quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Lendas Escoteiras. E Mister Bob não foi para o céu!



Lendas Escoteiras.
E Mister Bob não foi para o céu!

Prologo: - Mister Bob é um conto de ficção. Quem sou eu para dizer que a vida é assim e assado e que do outro lado seremos poeira cósmica. Deve ser muito difícil acreditar que vamos desaparecer e quando chegar a hora ver o contrário. Dar de cara com o Diabo ou com os anjos de Deus deve ser um tremendo susto. Enfim que cada um faça sua escolha no que acredita. Quem sou eu para contradizer?
             
                   Mister Bob era Chefe de Escoteiros. Aparência europeia se vangloriava em pertencer a uma raça superior. Superior ou não Mister Bob não angariava simpatias. Achava-se poderoso e mesmo muitos o considerando prepotente e autoritário, era tido por alguns como um tirano travestido de Escoteiro. No grupo era muito influente. Donatello o Diretor Técnico e Montana o Presidente o achavam arbitrário, mas sua influencia com os jovens e sua maneira dominante amedrontava a todos. Filho de condes ele se considerava o melhor. Quando falava mostrava que era um perfeito xenofóbico e preconceituoso. Formou-se com louvor na USP. Como Engenheiro Civil fez seu MBA de Engenharia de sistemas e computação na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro e Mestrado e Doutorado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)).
       
                   Respeitado em sua profissão estava se preparando para estagiar na Harvard Business School (Harvard University EUA). Alguns de seus conhecidos diziam que ele iria ser um dos maiores CEOs em qualquer empresa que o acolhesse. Se fosse politico seria facilmente eleito Presidente do Brasil. Vangloriava em dizer que era um ateísta. Entre rodas fechadas de chefes ele dizia que Deus para ele era absolutamente nada. Mostrava sua força e seu conhecimento e se gabava de que Deus não o ajudou em nada e ele nunca precisou. Como Ateísta ele se achava mais inteligente e considerava mais preparado que Deus para resolver seus problemas. Bíblia para ele era um zero a esquerda.

                  Sabia que em sua Tropa a maioria eram católicos e evangélicos. Somente Tom Crayner um Escoteiro novato escondido dos pais dizia também ser um agnóstico. Quem sabe por que ouviu seu Chefe falar e ele copiou. Queira ou não vamos considerar que Mister Bob fez uma ótima Tropa. Provou que poderia manter todos sem evasão por três anos e cumpriu. Seus escoteiros o admiravam e muitos o procuravam copiando sempre seu exemplo. Considerava que seus escoteiros eram os melhores. Exigia muito e não perdoava os atrasados e faltosos. Nos acampamentos regionais ou nacionais exigia das patrulhas serem melhores e tirar o primeiro lugar. Todo ano ele conseguia o Padrão Ouro para o Grupo e graças a sua Tropa recebeu sua IM em dois anos de atividade. Achava muitos dirigentes eram impotentes e deveriam ser substituídos... Por ele é claro.

                 Com seis anos de escotismo já tinha recebido a Medalha de Gratidão bronze e prata e caminhava para a de bons serviços. Fazia questão de lembrar ao Diretor Técnico e ao Presidente a sua importância no grupo escoteiro. Fingia ser fraterno, apertava mãos de chefes mais humildes contrariado. Era poderoso o suficiente para desmerecer os que não eram iguais a ele seja no conhecimento Escoteiro ou na técnica escoteira. Pediu e obteve autorização para fazer vários cursos em Gilwell Park. Pelo menos Mister Bob se apresentava bem vestimentado. Comprou e não regateou todos que podia vestir. Levou para o melhor alfaiate da cidade para refazer as costuras mal feitas e reciclar para seu tamanho normal.

                  Nunca pensou em entrar para os escoteiros até o dia que foi desafiado por um colega de MBA. – És capaz? Ele riu e disse: - Sou e me dê oito anos e serei o Presidente dos Escoteiros do Brasil! Entrou em um Grupo Escoteiro depois de pesquisar em um bairro nobre próximo onde morava. Investigou quem frequentava seus conhecimentos universitários e suas vidas pregressas e profissionais. Sempre se mostrava como o melhor, o magnata no saber, o rico de conhecimentos e soberbo na sua ação. Fez a promessa escoteira sabendo que nunca ia cumprir. Em breve iria modificar tudo, pois achava um absurdo prometer a um Deus que não conhecia e uma Pátria que não tinha o porquê se orgulhar.

                  Um dia fazia adestramento em baixo de uma árvore junto aos seus monitores quando um Senhor de idade indefinida, calmo e cheio de hematomas se aproximou. Ficou em pé para se defender. – Olá moço! Viu se nosso Deus passou por aqui? – Ele riu. – Ora velhote “perebento”, não vê que estou ocupado? Vê se toca meu! Este teu Deus é seu e não meu. O homem que o interpelava riu e perguntou? – Quando você morrer onde será o seu céu? – Mister Bob pensou em dar uma lição e mostrar que não existe céu, não existe outra vida e nem este tal de Deus. Virou as costas e foi até onde estava a patrulha de monitores e brincando disse: - Meus jovens amigos será que estou prestes as morrer? Todos se assustaram e disseram que não.

                  Mister Bob frequentava os melhores lugares da cidade, restaurantes famosos, e sempre convidado pela nata da alta sociedade era a figura mais proeminente onde quer que estivesse. – Convidado para um coquetel na Federação dos Engenheiros ele com sua pose de superioridade discutia sobre a cristandade quando em dado momento caiu ao chão assustando a todos. Médicos acorreram e todos balançavam a cabeça. Mister Bob havia morrido. Ele no ambiente não acreditava no que via. Seu corpo inerte sem respirar. Assustou-se. - Não desapareci? Não virei poeira cósmica? – Porque estava ali olhando seu próprio corpo? – Viu então aquele Senhor “perebento” que procurava Deus e disse a ele: - Então Mister Bob já escolheu aonde ir? Para o céu ou para o inferno? Mister Bob estava apavorado. Não viu nenhuma luz só dementes mal cheirosos em volta.

                   Naquela tarde viu seus escoteiros, seus amigos, sua noiva em volta de sua sepultura. Nenhum deles se mostrava triste com sua morte. Estava morto e enterrado. Assustado pensou que nunca viu uma prova que Deus existe e ali naquela necrópole viu muitos como ele que sorriam, outros choravam outros bebiam agua da lama, e muitos o espezinhando pelos caminhos sujos por onde passava. Não dá para modificar o destino e um dia a verdade irá aparecer.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Recordações.



Recordações.

