quarta-feira, 29 de março de 2017

Zezito Escoteiro e Corneteiro.


Lendas escoteiras.
Zezito Escoteiro e Corneteiro.

                      Era uma tropa Escoteira diferente. Hoje acho que poucos poderiam aceitar o que faziam. Mas olhem, os meninos amavam aquela tropa, e o grupo então? Suas patrulhas eram praticamente autônomas. O Chefe Flores pouco ia lá. Era mais procurado em sua casa. Ele era Chefe também dos seniores e sua esposa dona Clélia era a Chefe dos lobos. Ele e ela e mais ninguém de adultos. Diretoria? Risos. Passou longe. Também não precisavam de dinheiro. Os pais eram vizinhos, cidade pequena, todos se conheciam e todos sabiam de tudo.

                     As reuniões eram aos domingos isto quando alguma Patrulha ou mesmo a tropa não estava acampando. Neuzinho era o guia da tropa. Quando acampavam ele dirigia. Programa? Faziam na hora. Viviam fazendo pioneirias, treinando Morse, semáforos, atravessando rios e gargantas profundas nos vales da redondeza em falsas baianas num comando Crown primoroso. Adoravam ficar pescando, preparando armadilhas para o assado da noite, observar os pássaros, aproximar de um alce qualquer. Acariciar um lobo, um Martin Pescador, decorar as estrelas, aprender a Rosa dos Ventos, saber o que era Azimute, percurso de Giwell e seguir mapas. Portanto para que programa?

                      Zezito, no entanto alem de amar de coração sua Patrulha tinha uma paixão. Sua corneta. Deu duro para conseguir. Precisava provar ao Maestro Munir que daria conta do recado. Ele a levava para casa e para não atazanar os vizinhos, ia para a beira do rio treinar. Desde que entrou nos escoteiros que sonhava em tocar uma corneta. Ele se lembrava dos desfiles, dos meninos escoteiros corneteiros. Admirava ver os escoteiros obedecendo a um toque da corneta. Dava a sensação de ser o Chefe, de comandar. E o toque de silencio ou a alvorada? Era demais quando acampava todo grupo e sempre tinha um corneteiro de plantão.

                   Todas as quartas feiras a “Banda” se reunia próximo à sede no campo do Marimbondo Futebol Clube. Era ali que ele pegava sua corneta com gosto e tocava. Mestre Munir um Pioneiro era o responsável pela “Banda”. – Zezito, enquanto você não ter “embocadura” não pode ser um corneteiro. No início não entendeu, mas quando começou a tocar sua boca inchava e não saia nenhum som.

                      Achei que Zezito ia desistir. Um ano e ainda não aguentava tocar mais que dois ou três toques. Mas ele era insistente. Pediu para Nelsinho o Monitor se podia levar a corneta para os acampamentos. – Nem pensar Zezito. Banda é Banda, acampamento era acampamento. Seu grande dia chegou. Pediu ao Mestre Munir que fizesse um teste com ele. Passou. Agora era um dos quatro corneteiros da Banda. Que orgulho em vestir o uniforme, colocar a luva branca, fazer firulas com a corneta (o que fazia muito bem) e tocar. Agora precisava ser o corneteiro mor. Seria difícil. Só se O Matheus e o Onofre saíssem da banda. Coisa impossível de acontecer.

                     O Chefe Flores como fazia todos os anos combinou um acampamento fora da cidade. Desta vez iam a Alcântara da Cunha. Soube que planejavam montar um grupo e convidaram o Tiradentes o grupo dele para ser o padrinho. Como sempre conseguiram um vagão de Primeira Classe com exclusividade. Só para eles. Para dizer a verdade, tinha mais de cento e vinte meninos. De adultos só o Chefe Flores e dona Clélia. Claro que o mestre Munir ia junto, mas ficava só com sua Banda. Não se sabe por que, mas na última hora o Matheus e o Onofre não puderam ir. Pegaram uma gripe forte e isto foi motivo de tristeza para o Mestre Munir. – Zezito, vais ser o Corneteiro mor. Não me envergonhe, por favor!

                       Que honra! Nunca Zezito teve tanta felicidade na vida. Melhor que quando recebeu o nome de Guerra de Irapuã no Fogo do Conselho. Conseguira acender o fogo com um só palito e não teve nenhuma dificuldade. Agora era outra coisa. Limpou e passou pasta de dente em toda extensão da corneta. Era o que se usava na época para dar brilho. No trem não tocou. Cantou como todo mundo. Quando chegaram a Alcântara da Cunha, formaram para o desfile até o local do acampamento. Atravessaram meia cidade. Zezito como Corneteiro Mor ia ao lado do Mestre Munir. Ao passar em frente ao palanque era hora do toque a autoridade. Zezito se empertigou, fez sua melhor firula com a corneta. Ficou em posição de sentido e tocou. E como tocou. Olhou a todos os pelotões de escoteiros que passaram a se formar em circulo e cantar o Rataplã. Por quê?

                       Zezito Corneteiro errara o toque. Em vez de tocar a saudação a autoridade tocou formação em circulo e cantar. No palanque ninguém entendia nada. Mas acharam que aquilo era Escoteiro e aplaudiram. Mestre Munir ficou vermelho como um tomate. Tomou a corneta de Zezito. Ele chorou e como chorou. Na volta o passaram para Tarolista. Nunca mais tocou uma corneta. Pensou em sair do escotismo. Mas insistiu. Cresceu, foi servir o exército. Passou a Cabo Corneteiro. Tocou com todo o batalhão para o Presidente da República o toque da saudação a autoridade. Era tudo na vida de Zezito.


                      Nunca abandonou o exército. Está lá até hoje como Cabo Corneteiro. O Major Fidelis queria promovê-lo a sargento. Mas teria que largar a corneta e isto ele nunca faria. Assim termina a história. Um menino que foi Escoteiro, mas seu sonho mesmo era ser corneteiro. Dizem eu não sei que nem aposentar quis. Já "Velho" começou a perder os dentes. Não tocava como antes, mas era o responsável pelos demais corneteiros. Morreu tocando a Saudação à autoridade num outono em Brasília durante um desfile de Sete de Setembro. Viva Zezito, o Escoteiro Corneteiro que morreu feliz.        


               Apenas uma historia simples sem firula a não ser quando a corneta soltava gorjeios no ar. Zezito nos velhos tempos existiu para alegria dos seus amigos quando menino e para orgulho dos militares que o viam como o melhor corneteiro do mundo. Leiam a história. Saibam que isto dificilmente acontecerá novamente. 
     

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