quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Nicola.


Nicola.

                         - A vida passou e ele nem notou que ela tinha passado. Não tinha mais sonhos, perdeu a esperança e não acreditava em ninguém. Lembrou-se daquela tarde sombria no retorno do acampamento, uma fina garoa caia e sempre pensando em chegar a sua casa tomar um banho e ir dormir. E o amanhã? O mesmo de sempre? Nem um sábado para mudar o seu destino? – Ele se sentia sozinho. Ela já não estava mais ao seu lado mesmo morando na mesma casa e seu filho desapareceu nas asas da imaginação. Será que o homem que se esquece das suas próprias origens não esquece seu próprio nome? Tentava raciocinar olhar onde tinha perdido o seu passado e suas origens. Porque pensava assim? O que faz de um homem ser realmente um homem? Suas origens? O modo como veio ao mundo? Não adianta pensar que é como as coisas começam, mas como decidir em terminá-las. Sabia que tempestades não duram para sempre. Sabia que precisava ter esperanças, pois só elas eram mais forte que o próprio medo.

                        - Ela já nem sorria mais para ele. Eramos dois estranhos vivendo na mesma casa. E o passado? E as suas origens? Será que não valeu a pena? Será que esqueceu que um dia foram felizes? Quando olhava para ela pensava tantas coisas que hoje não pensa mais. Ele sabia que se quisesse que sua vida tivesse um novo sentido, um novo sabor, teria que ter fé, esperança e amor. Sabia que precisava disto, queria ter asas para sonhar, esperança para acreditar e fé para continuar. Lembrou-se dela sorrindo de azul com aquele chapéu encantado em sua promessa. Todos em volta aplaudindo. Ao receber o lenço ela lhe deu um abraço tão forte que nunca mais esqueceu. Tudo isto se foi? E ele quantas ações e reações enfrentou? Pensava que o maior presente que podemos dar a quem amamos é o conhecimento e valorização das nossas origens e tradições. Só sabemos para onde vamos se nos lembrar de onde viemos. Quem esquece suas origens está arriscando a se perder no caminho que escolheu.

                            - Vamos voltar no tempo? Ele perguntou. Sentiu que ela disse sim. Achou que ela queria mudar, queria sentir o passado presente de novo. Viu que ela dizia baixinho que não devia deixar o passado esquecido para sempre. Afinal não foram exemplos para aquela juventude que acreditou? Sorriu para ela. Se pensava que tudo estava perdido, devia haver uma nova trilha para recomeçar. Afinal se o sonho acabou foi porque se esqueceu de olhar para frente. Sentia-se sozinho e mesmo assim nunca deixou de acreditar. E porque desistiu? Será que estava cansado? Lembrou-se do Velho Chefe e seus conselhos: - Calma para tudo na vida haverá uma solução e se não houver Nicola... Crie-a. Olhou para ela novamente. – Vamos recomeçar? Ela o abraçou chorando e disse: - O dia passa muito rápido para perder tempo com sentimentos ruins. Afinal devemos amar as pessoas que nos tratam bem. O Rio que esquece sua fonte, seca. O homem que nega suas origens não existe.


                           - Voltaram. Os escoteiros os receberam de braços abertos. Como era bom ver os meninos e meninas sorrirem. Pensava silenciosamente: - E que venham novas histórias, novos sorrisos novas pessoas. Ela contente conversa com todos com aquele seu jeito que sempre amou. Foi à sede e viu na parede o mesmo comentário escrito em um papelão que não devia nunca ter esquecido: - “Do jeito que está ficando difícil viver hoje em dia, é melhor recorrermos aos poucos índios que ainda restam e pedir-lhes para nos ensinar a viver com simplicidade, pois não é a toa que eles vivem tanto, quem sabe por que não têm com o que se preocuparem”. Pois é... Desde que o homem descobriu a riqueza e o poder o mundo nunca mais foi o mesmo. Felizes são os índios em suas aldeias, pois ainda desconhecem este mundo conturbado. Jurou que agora seria Escoteiro para sempre!

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