                         O acampamento vai chegando ao fim. As noites sob o céu de estrelas deixarão de existir. O momento final é glorioso. Todos estão a lembrar da luta dos dias de construção. A manhã do último dia chega sem ninguém perceber que o que vale na vida é o ponto de partida e não a chegada. Cada um olha sua construção, sua mesa, seu fogão, sua barraca e os olhos lacrimosos sabiam que no final tudo ia ao chão. Nada ficaria a não ser o espirito criado, a amizade sem adornos os fraternos abraços e as boas ações. Agora só o sol era testemunha do fim da jornada. Quando ele se por no horizonte, todos sem exceção voltaram ao ponto de reunião. O Chefe geral falou alto a Tropa formada: - No fim tudo da certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim. Acredito, o acampamento é assim, um céu que pouco anoitece e a patrulha se despedindo pensando no seu retorno e a árvore do campo dizendo chorosa: - Adeus! Nada ficou sem desfazer.

                       Melhor chorar na bandeira quando ela farfalhar no vento fazendo-a descer devagar. Pensamentos tão sós dizendo que um dia tudo de novo vai recomeçar.  No futuro virão outros acampamentos, se agora é o fim o recomeço está próximo. É como se fosse uma trilha que a gente vai descobrindo sem perceber onde a trilha começa e a barraca armar. Não se faz pacto com o tempo. Não existem tarefas impossíveis de realizar. Todos aguardam o novo acampamento que vai chegar. Agora é contar as horas como se fossem eternidade de momento. Sempre Alerta Campo! É hora de partir! Não fique tristonho, sorria, pois em breve irei voltar! 
Escoteiros alerta! Bom campo... Debandar!

Feliz aquele que um dia dormiu no manto das estrelas, como se fossem barracas forradas ao luar. Vou dormir bons sonhos, muita paz.
Boa noite.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Lendas escoteiras. A lenda da Iracema Escoteira e do Canto do Uirapuru.



Lendas escoteiras.
A lenda da Iracema Escoteira e do Canto do Uirapuru.

Prólogo: Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão. Canta Uirapuru, o Deus da floresta amante de Iracema e amigo de Tupã! Divirtam-se com a lenda do Uirapuru, aqui contada por escoteiros que um dia viram o Uirapuru cantar...

                  Conta-se uma lenda que um jovem índio guerreiro apaixonou-se pela esposa de um cacique. Ela também se enamorara dele, mas sabia que seria um amor proibido. Ambos sofriam muito, um amor à distância e sabiam que se um dia chegassem a se falar seriam mortos pela tribo. Com o tempo a esposa do cacique foi esquecendo seu amor, mas este sofria muito quando a via. Um dia ele amanheceu muito doente com febre. O Pagé fez tudo que sabia. Ninguém sabia que sua doença era de amor. Com tanto sofrimento pediu ao Deus Tupã que o transformasse em pássaro e assim poderia ficar ao lado da mulher que amava. Tupã o Deus da Bondade o atendeu. Todas as noites ele se aproximava de sua amada e cantava lindas canções de amor que só ela entendia. Mas o cacique com inveja resolveu aprisioná-lo numa gaiola e correu para capturá-lo e acabou-se perdendo na floresta. O Uirapuru agora um pássaro sabia que nunca haveria de ter sua amada. Só se ela descobrisse que ele era o jovem guerreiro que a amava. Isto nunca aconteceu. Diz à lenda que quem encontrar um na floresta pode fazer um pedido que se tornará realidade. Dizem que os nativos da floresta comentam quando o Uirapuru canta, toda a floresta fica em silêncio rendendo-lhe homenagens.

                 Os olhos de Iracema brilhavam quando lia e relia a lenda do Uirapuru. Não sabia quantas vezes leu, quantas vezes sonhou e dizem que ela entrou como escoteira porque acreditava que um dia iria encontrar o pássaro que amava. Muitos disseram a ela que são inúmeros os pássaros que encantam nas florestas seus cantos maravilhosos. Mas ela sabia que seu coração estava entregue a Uirapuru. Ela sabia que seu cantar magnifico capaz de improvisar incríveis melodias eram carregadas de profundas emoções espirituais. Ela conhecia o poliglota Sabiá, seu gorjeio, mas nenhum poderia imitar com a perfeição os trinados do Uirapuru. Na Alcatéia ela contava para seus amigos lobos os mistérios desconhecidos deste lindo pássaro, que quando canta há um silêncio total da natureza para ouvi-lo. A natureza fica muda. Os lobinhos se assustavam com suas historias. Quando passou para a Tropa escoteira Iracema levou consigo seus sonhos. Nunca acamparam em uma floresta densa, ela sabia que seria lá que encontraria seu amado Uirapuru.

                    O tempo passou e Iracema já Guia não esquecia seu amor. As amigas da patrulha compreendiam, mas os jovens seniores sorriam debochando quando ela em fogos de conselho chamava aos quatro ventos pelo Uirapuru, que ele viesse e cantasse sua melodia em forma de triste oração de agradecimento a Tupã, seu mentor. Rosaldo amava profundamente Iracema. Sempre a amou desde os tempos que eram lobos e escoteiros. Ela o aceitava como amigo e nada mais. Foi ela que no acampamento em Pedra Azul na beira do remanso do Rio Saudade disse para ele: Rosaldo, quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas, é de amor e poesia que estão falando! - Rosaldo não soube o que dizer. – Naquela tarde ele viu Iracema olhando para o céu, antes do anoitecer. Ele devagar fazia uma poltrona trançada só para ela, um presente para ela não esquecer que ele também existia. Calado ele sonhava e dizia para si: - Há quatro coisas misteriosas que eu não consigo entender: A águia voando no céu; A cobra se arrastando nas pedras; O navio que encontra seu caminho no mar; E o amor entre um homem e uma mulher.

                     O tempo foi passando célere. A idade chegou e a vida maravilhosa do Sênior e da guia agora eram somente saudades. Rosaldo não foi para os pioneiros, Iracema sabia que precisava continuar. Só com eles poderiam um dia ir a uma floresta densa, fechada, escura para que ela pudesse ver e ouvir seu amado Uirapuru cantar. Alguns pioneiros achavam que Iracema tinha problemas psiquiátricos. Não era possível uma moça bonita como ela, não se interessar por ninguém a não ser por amizade. Sabiam que ela não fora Cruzeiro do Sul, não tivera interesse no Lis de Ouro e nem no Escoteiro da Pátria. Chefe Jonas o Mestre Pioneiro um dia perguntou a ela: - Não sonhas em ter a Insígnia de B.P? Ela sorriu e não respondeu. Naquela tarde observou Iracema olhando para o céu e declamando: - Bem-te-vi, Uirapuru, Pardal. Aves. Sempre belas aves. Emitem sons puros e calmos. No verde do mato, no laranja do sol, no azul do céu, no puro do ar. Tudo me lembra um lugar. Um lugar onde tudo pode haver, onde posso ser. Com todas as forças, ser Iracema do Uirapuru!

