quinta-feira, 28 de setembro de 2017

As Sete Pragas do Rio Mimoso.


Lendas Escoteiras.
As Sete Pragas do Rio Mimoso.

                 Foi em Pocitos (Montevidéu) que encontrei Marco Emílio Lépido. O chefe Lépido. Gente fina. Ficamos amigos em um Seminário Internacional em São José na Costa Rica. Passaram quatro anos quando nos vimos pela última vez. Abraços, sorrisos e entre uma cerveja e outra os “causos ia acontecendo”. Lépido me disse que estava indo para a Cidade do Cabo na África do Sul. Contou-me uma história inacreditável. A principio duvidei, mas o escoteiro não tem uma só palavra?

                  Olha Chefe estive o ano passado em Mimoso. Cidade pequena menos de vinte mil habitantes. No Grupo Escoteiro da cidade fiz muitos amigos. Após o término da Reunião diversos chefes e escoteiros sentados embaixo de uma Copaíba me apresentaram a Samuel. Um escoteiro de seus treze anos. Foi ele quem me contou da vida de Rabequita. Folclore da cidade. Moradora no Morro da tristeza nunca ia para sua casa. Ela apoquentava todo mundo, falava palavrões e todos corriam dela como o Diabo da Cruz. O Prefeito Bafodonça e o Dr. Pasquelino Gonzaga Juiz de Direito tentaram várias vezes interná-la em um hospício.

                 O Delegado Praxedes já tinha desistido. – Se amanhã ela morrer do seu enterro passo longe. As Damas dos Bons costumes odiavam Rabequita. Só Samuel um Escoteiro da Patrulha Corvo era seu amigo. Todo sábado pela manhã ele a levava a sua casa, lhe dava banho, roupas limpas doadas por famílias escoteiras. Sua mãe com seus 85 anos sorria e apoiava. Rabequita gostava de Samuel. Após o banho e um almoço a deixava dormir algumas horas em sua cama.

                O Chefe Calango gostava da boa ação de Samuel. Em janeiro o calor tomou conta da cidade. Nada de chuva e as Damas dos Bons costumes rezavam para São Pedro e Até São Tomas que não sei se gostava de banho. A represa secava. Os escoteiros levavam sua vidinha sempre acampando. Rabequita dava gargalhadas com tudo aquilo. As Damas ficavam tiriricas da vida. Reclamavam com Dom Casmurro seu Vigário. Ele reclamou com o Bispo que reclamou com o prefeito o Juiz e o Delegado para tomarem alguma providencia com Rabequita.

                Dom Casmurro o padre tinha ódio de Rabequita. Ela só falava palavrões. Vá a m... Seu padre! – Dormia algumas noites no chiqueiro do Zé Minhoca só para ficar fedida e rodopiar nas procissões. Ludovico o novo Delegado meteu ela no xadrez. Achou que ia dar uma lição nesta “Sapopemba dos infernos”. O cheiro que ela soltou na delegacia foi demais. Teve que soltá-la. Samuel Escoteiro era quem resolvia. Sempre a procurava e ela lhe obedecia. - Delegado, tenha paciência. - Não me enches a paciência menino, ela não sabe com quem está lidando.

                Rabequita jogou uma praga e uma colmeia de abelhas africanas invadiu a delegacia. O escrivão e dois soldados sumiram e ninguém os viu por mais de dois meses. O Delegado Prometeu chingava a Deus e o mundo. À noite na procissão Rabequita gritou alto: - Querem chuva? Vou lhes dar chuva! E ria. E gargalhava. Trovões ribombaram no céu. Um mundo de água caiu sobre Rio Mimoso. O povo alegre dançava. Um dia, dois dias, três quatro uma semana. A chuva não parava. A ponte desabou. Rabequita dançava na chuva.

