sexta-feira, 18 de novembro de 2016

E Leo Marcondes recebeu seu Cruzeiro do Sul


Lendas Escoteiras
E Leo Marcondes recebeu seu Cruzeiro do Sul

                  Leo Marcondes tinha o sorriso de um vencedor. Os lobos de Seeonee sorriam com ele. Lilian, a Bagheera lhe deu um forte abraço. – Leo estou orgulhosa de você! Eu sabia que você ia conseguir. Lembra-se do que lhe disse? Valeu o seu esforço. Rosaldo o Baloo, também foi lhe dar um abraço. – Parabéns, Leo Marcondes! Seu desafio foi vencido. Ainda terão outros na vida, mas este você lutou e conseguiu.  Aquele foi um dia de festa na alcateia. Lembravam-se quando, há três anos, Leo Marcondes chegou para ser lobinho. Ninguém acreditava que ia dar certo. Alguns foram contra e acharam que o grupo escoteiro não estava preparado. Foi assunto para o Conselho de Chefes e a discussão entrou noite adentro. Finalmente aprovaram a entrada de Leo Marcondes. Ufa! Ainda bem. Para os chefes da Alcatéia foi uma experiência fantástica.

                O que Leo Marcondes tinha de especial? Ele era portador da Síndrome de Down. Dona Etelvina, sua mãe, uma pobre faxineira nada entendia assustou-se quando os médicos lhe disseram quando ele nasceu. Nunca soube o que era a tal síndrome de Down. Dona Etelvina ficou grávida do seu antigo patrão que não assumiu. Ela nunca casou. Seu patrão mandou-a embora e ela não se intimidou. Conseguiu uma creche para Leo enquanto trabalhava. A creche nem sabia o que Leo tinha. Uma Assistente Social achou um absurdo Leo ficar misturado com outras crianças. Dona Etelvina moveu céus e terra para ele continuar. E assim o tempo passou.

                Quando fez sete anos, não havia escola para matriculá-lo. Sempre a mesma desculpa. - Não estamos preparados. Arlete ficou sabendo através de uma amiga em cuja casa dona Etelvina fazia limpeza uma vez por semana. Arlete era a Akelá de uma alcateia de lobinhos e lobinhas. Ela tinha uma vaga ideia do que era a Síndrome de Down. Não era um bicho de sete cabeças. Fora a aparência facial, o portador podia desenvolver quase todas as atividades normais de um menino comum. Seria até possivel em alguns casos haver um retardo mental leve ou moderado. Arlete se informou com médicos que conhecia. Disseram a ela que as crianças portadoras encontravam-se em desvantagem em níveis variáveis face às crianças sem a síndrome. Ela não sabia se Leo Marcondes tinha alguma anomalia que poderia afetar seu sistema corporal.

             Estudou diversas características e chegou à conclusão que Leo Marcondes poderia ser um Lobinho. Arlete não era fantasiosa. Nunca foi. Leu muito sobre grupos escoteiros que se dedicavam a pessoas portadoras de deficiências especiais. Sempre achou um trabalho formidável. Porque não tentar? Muitos acharam uma ideia absurda. O que vão achar os outros lobinhos? Como ele fará para acompanhar o crescimento de todos na alcateia? Eram somente senões. Ninguém para dizer: – Ótima idéia! Quando o conheceu ela sentiu uma enorme amizade e admiração por ele.  Tinha lido sobre o preconceito e o senso de justiça com relação aos portadores da Síndrome de Down no passado. Aprendeu que muitos deles se desenvolveram muito bem na escola e deixá-los fora do convívio social era um verdadeiro absurdo. Nunca tinha visto Grupos Escoteiros com jovens portadores de deficiência física. Por quê? A pergunta ficou sem resposta.