                      Um dia em uma reunião do Clã muitos pediram grandes aventuras, grandes atividades em um local inóspito, cheio de surpresas para acamparem. Foi Lorenzo um Pioneiro novato quem disse ter lido sobre uma floresta densa aluvia, nas terras baixas da Bahia com formação florística. Ela fazia parte da Mata Atlântica uma reserva florestal. Iracema ficou em pé, sem perceber bateu palmas, seu coração era como um grande tambor anunciando para breve rever seu grande amor. Era lá que iria encontrar o Uirapuru, o jovem guerreiro dos seus sonhos. Não dormiu bem até a data marcada, onde partiram para mais uma aventura pioneira, mas para o fato consumado de Iracema nunca mais voltar. Novamente ela se sentia como a águia queimando, querendo chegar às estrelas longínquas. Via Pícaro voando em céu cor de cinzas. Seria seu sonho em favor da Luz. Sua odisseia estava chegando ao fim. Mais um capítulo da sua saga. Ela sabia que precisava ser louvada, e em baixios calos dizia: - Água cristalina, água quem vem da colina, purifica minha alma e traz a calma para o fim da minha vida.

                    A história termina aqui. Ninguém nunca soube explicar para onde foi Iracema. Uma noite ela adentrou a floresta e não voltou nunca mais. Ninguém entendeu e as explicações surgiram no ar. Quem sabe Rosaldo que um dia foi procurar e só ouviu o cantar do Uirapuru? Ele sorria sabendo que lá estava Iracema a virgem que não era do mar e agora vivia seu sonho que acalentou por toda a vida. Dizem que em noites de lua cheia quem se atrever a avançar na floresta escura, ouvirá o Cantar do Uirapuru, sentado na beira da lua, e ao seu lado à bela Iracema cantando com ele canções de amor.

                   É, são histórias que contam por este mundão de Deus. Não há fogo de conselho onde a lenda é lembrada, todos sonham com Iracema e seu guerreiro que contam por aí agora são dois Uirapurus a voar pelo céu azul. Eles como ninguém cantam lindas canções de amor. Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão. Canta Uirapuru, o Deus da floresta amante de Iracema e amigo de Tupã!

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Uma fábula para meditar. O menino que carregava água na peneira.



Uma fábula para meditar.
O menino que carregava água na peneira.

Prólogo: - Minha primeira Fábula. Lançada a cinco anos atrás. Dizem que é uma narrativa em prosa ou poema épico breve de caráter moralizante, protagonizado por animais, plantas ou até objetos inanimados. Contém geralmente uma parte narrativa e uma breve conclusão moralizadora, onde os animais se tornam exemplos para o ser humano, sugerindo uma verdade ou reflexão de ordem moral. Serei eu humano animal ou escoteiro?

                      Certa vez, nos tempos dos sonhos impossíveis, um Velho sentado na beira de uma estrada sorrindo me chamou. – Escoteiro! Você sabe carregar água na peneira? Fiquei imaginando o que ele queria dizer. Ele não se fazendo de rogado, acedeu seu pito de palha me olhou e começou a contar: Era um Escoteiro que carregava água na peneira. O Chefe dele um homem muito sábio disse que carregar água na peneira era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos demais amigos da patrulha. O Chefe disse que era o mesmo que catar espinhos na água. O mesmo que criar peixes no bolso. O escoteiro era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. O chefe reparou que o escoteiro gostava mais do vazio, do que do cheio. Falava que vazios são maiores e até infinitos.

                   Com o tempo aquele escoteiro se tornou cismado e esquisito, porque gostava de carregar água na peneira. Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No escrever o escoteiro viu que era capaz de ser um sonhador. O Escoteiro aprendeu tudo de nós e amarras e a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O Escoteiro fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor. O Chefe reparava o escoteiro com ternura. O chefe falou: Escoteiro você vai ser poeta! Você vai carregar água na peneira à vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens, e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos e outras não! E assim termina a história do Escoteiro que carregava água na peneira e depois se tornou um poeta.

                  Verdade ou não hoje fico pensando se ainda carrego água na peneira. Vejo e sinto que a água me escorre pelos dedos. Para onde vamos? Levanto a cortina dos meus olhos, contemplo a maravilha do amanhecer. Eu sei que a vida é uma criança, esperta, bonita, inteligente passa correndo, é preciso ver. Acredito e nem duvido que não exista dor sem alento nem tristeza tão longe da alegria. Quando a luz de cada dia acende a vida, iluminando o amanhecer, não vacila, toma posse da imensa alegria de viver. E então esqueço as tempestades, me dá uma vontade imensa de colocar meu uniforme, meu lenço e meu chapéu, pegar meu bastão e sair por aí a acampar. Chegar ao campo e ouvir a voz do vento: - Escoteiro! - Acende a fogueira acende! Ilumina esta clareira, as fagulhas subindo alto no firmamento vão virar estrelas! Acende fogueira acende! Tira da mata a escuridão, escoteiros reunidos ao pé do fogo de chão contam histórias da tropa guardadas no coração! - Acende fogueira acende arde até ao alvorecer, madrugada já vai alta acalenta o meu viver!

                   Apenas sonhos?

sábado, 16 de fevereiro de 2019

A parábola da rosa.



A parábola da rosa.

                     O Chefe Conrado naquela noite em frente sua barraca nos recebeu com um delicioso cafezinho. Deixou-nos a vontade, pois à noite estava linda e o céu estrelado. Sorrindo falou em voz baixa: - Vocês sabiam que as pessoas desabrocham assim como as rosas? Ficamos olhando para ele espantados. – Saibam que precisamos aprender a ver a essência das pessoas, a beleza interior e não a beleza externa de cada um. Vou contar para vocês uma parábola que um dia ouvi de um mestre Escoteiro, quando sem querer em um vale florido ele começou a narrar uma historia que nunca tínhamos ouvido.

                    - Meus queridos escoteiros, um certo homem plantou uma rosa e passou a regá-la constantemente e, antes que ela desabrochasse, ele a examinou: - Ele viu o botão que em breve desabrocharia, mas notou espinho sobre o talo e pensou: - Como pode uma bela flor vir de uma planta rodeada de espinhos tão afiados? – Entristecido por este pensamento, ele se recusou a regar a rosa, e, antes que estivesse pronta para desabrochar, ela morreu. – Assim é com muitas pessoas. Dentro de cada alma há uma rosa. As qualidades dadas por Deus e plantadas em nós crescendo em meio aos espinhos de nossas faltas. Muitos de nós olhamos para nós mesmos e vemos apenas os espinhos, os defeitos. Nós nos desesperamos, achando que nada de bom pode vir de nosso interior. Nós nos recusamos a regar o bem dentro de nós, e, consequentemente, isso morre. Nós nunca percebemos o nosso potencial. Algumas pessoas não veem a rosa dentro delas mesma; Alguém mais deve mostrá-la a elas.

