domingo, 20 de outubro de 2013

Libachy, o lobo Vermelho do Vale da Coruja.



Lobo, o primeiro cão selvagem.

Uivando alto no topo de uma montanha,
Provocando arrepios na espinha,
Uma sentinela Solitária
Chamando a outros de sua espécie.

O último de uma raça em extinção.
Seu crime - a necessidade de comer.
Seu companheiro tem uma esperança,
Para o pai que vai levar um pouco de carne para casa

Os pecuaristas dizem que ele é uma ameaça
Para os mais pequenos de seu rebanho
Mas, para caça-lo à extinção
É sem sentido e absurdo.

A forma tem de ser encontrada
Para Criaturas de Deus coexistir
Para trazer harmonia e justiça
Para Lobos, nas florestas e nas montanhas

Portanto, antes de condená-lo
Ou matá-lo - ainda pior
Lembre-se do lobo, como índios
Que habitavam esta terra em primeiro lugar.
Charles W. Russell

Lendas escoteiras.
Libachy, o lobo Vermelho do Vale da Coruja.

                      Ele sentou sob suas duas patas, pois estava cansado demais. Suas orelhas levantaram. A respiração ofegante terminara e agora seu sentido de observação estava em ação. Libachy o Lobo Vermelho não sabia o que fazer. Passou todo o dia correndo no vale da Coruja para encontrar alguma caça. Quase se afogou na Vertente do Rio Pucumé. Com muito custo conseguiu pegar sua presa. Um quati raquítico e magro e ele quase desistiu. Mas sabia que seu pai Inûnpiac precisava comer. Dois dias sem nada no estomago Libachy sabia que dia menos dia ele iria partir para a Região Dos ventos Amigos, onde diziam os lobos viveriam felizes para sempre. Agora precisava tomar uma decisão. Nascera há muitos anos ali na Caverna do Morcego e toda a sua vida ele viveu no Vale da Coruja. Sua história poderia já ter terminado. Ele era o último da estirpe dos Lobos Vermelhos. Antes eram centenas deles. Lembrava ainda quando nasceu e sua Alcateia era forte, respeitada entre os demais lobos do Vale da Coruja.

                 Libachy olhava espantado para sua trilha que estava toda tomada por jovenzinhos humanos, com chapéus esquisitos e montando barracas bem onde devia passar. Ele lembrava que a muitas luas uma turma deles havia tentado atravessar o vale e desistiu. Pensou que nunca mais voltariam e ali estavam de volta. Nunca fez mal a eles. Libachy era um lobo amigo e não desejava mal a ninguém. Diferente de Sangue nos Olhos, A Onça Negra de mais de três metros e que também era a única a afugentar todos os bichos do Vale do Morcego. Ele sabia que ela era a única culpada por todos os seus infortúnios. A muitas luas todos viviam felizes e até mesmo Sangue nos Olhos não fazia mal a ninguém. Mas um dia resolveu ir para outras paragens e matou um bezerro recém-nascido. Foi à conta. Os fazendeiros em grupo foram à caça. Mataram quase todos os animais que acharam ser ferozes e sobrou somente ele e Sangue nos Olhos. Seu pai não conta, pois desde a lua nova que ficou entrevado não podendo mais andar. O Vale da Coruja não era mais o mesmo. Todos tinham medo de todos. O espirito sempre alerta para não ser morto por um tiro ou um animal mais forte esfomeado.

                Libachy olhou de novo para a menininha que vinha em sua direção. Ele sabia que não ia lhe fazer nenhum mal, mas e ela? Iria gritar e ele tinha de fugir deixando sua caça para trás. – Viu “quando ela riu e disse – Olá lobinho, eu também já fui uma lobinha” – Libachy assustou. Ele entendia tudo que ela falava. Como? Nenhum humano jamais conversou com eles. Pensou em sair correndo, mas viu a paz nos olhos da menininha. – Eu preciso passar ele disse. Ela sorriu e replicou – Pode passar sim, ninguém vai proibir você. Como? Libachy criou coragem, pegou sua presa e correu como nunca. Chegou esbaforido na Caverna do Morcego onde estava seu pai. Pensou em não dizer nada para não assustar, mas Libachy sempre dizia a verdade – Seu pai o ouviu calado e no final disse – Um dia tudo vai terminar Libachy, enquanto os humanos não matarem Sangue nos Olhos e você, eles não ficaram felizes. Você está pagando um crime que não cometeu.

