sexta-feira, 23 de junho de 2017

E Galiostro finalmente dormiu na barraca dos seus sonhos.


Lendas Escoteiras.
E Galiostro finalmente dormiu na barraca dos seus sonhos.

          - Não sei Eva, ele está assim há vários dias. – Você perguntou? Perguntei mas ele me olhou sorriu e não disse nada. Nívia a mãe de Galiostro ficou calada. Ela sabia que ele estava a sonhar com o acampamento. Desde que pedira para ser um Escoteiro que ele mudou e muito. Parecia viver em outro mundo e a família não sabia se era bom ou ruim. Eva sua Avó estava preocupada. Nunca o viu assim. Espevitado, lépido, gostava de gritar, de cantar e diferente de todos os meninos quando levantava, chegava à janela e chamava em alto e bom som os pardais que acordados já tinha partido. – Ele tinha as melhores notas, e sempre fora de uma educação que orgulhava sua família. Um dia disse que queria ser escoteiro. Não explicou por que. Passou a sorrir mais, andava com uma cordinha pequena nos bolsos fazendo nós. Ela o escutou na varanda falando baixinho: - Escota, balso pelo seio, Arnês, Pescador, aselha, direito, Laís de guia, fiel e fiel duplo. Que seria tudo isto?

            Chegou o dia do acampamento. Ela viu que ele não tinha mais olhos para ela. Dormia e levantava pensando no acampamento. Quando arrumou seu quarto naquele dia viu um pequeno livreto. Folheou e sorriu. Estava escrito com desenhos - Como fazer uma pioneiria, o que são fossas de líquido e detrito. A barraca suspensa. A mesa de campo, o toldo e finalmente uma barraca armada. Ele sublinhou cada ponto e escreveu em baixo: - Custou, mas vou dormir na barraca dos meus sonhos! Que escotismo era este? – pensou. Já tinha ouvido falar deles, mas tudo era diferente, havia uma lei. Lei? Sim, uma lei que eles obedeciam. – Prometo pela minha honra! – Bonito isto disse Eva. Quando jovem soube que havia Escoteiras, mas nunca tinha sido.

                    Galiostro tinha os olhos negros, grandes como seu pai, deixou o cabelo crescer até os ombros e mesmo seus amigos o chamando de “maricas” não ligou. Os cabelos loiros davam a ele uma conotação diferente. Tinha um porte de atleta e gostava quando olhavam para ele admirados. Quando foi apresentado à patrulha ninguém perguntou, ninguém se preocupou e só Nonato o sub foi quem lhe deu a mão e as boas vindas. Ele sabia como os meninos eram. Mesmo sendo Escoteiros havia um longo caminho para se enturmar. Foi Lobato quem comentou do acampamento. Ele prestou. Viu que dormiam em três em cada barraca. Foi para casa pensando. Três em uma barraca? Como seria? Ele ainda não conhecia a barraca da patrulha. Eram duas uma azul e uma amarela. Não eram grandes e não dava para ficar em pé.

                     Foi uma semana longa. Galiostro só pensava como seria dormir em uma barraca. Nunca se preocupou e agora dormir em uma barraca não saia de seu pensamento. Soube que a maioria não tinha saco de dormir e improvisavam com folhas e capim seco colocados em dois sacos costurados fazendo um colchão. Ele teria que arrumar dois sacos para isto. Afinal ele iria dormir em uma barraca. Será que não iria ter medo? – Galiostro! Ele ouviu a voz de Dona Neném a professora dele. Piscou os olhos e pediu desculpa. – Você não prestou atenção em nada na aula de hoje! – Era verdade. Ele não tirava a barraca de sua mente. E se chovesse? Não iria entrar água? E se fizesse frio? E se ventasse? E se viesse um vendaval? Sabia que ia levar a manta do seu Avô.

                      Preparou devagar a mochila que seu Tio Malta lhe dera. Francesa! Ele disse. Achou pequena. Tio malta ensinou: – Galiostro, leve o necessário, nem mais nem menos! O que seria o mais e o que seria o menos? Viu a lista que o Monitor lhe dera. Cabia tudo. Só isto? Ficou pensando. – À noite seu pai chegou com um embrulho. – É para você! Galiostro sorriu. Era um cantil com capa verde. Um cantil! Nunca pensou que teria um. Cinco da manhã. Galiostro estava sentado na cama. Sua mochila preparada. Seu cantil cheio com água. Vestiu seu uniforme devagar. Peça por peça. Olhava no espelho, mas seu pensamento era só a barraca. Deus meu! Eu vou dormir em uma barraca? Não tirava isto do seu pensamento. Sete horas, sua mãe bateu na porta – Está na hora filho. Tomou café e calmamente beijou sua mãe e sua avó. Seu pai já havia ido trabalhar. Partiu a pé sorrindo. A sede era perto. O sol já cobria o horizonte. Sentiu uma lufada de vento no rosto. Era hora de partir para o acampamento.

                     Iriam de ônibus até a estação. No trem para Jambreiro e mais quatro quilômetros chegariam a Fazenda Trindade. Tudo foi dividido. Galiostro responsável por um facão e um lampião a querosene. Amarrou na mochila. Onze e meia chegaram. Galiostro não cantou na jornada. Olhava o céu azul de brigadeiro. Bom isto pensou. Assim vou dormir mais tranquilo na barraca. O campo ficou pronto em duas horas. Ele havia aprendido na jornada do domingo que fizeram. Uma mesa com toldo, bancos toscos, um fogão de barro esquisito e as barracas. Ajudou Zé Antônio a armar. Olhou por dentro. Pequena. Eram três a dormir ali. Ele aguardava a noite. Era a noite esperada. Comeu um lanche e na janta adorou a sopa do Vandeco o cozinheiro. Seus olhos não saiam da barraca mesmo no lusco fusco da noite. Olhou para cima. Estrelas brilhavam formando uma estrada de luzes no céu.

                       Nem prestou atenção ao Jogo do Fantasma. Nem medo teve do fantasma que apareceu no alto da montanha. Seu pensamento era um só. A Barraca! Fizeram um pequeno fogo em frente à barraca, ele se sentiu bem com o calor. Sua mochila estava na porta. Combinaram de preparar tudo na hora de dormir. Cantaram o Cuco e a Canção da Lua. Gostava de cantar. Esperava a ordem do Monitor para prepararem as barracas. Jamiel Lourenço e ele prepararam o interior da Barraca. Chegou a hora finalmente. Deitaram. Ele no meio. A mochila serviu de travesseiro. Olhava a lona da barraca. Ouvia os grilos cantantes na noite do seu primeiro acampamento. Finalmente ele estava na barraca, mas não dormiu. Um trovão, um relâmpago. Galiostro sorriu. Precisava da chuva. Nos seus sonhos ela estaria lá na sua primeira noite de acampamento.


                         Os primeiros pingos, o som pedante da cascata na barraca. Um vento cortante querendo entrar pela porta. A barraca balançava, mas estava firme. Galiostro com as mãos entre a nuca sorria. Agora sim, ele era um acampador. A barraca para ele não teria mais segredos. Seus olhos se fecharam e ele se viu transportado em sonhos nunca antes imaginados. Finalmente Galiostro dormiu em uma barraca.

nota:  Lembro-me de uma barraca perdida em meus sonhos,
Na terra que me viu nascer
Lembro-me de um menino que andava pensando
sonhava vir um dia a ser,
Dormir sonhar, quem sabe amando...
Na barraca sorrindo esperando o amanhecer!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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