segunda-feira, 16 de abril de 2018

Lendas Escoteiras. O palco das ilusões.



Lendas Escoteiras.
O palco das ilusões.

               - Gosto do seu sorriso Loirinha. Olhei para Joel e o abracei. – Não vai compartilhar? – Meu marido sempre com seu espírito cheio de amor. Vez ou outra fico pensando se teria coragem de continuar como sou se não fosse ele. Não disse nada, não havia nada para dizer. Uma mágoa e um orgulho ferido fazia parte da minha vida agora. Culpada? Pode até ser, mas nunca me arrependi do que fiz.

                 Não sou uma mulher fraca incapaz. Conheço o mundo onde vivo e sei onde pisar. Tudo começou quando Mary minha filha viu uma propaganda dos lobinhos na TV. Perguntou-me o que era. Não sabia, tinha ouvido falar. Olhei na internet. Interessei-me e ela também. Conversei com Joel e ele não se opôs. - Precisa que eu vá? Agora não. Se for preciso ligo. Foi o começo. Levava e ficava esperando Mary aos sábados durante as reuniões.

                O ambiente era ótimo. Havia alegria, felicidade que interpretei como fraternal demais. Uma duas, seis reuniões e resolvi participar. Joel não foi contra. – Se achar que é bom para você, eu estou inteiramente de acordo. Fui bem recebida. Parecia uma grande família. Convidaram-me como Assistente de Lobinhos. Entrosei-me, estudei e fiz alguns cursos. Durante um ano nada deu errado. Aos poucos comecei a ver o que nunca tinha visto.

                  Passei a pensar que muitos ali estavam representando personagens que não eram deles. Alguns se endeusavam e se consideravam mais que os outros. Sabiam sorrir dar tapinhas nas costas, cumprimentavam, mas sempre com aquele olhar, aquele estilo superior como se um lenço de Gilwell desse a eles o poder dos deuses. Vi que a visão distorcida da realidade coloca no prepotente a arrogância. Sabia que não era assim em outros Grupos. No meu não.

                  Achava que no Escotismo deveria existir a humildade e em alguns estava vendo o contrário. Quando conheci a Lei Escoteira e fiz minha promessa foi maravilhoso. Transformei-me, entreguei-me de corpo e alma. Os pais, alguns poucos amigos chefes e os lobinhos passaram a ser minha razão de continuar. Coloquei um véu de silêncio onde via e ouvia o que não devia.

                   Fui uma voluntária Escoteira. Sabia o que significava. Doar sem esperar recompensa. Um Chefe Antigo me disse que o Escotismo é quem precisa de nós e não o contrário. Nunca pensei e sair. O Diretor Técnico era formador e pensei que era um chefão de enorme coração. Não era. Havia nele uma réstia de ser supremo. Gostava de ser admirado e obedecido.

                   Claro que havia pessoas maravilhosas, mas uns poucos chefes pareciam ungido com o dom da sabedoria escoteira. Quando acantonávamos ficávamos até mais tarde papeando em volta do fogo. O que ouvia me dava à impressão que faltava muito para sermos uma fraternidade. Eu gostava sim do escotismo, achava que ele tinha mudado minha vida, sua filosofia entranhava em meu ser e mergulhou profundamente em meu coração.

                     Joel sempre me perguntava se tudo ia bem. Eu dizia que sim. Acreditava que o mundo precisa de pessoas humildes e não de arrogantes e prepotentes. O Escotismo não devia ser assim? O que eu poderia fazer para mudar? Conheci chefes que saíram e vi que a magoa que tinham era um orgulho ferido. A doença da alma é quem faz você acreditar que é melhor que os outros.

                      Quando comecei acreditei que pudesse me doar aos lobinhos. Não ia ser a mamãe dos lobos como outras faziam. Eles precisavam de uma amiga de uma Akelá que desse a eles uma visão maior para aprender a se movimentar na Floresta da Jângal. Um Chefe me disse um dia que se quisesse continuar deveria ser como eles. Correr atrás do lenço, dos tacos, das condecorações e recompensas. Não pensava assim. Eu era um inocente sem culpa.

                     Um dia me abri com Joel. Companheiro leal me ouviu sem contradizer. Disse a ele que Mary queria sair. Não tinha mais motivação. Ele me surpreendeu ao dizer que daria toda colaboração e ficaria com a Mary se eu quisesse continuar. – Vale a pena Joel? Ele sorriu e me disse: - Olhe Eva, fale menos, palavras o vento leva. A mágoa, no entanto fica. Eu lia muito sobre escotismo. Nas redes sociais quantas e quantas frases de motivação.

                     Pensei muito, custei a chegar a uma conclusão. Não conseguia fingir uma humildade que não tinha nunca iria fazer parte de um círculo que se achavam os melhores. Nas reuniões do distrito, nas Assembleias não me surpreendia com tanta vaidade e falta de modéstia. Felícia uma Chefe com mais de vinte anos de escotismo me disse um dia: - Eva, a arrogância e a prepotência são incompatíveis com o inicio de uma carreira de sucesso. Se você é uma coisa ou outra, deixe para tirar sua mascara só quando chegar ao tempo. E ria dizendo: - Se chegar...

                   Sabia que o escotismo era uma grande fraternidade. Havia de tudo para amarmos uns aos outros. Uma grande maioria pensava como eu. Irmãos escoteiros. Não era hora para procurar outro Grupo. Resolvi sair. Dar um tempo. Quem sabe meu amor ao escotismo faria voltar um dia.

               Tive lindos e bons momentos que ficaram no passado. Acho que valeu, aprendi muito. Gosto de ver gente sorrindo, acreditando. Como disse um dia aquele Velho Chefe Escoteiro: - Você pode dizer que é Escoteiro. Mas ter um coração Escoteiro não é para qualquer um!

Nota – Esta é uma história fictícia. Não significa que todos são assim. Pode até ser que a historia dessa Chefe de lobinhos tem alguma coisa parecida com a sua. Afinal anda vai demorar muito tempo para acreditarmos que ninguém é melhor que ninguém. Que nosso objetivo é ajudar e mostrar que a humildade e a fraternidade cabe no coração de cada um. Sei que palavras do bem viver são como o vento. Só ouve quem acredita mesmo que tudo pode mudar. 

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