"A cada novo minuto você tem a
liberdade e a responsabilidade de escolher para onde quer seguir, mas é bom
lembrar que tudo na vida tem seu preço."
Conversa ao pé do fogo.
Um sonho de liberdade.
Jacob desde
pequeno sonhava em ser Escoteiro. Sua cidade Ramallah na Palestina nunca teve
um Grupo Escoteiro. Eles viviam em sobressalto devido às divergências entre
países e Jacob não entendia o porquê eles não davam as mãos e fossem viver em
paz e como irmãos. Jacob nasceu em Flores da Cunha uma pequena cidade no
interior de Pernambuco. Um dia seu pai juntou a família e partiu para a
Palestina. Disse que lá era seu lugar. Seus avós nasceram lá e lutaram até a
morte para serem livres. – Livres? E quem é livre? Jacob pensava. Ele mesmo
tinha lido em um livro que a verdadeira liberdade é um ato puramente interior,
como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num
cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão. Jacob nos seus onze anos
era um sonhador. Nunca imaginou viver em uma cidade onde o medo de morrer era
uma constante. Medo? Mas qual palestino tinha medo? Eles sempre não diziam que
dariam sua vida pela liberdade de sua terra?
No inicio a
curiosidade e o modo de vida chamou a atenção de Jacob. Viu sua mãe e sua irmã
Natividad mudarem completamente. Agora viviam fechadas dentro de casa e quando
saiam colocavam véus para ninguém poder reconhecê-las. Assim ele pensava.
Alguns meses depois acostumou com tudo. Gente andando para qualquer lado com um
fuzil no ombro e gritando palavras de morte ao usurpador. Jacob não entendia
nada. Lembrava-se de sua terra onde nasceu, uma cidade cheia de paz e harmonia.
Lembrava-se das histórias que seu pai contava e como ele ria quando viajava nos
seus pensamentos vivendo as aventuras escoteiras de seu pai. Ele tinha sido
Escoteiro. Contou que fora Monitor de patrulha, fizeram centenas de
acampamentos, beberam água da fonte, nadaram contra a correnteza para pegar
peixes grandes com a mão na época da piracema. Jacob com seus olhinhos miúdos
não os tirava do pai. Adorava seu pai quando contava histórias de escoteiros e
Jacob vibrava.
Jacob sonhava quando
chegasse a Ramallah ia ser um Escoteiro. Ele aprendeu com seu pai as leis e a
promessa. Um dia seu pai lhe mostrou o uniforme e Jacob pediu humildemente ao
seu pai para vesti-lo. Foi autorizado, mas só dentro de casa. Nunca na rua ou
nos montes próximos. Ele tentava entender esta guerra sem fim. Seu pai lhe
disse que as Terras lhes pertenciam. Era a Terra Prometida. Ia do Mar
Mediterrâneo ao Rio Jordão. Havia mais de cinco milhões de judeus vivendo lá, e
chamavam a terra de Israel. Outros tantos árabes que se julgavam donos da
terra, que chamavam Palestina também acharam que eram os donos da terra. Diziam
seus antepassados que chegaram lá primeiro. Seu pai dizia que eles lutavam pela
liberdade. Dizia que para ter a liberdade teriam de lutar muito. Seria uma luta
difícil, pois só se alcança quando nosso estado de consciência nos torna imune
aos sofrimentos de nossa consciência. Um bom Palestino ele dizia devia ser
imune aos sofrimentos, do orgulho, do ciúme e da vaidade.
Eleazar tinha
dezenove anos. Ele era um soldado Israelense. Morava em um kibutz de nome Kfar
Aza. Era bem próxima a Faixa de Gaza. Eleazar era brasileiro. Morava em Terra
Nova uma cidade ao norte da capital do estado do Paraná. Nasceu lá. Tinha uma
vida tranquila e feliz. Pudera, Eleazar era sênior e sem ninguém saber amava
Angelina. Angelina era Guia e todos queriam ser seu príncipe encantado. Eleazar
tinha conquistado o Lis de Ouro e partia agora para o Escoteiro da Pátria.
