sábado, 8 de setembro de 2018

Lendas escoteiras. E a vida continua...



Lendas escoteiras.
E a vida continua...

Nota - Para mim ela sempre foi uma grande amiga. Apaixonou-se por alguém que não lhe daria o que ela merecia. Diziam nas patrulhas que eu seria seu grande amor, mas não fui. O tempo não explica nossos sonhos de menino. O final foi triste e doloroso, mas a vida é assim, a vida continua para quem precisa viver!

                  - Você a conheceu? Olhei para Lisbela. Sim... Foi minha melhor amiga. Tive muitas amizades com uma jovem foi à primeira. Quando ela adentrou na sede naquele sábado chorando não dei nada por ela. Ela gritava chorava que não queria e sua mãe praticamente a arrastava. Usava um vestidinho comprido rosa, cabelos presos em um rabo de cavalo. Pensei comigo: Outra chorona? O Akelá Flavio Antunes me apresentou. Esta é Ruth, vai ser Lobinha da sua matilha.

                  – Olhei para ela... Parou de chorar. Olhou-me espantada e me deu um sorriso. Sorri também. Ali tudo começou. – Lisbela perguntou: - E como foi que tudo aconteceu? – Não respondi de imediato. Lembrar doía muito. Foi um golpe do destino. Meus pensamentos se misturavam. - Ruth confiava em mim. Na matilha sempre ao meu lado. Nos jogos nos acantonamentos aonde ia ela ia também.

                   - A Akelá não via com bons olhos. Ruth cresceu. Eu também. Muitos interpretavam mal aquela amizade. Eu amava Ruth como uma grande amiga e irmã. Eu era o único que ela sorria e conversava. Fiz a passagem para a Tropa e ela não. Como chorou. – Gritava e dizia: - Não vá! Não sei viver sem você! Sem você não serei mais Lobinha. Após o Grito da Patrulha olhei para ela no círculo de parada. Chorava. No final da reunião tentei consolá-la. Impossível.  

                     Um ano e veio me contar: - Vou fazer a trilha, breve estaremos juntos outra vez. Não demonstrei afeto. Aprendi a ficar longe dela para esquecer. Mas sentia enorme falta. Criticaram-me pela proteção que dava a ela. Pedi ao Chefe para ficarmos na mesmo Patrulha. Disse não sem explicar. Ruth cresceu, ficou uma moça bonita e chamava atenção dos demais. Eu sentia ciúme como amigo e não como namorado. Era uma irmã que nunca tive. Morava no meu coração.

                      Brincamos, acampamos em atividade de sede ou fora. Ia com ela ao cinema ao Shopping, fomos passear de trem e ficava admirado em ver seu sorriso sua vivacidade olhando pela janela voando como se tivesse asas. Fui para os Seniores e logo me avisou que já iria fazer a Rota Sênior. – Olhei para Lisbela. Vi que ela sofria na medida em que contava sobre Ruth. Eu também estava emocionado. Era cruel essa lembrança. Sabia que do destino ninguém foge.

                        Quando ela me disse que ia partir, não acreditei. – Meu irmão vou-me embora. – Embora? Sua família vai mudar? – Seus olhos encheram de lágrimas. – Conheci alguém. Apaixonei-me perdidamente. Os pais dele não aceitam minha mãe acha que sou nova. Acho que sou bastante madura para tomar uma decisão. - Encontrei um grande amor e não vou deixá-lo para trás.

                      – Não perguntei quem era. Não tinha esse direito. Não me disse quem era só me abraçou me deu um beijo na face, segurou minha mão esquerda com a dela, apertou e disse: - Adeus! Partiu naquela tarde de setembro sem dar adeus aos que dela gostavam.

                         - Olhe Lisbela parecia que o amor abandonado era eu. Não parecia amizade, mas sim uma história de amor. Amor? Eu fui seu irmão seu melhor amigo. Meses depois fiquei sabendo por quem se apaixonou. Rodney Sacramento. – Não acreditei. Tinha vinte três anos e ela quinze. Sua mãe me disse que ela partiu com a roupa do corpo. Saiu chorando dizendo que não iria mais voltar. Mãe eu amo Rodney, não importa sua idade, vai ser com ele que irei viver. – Olhei para a mãe dela chorando e suas lágrimas não paravam de cair. O Sênior que eu era nunca compreendeu e nunca quis compreender.

                           - Fiquei sabendo Lisbela que ela voltou. Acho que você também sabe e por isso me perguntou. Você é a mulher da minha vida. Nossos filhos são tudo que um homem como eu pode desejar. Mas verdade seja dita eu a procurei sim, vi que ela precisava de ajuda. Está internada no Sanatório Santa Maria. Meu Deus! Não era a escoteira que conheci. Magérrima, olhos escamoteados, rosto cortado e cheio de rugas. Poxa Lisbela. Ela não tinha mais do que 23 anos.

                            - E Rodney aonde anda. O que fez para maltratá-la deste jeito? Estava tuberculosa. Era tarde demais para a cura. Deixaram-me vê-la em seu quarto que repartia com mais seis outras mulheres. Abriu os olhos quando cheguei. Tentou sorrir, não era mais o sorriso de outrora. Surrando disse: – Eu sei que é você! – Ficamos mudos eu e ela. Recriminações não era hora e nem lugar.

                             - Sabe Lisbela, acredite. Eu sempre te amei e tentei esquecer e não consegui. Você fez de mim outro homem. Agradeço demais por isso. Vieram me contar que ela morreu. Não deixou testamento. Não escreveu sua história. Fui à sua campa. Vazia... Não havia ninguém. Era uma desconhecida, sem amigos, sem pais e foi enterrada em um buraco de terra. Mandei e paguei para fazer uma sepultura descente. Hoje fui lá, ajoelhei e chorei. Precisava chorar. Rezei pedi ao Pai que desse a ela a alegria dos tempos da Lobinha que conheci. Tempos que se foram destino traçado, ruídos da noite que marcaram uma vida.

                            As coisas passam, os dias mudam, os ventos da alegria irão chegar. A vida continua não há como mudar. Sonhamos com a felicidade. Alguns realizam outros não. Alcançar a felicidade é fugir das dificuldades do dia a dia. Como disse o poeta: - E assim a vida continua, ganhando, perdendo, sorrindo e chorando... Procuramos desculpas no passado para alimentar melhoras futuras e nos esquecemos de que o momento de se viver é agora, no presente, com todas as emoções e situações possíveis... Viva!

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