domingo, 12 de junho de 2016

Lis de Ouro, o sonho de Lord Jim.


Lendas escoteiras.
Lis de Ouro, o sonho de Lord Jim.

              Lord Jim era um sonhador. Desde que entrou para os escoteiros ele sonhava. Sonhava com acampamentos, com excursões, com a Patrulha, com as viagens enfim, Lord Jim gostava mesmo de sonhar. Havia uma diferença em Lord Jim, ele sonhava com os pés no chão. Emocionou-se no dia de sua promessa. A tropa em posição de Alerta!  Mino o Monitor ao seu lado, o Chefe Maílson o olhando nos olhos e ele dizendo a Promessa Escoteira sem errar. Lembrou ali na ferradura quando entrou na tropa. O abraço do Chefe, do Monitor e de todos os patrulheiros da Patrulha Gavião. Ele ainda não conhecia estas provas de amizade. Nunca tinha visto. Diziam que os escoteiros são fraternos. No primeiro acampamento ele sentiu a verdadeira felicidade de viver como um herói das selvas. Aprendeu rápido. Até como cozinheiro ajudou.

                 Quando começou na Patrulha Gavião o batizaram como Lord Jim. Seu nome era Stefano. Gostou do apelido. Quando leu que Baden Powell também foi Lord seu orgulho mudou para melhor. Agora seu sonho era outro. Correu atrás do Cordão Verde e amarelo. Não foi difícil. Em um ano e meio conseguiu. Melhor ainda recebeu a segunda Classe em uma noite de lua cheia, no Acampamento das Vertentes, ascendendo o fogo do conselho com um palito e pulando as chamas três vezes para receber também seu nome de guerra. Apesar de que a tradição rezava ser um nome indígena ele pediu para continuar sendo Lord Jim. Seu Monitor o abraçou. Todos deram um enorme grito de guerra da tropa. – Viva Lord Jim! O Chefe Maílson entregou o cordão Dourado e ele se derreteu todo. Não perdia um acampamento, nenhuma excursão. Era um dos primeiros a chegar à sede para as reuniões. Não tinha sonhos de ser Monitor, seu sonho agora era ser um Escoteiro Correia de Mateiro. Deixou as especialidades, já tinha muitas delas.

                 As provas foram feitas paulatinamente. Recebeu do seu Monitor como deveria ser e as datas. Ele mesmo procurou o Capitão Lamartine dos bombeiros para que aprendesse a prova das especialidades de Bombeiro e Socorrista. Acampador tirou facilmente. Em dois anos na tropa já tinha mais de trinta noites de acampamento. Comprou um caderno de duzentas folhas e ali anotava tudo. Datas, onde, quando, tempo e as partes importantes que lá aconteceram. Agora estava se preparando para a jornada. Ainda era realizada na Tropa e era a apoteose. Todos que fizeram eram respeitados e até endeusados na tropa. Todos queriam ouvir os contos aventureiros da jornada. Aprendeu a ler mapas, tirava de letra os pontos cardeais, colaterais e sub. colaterais, sabia o que era um azimute, graus, aprendeu com facilidade a fazer um esboço de Giwell e seu passo Escoteiro e passo duplo eram perfeitos. Nunca em tempo algum ele errou no seu passo duplo. A quilometragem não tinha erros.  

               O dia da jornada chegou. Ele e Leôncio que ele mesmo convidou partiram rumo ao Vale do Roncador. Não conhecia, nunca tinha ido lá. O Chefe e o Assistente distrital Escoteiro tinham conversado antes. Um ônibus o levou até a estradinha do Sitio do Marcondes. Sua mochila estava perfeita. Nada de mais nada de menos. O farnel o de sempre. Um macarrão, uma batata, um arroz, sal, alho e um vidrinho de gordura. Sabão e mais nada. Não estava pesada. Queria levar a velha Silva de guerra, mas os seniores estavam com ela. Sobrou uma Prismática. Tudo bem. Ele dominava as duas com perfeição. Na porteira abriram o mapa. Na mosca. Era ali mesmo. Ele contava os passos e Leôncio anotava o que via por ali. Dois pintassilgos, um Anu do Brejo, beija flor voando longe, dois macaquinhos pregos no pé de Jaca.

                Às seis e meia da tarde chegaram ao sitio do Marcondes. Não havia duvida. Duvida ouve na senhora que os recebeu. Parecia que não sabia o que eles queriam, mas disse que eles poderiam usar o riacho e acampar a vontade. Uma sopa deliciosa, lavar vasilhame, limpar bem a barraca para evitar animais peçonhentos, e após uma vista no relatório e uma oração foram dormir. Levantaram cedo. Um café, biscoitos nova arrumação e pé na taboa. Agradeceram à senhora e partiram. Sabiam que deviam atravessar a Mata do Canarinho, mas disseram que não eram mais de quatro quilômetros dentro dela.  Engano. Meio dia, uma hora e não saiam de dentro da mata. Voltaram. Foram até o sitio. Perguntaram. O mapa não ajudava. A senhora disse que eles erraram, se voltassem pela serra eles veriam o caminho.

              Duas da tarde. Combinaram de chegar à sede às cinco da tarde. Isto se o ônibus não atrasasse. Agora sim o caminho estava correto. O mapa voltou a funcionar. Só às sete da noite chegaram ao ponto de ônibus. Demorou. Chegaram à sede as onze da noite. O Chefe Maílson muito preocupado. O Assistente distrital não quis esperar. Foi embora. Disse que não daria a prova como realizada. Se não tem responsabilidade com horários não merecem a Primeira Classe, disse. Dito e feito. Foram reprovados. Lord Jim não chorou e nem desistiu. Ele tinha têmpera de escoteiro. Seis meses depois repetiu a jornada. Desta vez conseguiu fazer tudo no horário. Lord Jim fez do seu sonho realidade. Pediu ao Chefe Maílson para que o Liz de Ouro fosse entregue também no Fogo de Conselho. Claro que sim o Chefe disse.


             Noite escura, raios, trovões, o fogo aceso. O Chefe queria voltar para o campo. Começou a cair uma tempestade que encharcava a todos. Lord Jim chorou. Preciso receber agora Chefe! Não posso esperar outro acampamento. Terei feito quinze anos e serei Sênior! A chuva caia aos borbotões. A tropa ficou de pé. Em posição de sentido. Trovões ribombavam pelo ar. Lord Jim ali em pé em frente ao Chefe. Era mesmo um vendaval dos bons. O vento soprava forte. Mino o Monitor colocou a mão no seu ombro. - Você está pronto Lord Jim? Sim ele disse. O Chefe entregou o Distintivo Liz de Ouro. Ele fez questão de refazer a promessa. Deu um enorme sorriso. Um raio assustador atravessou os céus. A luz que ele produziu mostrou um rosto de um Escoteiro orgulhoso e valente. Agora era um Escoteiro Liz de Ouro! Agora tinha muitas histórias para contar! Com ribombos e assombros da chuva que caia intermitente, a tropa ainda em posição de sentido cantou o Rataplã. Todo o hino. A selva recebia com orgulho aquela chuva intermitente e o cantarolar dos escoteiros! Ah! Sonhos! Como é bom sonhar e os ver realizados. Viva Lord Jim. Um Escoteiro Lis de Ouro para sempre. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....