Eleazar sonhava em casar com Angelina e ter sua casinha pintada de branco com
muitas flores. Teriam muitos filhos também. Sonhos de menino homem que ainda
não tinha abandonado a puberdade. Um dia estava com ela de mãos dadas. Levou
uma pancada nas costas. Era o senhor Mujahid o Pai dela. Um homem mau. Soube
que foram embora da cidade. Voltaram a sua terra na Palestina.
Quando Eleazar fez
dezoito anos procurou o Consulado de Israel. Queria ir para lá e garantiu que
seria um bom soldado. Sempre foi um Escoteiro. Conhecia as técnicas de
travessias, da camuflagem, de campismo e sempre fora obediente e disciplinado.
Dois meses depois Eleazar foi embora para Israel. Sua mãe nunca aceitou sua
ida. Seu pai calado não disse nada. Eleazar só tinha uma missão, encontrar
Angelina. Ele iria atrás dela onde quer que fosse. Seu amor era grande demais
para esquecer. Iria dizer ao senhor Mujahid que não tinha ódio. Ele era um
Escoteiro, puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações.
Passaram-se seis meses e nenhuma noticia de Angelina. Ele ia disfarçado de
cidade em cidade na Palestina e nada. No Kibutz era bem considerado e todos o
achavam um bom soldado.
Um dia Eleazar
vestiu seu uniforme Escoteiro. Gostava de vestir. Sentia-se bem com ele e
sempre ia para os montes próximos e lá recordava de sua juventude, de seus
sonhos do seu amor que como o vento se foi para nunca mais voltar. Ele gostava
de deitar em baixo de uma Oliveira e ver as estrelas brilhando no céu. Seu
instinto lhe mostrou que alguém se aproximava. Olhou com atenção. Era um menino
de uniforme escoteiro. Impossível pensou, ali não tinha nenhum grupo escoteiro.
Ele não sabia que era Jacob, o filho de um palestino que desobedecendo às
ordens do pai subiu na montanha com uma pequena bandeira do Brasil que ele
achou nas coisas do pai. Cada um viu o outro por um prisma. Um achando que
encontrou um irmão Escoteiro e outro desconfiado do adulto uniformizado com um
fuzil engatilhado.
Aharon era um
bom piloto. Serviu na Força Aérea
Brasileira por muitos anos. Deixou Guaratinguetá e foi para São José dos Campos
como piloto de testes dos novos caças encomendados pela FAB. Gostava do que
fazia e muito mais do Grupo Escoteiro Flores Vermelhas onde ajudava na
Alcateia. Um dia um Major da força Aérea da Palestina disse que precisavam de
bons pilotos para treinar a nova esquadrilha de caças que compraram. Seria por cinco
anos e o salário era muito bom. Não titubeou e partiu. Um ano depois ele sentia
muitas saudades de sua terra e de seu grupo Escoteiro. Em uma inspeção de
rotina na fronteira ele estava em um Super Tucano EMB-314 da Embraer ele avistou
o impossível. Dois Escoteiros se abraçando no Monte Ararat. Quem seria? Um era
um Escoteiro e o outro devia ser um Chefe. Fez um voo rasante para dar as boas
vindas e dar o seu sempre alerta. Uma bateria de mísseis israelenses viu a
aproximação do Tucano em baixa altitude e abriu fogo.
O Super Tucano
explodiu e atingiu os dois Escoteiros que se confraternizavam naquele monte
onde diziam Noé aportou sua Arca. A história termina. Cada um tinha um sonho
que não se realizou. No céu uma nuvem azul e branca levou três Escoteiros cujos
destinos ninguém nunca pensou que poderiam ficar juntos para o céu. Um dia quem
sabe teremos liberdade suficiente para podermos decidir nosso destino conforme
nossos sonhos. Todos ansiamos desde muito cedo na
vida por mais liberdade. Quando ainda muito jovens, a liberdade é, para nós,
essencialmente relacionada à realização de nossos desejos. Queremos fazer tudo,
experimentar tudo, sem sermos tolhidos em nossos anseios de descoberta do mundo
por quem quer que seja.
Escotismo, um sonho de liberdade!
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