quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Lendas Escoteiras. Meu Chefe meu mestre meu herói!



Lendas Escoteiras.
Meu Chefe meu mestre meu herói!

Nota - Algumas pessoas surgem em nossas vidas como uma benção, outras como lição. A pior ambição do ser humano é desejar colher os frutos daquilo que nunca plantou. Seja exemplo para você mesmo. Não tenha tempo para lembrar-se de quem lhe deixou triste, fique, portanto mais preocupado com quem o faz feliz.

                   Chegou à sexta feira. Eu estava cansado. Precisava de um fim de semana só para mim, mas tinha prometido ao Guilherme meu filho assistir naquele sábado sua primeira partida oficial de futebol. Aceitei sem reclamar. Nos seus nove anos se tornou um filho do qual me orgulhava. Queria ser mais presente e não fui o pai que devia ser. Precisava de umas férias. Joelma reclamava da minha entrega ao trabalho e eu sabia que ela tinha razão. Tinha sido escolhido pelo Conselho da Empresa como o novo Presidente e me agarrei de corpo e alma tentando mostrar que era capaz. Fora um sonho que se realizou. Meu primeiro emprego e agora estava no topo, não podia decepcionar aqueles que confiaram em mim. Cheguei até a janela envidraçada do décimo sexto andar e vi lá embaixo um aparato dos bombeiros e sirenes a zumbir nos céus. – Chamei Dona Marta minha secretária para saber o que estava acontecendo. – Um atropelamento Senhor. Um mendigo, um morador de rua que foi enxotado pela nossa segurança perdeu o equilíbrio e caiu na rua sem desviar do trânsito local.

                     - E o que ele fez Dona Marta para ser expulso do prédio pela segurança? – Senhor, há vários dias ele vem aqui querendo falar com o senhor. Explicamos a ele que seria impossível que o Senhor era o Presidente e não podia falar com qualquer um! - E o que ele queria comigo? - Veja só Senhor, ele dizia que queria abraçá-lo, queria sentir a sua vitória e confirmar se ainda tinha o espirito Escoteiro de outrora. Disse que o Senhor tinha prometido ser um homem de bem e de caráter. – A gente ria dele e ele insistente em falar com o Senhor. – Ele disse o nome Dona Marta? – Não lembro, posso perguntar a recepção se for necessário. Ligue já Dona Marta! Alguns minutos depois ela voltou sorrindo: - Um pobre diabo Senhor, calça rasgada, camisa velha, chinelo e dizia que era o Chefe Conrado! Que o senhor o conhecia. Veja só Senhor, um pé rapado se fazendo de Chefe importante. Chefe de que Senhor? Com aquelas roupas, com aquele cheiro ele não era nada, apenas um pobre diabo que nem um canto para morrer tinha.

                        Dizem que esquecer é uma necessidade. Que a vida é uma lousa, em que o destino sempre nos escreve um novo ocaso. Será que eu tinha apagado a escrita do tempo e o deixei para trás? Meu coração bateu forte. Minhas lembranças voltaram sem pedir permissão. O Chefe Conrado sempre foi minha luz, meu mestre meu herói. Porque não me disseram nada? Eu era importante demais? Logo ele que me deu tudo e eu nunca dei nada para ele depois de rico e famoso? É a experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido. O passado não importa. Sai correndo sem avisar. Foi como um século a descida do elevador privativo até a recepção. O alvoroço foi desfeito. A calçada lavada. Transeuntes nem sabiam o que houve ali. – Para onde o levaram? Perguntei ao Guarda de plantão. – Ele quem Senhor! Ele! Gritei. O que foi atropelado! – Senhor apenas um pobre homem que nada tem a ver com nossa Empresa internacional. Quem liga para ele?