                   Olhando na face de cada um de nós ele terminou: - Um dos maiores dons que uma pessoa pode possuir ou compartilhar é ser capaz de passar pelos espinhos e encontrar a rosa dentro de outras pessoas. Esta é a característica do amor — olhar uma pessoa e conhecer suas verdadeiras faltas. Aceitar aquela pessoa em sua vida, enquanto reconhece a beleza em sua alma e ajuda-a a perceber que ela pode superar suas aparentes imperfeições. Se nós mostrarmos a essas pessoas a rosa, Elas superarão seus próprios espinhos. “Só assim elas poderão desabrochar muitas e muitas vezes.”.

                  O Chefe Conrado piscou o olho e como um bom poeta que era finalizou: - Eu queria ser uma rosa branca, mas do que me adianta ser branca se ao ser branca deixa de ser rosa, por tanto permaneço em mim transparente e habitante do planeta amor, firme na idéia caule só pra ver aonde broto flor.

Boa noite!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Uma crônica do Velho Chefe Escoteiro. Tempo “bão” tempos que não voltam mais.



Uma crônica do Velho Chefe Escoteiro.
Tempo “bão” tempos que não voltam mais.

Prefácio: Esta pequena crônica é uma homenagem ao Antigos Escoteiros. Temos muitos deles aqui. Sempre lendo e comentando lembrando com saudades seus velhos tempos. Isto é uma forma de resistir à passagem do tempo. Como escreveu Mário Quintana, o tempo é um ponto de vista. Velho é quem é um dia mais Velho que a gente...

                                 Ouve um tempo que foi há tanto tempo que nem sei se esse tempo ainda pode de novo voltar... Nem que seja em saudades, em pensamentos, em vontades daquela que faz a gente sonhar, tremer, tempo que a gente lembra e vive a se orgulhar. Tempo “bão” de bastão a caminhar, bandeirolas soltas no ar. Chapelão do sol quente do poente de tudo que ele guardava a chuva, na caminhada, patrulha danada que saia por aí a acampar. Tempo de ver tanta gente, olhando a gente sorridente, a dizer baixinho com orgulho a que ao seu lado estava: - É escoteiro, valente caminheiro que vão mudar a nação. Traz no peito o orgulho de um brasileiro sonhador, que acredita no futuro um futuro promissor. Tempo, por favor, traga de novo ao vivo o tempo que eu vivo a sonhar...

                                 Patrulha sedenta por descobrir uma trilha verde jeitosa, de encontrar uma árvore frondosa e sem discutir ou falar, todos iam se sentar! Respirar a natureza em toda sua realeza olhar ao redor e pensar: - Terra bonita, terra do boi valente, da onça que aparece de repente, do Pica Pau espantado, olhando por todo lado, a patrulha que parou, parou na sombra da árvore, naquela bela tarde um suspiro para voltar a caminhar. Quem já viu uma patrulha, andando pela colina, correndo pelas campinas, nas costas mochilas encantadas e tudo ali eram levadas, para uma refeição, um bom café mateiro, coisa de bom Escoteiro? Tempo da descoberta, do rio para pular, da jangada tão perfeita que nas águas tão travessas era um vai e vem para atravessar.

                               Tempo do feijão na brasa, da carne no carretel, do sal do sarapatel, do olhar do cozinheiro, ao lado os escoteiros, esperando a boia terminar. Sons gostosos de quem ouviu o bater nos pratos como a dizer; - Turma amiga da onça é hora de encher a pança. É cantar que a boia é boa, tem arroz queimado, o feijão está bichado e a carne estragada. Sorrisos em profusão, mas tudo sendo consumido, na panela de feijão e o arroz cozido faziam sorrir valentões. E a noite escurecendo, o tempo que foi passando, hora dos ventos noturnos, hora de limpar o coturno, hora de um belo jantar. Jantar feito na moita, bebendo uma bela sopa, de tomate ou de abacate você já viu? “Bão” demais meu amigo. Coisa de bons mateiros, bons valentes escoteiros na clareira da floresta, pois esta noite terá festa.

                               Apenas uma patrulha? Podem ser uma duas ou três não importa. O Chefe confiava, na turma acreditava que tudo ia nos conformes, nada daria errado. Monitor um companheiro, um bom líder Escoteiro, a contar causos sem fim. Sempre tinha o gaiteiro, nas estradas nos atoleiros ele tocava: - £ “Em uma montanha bem perto do céu, existe uma lagoa azul”. E a gente acompanhava todo mundo só cantava lembrando a família que muito longe ficou. Mamãe papai cofiava. Sabia que só valentes escoteiros de repente iria um dia ser homem honrado, com todo mundo apalavrado, orgulho de uma era, que nunca mais irá voltar. Eita chapéu que representava, por onde a gente passava, ali estão os escoteiros do Brasil.

                         Será que ainda verei mochileiros escoteiros, correndo por aí nas montanhas, acampando em vales floridos, dormindo sob o céu estrelado fazendo um escotismo gostoso, onde o Chefe confia e deixa acontecer? Será que verei no horizonte, bandeiras do Brasil tremulando, nas mãos de um Escoteiro de hoje, altaneiro viageiro, mostrando a sua raça, deixando a vida sem graça do moderno que nada tem? Ainda fico pensando onde anda os patrulheiros, que dão a vida pela patrulha, que seguram o seu bastão como se fosse sua alma seu coração? Quem sabe eles trarão as respostas, quando os chefes acreditarem que o escotismo é deles dos jovens e de mais ninguém. Quem sabe seguirão o líder, que um dia disse na Jângal: “Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”.

                                  Se isto acontecer irei para a terra dos meus ancestrais sorrindo, já pensei em deixar de sonhar, mas isto não pode acontecer. Quero ainda ver os novos remanescentes, fazendo com que de repente, nem que seja de improviso, aquele belo escotismo, que um dia irão orgulhar. Sei que o chapéu é ultrapassado, que mesmo não sendo amado pode trazer o calor, de sentar em volta do fogo, uma chaleira fumacenta, um café brasileiro esquenta um papo aqui outro ali, menino vai ser bom demais. Sei que é difícil de ver, afinal sou Velho ultrapassado o meu escotismo sonhado já deixou de existir. Mas me provem que um dia de vestimenta e tudo, partirão sorrindo nas trilhas, sem ter a sua chefia para tudo atrapalhar. Mostrem que não há tempo, seja em qualquer momento existem bons escoteiros, com seu monitor gritante avante, patrulhas! Sigam-me, pois agora é nossa hora, partiremos sem demora ao nosso acampamento anual.

