segunda-feira, 26 de junho de 2017

“Maria Vitória”


“Maria Vitória”

                 Você minha querida neta me pediu que não saísse sozinha. Mas eu tinha de ir. Todo sábado você sabe que eu vou lá faça chuva ou faça sol. Sei que se preocupa que toma conta de mim que deixou seu lar para morar comigo dizendo que iria fazer o possível e o impossível para me fazer feliz. Foi uma alegria incrível ter você ao meu lado, e vendo você sempre contente ao chegar do trabalho e me abraçar. Você me dizia que eu não era mais criança. Afinal cheguei aos oitenta e cinco anos tempo demais para viver.

                 Olhe deixei o celular na mesa. Seu recado estava lá. Mas eu tinha de ir. Fique tranquila, pois logo estou de volta. Como dizia minha mãe? Um pé lá e outro cá. Caminhei sem pressa, pois eles nunca chegavam antes do horário. Caminhava pensando no meu passado no que fui e agora já idosa vivo somente de lembranças e nada mais. Meu destino era a Praça das Recordações. Gostava de ficar lá. Sombreada, uma grama verde e muitas flores me encantavam enquanto eles não chegavam.

                Sentada naquele banco azul onde sempre fiquei eu esperava sem pressa a hora deles chegarem. Sinceramente? Nunca me apresentei a eles como escoteira. Porque não sempre pensei. Não tinha vergonha do que fui e nada fiz de errado que proibisse dizer o amor que tinha pelo escotismo. Foi um belo tempo, mas meu sonho acabou. Ainda amo e faço dele minha filosofia de vida. Ali na praça me encantava com todos eles os lobos de Seeonee saltitantes a sorrirem e gritarem alto Melhor Possível Akelá.

                 Olhe, eu nunca me sentia sozinha ali na praça. Os lobos me faziam rejuvenescer. Não esqueço aquele dia, que um deles com um sorriso encantador chegou perto de mim, olhou, piscou seus olhinhos sorriu e saiu correndo a contar para a matilha que viu uma velha no banco da praça com um lenço escoteiro no colo. Eu sorria e chorava. Meu coração sangrava ao lembrar. Foi importante aquele dia. As lembranças batiam forte em mim. Gostava de lembrar, mas o que aconteceu me machucava muito. Tinha fama, respeitada, tacos pendurados, todos fazendo saudação. Diziam-me que breve teria o Tapir, e eu sorria de emoção.

               Foram tantas comendas que orgulhosamente usava na minha farda querida. Não o culpo quem sabe a culpada foi eu. Achei que o amava e ele também. Eu solteira e ele casado. Vivíamos apaixonados escondidos por aí até que um dia alguém nos viu, a cidade comentou o escotismo não me perdoou. Disseram que eu o seduzi que era prepotente, imaginosa, metida a bondosa, mas com coração de pedra. Lembranças que machucam lembranças que não quero lembrar, mas não desaparecem da minha mente.

                  O som das seis badaladas da matriz diziam que era hora de voltar. Eu sabia que se você chegasse e não me encontrasse ficaria triste e até mesmo me chamaria à atenção. Eu gostava de ver você entrar me dar um abraço e dizer: Olá Vovó! Era sempre assim. Meu coração sangrava das lembranças dele que nunca mais me olhou e nunca mais me abraçou. Eu sabia que era página virada no tempo e devia esquecer. Chorava baixinho, precisava de um abraço, meu Deus que vontade de abraçar alguém!

                Preciso enxugar as lágrimas, não quero que você me veja assim. Quando for dormir então irei chorar todas as lagrimas doidas que não saem de mim. Eu sei que fui culpada, que mereci a exoneração. Mas Deus, quantas saudades, que vontade de voltar no tempo e tudo poder mudar. Eu sei que em um instante tudo muda. O passado nos leva ao desconhecido. Não existe mais futuro. Não se pode recusar e voltar aos velhos hábitos. Mas eu me contentava em dizer para mim, que não devia me prender ao passado, pois assim o futuro poderia nunca vir.


               Ainda bem minha neta que tenho você, a única coisa boa que sobrou de uma vida feliz. É triste viver de recordações, mas é na velhice que as lembranças são vivas e nunca deixamos elas irem embora. É escotismo, meu sonho minha vida. Tempos felizes que sei que nunca mais irão voltar!

nota; - A saudade é lembrar-se de um passado que nunca passou... É viver um presente que nos entristece e é querer enxergar um futuro que jamais poderá existir. Muitas vezes lembrar o passado é sofrer duas vezes.

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