sábado, 12 de novembro de 2016

Amargo Pesadelo.


Lendas Escoteiras.
Amargo Pesadelo.

                Dei a volta por trás do Morro do Cachimbo. Uma volta enorme, mas não queria ser visto. Não deixaria Zé Tadeu partir no trem rápido do meio dia sozinho. Não importa o que pensariam de mim, mas até hoje eu nunca acreditei na Policia que disse ser ele o culpado do roubo na casa do Senhor Pedrão gerente da Caixa Econômica. Dona Norma a vizinha jurou por todos os santos que o viu entrar pela porta da cozinha antes do meio dia. – Capitão Cirilo o Delegado comentou com o Chefe João Soldado que as provas eram muitas. Não havia como não enquadrar Zé Tadeu. Dizia ele que ouve outros casos, mas ele não tinha provas. Que casos? Eu nunca ouvi falar de nenhum. A Corte de Honra não acreditava e não queria condenar o Escoteiro mais querido da patrulha Quati.

                 Nunca eu vi tão baixo astral na Tropa Escoteira. Todos tinham Zé Tadeu como um dos melhores escoteiros que passaram pela Tropa e tinham por ele uma enorme admiração, não só pela sua maneira simples de tratar a todos, mas também porque ninguém ficava triste quando ele estava por perto. Zé Tadeu foi criado pela sua Avó Dona Anastácia, uma senhora de um coração de ouro. Quando a patrulha ou mesmo outros escoteiros da Tropa iam lá, ela não deixava de oferecer biscoitos de polvilho, brevidade e sempre a fritar deliciosos bolinhos de chuva. Ela vivia de uma pensão do marido falecido e nunca deixou faltar nada para Zé Tadeu. Diziam a boca pequena que ele era o melhor engraxate da cidade. Eu sei que com o fruto de seu trabalho ajudou Tonho Morato a comprar seu uniforme. Doou um cantil usado para o Pascoal Lacerda. Se fosse anotar um caderno não daria para escrever todo bem que ele praticava na tropa.

                 Perdi a conta de quantas vezes ele levou biscoito, banana, laranja e chegou ao ponto de comprar uma maçã para ao Cirilo só porque ele disse que gostava e não podia comprar. Cirilo desde que nasceu só tinha uma perna, a outra encurtada não o ajudava para andar.  E nos acampamentos? Era de uma bondade tremenda. Era um especialista em arrumar a tralha na carretinha quando íamos acampar ou excursionar. Oferecia-se para ficar na ponta do cabeçote de madeira onde o peso era maior. Quando menos se esperava ele fazia não só para sua patrulha, mas para outras também fossas de líquidos e detritos que só ele sabia fazer. Tomaz o cozinheiro tinha por ele enorme estima. Não deixava faltar água, lenha e sempre quando entrava na mata lá vinha ele com um mamão papaia do mato, ovos de codorna, taioba da beira da lagoa e frutas que ninguém conhecia.

                Ele não esperou o julgamento da Corte de Honra. Agradeceu a todos pela confiança logo depois que foi solto por insistência do Chefe João Soldado. A dúvida grassava em todos os escoteiros. Pelo sim pelo não sua Avó resolveu voltar para as terras que tinha no Piauí. Uma dor doida em muito de nós com esta partida. Ninguem combinou nada, até mesmo demonstraram que se ele quisesse partir que fosse, mas ninguém iria na estação dar adeus. Cheguei lá ressabiado. Fui de uniforme. Seria minha homenagem a ele para dizer que seriamos amigos para sempre não importa onde ele estivesse. – Vado Escoteiro, só entre nós sem comentar com ninguém. Fique de olho no Messias. – Por quê? Perguntei. – Por nada. Mas ele na Tropa pode aprontar para vocês um dia.

                 Em cada canto da estação a plataforma recebia um Escoteiro. Em pouco tempo a Tropa toda estava lá. Até o Chefe João Soldado compareceu. – Todos nós demos um grande abraço em Zé Tadeu e ele partiu choroso dando adeus através da janela do vagão de segunda classe. Fiquei matutando porque só agora ele me falou do Messias. Aos poucos fui ajuntando fio por fio da meada. Era um sumiço aqui outro ali e muitos quando Zé Tadeu foi acusado acharam que era ele. Não deu outra. Outro roubo aconteceu na casa do seu Modesto, vereador e dono da loja de roupas sem esquecer que era presidente do Rotary Club. De novo dona norma acusou Zé Tadeu. – Mas como? Eu disse se ele já tinha partido há dois meses?


               Ela levou o delegado ao grupo e apontou o Messias. – Mas a Senhora não disse que era o Zé Tadeu? – Seu delegado, este é o Zé Tadeu! – Messias saiu do grupo, a Tropa se reuniu para escrever uma carta em nome de todos ao Zé Tadeu contando a verdade acontecida. Nunca mais ouvi falar no Zé Tadeu. Ele fazia falta e como. Enfim a vida continua. Culpados e inocentes quem sou eu para julgar? De uma coisa eu tenho certeza, é preciso que a justiça aconteça no momento certo, porque de nada adianta ela se fazer depois que o tempo estancou a dor e fechou a ferida. 

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