sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Lendas Escoteiras. O escoteiro Caçador de Onças!


Lendas Escoteiras.
O escoteiro Caçador de Onças!

                 Gente fina Totonho Freitas. Hoje ele estaria com 73 anos e eu passando meus 75 anos. Fomos escoteiros na mesma tropa. Patrulha diferente, mas sempre amigos. Estudamos na mesma classe. Ele se tornou um engenheiro famoso, eu ao contrário me tornei um “velho” rabugento aposentado e duro. Totonho tinha uma veia de poeta. Intercalava o que dizia com frases que não sabia se era dele mesmo. – “A juventude não é uma época da vida, é um estado de espírito” Olhei enigmaticamente para ele. Completou: - - Sabe meu amigo, se eu pudesse voltar à juventude novamente, cometeria os mesmos erros de novo. Só que de maneira mais saborosa, mais aventureira. Lembro muito de Totonho. Era Escoteiro de coração sempre alegre e prestativo. Totonho era não era como eu. Mesmo com 73 anos ele ainda participava do Grupo Escoteiro Estrelas Cintilantes. Eu não. Difícil sair de casa com a saúde que tenho.

                  Célia serviu um cafezinho e algumas guloseimas. Totonho começou a contar o acampamento no sitio das Três Porteiras que não pude comparecer. A gripe me pegou de jeito. Chorei muito, mas o que há de se fazer? Local de grandes acampamentos. O proprietário um amigão do Chefe João Soldado e dizia que a porteira sempre estaria aberta para nós. Interessante que só vi uma. Porque chamavam três porteiras não sei. Local maravilhoso uma linda mata virgem e uma lagoa enorme, duas nascentes e um belo córrego com muitos peixes. O chefe Jonas fez um desafio às patrulhas e elas claro aceitaram. Éramos quatro patrulhas. Lobo, Pantera, Leão e Morcego. Eu da Lobo e Totonho da Morcego. Seriam precisamente três desafios. O primeiro, não levar alimentos de espécie alguma. Só óleo e sal. O segundo não levar barracas e nem material de sapa. E o terceiro nos proibia de dormir no chão depois do primeiro dia. Como era época de férias, seria um acampamento para oito dias. Nas mochilas só uma muda de roupa e um cobertor além dos materiais de higiene pessoal.

                   As patrulhas aceitaram o desafio. Eram patrulhas com grande experiência de campo. Vários primeiras e segundas classe. Totonho me olhava e ria dizendo que perdi o melhor acampamento de minha vida. Quando somos jovens, temos momentos tão felizes que achamos que vivemos em um mundo mágico, como é nossa imaginação. Chefe Jonas dizia que os velhos acreditam em tudo, as pessoas de meia idade suspeitam de tudo, e os jovens, há! Os jovens eles sabem de tudo! Quando me contaram as histórias sorri e pensei que devia ter ido mesmo gripado. Dormir em abrigos feitos no alto da árvore não era difícil. Fizeram uma cabana pequena com galhos quebrados nas mãos, montados em bambu seco encontrados em um bambuzal. O pior estava por vir. A alimentação. O monitor mandou três da patrulha saírem à caça. Ficar cinco dias comendo frutas e só aves na brasa não dava. No inicio uma barra depois se acostuma.

                 Eu não sabia ainda da versão do próprio Totonho. Só sei que aumentaram tanto que não deu para acreditar. Ele e seu monitor saíram à caça. Pareciam dois valentes aventureiros em busca do Leão da Montanha. Totonho armado com seu bastão e muitas pedras no bolso. Encheram os bolsos com pedras retiradas do riacho. Em seguida montaram diversas armadilhas “tipo pirâmides”, tendo como iscas pedaços de mamão. Acreditaram que poderiam pegar umas pacas e se possível um tatu, contava Totonho. Rindo e cantando, voltaram à tardinha com três pacas vivas e um tatu. O duro foi Zé Coringa o cozinheiro matar os bichos. Totonho contava e ria. - Ele olhava nos olhos delas e pensava – Caramba! Nem sabem quem sou eu. Matá-las? Nunca! Muitos fizeram o mesmo. Procuraram o Chefe Jonas no campo de chefia. A surpresa deles foi enorme. – Chefe, não temos coragem. Soltamos os bichos. Uma fome enorme. Alguns já sabiam onde havia vários pés de goiaba e mamão. Goiaba verde. Mamão verde. Comemos assim mesmo. Na madrugada uma tremenda dor de barriga.

