sábado, 29 de outubro de 2016

Coisas da vida. Carol.


Coisas da vida.
Carol.

               Porque você não matricula seu filho nos escoteiros? Olhei para Jane minha vizinha sorrindo. Nem pensar. Ele só tem sete anos. - Mas é a idade certa. Ele pode ser Lobinho e tenho certeza vai gostar muito. Tanto pensei que no sábado fui lá conhecer. Gostei do que vi. Meninos brincando, sorrindo e disciplinados. Fiz sua inscrição e tive a sorte de ter uma vaga. A taxa mensal era pequena. Os gastos não eram tantos. Gilberto adorou. Voltou para casa falando maravilhas dos amigos, da Akelá do Balu e da Bagueera. – Tem outros chefes Mamãe, mas não decorei o nome deles. Três meses depois me sentia como um deles. Sempre ajudando onde precisassem de ajuda. Chefe Valdo me convidou a participar na chefia. – Onde Chefe? Nos lobinhos tem muitos chefes. – Nos escoteiros Carol. Você aprende fácil. Não é difícil e o Chefe Demétrio está sozinho.

                Assisti duas reuniões deles. Gostei. Achei errado ter meninas e meninos daquela idade juntos sem uma Chefe feminina. Tinha minhas dúvidas com o Chefe Demétrio. Sempre me olhava de maneira lasciva o que não me agradava. – Vai ver que é impressão minha pensei. Afinal ele sempre foi respeitoso e me tratava com educação. Fiz um curso e adorei. Comprei alguns livros e devorei página por página. Senti que a Tropa não crescia. Eram dezoito e alguns faltando. Quatro meses depois fomos acampar. Os faltosos retornaram. A escoteirada vibrava com acampamentos. Sempre cobrando, mas acampar não é fácil. Uma estrutura enorme para montar e realizar. Insisti com o Chefe Valdo para fazer minha promessa antes de acampar. Convidei Matheus meu marido para assistir e ele franziu a testa mostrando não estar interessado.

                  Matheus sempre foi um bom marido. Tivemos uma época inesquecível logo quando casamos. O tempo foi passando e aquela paixão diminuindo. Eu sabia que o amava e ele era bom pai e bom marido. Trabalhava muito e chegava em casa cansado. Poucas vezes me perguntou sobre os escoteiros. Fiz a promessa e até chorei. Foi lindo demais. Pensei comigo que seria escoteira para sempre. Minha alegria com o acampamento foi como se tivesse recebido uma injeção de felicidade. Chegamos lá ainda pela manhã, o corre, corre da escolha do campo, a montagem e a meninada cantando e dando o grito de patrulha quando terminavam alguma pioneiria ou alguma artimanha ou engenhoca. Ajudei o Chefe Demétrio na montagem do campo de chefia. Duas barracas uma minha e outra dele. Dividimos o serviço de limpeza e cozinha. Não dependíamos dos escoteiros para refeições.

                  Tudo corria a mil maravilhas. Estava encantada com tudo. A alegria de todos era demais. Amei os jogos noturnos, a conversa ao pé do fogo e no penúltimo dia o Fogo de Conselho. Foi demais. A cadeia da fraternidade ficou cravada no meu coração para sempre. Após o toque de silêncio com o Chifre do Kudu todos foram dormir. Fiquei na porta da minha barraca esperando o sono chegar. Uma banqueta era um convite para ficar olhando o céu cheio de estrelas. O Chefe Demétrio se aproximou. Sentou ao meu lado. Sem eu perceber passou as costas da mão em meu rosto. Senti um calafrio. À noite, os vagalumes o som da floresta o lago cinzento e o céu cheio de estrelas me mantiveram hipnotizada. Não sei por que não reagi. Tudo aconteceu sem esperar. Quando lembro choro do erro que cometi.

                   O escotismo depois disto nunca mais foi o mesmo para mim. Disse ao Chefe Valdo que não ficaria mais nos escoteiros. Tentou saber por que, mas não disse nada. Comecei a faltar. Levava Gilberto e vi que ele também estava desanimado. Um dia saímos. Fiz questão de agradecer a todos. Matheus nunca me perguntou por que saí. Acho que ele adivinhou, pois passou a me dar maior atenção e fazíamos lindos programas juntos. O Velho amor voltou em todo seu esplendor. Aquela noite de acampamento que devia ser a melhor da minha vida só trouxe tristeza e decepção. Ainda gosto do escotismo, minha promessa nunca esqueci. Sei que não tem volta. Eu errei e não Demétrio. Ele nunca me procurou nunca me deu falsas esperanças e manteve o segredo com ele por toda vida. Sei que muitos passam por isto e tudo fica normal com o tempo. Não era meu caso.


                   Não voltei mais ao Grupo. Ele não teve culpa. A culpa foi somente minha. O escotismo é maravilhoso sinto enormes saudades e belas recordações das reuniões, das amizades dos sorrisos da meninada. Mas eu tenho a culpa de tudo. Preciso aprender a não desculpar as pessoas, mas primeiro, falta eu aprender a dizer não!

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