                         E façam como B-P: Arregace as mangas e tome iniciativa, olhe longe e depois olhe ainda mais longe... Bons caminhos escoteiros, valentes e bons brasileiros!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Lendas Escoteiras A saudade mata a gente!



Lendas Escoteiras
A saudade mata a gente!

                  Eu me ofereci para levá-lo. Era apenas um encontro de velhos escoteiros em um lugar qualquer da minha cidade. Não me inscrevi para ir e só fui fazer a inscrição depois que soube que ele queria ir. Foi Donana quem me telefonou. – Chefe, a família está aflita, ele não tem condições. Há dias acamado e parece que não deram muita esperança de vida. Ninguém sabe quem disse para ele do Encontro dos Antigos Escoteiros em um Fogo de Conselho dos seus amigos do passado. Não são tantos assim, mas ele não para de dizer que vai. Não arreda o pé! – Eu não o conhecia, nunca o vi pessoalmente, alguns chefes me falaram sobre ele. Diziam que quando mais jovem era uma pessoa maçante, insistente nos seus ideais, sempre a dizer que seu tempo era o melhor e que hoje somos sombra do passado.

                 Eu tinha meus problemas. Por sinal muitos que não seriam de fácil solução. Meu emprego perigava, poderia a qualquer momento ser demitido. Linalda minha esposa sempre dizendo que tinha de ir devagar. – Jove, temos dois filhos já crescidos e precisam de você e de mim. Você gasta muito nos escoteiros. Quem não pode pagar você paga, nunca deixou ninguém para trás. Sempre foi daqueles que diz que ou vão todos ou não vai ninguém. E se você ficar desempregado? – Ela tinha razão, agora tinha um salário razoável, mas até quando? – Era difícil parar, sempre fui Escoteiro desde os seis anos. Amo de montão esta filosofia que me encanta, não iria parar. Se Deus quisesse que eu fosse um desempregado não iria retrucar. Mas do escotismo não iria abrir mão.

                  Donana me telefonou à tarde. – Chefe estou com um problemão. Você não conhece o Chefe Polar. Nem sei se este é seu nome. Já está chegando aos 95 anos. Dizem que conheceu Baden-Powell e eu não duvido. Foi Chefe no Montezuma e só saiu de lá quando o Conselho de Chefes achou que estava na hora dele partir. Diziam que era impertinente maçante e até de irritante o chamaram várias vezes. Comentam que ele chegou em casa chorando, e mesmo Isabel sua esposa tentando consolar ele passou um semana enfastiado, olhos cheios de lágrimas e caiu prostrado em uma cama e não levantou mais. Disseram até que ele queria tirar sua vida. – Olha ele já estava com 88 anos e no grupo dizem era um Pé no Saco! Ninguém estava aguentando mais.

               Fiquei pensando se quando envelhecesse eu seria assim também. Liguei para sua esposa me prontificando em levá-lo. Ela chorava e eu apiedado não sabia o que dizer. – Chefe, Polar quase não anda. Tosse o tempo todo. Sempre com remédios a cada hora do dia. O médico recomendou repouso absoluto, mas ele não obedece. Diz que vai de qualquer jeito e ninguém vai impedir. Não sei por que Joviano o convidou. Ele devia saber que Polar não tinha condições. – E os filhos porque não o levam e ficam juntos? – Ela ficou calada por instantes. – Chefe, meus filhos nunca foram bons escoteiros. Só ficaram enquanto ele praticamente obrigou. Hoje não veem com bons olhos o escotismo. Chefe não sei se seria uma boa ideia.

               Combinei com ela que passaria por volta das sete da noite. Eu o levaria com prazer. - Afinal um dia serei como ele senhora. Todos nós que amamos o escotismo um dia seremos velhos, idosos, velhos lobos, ou seja, lá o que nos vão chamar. Se vai ser seu último porque lhe tirar a chance de recordar? Liguei para Fagundes um Velho Escoteiro para saber melhor sobre Polar. – Chefe, um grande homem. Deu sua vida pelo escotismo. Nunca bajulou ninguém. Sempre foi honesto com sua escolha e dizia o que pensava sem esconder. Não quiseram entregar para ele o lenço da IM. Diziam que ele não tinha espírito Escoteiro. Nunca aceitou pagar por uma medalha por isto não tem nenhuma. Gritava e ainda grita aos quatro ventos que seu escotismo é o de raiz, o de Baden-Powell!

               Vesti meu uniforme devagar. Sabia que iria levar alguém que merecia meu respeito e minha admiração. Sempre fui do lado dos humildes, dos que se comprazem em não mudar de rumo ou direção. Quando amarrei o cadarço do sapato preto, vistoriei de novo o friso do meião. Olhei pela última vez no espelho se meu lenço estava como sempre bem colocado. Perfeito. Sem dobras, sem sobras. Coloquei meu chapéu devagar. Não coloquei as duas medalhas que me deram. Um de bronze de bons serviços e outra de gratidão também bronze. Quarenta anos fazendo escotismo e disseram que eu ainda precisava mostrar como servir a União dos Escoteiros do Brasil com bons serviços prestados. Hoje penso que não devia ter pagado por elas. Era meu direito como Escoteiro. Despedi com um beijo afetuoso em Linalda entrei no meu fusca e parti. Não tinha pressa. Tinha tempo, muito tempo.

               Na esquina da Sete de Setembro com a Saúva uma ambulância passou nos gritantes rumo ao centro da cidade. Meu coração acelerou. Entrei na Rua Peçanha. Na porta da casa de Polar um mundão de gente. Desci Dona Isabel sua esposa me olhou e disse: - Chefe, não precisa mais. Polar partiu, nunca mais vai voltar. – Ela chorava a perda de alguém com quem viveu uma vida. A abracei carinhosamente. – Para onde foi? O Grande Acampamento do Universo? Não sei se ouve o Fogo do Conselho dos velhos. Nunca perguntei. Voltei para casa chorando. Nunca vi Polar, não o conhecia e nunca apertei sua mão. Nem sei como era, mas eu o tenho no coração. Ali ele vai viver para sempre como se fosse meu guia, meu Chefe, e meu irmão!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Lendas Escoteiras. A Cigarra Azul do Lago Dourado.



Lendas Escoteiras.
A Cigarra Azul do Lago Dourado.

Prologo: - Esta é a historia de uma Lobinha e uma cigarra azul. História simples para lobinhos, pois eles sabem se encantar com belas passagens pelo bosque e de pequenos insetos que encantam nossas historias de faz de conta. Espero que os lobos gostem desta historia.

