Prometo pela minha honra,
Nunca mais outra vez...
Se
Se fores capaz de manter tua calma, quando,
Todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
E para esses, no entanto, achar uma desculpa.
Se fores capaz de esperar sem te desesperares,
Ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio esquivares,
E não parecer bom demais, nem pretencioso.
Se fores capaz de pensar – sem que a isso só te atires,
De sonhar – sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
Tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se fores capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
Em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
E refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se fores capaz de arriscar numa única parada,
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
A dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
Resta à vontade em ti, que ainda ordena: Persiste!
Se fores capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
E, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
Se a todos podes ser de alguma utilidade.
Se fores capaz de dar, segundo por segundo,
Ao Minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo,
E – O que ainda é muito mais – És um homem, meu filho!
Rudyard Kipling
Nunca pensei que aquele dia chegasse. Mas para dizer a verdade eu não era toda essa “potência” que pensava ser. Desde criança nunca fui determinado. Muitas vezes desistia no meio do caminho. E olhem, foram muitos desafios. Do Zé Venâncio que sempre era um forte e eu apanhando, do jogo de bolinhas de gude que perdia tudo para o Felinto das Mercedes. E até quando meu pai me presenteou com um papagaio lindo (hoje chamado de pipa) e uma manivela gigante. Roubaram-me na esquina da linha férrea e eu não reagi com medo.
Um dia encontrei com Plínio. Tinha a minha idade. Sete anos. Estava com um uniforme de lobinho. – Dalton, entre para os escoteiros. Lá você vai se sentir protegido. Quem bate em alguém de lá, tem de bater em todos. – Ops! Interessei-me. Chega de só levar a pior. Convenci meu pai a me levar. Não foi difícil. Um grande pai. Sempre me apoiou em tudo até o dia que morreu sozinho em sua casa no sitio da Manga Larga. Não é esta historia que estou contando. Não é para ser contada. Quem sabe um dia?
Fui bem recebido. Senti-me em casa. Uma amizade incrível. Agora era forte. Outro sorriso. Andava em turma. Ainda sem uniforme. Todos que não eram dos escoteiros me olhavam de outra maneira. Leví, filho do Inácio Barbeiro veio me devolver à manivela e o papagaio. Zé Venâncio me olhava espantado. Eu dava risadas. Até que o Akelá veio conversar comigo. Impressionou-me. Tinha sete anos, mas entendi bem o que ele dizia.
Dalton – ele disse – Aqui você vai aprender a ser um homem. Saiba quer o lobinho não desiste. Ele caminha sempre em passadas largas. Você tem de perceber que tudo vale a pena com seus amigos. Eles agora são seus irmãos. Se um dia for desacreditado e ignorado por todos, você não pode desistir. Vencer com honestidade e dar a volta sempre que for necessário nas horas difíceis. As palavras ficaram marcadas em mim. Achava que era um derrotado, mas agora era um deles. Um lobinho. Um vencedor.
Fiz minha promessa de lobinho. Aprendi que o lobinho está sempre alegre, diz sempre a verdade, que devia pensar primeiro nos outros e depois em si próprio. Que devia me manter de olhos e ouvidos abertos. Aprendi muitas coisas. Consegui minha primeira estrela, a segunda. Mas não consegui o Cruzeiro do Sul. Não sei por quê. Chorei muito, pois minha idade “estourou” e disseram que devia ir para os escoteiros.
Pensei em desistir. Afinal não consegui meu primeiro sonho no escotismo. Achava que alguém não entendeu meu amor por ele. Não era melhor desistir e ir embora? Mas lembrei das palavras do Akelá. – Desistir dos sonhos é abrir mão da sua felicidade. Desiste-se uma vez irá desistir sempre. Assim acontecendo estaria condenado a fracassar sempre em minha vida. Agora fazendo onze anos e o que tinha aprendido na alcatéia, sabia que devia lutar e que nunca poderia desistir.
Gostava da minha patrulha. Para dizer a verdade eu amava todos meus amigos da Lobo. Meu primeiro acampamento foi um marco na minha vida. Pela primeira vez dormi em barracas. Pela primeira vez fiz meu arroz queimado. Risos. Pela primeira vez deixaram em acender uma fogueira e todos cantaram em volta dela. Pela primeira vez observei as Três Marias. Bem perto a Fênix e ao lado a Ursa Maior e a Ursa Menor. Quem diria! Ali ao lado de Ivan, o nosso monitor estava aprendendo a reconhecer no céu as constelações que nos daria um caminho a seguir.
