época fundaram a primeira Tropa feminina no Grupo Escoteiro. No primeiro dia todos acorreram para ver as novas Escoteiras. Ficaram sorrindo quando a Chefe formou as patrulhas e deu liberdade para elas escolherem o grito e o nome. Theo de longe nem olhava. Não tinha nada contra, mas também não iria paparicar ninguém.

                       No término da reunião ia pensativo pela Rua das Acácias quando sentiu uma mão em seu ombro. Olhou surpreso, pois nunca deu esta liberdade a ninguém. Era Jovita, uma menina morena que acabara de se matricular na Tropa Feminina. Jovita não era bonita, simpática talvez, mas tinha uma voz encantadora. – Posso ir com você? Moramos no mesmo quarteirão. Eu já o vi várias vezes ela disse. Theo não disse nada e continuou seu caminho. Jovita ao seu lado falava, falava e falava. Parecia uma maritaca a matraquear. Queria saber de tudo, queria conhecer um acampamento, queria fazer as provas e deu um belo sorriso quando disse que em breve seria Lis de Ouro. Theo sem perceber sentiu que estava gostando da companhia dela. Nunca fora amiga de nenhuma menina, nunca pensou em namorar apesar dos seus quatorze anos.

                     Agora eles se encontravam todos os dias. Depois da escola, a noite no bairro, ficou amigo de Dona Aurora mãe de Jovita. Em pouco tempo estavam namorando e ele nem sabia o que era isto. Nunca deu um beijo em Jovita. Quando pegou em sua mão pela primeira vez sentiu um calafrio na espinha. Não quis lavar a mão. Só queria sentir o perfume que ela deixou. Uma mudança radical se deu em Theo. A patrulha não estava acreditando. – O que houve? Pensava Joshua o monitor da Coruja. Theo agora era educado, prestativo, sempre se oferecendo para ajudar. No primeiro acampamento com as Escoteiras pediu ao monitor se podia ensinar e colaborar com as Escoteiras nas pioneiras de campo. Consultado o Chefe Volante disse não. Theo não se revoltou. Um amor incrível surgiu entre Theo e Jovita. Um dia depois da reunião na Praça Santo Antonio eles se sentaram em um banco e ele deu seu primeiro beijo.

                       Foi demais para ele. Não sabia que o primeiro beijo com amor é como provar uma fruta sem saber o gosto e sentir o sabor incomparável querendo prová-la cada vez mais até que ela se tornasse seu sustento. Não dormiu naquela noite. Sentado em sua cama não parava de sonhar. Sonhava com uma casinha pequenina, branca, janelas azuis, portão de madeira e cheia de flores em volta. Ah! Estes meninos escoteiros quando descobrem o primeiro amor. Ele e ela sempre juntos, a cidade admirava aqueles jovens ainda imberbes sem nenhuma experiência, mas respeitosos e aprendendo o que o verdadeiro amor pode fazer na vida de cada um. A vida, no entanto não é um mar de rosas. Da noite para o dia o Pai de Jovita apareceu. Estava desaparecido e ninguém sabia que passou uma boa temporada na prisão.

                      Não gostou do que viu. Ameaçou Theo. Se ele não se afastasse alguém iria encontrá-lo cheio de cupim em uma cova rasa qualquer no Morro do Avestruz. O que fazer? Resolveu fugir. Com dezesseis anos não tinha nada. Nem dinheiro para ônibus trem tinha. Combinou com Jovita fugirem para longe. Ela preparou sua mochila, roubou alguns víveres e ele fez o mesmo. No sábado despediu de sua patrulha e ninguém entendeu nada. Só dois dias depois a cidade ficou sabendo que os dois fugiram. O pai de Jovita correu céus e terra atrás deles. Jurou matar a ambos. Dois meses depois o encontram morto na estrada do Chapecó com uma lança de madeira pontiaguda no coração. Quem foi e porque nunca souberam. Ninguém nunca mais ouviu falar dos dois. Sumiram no mundo como se fossem nuvens que se desmancham no ar.

                       A vida nos reserva surpresa. Uns dizem que é destino outros que são escolhas e os mais religiosos que são histórias de Deus. Joshua agora com 25 anos, formado como engenheiro civil um dia recebeu a visita de um alto diretor de uma empresa nova que se destacava pelos preços baixos de materiais de construção. Na sala de reunião havia um homem e uma mulher. Ele olhou bem, sorriu e fingiu não reconhecer. Falaram por horas, discutiram preços e na saída dos dois Joshua quando os dois alcançavam a porta de saída gritou sem ser impertinente: - Obrigado Theo e Jovita. Sempre Alerta, que Deus faça de vocês o casal mais feliz deste mundo!


                         Escotismo é assim, um caminho que se bem escolhido leva a felicidade. Se me disserem que o que o que se faz aqui se paga, Theo e Jovita pagaram pouco para serem felizes. Que eles consigam continuar assim por toda a vida afinal, a gratidão é a memória do coração!

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