                       Era apenas uma cigarra azul. Nunca ninguém ligou para ela. No mês que todas cantavam para arrumar um namorado, ela simplesmente se calava. Gostava de ficar no tronco da frondosa figueira próximo de sua morada no Lago Dourado. Era o mês das flores, das abelhas procurando mel, dos beija-flores coloridos a procura do néctar para sobreviver. Suas amigas estavam espalhadas pelo bosque, cantando, pois este era o destino de todas. Assim era na Jângal, na época na Primavera, onde todos ficavam contentes, corriam pelos campos sorriam e cantavam. Isto não acontecia com a Cigarra Azul. Nunca foi feliz. Não sabia por que todas as cigarras eram cinza esverdeadas e ela azul. Não podia entender.

                        Um dia na brisa fresca da manhã, ouviu uma vozinha doce e suave a lhe dizer – Canta minha linda cigarra. Porque você não canta? A cigarra Azul olhou espantada. Viu uma menina vestida de azul, com um lenço verde e amarelo e um bonezinho azul sorrindo para ela. – Quem é você? Perguntou a Cigarra Azul – Eu? Eu sou a Dorothy, da matilha azul como você. Sou uma lobinha minha amiga Cigarra Azul. Ela ficou a pensar como podia conversar com aquela menininha tão magrinha, com uns olhos fundos e tristes, que mal conseguia ficar de pé. - Eu não posso cantar! Respondeu. Porque não pode? – Porque sou azul e todas são cinza esverdeada. Sou diferente. Nunca terei uma família. Nunca serei ninguém! Dorothy pediu de novo, desta vez quase chorando: Cigarra Azul cante para mim. Prometo que cantarei com você. Irei aprender a letra e a melodia e ambas cantaremos juntas.

                        A cigarra ficou pensando porque aquela menina insistia tanto para ela cantar. Dorothy então disse a ela – Sabe Cigarra Azul, eu também estou muito triste. Eu tenho uma doença que me acompanha desde que nasci. Meus pulmões sempre me dão falta de ar, tenho dificuldades para respirar e sinto um aperto no peito e tenho tosse. Sou lobinha, mas sou uma lobinha triste. Quero brincar e correr como todo mundo, mas a minha Aquelá não deixa. Diz que não posso ficar no sol, à noite não posso ver o céu, e nem ver o amanhecer do dia, pois não posso também pegar o orvalho que cai. Veja! Ando sempre com esta bombinha. Ela me dá certo alívio.

                     A Cigarra Azul ficou triste mais ainda. Viu que a menina dos olhos cinzentos era mais triste que ela. Resolveu cantar e sorriu para a Dorothy. - Você sabe cantar música Muito além do arco-íris? Não sei, respondeu Dorothy. Mas cante que vou aprender. A Cigarra Azul tinha uma linda voz. Encantou logo a menina Dorothy. Assim ela começou:
 - ♫♫Além do arco-íris, pode ser que alguém, veja em meus olhos, o que eu não posso ver. - Além do arco-íris, só eu sei que o amor poderá me dar tudo que eu sonhei...

                   Nesta hora a Cigarra Azul parou de cantar. Sentiu que uma pedra atingira suas asinhas. Caiu no chão desmaiada. Dorothy não podia acreditar. Olhou e viu Pedrinho um lobinho com várias pedras na mão. Chorou e gritou com ele – Você matou a Cigarra Azul! Pedrinho ria. A Aquelá veio correndo e viu o que aconteceu. Durante todo o Acantonamento Dorothy chorou. Não se conformava. No dia seguinte após o cerimonial de bandeira, Dorothy deu mais ultima olhada no tronco da figueira. Sabia que não ia ver nada, mas não custava olhar. Pedrinho a procurou chorando. Pedindo desculpas, pedindo perdão. Dorothy não sabia o que dizer. Afinal ele matou a Cigarra Azul! E então, surgindo no final do bosque eis que surge ela, a linda Cigarra azul, acompanhada de outra cigarra verde garrafa.

                  A lobinha Dorothy não cabia em si de contente. Ria, e até começou a cantar. A Cigarra Azul sorria. – Dorothy, a cigarra dizia – Este é meu namorado. Ele me socorreu. Levou-me até onde esta o Arco-íris. O homem que mora lá, um velhinho de asas azuis me colocou as asas de volta. Agora estou feliz. A Aquelá chamou todos para embarcar. Dorothy não queria ir. Vá – disse a Cigarra Azul. Volte no ano que vem. Estarei aqui para cantarmos e sorrirmos muito. Quando chegou a sua casa, contou tudo para sua mãe e seu pai. Eles sorriram. Viram que ela tinha mudado. Já não usava a “bombinha”. Achavam que Deus lhes deu um presente. A saúde de Dorothy.

                   A noite de domingo seu pai disse que tinha alugado um filme para ela. Um lindo filme que ele tinha assistido quando criança. O Mágico de Óz. Era o filme mais lindo que ela tinha assistido. A menina também se chamava Dorothy e a musica era igualzinha a que a Cigarra Azul cantou para ela:

- Um dia a estrela vai brilhar, e o sonho vai virar realidade. - E leve o tempo que levar, eu sei que eu encontrarei a felicidade, - Além do arco-íris, um lugar que eu guardo em segredo e, Que só eu sei chegar... - Me fez ver que o amor dos meus sonhos tinha de ser você...

                  Todos os anos Dorothy ia acantonar com sua Alcatéia no Lago Dourado. Lá ela encontrava a Cigarra Azul, seu namorado e agora eles tinham quatro filhos, duas lindas Cigarras verde garrafa e duas outras lindas cigarras azuis! Ei! Deixe-me contar. Pedrinho virou ao avesso. Transformou-se no mais disciplinado lobinho da Alcatéia. E assim termina a lenda e quem sabe a real história de Dorothy e a Cigarra Azul que morava lá, no Lago Dourado muito além do Arco-íris. 

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Lendas Escoteiras. A dor de uma saudade.



Lendas Escoteiras.
A dor de uma saudade.

                     Nunca tive preferencias. Era um Chefe que dificilmente dizia: Este é meu Escoteiro, este é meu monitor. Se todos fossem iguais a Pedro quem sabe João seria melhor. Mano Velho um negro de idade indefinida que conheci próximo de Crenaque tinha tal sabedoria que sempre que podia pegava o trem e ia até a casa dele, uma tapera de folha de bananeira e paredes de barro sobre bambus chineses. Sentado em um banquinho na porta de sua casinha e sempre pitando um cigarrinho de palha sorria mostrando que a maioria dos seus dentes já tinham partido desta para melhor.

                    Foi ele quem um dia me disse: Vado Escoteiro quem mais precisa de ajuda não é o bom o disciplinado o feliz, é aquele que ainda não recebeu amor, não sabe ajudar o próximo e nem sabe fazer o bem. Este precisa de sua ajuda independente de quem seja. Um dia quem pode precisar da ajuda dele é você. Eu amava aquele Velho que nunca foi Escoteiro, mas tinha o escotismo no coração.