Minha promessa escoteira foi maravilhosa. Disseram que era meu dia. Só meu. Nunca esqueci. O Chefe Fabiano foi e é até hoje meu amigo. Nunca me deixou mesmo quando aconteceu aquele fato que até hoje me arrependo. Mas foi bom. Uma lição de vida. Deus meu! Eu era um derrotado? Afinal não tinha objetivos? Ou se os tinha porque sempre queria desistir? Precisava agüentar a pressão da vida. Todos na patrulha sabiam disso e o chefe Fabiano sorria e dizia – Dalton – quem quiser vencer na vida, deve fazer como os sábios, mesmo com a alma partida, ter um sorriso nos lábios. E completa, frase de dina Mor, um grande poeta.
Estávamos nos preparando para o desfile do Sete de Setembro. Uma festa na cidade. Eu orgulhoso. Levava a bandeira do grupo na frente das patrulhas que desfilavam marchando garbosamente. Chamávamos do pelotão do pavilhão nacional. Nossa fanfarra era bem considerada. Não era a melhor, mas sua harmonia era perfeita. Quando passamos em frente ao palanque tropecei. Cai feito uma laranja podre e o Mastro da bandeira se partiu. Todos rindo. No palanque vi o prefeito rindo a mais não poder. As autoridades se abraçavam rindo de mim. Uma vergonha! Um desastre em minha vida! Chorei e sai correndo. Corri para minha casa.
Fui para meu quarto. Meus pais não estavam lá. Estavam no desfile para me ver. Peguei uma coberta e me enrolei na cama e chorava. Era assim todas as vezes que me sentia impotente. Pensei em não sair dalí nunca mais. Meus pais chegaram. Chamaram-me e não quis abrir a porta. Insistiram. Abri. Lá estavam eles, o Chefe Fabiano e o Ivan o meu monitor. Abraçaram-me. Palavras de consolo. Serviriam? Ainda estava propenso a não voltar mais aos escoteiros.
Meu pai me disse umas palavras que me marcaram profundamente. Você pode desistir por seus objetivos, mas saiba que desistir é coisa de fracos. Dos inúteis que não agüentam pressão. Eram ásperas suas palavras. Ele nunca falou assim comigo. – Levante a cabeça meu filho. Enfrente agora, saiba que sua vida será uma sucessão de equívocos e humilhações. Não pode fraquejar. Não existem segredos para desistir, mas existem segredos para vencer. Quem tem de descobrir quais segredos é você.
Voltei ao grupo. A patrulha. Ninguem me criticou. A vida voltou ao normal. Recebi minha Segunda Classe. A especialidade de Acampador, Sinaleiro e Socorrista recebi com orgulho. As demais vieram naturalmente. O dia da jornada chegou. Meu companheiro de jornada foi o Mucio. Ele também estava encaminhando para a Primeira Classe. Ficamos dias com o Chefe Fabiano e com o Ivan nosso monitor. Aprendi tudo de croqui, leitura de mapas. Percurso de Giwell, passo duplo, passo escoteiro, sabia que não iria falhar.
Mas falhei. E falhei feio. Uma forte chuva. Colocamos as capas que fizemos de plásticos que nos foram presenteados pelo Sr. Omar, dono da Fabrica de Calçados. Quando colocávamos a capa, um vento enorme. Caímos. A ponte foi destruída por uma enchente inesperada. Nossas mochilas foram levadas. Um vento forte. Corremos para uma arvore próxima e passamos nosso cabo em volta e ali ficamos até a tormenta passar.
Primeiro dia de jornada. Um fiasco. Não podíamos perder o material. Outra vez querendo desistir de tudo. Eu não tinha sorte pensava. Voltamos à sede, avisamos o chefe responsável pela jornada. Ele não era um bom chefe, nos chamou de inúteis. Tentamos argumentar e ele não aceitou. Finalmente disse que por seis meses não deixaria que fizéssemos novamente. Fui para casa. De novo deitei na cama. Enrolado na coberta. Chorando. Um bebê chorão eu era isso sim.
Desta vez ninguém me procurou no quarto. Afinal foram tantas as vezes que me achavam um poltrão. Um “pobre diabo” que não seria nada na vida. Sempre desistindo. Ou eu dava a volta por cima ou eu ficava ali, escondido no quarto, debaixo de um cobertor chorando. Tomei vergonha. Parei de chorar. Sentei na cama e pensei – Tenho que conseguir a Primeira Classe. Devia isso ao Ivan, ao chefe Luciano e ao meu amigo Rogério que estava comigo na jornada fracassada.
Um belo dia refiz a jornada. Perfeita. Sem erros. Sem chuva. Risos. Deu tudo certo. Recebi a Primeira Classe e o cordão Verde e Amarelo. Depois o cordão Vermelho e Branco e por último o cordão Dourado. Ainda não existia o Liz de Ouro. Só o Escoteiro da Pátria para sênior. Fiquei na tropa por mais um ano. Resolveram organizar os seniores. Ainda não existia a tropa. Para dizer a verdade, não estava muito motivado.