              Porque não serem os primeiros? Iria fazer tudo para que Leo Marcondes se desenvolvesse como os outros suas tarefas e habilidades. Entendia perfeitamente que crianças com Síndrome de Down devem ser reconhecidas como são e não como gostaríamos que fossem. As diferenças deveriam ser vistas como ponto de partida e não de chegada na educação escoteira. Se necessário, seriam desenvolvidas estratégias e processos cognitivos adequados. Não teve mais dúvida. Convenceu a dona Etelvina a matriculá-lo no Escotismo. Estranhou quando viu as dificuldades entre os chefes do Grupo. Muitos tinham dúvidas e não queriam assumir.

             Ela sabia que o apoio de um estabelecimento de ensino fosse público ou privado com programas de intervenção não existia na cidade. Sabia que a educação e experiência escolar ajudariam e muito a desenvolver em Leo Marcondes sua própria identidade, para além dos limites do lar. Conhecia uma professora muito amiga que a ajudou. Leo foi matriculado em uma escola. A amiga de Arlete prometeu lugar lutar para que os resultados fossem demonstrados aos professores e ele não fosse somente um caso especial. Ela conversou por muito tempo com Rosaldo e Lilian seus assistentes na alcateia. O apoio deles seria importante. Sabia que o cuidado que deveriam ter com ele seria diferente como os demais lobos. Não foi preciso mudar o programa. Ele deveria se sentir um igual. Não foi fácil. Leo Marcondes no primeiro dia ficou com medo de todos. Emburrado em um canto, não queria se enturmar. Fechou em si mesmo nas cinco primeiras reuniões. Quase chegaram a desistir. Foi Mirtes uma Lobinha a salvação. Alegre, espevitada, gritava, cantava e sabia fazer amigos. Ela foi até Leo Marcondes e logo se tornaram amigos.

               Dai para frente tudo fluiu para alegria de todos. Agora achavam que o caminho estava aberto graças a Mirtes. Quem diria! Na oitava reunião ele ficou o tempo integral. Até procurou o Baloo Rosaldo, dizendo que queria o uniforme. Rosaldo disse que o grupo escoteiro iria adquirir, mas ele teria que se esforçar mais nas etapas. Só assim poderia fazer a promessa e vestir o uniforme. Leo Marcondes não entendeu. – Quero o meu uniforme! Gritou. De novo Mirtes para explicar. Dizem que a suprema felicidade da vida é ter a convicção de que somos amados. Cinco meses e chegou o dia de sua promessa. Mirtes fez questão de ensinar frase por frase.

              Foi uma festa. Todo o grupo escoteiro presente. Os chefes da alcateia ficaram com medo de que, na hora, Leo Marcondes mudasse de ideia. Dona Etelvina não cabia em si de contente. Leo Marcondes foi convidado para dirigir o Cerimonial de Bandeira e proferir a oração. Ele de cabeça baixa disse em voz quase inaudível – “Senhor, senhor, senhor, ajuda todo mundo!” Olhou para Mirtes e sorriu. Mirtes foi correndo abraçá-lo. Todos muitos emocionados. Para surpresa Leo Marcondes não quis repetir A Akelá e disse tudo sozinho. Foi o início da virada para Leo Marcondes. Sua mudança foi da água para o vinho. Daí para o Cruzeiro do Sul foi um pulo. Sempre Mirtes mostrando o caminho a seguir.


                  Leo Marcondes conseguiu. Leo Marcondes venceu. Claro, muitos o ajudaram, mas Leo Marcondes provou que podia ser um e mostrou ser um grande Escoteiro quando passou para a Tropa.  Leo Marcondes cresceu, estudou virou um homem de bem. Soube que ele estava fazendo carreira política. Candidatou-se a vereador e foi eleito com boa margem de votos. Sua luta era em prol daqueles que diferente dele, não puderam ter a oportunidade que lhe deram. Soube também que ele comprou uma boa casinha para sua mãe. Dona Etelvina não precisava trabalhar mais. Nada faltava para ela. Leo Marcondes agora era o chefe da família. E assim Leo Marcondes virou herói.

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