                        Vontade de socá-lo. Resguardei-me para não falar palavrão. Ele sempre me dizia - Escoteiro, o homem civilizado, o homem de caráter e que tem honra, não diz e não fala palavrão! Quantas saudades me vieram à mente. Chamei meio mundo da empresa. Descubram já para onde foi levado. Eu preciso saber e não quero desculpas. – Estava sendo indelicado. Eu não era assim. O Chefe Conrado foi o pai que nunca tive. Foi à mãe que encontrei. Criado pela minha avó eu praticamente não tinha ninguém. Se sou o que sou devo a ele. Minha mente viajou no tempo e foi parar no acampamento do Pico do Falcão. O sol se ponto. Eu e mais três escoteiros monitores sentados olhando para o horizonte. – Veja ele disse. Porque se sentir importante se o sol que se põe toda tarde e volta novamente fazendo o mesmo trajeto, e nunca foi tão importante assim? Quem entendeu? Eu fiquei matutando e a noite depois de que a fogueira foi acesa ele bateu nas minhas costas sorrindo: - “Nunca desista de algo que você não consegue passar um dia sem pensar”.

                     Nossa quanta saudades do meu tempo de Escoteiro. Se eu pudesse ter apenas mais um desejo eu iria pedir voltar no tempo e ser Escoteiro novamente. – Hospital Santo Ângelo Senhor – Dei ordens para preparar o helicóptero. Precisava chegar logo, saber como ele estava. Pagaria tudo que fosse preciso. Não haveria senões, não me importava o preço, o Chefe Conrado merecia isto e muito mais. Subi até o heliporto e parti. No meu destino o Diretor me esperava. A empresa era uma das mantenedoras e a direção sabia disto. Ele estava sendo operado. Costelas, braços e pernas quebrados. Não iria durar muito tempo. – Façam o que for preciso. O possivel agora e o impossível daqui a pouco. – Três horas depois me chamaram até a enfermaria. Ele estava enrolado em um cobertor Velho e mal cheiroso. – Exigi respeito. Foi levado para o melhor apartamento. Ainda estava sonolento e nem me reconheceu. Fiquei ali no quarto por tempo que não soube medir. Liguei para Joelma explicando. Ela sabia do meu amor pelo Chefe Conrado.

                    De madrugada dormitava quando ouvi sua voz – Escoteiro, é você? Levantei chorando de alegria. – Não me abrace, estou moído, me dê somente um aperto de mão! Fiquei com ele toda manhã e voltei à noite para ver como estava. – Chefe, eles não sabiam quem era o Senhor. – Desculpe! – Escoteiro, só existe um universo, oito planetas, 204 países, 809 ilhas, sete mares, sete bilhões de pessoas. Como posso exigir que soubessem quem era eu? E você sempre foi o Escoteiro que me deu tanta felicidade enquanto estivemos ombreando nos nossos acampamentos que nunca esqueci. Eu chorava de alegria. Disse para ele que agora tudo ia mudar. Ele na sua simplicidade disse-me que não queria nada, tinha o mundo, tinha a lua tinha a estrelas que alimentavam seu lar. – Escoteiro! Algumas vezes coisas ruins acontecem em nossas vidas para nos colocar na direção das melhores coisas que poderíamos viver. Nunca sabemos quão forte somos até que ser forte seja a única escolha.

                Um mês depois ele deixou o hospital. Não deixou endereço, não disse para onde foi. Fiz tudo para localizá-lo e não consegui. Chamei Guilherme e perguntei se queria ser Escoteiro. Ele me olhou ressabiado. Pai, não sei o que é isto. Vai saber, vai ver que lá é onde damos os primeiros passos para enfrentarmos as dificuldades da vida! Pai será que vou gostar? Não sei Guilherme, se não gostar terás o direito de decidir. Naquela tarde eu e ele adentramos no pátio dos escoteiros. Uma lembrança forte do Chefe Conrado. Nunca esqueci o que ele me disse quando fui para a faculdade: - Escoteiro, se a caminhada está difícil, é porque você está no caminho certo! E de novo voltei ao meu passado sendo o Escoteiro que eu sempre fui!

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