                 Libachy não dormiu bem à noite. Um medo enorme dos caçadores. A menininha pode ter comentado com outros e eles não ficariam satisfeitos enquanto não exterminassem o último lobo vermelho e a última Onça Negra do Vale da Coruja. Mas ninguém veio. Pela manhã foi ver se já tinham ido embora. Eram muitos e divididos em turma. Em uma delas havia três menininhas e cinco menininhos. Educados, não gritavam, sorriam muito e cantavam canções que maravilhou Libachy. Seu medo agora era se Sangue nos Olhos não iria fazer mal a eles. Resolveu ficar ali e esperar. Se Sangue nos Olhos aparecesse ele os defenderia. Sabia que não podia enfrentar a Onça Negra, mas não iria deixar que ela fizesse mal aos meninos e meninas.

                   Sentiu que alguém acariciava sua pelagem ainda espessa.  Olhou e viu a menina de ontem. Olá meu amigo, ela disse. Sou Olhos Brilhantes, monitora da Patrulha Águia, e você tem nome? – Libachy falou de uma só vez. Vocês não devem ficar aqui. – Por quê? Ela disse. Se Sangue nos Olhos ficar com fome será um perigo para todos. Ela ficou pensativa. – Olhe porque não vem à noite? Teremos fogo de Conselho e vou apresentar você à tropa. Assim poderá contar porque corremos perigo. Libachy aceitou o convite. Seu pai disse para ele tomar cuidado. Nunca confiou muito nos humanos. Ao descer a trilha avistou dois automóveis. Um perigo. Sempre eram caçadores. Pensou em voltar, mas seguiu em frente. Encontrou todos em volta de uma grande fogueira. Olhos Brilhantes a escoteirinha correu para ele dizendo - Bem vindo meu amigo! Fique ao meu lado, vou apresentar você a todos. Foi bem recebido por uma palma escoteira.

                 Lá pelas tantas convidaram a ele para falar. Falou pouco. Que era um dos últimos dos lobos vermelhos. Todos seus irmãos foram mortos por caçadores. Agora era difícil viver ali. Ele não podia ir muito longe à procura da caça, poderia levar um tiro. Contou sobre Sangue nos Olhos a Onça Negra da Caverna do Urso. Que ela era como ele, não tinha mais amigos, só vivia fugindo. Nisto ouviram um barulho – era Sangue nos Olhos, uma enorme onça negra. Entrou no circulo dos Escoteiros sem medo. Pediu a palavra – Os fazendeiros me condenaram. Um dia um bezerrinho fugiu da sua mãe e entrou na grota do quati, se perdeu e acabou morrendo lá no alto da cascata do Véu da Noiva. Eu estava com fome. Os abutres iriam comer o bezerro e porque não eu? Porque não podia aproveitar também? Mas me condenaram. Disseram que fui eu. Minha linhagem desapareceu. Todos que moravam junto comigo foram mortos por caçadores. É certo isto?

                Seu Normando um fazendeiro amigo dos Escoteiros que foi convidado para a cerimonia pediu a palavra. – Escoteiros e animais, ele disse – Não sabia disto. Achei que eram muitos. Eu mesmo matei muitos lobos e onças negras. Confesso que estou arrependido. O Vale da Coruja são terras minhas. A partir de hoje nenhum caçador vai entrar aqui. Todos os animais poderão viver como sempre viveram. Em paz. Uma estrondosa palma ecoou por todo o vale. Olhos Brilhantes a escoteirinha veio abraçar Libachy, abraçou também Sangue nos Olhos. A partir daquele instante ficaram irmãos de sangue. Como na história da Jângal fizeram um juramento que iria valer por toda a vida. Escoteiros, lobos e onças seriam felizes e irmãos para sempre.

                   Contaram-me que quatro anos depois já se avistava matilhas de lobos vermelhos a correr pelo vale. Muitas vezes acompanhados por grande quantidade de onças negras que vagam pelo vale e nunca mais ninguém soube de mortes ou mesmo de brigas entre eles. Dizem ainda que Sangue nos Olhos e Libachy sempre andam juntos e que se alguém atacar um tem de atacar os dois. O pai de Libachy senhor Inûnpiac morreu alguns anos depois. Morreu sorrindo, pois seu vale agora era só de paz e felicidade.

As pessoas viajam para se maravilharem com a altura das montanhas, com as grandes ondas do mar, o longo curso dos rios, os vastos espaços do oceano, o movimento circular das estrelas; e passam por si próprias, sem ficarem curiosas.
Santo Agostinho


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Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

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