                    Mas não era só eu. Todo Grupo Escoteiro tinha um carinho especial por Maria Julia. Meninota dos seus treze anos apareceu um dia com uma velhinha de cabelos brancos andando com dificuldade amparada por uma bengala feita a mão de pau de aroeira. - Chefe eu vim aqui para ser uma escoteira, trouxe minha Avó Doinha, pois minha mãe já foi para o céu. Falou com tanta simplicidade que mesmo não tendo vagas no momento aceitei sem pestanejar.

                   Ela aos poucos conquistou o coração de todos. Nunca há vi franzir o cenho, reclamar, pedir ajuda ou até mesmo falar rispidamente. A Patrulha Javali tinha seis Escoteiras. Sorriram quando ela chegou. Confesso que minha experiência não é pouca e sabia que poucos escoteiros poderiam me surpreender na sede ou em acampamentos. Já tinha visto de tudo o bastante para resolver qualquer problema que surgisse. Acreditei que era forte e um super Chefe até que tudo aconteceu.

                  Josélia Leal, monitora veio correndo me chamar. – Chefe o Senhor não vai acreditar, venha comigo. Ela pegou na minha mão e me levou próximo ao riacho onde Maria Julia sentada acariciava um Lobo Guará que lambia sua mão. Quando sentiu nossa presença o lobo fugiu embrenhando-se na mata. Era comum no cerimonial de bandeira passarinhos voarem sobre ela ou mesmo pousar em seus ombros. Ele me olhava com tanta meiguice como a pedir desculpas por eles.

                 Não ficou muito tempo na Tropa e logo passou para as Guias que tinham por ela um ressentimento por seu estilo religioso e agindo como se fosse diferente das demais. Não era verdade. Ela nunca foi assim. Eu sabia que era dar tempo ao tempo e logo todas tornariam suas amigas. É aquele Velho ditado que não devemos julgar ninguém pelas aparências, mas sim pelo seu coração.

                 Foram quase três anos de convivência. Em dezembro quando íamos fazer a festa de encerramento e em férias ela me procurou: - Chefe não gosto de férias. Sempre sinto muita falta do escotismo. Sei que é necessário, mas eu queria aproveitar mais, não sei quanto tempo terei para ser feliz nesta fraternidade que amo. – Tentei dizer algumas palavras de entusiasmo, esperança, mas não consegui. Despediu-se de um por um. Deste o mais simples lobo ao Pai que na sede ajudava nas lides de escritório. Ela se aproximou de mim e me deu um abraço. Ela transmitia o amor sincero tão grande que me passava seu eu espiritual e eu nem sabia o que pensar.

                Um mês depois voltamos às reuniões Escoteiras e naquele dia de retorno onde os cumprimentos e abraços não vi Maria Julia. Procurei a Chefe Renata perguntando. – Chefe o senhor não soube? Ela foi visitar uma tia em Verdes Mares. Sua Avó e ela pegaram uma carona com Zezito que bêbado caiu em uma ribanceira. Morreram todos! – Impossível! Eu não queria acreditar. – Chefe porque não me contaram? – Ela respondeu que não sabia. O acidente foi próximo à cidade de Verdes Mares e o veiculo acidentado só foi descoberto semana retrasada, quase um mês depois!

              Fui para casa sem saber o que fazer. Meu coração batia e eu pensava em maldizer os santos a Deus e a humanidade. Uma jovem como ela não podia ter este final trágico. Fui até onde ela faleceu e sentado em um barranco olhava o carro todo carcomido e amassado. Comecei a chorar.

               De olhos abertos eu vi uma nuvem no céu parecendo uma estrada cheia de flores e pássaros das mais diversas cores. Ela apareceu do nada e olhando para mim sorria dizendo baixinho como se só eu pudesse escutar: - Chefe não fique triste, o senhor deve viver sabendo que vai morrer um dia, e antes que isto aconteça não se esqueça de suas boas ações, ajude a quem precisa. Não despeça da vida como quem não soube viver direito. Tudo tem seu apogeu e seu declínio... É natural que seja assim. Todavia, quando tudo parece convergir para o que supomos o nada, eis que a vida ressurge triunfante e bela!... Novas folhas, novas flores, na infinita benção do recomeço! Eu chorava e soluçava. Um homem crescido, vivido e agora me portava como alguém que revoltado não sabia compreender. Senti sua mão em minha fronte. Rezei. Pedi a Deus por ela e pedi perdão. Eu agora entendia que a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor!

                    Isto aconteceu há muito tempo. Aprendi muito com a filosofia escoteira. Agora eu sei que a árvore aceitou os desígnios da vida que lhe pediam serviço. Mas, quando se acreditou definitivamente despojada, notou que a divina providência a revestiu de folhas e flores novas, ao toque da primavera.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Lendas da Jangal. Sasquatch, o lobo solitário da Montanha de Cristal.



Lendas da Jangal.
Sasquatch, o lobo solitário da Montanha de Cristal.

             Esta é uma história de um lobo solitário que nas madrugadas vagava pela Montanha de Cristal com seu uivo sinistro como a pedir à ajuda que nunca teve. Dizem que ele chorava, que de seus olhos negros sempre se via uma lágrima. Dizem que os lobos nas montanhas andam em matilhas, o mais forte protege o mais fraco, mas quando ele está Velho, sem condições de sobrevivência é deixado pelos demais e morre uivando de fome sede e frio. Mas deixe-me contar a vocês a história de Sasquatch. Foi Sandra quem o apelidou assim. Sandra foi outra que viu seu mundo desmoronar. Mas não vamos avançar a história. Melhor narrar parte por parte para que vocês conheçam melhor tudo que aconteceu com Sandra e Sasquatch, o lobo solitário da Montanha de Cristal.

            Sandra tinha trinta e seis anos quando Otávio seu marido faleceu. Ficou mais de quatro anos agonizando de hospital em hospital até que Deus o levou e quem sabe para melhor. Sandra não chorou. Chorou sim quando soube que ele tinha uma grave doença pulmonar e que não sobreviveria mais que um ano. Viveu quatro anos dos mais felizes em sua vida com ele e o tratando com o maior carinho. A doença consumiu tudo que tinham. Gastaram todas suas economias. Vendeu sua casinha que compraram há muitos anos com muito sacrifício. Não tiveram filhos. Otávio já doente no primeiro ano de casado resolveu assim. Seis meses depois da morte de Otávio, Sandra ainda morava só. Uma irmã no nordeste escreveu para ela para ir morar com ela. Sandra não quis e resolveu ficar. Sua tristeza quando chegava à noite em casa do seu trabalho era enorme. Lia um livro, um programa de TV e ia dormir sonhando com Otávio ao seu lado.

