Contos em volta da fogueira.
Balada do vento amigo.
Prefácio - Eu gosto desta resenha. Quantas vezes li
e reli? Muitas, demais... Sinto-me bem quando leio e deixo minhas recordações
invadirem minha mente, lembrando-me dos velhos tempos, dos acampamentos dos
dias que ficaram para trás me sinto bem, me sinto rejuvenescido. Deixa o vento
seguir o caminho do mar... Deixe-o soprar na montanha do Adeus para a gente
nunca mais esquecer.
Eu já ouvi o vento soprar, forte e viçoso nas montanhas douradas do
Baependi. Eu já o ouvi soprar calmamente no alto da serra do Caparaó. Ele rasgava o dia e as noites através das
folhagens como se estivesse reclamando da invasão dos seus domínios. Eu já ouvi
o vento soprar, nas imensas planícies do Vale Feliz. Ele procurava espantar as
borboletas coloridas que ali estavam à procura do mel escondido no caule das
flores que caiam no outono.
Quando eu caminho para o oeste, seguindo o sol que busca se esconder nos
vales verdejantes, eu ouço o vento soprar. Ele sopra suavemente para me
entreter na busca do infinito. Dentro de uma barraca que parece sair voando, o
vento sul açoita sem pedir permissão. As vozes das tempestades são enfurecidas
por ele. Ele o vento não pede passagem, ele vai onde quer e ninguém ousa
interromper.
Eu gosto do vento. Não importa de onde vem e para onde vai. Já estive
com os ventos da primavera, que traziam o doce perfume das flores, das matas do
Quati, das planícies longínquas em Crenaque das terras dos Índios Pataxós. Eu
já estive com os ventos no verão, com as bravias chuvas espicaçadas na subida
do Ibituruna a molhar quem tentasse se defender. Ele enviava aos escoteiros que
se arriscavam a seguir a trilha das estrelas, trovões, raios inimagináveis. Depois
da chuva ele trazia a bonança com ventos calmos, pacíficos e o cheiro da terra
molhada, um sabor que poucos podiam sentir.
Sempre amei o vento. E quando chegava a madrugada, não era mais o vento
e sim o orvalho trazendo o perfume das folhas, o cantar da passarada e elas
voavam em maravilhosos círculos ao sabor do vento cuja chuva o vento levou.
Eu tive a honra de conhecer os ventos gelados das Agulhas Negras, do
Itatiaia, Do cipó e tantos outros cuja beleza se mostrava esplendidamente no
horizonte, parecendo sorrir com a vasta imensidão a perder de vista. Eu já vi as
grandes ventanias que jogavam tudo ao chão. Eu já vi os ventos das borrascas
cinzentas no mar gelado. E quando o vento calmo soprava no infinito deixavam as
gaivotas dançarem ao sabor das ondas perdidas nas ondas bravias do mar...
Arrebentavam nas pedras fazendo mil firulas de águas efervescentes lutando
contra o vento que não podiam vencer.
Quando em marcha de estrada
e o sol a pino, eu me entregava sempre aos ventos para me dizerem o melhor
caminho. Beber a água cristalina da fonte, em uma sombra, sentindo os ventos
soprando é indescritível. Eu já ouvi o som dos ventos. Muitos. Os que se
transformavam em arco íris, os que se transformavam em brisas, gostosas,
sopradas de cascatas borbulhantes ou na madrugada a nos apanhar sem barracas
tendo o céu de estrelas como morada.
Saudades enormes dos
ventos. Os que molhavam nossa face quando arriscávamos em um pernoite qualquer
a beira da estrada tentando ver estrelas além do luar. Gosto de invocar os ventos.
Eu os chamo vindos norte e do sul, os ventos do oeste e do este. A eles sempre
peço que soprem sempre trazendo a alegria e felicidade que merecemos.
Um dia alguém me falou
do vento – Sabes Escoteiro, se tens vento e depois água, deixe andar que não
faz magoa, mas se tens água e depois vento, põe-te em guarda e toma tento! É...
Eu já ouvi o vento passar... Nas montanhas verdejantes do Baependi!
Deixa passar o vento
Sem lhe perguntar nada.
Seu sentido é apenas
Ser o vento que passa…
Consegui que desta hora
O sacrifical fumo
Subisse até ao Olimpo.
E escrevi estes versos
Pra que os deuses voltassem.
Ricardo Reis.
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