quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Contos de Natal. Rosas e crisântemos para Luiza.


Contos de Natal.
Rosas e crisântemos para Luiza.

                  Era uma rotina. Sempre nas tardes de domingo Baltazar ia até a Capela do Sino e lá ficava até escurecer. Idade avançada sentia que a subida cada domingo ficava mais íngreme e pensava quando não conseguisse chegar mais lá. Já não rezava, disse para se mesmo que rezou tanto que nem sabe se estava vivo até hoje foi por causa da sua fé. Fé? Ele achava que tinha perdido. Dezesseis anos vivendo sozinho e remoendo seus erros que no passado cometeu. Os dias felizes que passou ao lado de Luiza naquela capela nunca foram esquecidos. Olhava o altar e a via tão bela no seu vestido de noiva e ele ao seu lado de uniforme Escoteiro sorrindo feito um amante apaixonado. Deus! Não posso voltar atrás? Se ela me deixou eu fui o culpado e me penitencio.

                  Descia e subia a trilha do morro do Sino quase de olhos fechados tantas e tantas vezes que se martirizava a relembrar os momentos felizes que estivera ao lado dela. Porque não cedi aos seus desejos? Maldizia-se a todo tempo em achar que a verdade era dele e de mais ninguém. Trinta anos juntos e ela não me entendia. Ou será que eu era que não entendia o que ela me pedia? – Baltazar! Ela sempre dizia seja Escoteiro, mas não esqueça que estou ao seu lado. Amo você e não quero perdê-lo. Você não me dá mais atenção e vive para seus escoteiros. Ele olhava para ela como se ela não fosse sua companheira de tantos anos. Quando Noel nasceu ela achou que ele iria dar mais atenção a casa. Engano. Continuou o mesmo, acampando indo a Jamborees distantes, Camporees, encontros internacionais e gastando o que não tinha.

                   Foi um baque quando viu que Noel já crescido não quis ser Lobinho e depois Escoteiro. Mas eu o incentivei tanto! – Pensava que Luiza o induzia a não participar para não ficar como ele que não dava atenção a sua família. Trinta anos, e ele parou de ouvir Luiza e seus lamentos como sempre dizia. Não bastava dizer que a amava? Que ela era tudo para ele, mas o escotismo vinha em primeiro lugar. Seus amigos tentaram mostrar que ele não estava no bom caminho. Nada. Luiza passou a não comentar mais. Ele achou que agora sim seriam o casal que sempre sonhara ser. Quando ele voltou de um acampamento Nacional no Sul, queria encontrá-la e contar à felicidade que teve, as amizades que fez e o presente que trouxera para ela. Uma blusa de lã não tão cara, mas pensou que ela ia gostar.

                   Ela não estava. Um bilhete dizia que foi embora e nunca mais ia voltar. Não disse para onde e levou Noel consigo. Turrão disse para si mesmo: - Que seja prefiro viver sozinho com meu escotismo que ter alguém ao meu lado que não sabe me fazer feliz. O tempo passou um dois três trinta anos sem ela. Envelheceu. Não era fácil viver sozinho. Achou que ia acostumar e a cada dia, a cada ano mais sofria com a sua falta. Dona Norma cozinhava e lavava para ele. Podia pagar apesar de que cada dia o dinheiro rareava no seu consultório. Ninguem queria um médico que não tinha horário para atendê-los.

                  Foi Tomázio Chefe Sênior quem contou que a viu em Pedra Azul uma cidade do outro lado do mundo onde morava. Matutou uma semana e sua lembrança não saia de sua memória. Pediu demissão ao Grupo Escoteiro e partiu atrás dela. Todos estranharam, pois ele criou, manteve e levou o grupo sozinho. Nunca dividiu responsabilidades. Aceitava sugestões, mas a dele prevalecia no final. Muitos que entraram no grupo saiam em pouco tempo, mas ele teve aqueles mais fieis que nunca o abandonaram. – Elejam um novo líder para vocês! – Eleger? Eles não fazia ideia de como seria. Mais de 65 anos com ele na frente de tudo.

                 Quando partiu poucos foram despedir na rodoviária. – Não volto mais, disse. Em Pedra Azul ficou seis dias procurando e no dia 24 de dezembro soube que ela estava internada em uma casa de repouso na saída da cidade. Encontrou. Ela sorriu. Seus olhos encheram-se de lágrimas. A mulher da minha vida e eu não soube valorizar. Ajoelhou-se aos seus pés e chorando pediu perdão. Reconciliaram. Ela tinha perdido a visão e uma das pernas devido à tuberculose avançada. Ele dou boa parte do que tinha para a Instituição que a acolheu. Viveu com ela até o último dos seus dias. Soube que Noel fora para os Estados Unidos e se tornara um cirurgião famoso. Dizem que tentou encontrá-la e não conseguiu.


                  No dia 24 de dezembro dois anos depois, foram encontrados mortos no quarto que moravam. Ambos sorriam e estavam abraçados como dois amantes apaixonados. Antes de sua morte mandou construir um Mausoléu simples onde mandou plantar muitas rosas e crisântemos pois eram as flores preferidas dela. – Uma placa de bronze dizia: - Ela o perdoou. Agora vivem felizes para sempre no céu!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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