                  Passaram a noite toda gemendo e dormindo mal. No dia seguinte a fome aumentou. Fizeram uma Corte de Honra para decidirem se iriam retornar. Ninguém quis dar o braço a torcer. Afinal eram ou não escoteiros? Correr ao primeiro sinal de perigo? Resolveram pescar. Pescar como? Alguns juntaram galhos quebrados em arvores e amarrados com cipó, fizeram uma pequena rede. Deu certo. Muitos lambaris e carás e até mesmo quatro traíras enormes. Acender um fogo era fácil. Todos sabiam como fazer. Nunca comi peixes tão gostoso dizia Totonho. Alguém disse ter descoberto próximo ao riacho, plantas que pareciam inhames. Agora era peixe com inhame. De novo a dor de barriga. Estávamos aprendendo a ter dor de barriga naturalmente. Ficamos craques! Risos. O chefe Jonas não interferia. Era nosso desafio. Só visitava nosso campo pela manhã para inspeção, na hora do almoço e a tarde sempre formava a tropa para um jogo e algum adestramento mateiro. A noite um jogo noturno.

                No dia seguinte achamos que devíamos pegar um animal maior para comer e guardar a carne. Fizemos uma enorme armadilha no chão, um grande buraco e tapamos com capim. Em cima duas rolinhas mortas. No dia seguinte uma surpresa. No buraco uma Onça pintada! Devia pesar uns 80 quilos ou mais. Estava cansada de tanto lutar para sair Dalí. Olhou-nos com aqueles olhos de cachorro ladrão. Totonho contava como se estivesse olhando naquele buraco a enorme com a onça pintada. – Ela parecia ter quebrado as pernas e estava quase morta. Não havia mais jeito de soltá-la para a natureza. A patrulha resolveu dar cabo dela. Matar como? Achamos um pedaço de árvore bem grande. Todos seguravam na ponta e de uma só vez a pancada na cabeça dela foi forte. Escoteiros unidos para matar! A onça morreu. Totonho disse que chorou. Arrependeu-se de votar a favor da morte da onça. Mas agora estava feito. Vado, amarramos pelos pés e mãos, enfiamos um bastão que envergou e foram necessário dois escoteiros se revezando até o campo de patrulha. Foi uma festa. O chefe Jonas e o assistente também. Os chefes ficaram tristes ao ver a onça morta. Todos ficaram.


                  Mesmo com a escoteirada triste foi feito um churrasco. Uma festa regada a tristeza. Desta vez enchemos a barriga. Churrasco de carne de onça. A noite uma enorme tempestade caiu no acampamento. Raios, trovões parecia que o mundo vinha abaixo. Chefe Jonas nos avisou para sair dali. Dito e feito. Uma ventania jogou tudo no chão. Passamos aquela noite debaixo de arvores, mas a chuva ultrapassava as folhas. Alguns se enrolaram em cobertores e mesmo molhados davam alguma proteção. Totonho meu amigo, me diga. É verdade mesmo a historia da onça? – Totonho riu. Claro. Sem ela o acampamento não teria valido a pena.  Não sei hoje se poderia ser feito um acampamento assim. As normas para acampar mudaram. Os chefes também. Não condeno, Risos. Mas eu também fui um. Devia ter ido naquele acampamento. A história da onça pintada de 80 quilos de Totonho é dura de engolir. Mas toda a Tropa confirmou. Enfim um escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale mais que a própria vida!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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