            A vida de Sandra era uma rotina. Foi Amélia sua colega de trabalho quem mudou tudo. – Preciso de uma assistente. E você vai me ajudar disse. – Sandra riu e aceitou. Quem sabe o Escotismo lhe daria um novo caminho? O tempo passou. Amélia casou e saiu do Grupo. Sandra ficou em seu lugar. A Alcateia passou a ser um pouco sua vida. Dedicava de corpo e alma aos seus lobinhos. Adorava os meninos e as meninas. Fez curso, aprendeu muito em outras alcateias que visitou e acantonou. Tonho e Marilda eram suas assistentes. Baloo e Bagheera. Os lobinhos e as lobinhas tinham verdadeira adoração por eles. Sandra já não mais se sentia só. O escotismo deu a ela nova motivação e uma filosofia de vida que ela nunca esperava.

            Tudo aconteceu em julho. Anualmente sempre faziam um acantonamento no Rancho dos Grandes Amores. Seu Ruan proprietário adorava os lobos e dizia sempre – Enquanto estiver vivo aqui será um rancho de lobos! Atrás da casa sede tinha uma montanha. Linda. Muitos bosques e uma nascente. Sandra quando ia ali ficava horas e horas a olhar para ela. Chamavam-na de a Montanha de Cristal. Sandra não sabia por que, mas no dia da viagem para o acantonamento bateu uma enorme saudade de Otávio. Três anos sem ele e ela não entendia aquela melancolia, logo agora em um acantonamento. Quem sabe por que ia só e os seus dois assistentes iriam à noite. Duas mães foram juntas para ajudar na cozinha e limpeza diversas. Chegaram, arrancharam, e logo começou as atividades. Iam ficar três dias.

         À tarde do primeiro dia enquanto os lobos arrumavam suas tralhas para a noite e o banho Sandra como sempre olhava para a Montanha. Assustou quando avistou um Lobo parado em uma pequena trilha olhando para ela. Não sabia o que fazer. Entrou correndo na casa sede. Olhou pela janela. O lobo se afastava. Mancando. Notou que sua perna direita estava quebrada. Sentiu pena dele. Sem perceber o chamou de Sasquatch. Nada há ver com a história do homem de neve que contam por aí. Ela saiu de novo da casa. O lobo parou e voltou. Ela notou seus olhos tristes. Parecia que lagrimas caiam. Não era possível. Ela devia estar enganada. Lobo não chora. Viu que ele se aproximou dela. Lambeu seus pés. Ela foi até a cozinha. Cortou um pedaço da carne do almoço do outro dia e deu para ele. Ele olhou para ela com os olhos húmidos e balançou a cabeça como a agradecer. Não comeu a carne. Pegou entre os dentes e subiu a trilha que levava ao alto da Montanha de Cristal.

       Sandra acordou várias vezes. Jurava ouvir uivos enormes. Acordou pela manhã e alguém uivava lá fora. Era ele. Sasquatch. Sempre mancando. Sandra aproximou dele e ele deixou que ela o acariciasse. Viu que a perna estava curta e tinha sinal de perfuração de bala. Um caçador malvado só podia ser. Ela o olhou nos olhos, viu o brilho firme a encará-la. Foi de novo buscar alimentação para ele. Ele ajoelhou e balançou a cabeça. Deu um enorme uivo pegou a carne com os dentes e de novo seguiu a trilha da montanha. Vários lobinhos viram o lobo, tentaram se aproximar, mas ele mancando corria. Só com Sandra ele se deixava acariciar. Assim foram os três dias. No último ele fez um sinal para ela. Parecia saber que ela ia embora. Andava em direção à trilha, parava e olhava para trás. Sandra o seguiu. Não andou muito e ele entrou em uma pequena caverna.

        Sandra ficou com medo de entrar. Por diversas vezes Sasquatch chegou à entrada e fez o sinal. Resolveu segui-lo. O que viu foi de estarrecer. Dois lobinhos recém-nascidos mortos e dois vivos entre a vida e a morte. Tinha carne junto deles, mas não conseguiam comer de tão fracos. Olhou de novo para Sasquatch. Viu que ele era um lobo macho. A femea devia ter morrido, mas ele não abandonou os lobinhos. Filhos dele? Sandra não sabia o que fazer. Ele olhava para ela com carinho como a pedir que o ajudasse. Ajudar como? Ela tinha de ir embora. Sentia enorme pena dos lobinhos e sabiam que eles iam morrer. Fazer o que? Saiu da caverna. Olhou para o céu e perguntou a Deus o que devia fazer. Viu em uma nuvem Otávio a sorrir para ela. Era alucinação, ela não acreditava nisto. Resolveu voltar ao Rancho. Olhou para trás, Sasquatch uivava. Um uivo dolorido, choroso, e lágrimas caiam de seus olhos.

        Sandra voltou. Colocou os dois lobinhos no colo. Iria levá-los com ela. Não tinha outra saída. Desceu com Sasquatch a acompanhando. O ônibus chegou e a lobada cantando tomou seus lugares. Brincavam com os lobinhos que já estavam recuperando suas forças. Sandra deu leite para eles que beberam sofregamente. Ao entrar no ônibus deu uma última olhada em Sasquatch. Ele uivava e ela não sabia se de alegria ou tristeza. Sabia que não podia levá-lo. Não tinha condições. O ônibus foi saindo devagar pela estrada vermelha. Sasquatch tentou acompanhar, não conseguiu. Coxeava muito. Sua perna quebrada não deixava. Uivou muito e Sandra ouvia chorando baixinho. Quando o ônibus chegou à estrada asfaltada ele olhou pela ultima vez a Montanha de Cristal. Parecia que uma luz brilhante pairava sobre ela. Mas viu a figura novamente de Otávio sorrindo. Tranquilizou-se.

       Dizem que durante muitos anos Sandra cuidou dos dois lobos. Um ela chamou de Lobo Gris e o outro... Sasquatch. Por onde andava os dois lindos e enormes lobos a acompanhavam. Um de cada lado. Disseram-me que ela voltou muitas vezes a Montanha de Cristal. Foi até a caverna onde os lobos nasceram. Levou Gris e Sasquatch e eles uivaram por muito tempo como a lembrar de seu pai que deu a eles um grande carinho e amor e porque não a vida. Ao retornar ouviu bem no alto da montanha um uivo enorme. Sabia que era ele. Olhou para lá, não viu nada. Mas sentiu um calafrio. Não era ele em vida, mas ali estava seu espirito como a agradecer o belo gesto de Sandra. E posso garantir as mil e uma historia que um dia irei contar, Sandra viveu feliz para sempre na companhia dos dois lobos. Sei que ficaram amigos para sempre! E contam até hoje que uma estrela brilhante paira todas as luas cheias por cima da caverna da Montanha de Cristal.

Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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