segunda-feira, 2 de abril de 2018

Lendas escoteiras. Desafio de bravos.



Lendas escoteiras.
Desafio de bravos.

               Castelhano estava injuriado. Seis da tarde e nenhum menino para desafiar. Ele gostava. Adorava uma briga, sem arma só com os dentes e os braços. Todo dia uma acontecia e batendo ou apanhado ele se sentia realizado. Perdeu a conta dos pais que reclamavam com sua Avó. Vó! Tá no meu sangue! Puxei meu pai! – Puxou nada moleque. Voce não conheceu e nem sabe quem foi seu pai. Ele não sabia mesmo. Ouviu Zé Bigode na Barbearia dizer que ele morreu de morte matada enfrentando o Capitão Lourenço da polícia de captura.

              Resolveu cortar caminho. Entrou no Beco da “Catinga”. Do outro lado sua rua, sua casa. Sorriu ao ver Pequeno Polegar a sua frente. Um Escoteirinho de nada pequeno menor que um mosquito treteiro. Dava dó bater no coitado. Mas aquele sorriso, aquele uniforme aquele lenço e o chapelão seria um desafio. Sempre pensou em dar uma surra em um escoteiro. Aquele estava no papo!

              Arregaçou as mangas da camisa, preparou seu primeiro “sem dó” um na nuca e outro na testa e o Escoteirinho iria se esparrar no chão. Não viu Patativa e Lamartine as suas costas. Tinha mais. Eram quatro seniores que também resolveram passar pelo beco. Sentiu o hálito de Lamparina sorrindo e dizendo: Bater no Escoteirinho? Seja homem, bata em homem como nós. Castelhano não tinha medo, sabia que a barra pesou. Tentou seguir em frente e não conseguiu.

              - “Uai” você não é o valentão da cidade? Castelhano não respondeu. – Porque em vez de brigar não aceita um desafio nosso? – Eu? Desafio? Qual? – Entre nos escoteiros, fique três meses, se aguentar será mesmo um valentão, bater nos outros não é sina de valente é sina de covarde sem respeito. – Castelhano sentiu o sangue ferver. Seria a sina de seu pai?

               - Ouviu a voz de Mostarda, seu vizinho e escoteiro. – Vá lá! No sábado as duas. Se não aparecer iremos dizer a todos que grande “porcaria” é você! – “Eita danação”. Castelhano pensou e pensou. - Aceitar o desafio? Nunca foi com a fuça dos escoteiros. Sempre sonhou dar uma surra em um fardado. Seu plano seria adiado. Não iria correr. Ele não era disso. No sábado se aprontou, calçou seu Vulcabrás, cortou um pedaço de pau de goiabeira. Eles usavam sempre um a tiracolo. Duas em ponto entrou no pátio. Surpresa! Bateram palma para ele!

               Se sentiu um estranho no ninho. Ficou na Patrulha Águia. Seria o sexto antes do segundo que era o último. Que danação, não entendia nada! Correu, brincou, ensinaram a ele a arte dos nós, do evasão, do fateixa, do Aselha, frade e do Zangão, nó até bonito para fazer. Disseram a ele que na Sexta iriam subir no Pico da Cachaça. Deram o nome, pois descobriram um alambique logo na subida do Boi Zebu. Nunca tinha ido lá. Seria interessante conhecer.

               Nossa! Estava pregado! Ia pedir prá parar, sede, cansaço jurou que ali nunca mais iria voltar. Pedregulho com um sorriso maroto olhou para ele. - Tá difícil? – Não disse nada. Desafio é assim ou você começa e desiste ou vai até o fim. Quando voltaram passou um dia e uma noite de cama. Mas pensando bem até que não foi tão ruim. Pior foi o tal acampamento. As mãos voltaram em pandarecos. As tais pioneirías matavam qualquer um. Cortar madeira, furar buraco... Poxa não era Tatu!     

              Só foram dormir às onze da noite. Escuro feito breu. Olhava as árvores e pensava que eram monstros prontos para o devorar. Pela primeira vez sentiu medo. Deram a ele a primeira fornada da sentinela noturna. Tremeu, um foguito, um café, um lampião um facão e mais nada. Ali deveria era estar com um Colt 45 daqueles que o Capitão Justino usava. Gostou da noite da fogueira, até chorou quando cantaram que não era mais que um breve adeus. Logo ele, o machão!

             Passaram três meses. Na bandeira ele foi chamado. Chefe Tutano perguntou: - E aí Castelhano, fica ou não fica? Ele sorriu. – Chefe, mudei de vida. Nunca fui covarde e medo não estava nos meus planos. Mas se deixar serei escoteiro por toda vida! – A tropa gritou: - “Urra, urra”, que o valente agora é um sorridente escoteiro!  Castelhano foi chamado a “promessar”. Se sentiu realizado com seu chapelão e seu lenço cor de anil.

              Outro dia subindo a Rua Dos Doutores vi descendo de um carro militar alguém que conhecia nada mais nada menos que Castelhano. Bati continência e ele orgulhosamente respondeu: - Vado Escoteiro, que bom vê-lo! Já era Tenente Brigadeiro da Força Aérea Brasileira. Era uma patente imediatamente superior à de Major-brigadeiro. Me contou prosas, me disse coisas, no final sorriu ficou em posição de sentido e repetiu: - Ser escoteiro Vado foi a melhor coisa que me aconteceu desde minha promoção a Tenente do meu Brasil!    

Nota - Desafios existem e para os escoteiros são aceitos com um sorriso. Fugir? Correr? Desistir? Não faz parte do abecedário Escoteiro. Conheci muitos “Castelhanos”, vi também valentes correndo com medo de um cabritinho que disseram ser uma onça pintada. Mas correr vale sim, desde que uma hora se canse e se resolva voltar.  Batalhas são assim, hoje se perde uma amanhã se ganhas duas. E lembre-se, escoteiro não desiste! Insiste até vencer a jornada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....