Lendas
Escoteiras.
Os
amores de Laureano, o Pioneiro do Rei.
Laureano estava perdendo o
estímulo para continuar no Clã Pioneiro. Os demais amigos eram entusiastas e as
reuniões eram bem frequentadas. Laureano já tinha pensado em sair. Só um motivo
o mantinha ainda no Clã. Rosália. Isto mesmo. Ele se apaixonou por Rosália. Uma
paixão incrível, mas Rosália gostava de Almir. Laureano ia às reuniões e a via
ao lado dele, muitas vezes de mãos dadas e olhares lânguidos, amorosos e todos
sabiam que dia menos dia eles iriam se casar. Laureano devia saber que o
caminho que escolheu não foi o certo. Tentou uma vez ficar sem participar por
um mês. Quem sabe poderia esquecer-se dela? Impossível.
Uma sede terrível abatia
todos os dias seu pensamento. Sede de vê-la, olhar seu sorriso, sentir seus
olhos nos seus. Amainar a dor terrível que jazia no fundo do seu coração. O
pior de tudo era que Almir era um grande Pioneiro. A caminho de sua Insígnia de
BP era um exemplo para todos. Sem ser mandão era um líder que sabia ser
liderado. Em todos os programas que o Clã programava ele dava suas sugestões,
mas aceitava de bom grado o que a maioria decidisse. Um concorrente no amor
impossível de se derrotar.
Naquela sexta chegando à sede
Escoteira viu o carro dela se aproximando. Quando parou notou dois jovens
estranhos e sem perceber entraram no carro ordenando que seguisse em frente.
Era um sequestro sem sombra de dúvida. Laureano ficou sem ação, pois foi tudo
muito rápido. Nem mesmo os rostos dos bandidos ele viu direito. Gritou chamando
os demais que já haviam chegado à sede. Um deles o Bertinho tinha um fusca e
chamou Laureano para tentar encontrar o carro de Rosália. Gritou para os demais
para avisar a policia.
Bertinho era amigo de Laureano
desde os tempos de tropa Escoteira. Aprontaram poucas e boas na Patrulha Touro.
Virando uma esquina avistaram o carro de Rosália. Parado em frente um caixa
vinte e quatro horas. Um sequestro relâmpago só podia ser. Bertinho parou o
carro bem atrás dos bandidos. Um erro. Nunca devia ter feito isto. O certo era
ir em frente e chamar a polícia. Mas Laureano não pensou duas vezes, correu até
o carro de Rosália e tentou forçar a porta para retirá-la dali. Dois tiros. Um
no peito e outro no pescoço. Laureano caiu. Jogaram Rosália pela porta.
Laureano ficou em coma quatro
meses. Todo o dia lá estava Rosália ao seu lado. O Clã sempre que podia estava
também presente. Quando acordou do coma o primeiro rosto que viu foi o de
Rosália. Pensou que ela o amava e falando baixinho disse a ela tudo que sentia.
Rosália já fazia uma ideia do amor de Laureano. Mas ela amava Almir. Teria que
ser sincera. Explicou a Laureano tudo que sentia por ele. Nada mais que uma
grande amizade. Laureano fechou os olhos. Preferia ter continuando naquele sono
profundo, onde nada via a não ser uma nevoa ao seu redor.
Lembrou-se da mulher de
branco, do homem das barbas brancas que nada diziam e só sorriam. Quando abriu
os olhos ela se fora. Sua mãe e seu pai estavam ali sorrindo para ele. A noite
recebeu a visita de Almir. Que grande Pioneiro ele era. Foi franco. Explicou
que amava Rosália. Na sua sinceridade o ódio de Laureano se transformava em
amor. A escolha era de Rosália dizia, ou ele ou eu. Para ele não importava.
Amava Rosália, mas devia saber perder. Não se ganha todas as batalhas.
Um ano depois Laureano já
de alta pensava se devia voltar ou não ao Clã Pioneiro. Desde que saíra do
hospital praticamente se escondeu de todos. Não respondia aos telefonemas, os
recados, nada. Achou que estava esquecendo Rosália. Seu coração já não batia
tanto. Uma tarde foi fazer uma inscrição para o vestibular. Já tinha feito pela
internet agora era fazer o depósito. Ao sair do banco, deu de cara com ela. Foi
uma surpresa. Como estava linda!
Ela sempre foi à mulher
mais bonita que tinha conhecido. Ela sorriu para ele. Caminhou até onde ele
estava. Ela deu para ele aquele sorriso
encantador que fazia disparar seu coração. Cinco homens armados anunciaram o
assalto. O vigilante reagiu. Uma troca de tiros. Ele pulou em cima de Rosália.
Jogou-a ao chão. Fez de suas costas um escudo para ela. Desta vez não houve
coma. Não houve volta. Laureano morreu ali com varias balas no corpo.
O cemitério da Saudade
nunca viu tantos pioneiros e escoteiros juntos. Até de cidades distantes havia
representantes. Nunca se viu tantos pioneiros cantando com emoção a Canção do
Clã. Era como se Laureano fosse morar naquela montanha, bem perto do céu, onde
existia uma lagoa azul. Nunca se viu tantos pioneiros chorando. A emoção tomou
conta de todos. Não se sabe de onde, mas um clarim se ouviu. Alguém
“acarapinhado” em uma arvore próxima tocava a canção e todos acompanhavam.
Morreu Laureano. Ele estava
marcado para morrer. Ele tinha de passar por isto. Na primeira vez escapou, mas
na segunda seria impossível. Outras vidas ele teria, se encontraria de novo com
Rosália. Também com Almir. Estava escrito nas estrelas. Os amores de Laureano,
um rei sem paixão que não perdoava ninguém, a morte encomendada. São coisas do
passado. Lá na última morada de Laureano, um casal, ela de branco ele com suas
barbas brancas deram a mãos a ele e se foram. Uma nuvem os levou para o céu!
Nota de rodapé: - “Em uma montanha, bem perto do céu,
existe uma lagoa azul... Que só a conhecem aqueles que têm a dita de estar em
meu Clã”! Laureano amou, um amor impossível, sabia que tinha de haver um
motivo, mas só ficou sabendo quando foi para o céu. “A sede de riscos que nunca
se acaba... As rochas que há a escalar... Um rio tranquilo, que canta e que
chora, jamais poderá olvidar”!
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