Na primeira reunião achei o Chefe Gui meio fraco. Estava analisando sem o conhecer bem. Éramos seis. Uma só patrulha. Ele em vez de fazer uma eleição para monitor escolheu o Jean. Esperava uma eleição na patrulha. Não gostei. Achava que eu tinha o direito. Afinal não fui monitor na Lobo e agora também na Andrômeda? Não disse nada. A reunião terminou. Na porta disse ao Jean que não iria voltar. Não seria mais escoteiro. Mas Dalton, outra vez? O que valeu sua promessa? As palavras de seu pai e dos chefes?
Não respondi. No meu quarto fiquei sentado na cama como sempre fazia. Já estava com quinze anos e daí a dois meses iria fazer dezesseis. Fiquei pensando em minha vida. Sempre assim? Sempre um chorão? Sempre desistindo? Mas não tinha forças para tomar uma atitude. Peguei um livro por acaso no criado mudo ao lado da minha cama. Abri. Na segunda folha li e chorei, dizia – Bom mesmo é ir à luta com determinação. Abraçar a vida com paixão. Perder com classe, e vencer com ousadia. Porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é “muito” para ser insignificante. Escrito por Augusto Blanco.
Na reunião seguinte fiquei na esquina da rua da sede. Estava com receio de me aproximar. Já tinha dito a todos que nunca mais voltaria. Seria que valeria a pena minha volta? Afinal pensei que todos ali na patrulha me achavam um chorão, um poltrão, um "Zé Ninguém”, que por qualquer coisa desistia. Não seria melhor que ficassem sem mim? Era uma duvida. Uma decisão, mas se a tomasse teria que ser para sempre. Jurei a mim mesmo que nunca mais iria desistir. E fui em frente.
Uma alegria grande na minha chegada. Abraços, a patrulha dando o grito e me saudando. Não sei se merecia. Mas dizem que o segredo para vencer em qualquer jogo é muito simples. Fingir que está ganhando e quando eles descuidarem dar o xeque-mate da minha lealdade. Isto eu fiz. Fiquei nos seniores por anos e como não tínhamos Clã entrei como assistente da tropa escoteira. Ali fiquei por cinco anos. Aos 25 recebi minha Insígnia de Escoteiros.
Aos trinta anos me elegeram como Chefe de Grupo. Para mim uma honra. Agora não sabia mais o que era desistir. Casado, dois filhos, ambos no grupo como lobinhos, não poderia ser mais o escoteiro chorão do passado. Ainda bem. Muitos lutaram por mim. Hoje eu faço o mesmo. Luto por muitos. Cada jovem do grupo faz parte de mim, faz parte da minha vida. Dou a vida por eles se for preciso. Passei por muitas situações difíceis, mas a todos enfrentei com um sorriso nos lábios.
35 anos depois
Convidaram-me para assumir como Diretor Técnico do Grupo Escoteiro Águia de Haia. Sempre fui escoteiro e hoje devido aos meus afazeres estava inativo. Morava naquela cidade a menos de um ano. Transferido de minha empresa para dar uma “arrumada” em nossa filial que não ia bem das pernas. Gostei da cidade. Achei que iria ficar ali por muito tempo. Mas acreditem de grupo só o nome. Não existia ninguém. Teria que começar do nada. O pároco foi insistente. Não tinha nada a fazer aos sábados. Portanto porque não?
Recebi as chaves e entrei na sede. Abandonada completamente. Poeira e teia de aranhas se espalhavam por todo canto. Quantas histórias ela não guardava. Mãos a obra. Fiz uma limpeza completa com ajuda de meninos que me viram lá. Não disseram nada a não ser – Quer ajuda? Risos. Futuros escoteiros. No final entreguei a cada uma copia do pedido de inscrição. A celebre modelo 120. Fiquei só e fui aos arquivos. Livro de ata do grupo, de patrulhas, do Conselho de Chefes. Fiquei até meia noite lendo. Uma historia. Uma epopéia. Um grande grupo.
Embaixo de muitos papeis encontrei algumas folhas escritas. Era do penúltimo Diretor Técnico naquela época chamado de Chefe de Grupo. Li. Uma espécie de diário. Fiquei emocionado. Chorei até. Uma história de uma vida que deu certo. Do nada para o tudo. De alguém derrotado para um vitorioso. Seria agora meu motivo maior para fazer do Águia de Haia um grande grupo. Devia isto ao chefe Dalton. No final ele dizia que estava com câncer. Tinha poucos anos de vida. Com ele eu vi que uma palavra ou uma frase deve ser abolida do vocabulário escoteiro. Desistir! E na outra que deixou no final dos seus escritos resumiu tudo àquilo que ele foi um dia e aprendeu a nunca mais ser.
Nunca mais outra vez...
E quem quiser que conte outra...
Esperança é a última que morre!
Não se acostume com o que não o faz feliz,
Revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças,
Alague seu coração de esperanças,
Mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
gostei muito hefe,ja hania visto...vou continuar vendo cada dia mais........saps! ingrid maclicia.
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