                 A Tropa Escoteira pensou em cancelar o acampamento anual nas Pedras Lisas. Era o acampamento do ano. – Chefe disse Samuel, não cancele Dê-me dois dias. Vou resolver. Foi atrás de Rabequita. Ela lhe deu a mão pensando que era hora do banho. Samuel falou baixinho no seu ouvido – Rabequita, se a chuva não parar não poderemos acampar! O delegado na janela ameaçou: - Se esta feiticeira acha que vai rir de mim está enganada. Pediu um rabecão em Mar das Vertentes e internou a doida no Hospício de Esperança Feliz.

                      Levaram Rabequita a noite. Ninguém viu. Foi à conta. Em Rio Mimoso agora só noite. O dia não amanhecia. Um dia, dois três e nada. A cidade em polvorosa. O Delegado Prometeu cismado. Cacilda! A mulher tem parte com o Demônio? Mandou trazê-la de volta. Ela o olhou e disse: - A próxima vez você vai virar um macaco prego pintassilgo! Irá morrer de tanto comer banana! O dia clareou para alegria de todos. O Prefeito Bafodonça e o Dr. Pasquelino Gonzaga o Juiz de Direito, reuniram a fina flor da sociedade local. O que fazer?

                    Chamaram o Escoteiro Samuel. Quem sabe podia aconselhar. Querem resolver? Disse Samuel. Dê a ela uma casinha boa perto do Cemitério do Paletó Preto. A cada dez dias mande o Senhor Marombático do Supermercado Preço Alto entregar uma cesta de mantimentos. Não esqueçam duas caixas de charutos cubanos importados. Igual aos que o Ex-Presidente Lula fuma. Ele é caríssimo! - Disse o Prefeito. Durante cinco meses a paz voltou a reinar na cidade. Um dia Marombatico não cumpriu o prometido. O inferno voltou à cidade. Milhares de pássaros, cobras e macacos encheram as ruas e quintais.

                    Samuel levou naquele sábado Rabequita para seu banho. Ela disse que ia embora. Antes deixaria a cidade feder por um ano. Samuel não gostou. No domingo o mau cheiro começou lá para os lados da sede do Perneta Footboll Club. A cidade em peso de mascaras. Janelas fechadas. O ar viciado.  Samuel intercedeu de novo. O cheiro desapareceu. Rabequita pediu um carro. Novo. Zero quilômetro. Samuel a cidade me deve muito! O Prefeito Bafodonça explodiu! Nunca andou nem de bicicleta e agora quer um carro? A catinga piorou.

                 O Carro foi entregue. Um Honda Civic vermelho lindo de morrer. As Damas dos Bons Costumes cuspiam de ódio. Resolveram botar fogo na casa de Rabequita. A casa não pegava fogo. Quando retornavam viram enormes chamas em suas casas. Meu Deus! É um demônio não é uma mulher!  Bem a história termina aqui. Samuel me disse que Rabequita cansou da cidade de Rio Mimoso. Mudou-se para a cidade de Boina Verde. Dizem que um foguetório enorme se ouviu. Olhei amigo Lépido. – Tu és bom para inventar! Disse. E dei boas risadas.   


Tomamos mais umas duas cervejas Westmalle por sugestão do garçom. Despedimo-nos e cada um foi para o seu lado. Um quarteirão antes do hotel que estava hospedado vi uma mulher desgrenhada, suja um mau cheiro horrível e chegou perto de mim e disse – Me paga uma cachaça filho da mãe! Paguei. Sei lá se era a Rabequita. Montevidéu não tem disto, mas não se pode acender uma alma a Deus e ao Diabo ao mesmo tempo!

Nota de Rodapé: - - “Que as pulgas de mil camelos infestem o meio das pernas da pessoa que arruinar seu dia, e que os braços dessa pessoa sejam curtos demais pra se coçar”... Era assim que dizia Rabequita. Divirta-se com a história dela. Foi o Chefe Lépido quem me contou. Não acredita? Reze para Rabequita não passar por sua cidade!

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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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