sábado, 30 de agosto de 2014

Lei do Escoteiro – Uma filosofia de vida.


“Tenho guardada no meu peito uma chave chamada Promessa que poderá abrir todas as fechaduras do castelo da Dúvida."

Lei do Escoteiro – Uma filosofia de vida.

¶Prometo neste dia, cumprir a lei
Sou teu Escoteiro, senhor e Rei.

                Ele passou a semana pensando se poderia assumir tamanha responsabilidade. Com seus onze anos ainda não tinha aprendido que assumir o que lhe pediram não seria fácil. Seus sonhos eram outros e quando estava em sua patrulha ele sentia o amor de todos por ele. Era o terceiro da fila e mesmo sendo olhado como o novo Pata-tenra isto não o incomodava. Tinha três anos de lobo e agora iniciando na tropa já sabia fazer muitos nós, sinais de pista e era bamba em subir em arvores ou descer pela corda. Assustou-se quando o Monitor lhe disse que o Chefe queria falar com ele. Uma conversa amigável, mas que o preocupou muito.  Afinal Albino nunca pensou nada sobre o que o Chefe lhe falou. Nos lobinhos ele brincava, cantava, fazia excursões e acantonamentos. Sim, ele sabia que fez uma promessa quando lobo, mas nada que pudesse comparar com esta agora que ia fazer nos Escoteiros. Ele seria capaz de cumprir a lei?

¶Da fé eu sinto orgulho, quero viver
Tal como ensinaste, até morrer!

          - Albino, dizia o Chefe, acho que sabe que sua promessa vai ser um dia especial para você. Eu sei que você entende o que é coragem dignidade e honradez. Isto meu caro Escoteiro chamamos honra. Quem não há tem perdeu tudo o que tinha de civilidade. Quando você estiver olhando para nossa Bandeira e se perceber bem acima dela, estará de braços abertos o nosso Senhor supremo. Ele não vai exigir de você nada mais do que você um dia irá enfrentar em sua vida. Ela lhe dará vários caminhos e compete a você escolher o certo. Sempre você terá direito a fazer a escolha que julgar correto. Não vou repetir artigo por artigo da lei. Você os conhece de cor. Dizem que nós Escoteiros primamos pelo caráter. Você sabe o que é isto. Um dia aprendi que caráter é a soma de nossos hábitos, virtudes e vícios. Em sua definição mais simples resume-se em índole ou firmeza de vontade. O caráter de uma pessoa pode ser dramático, religioso, especulativo ou desafiador. Pode ser também covarde e inconstante. Compete a você escolher de que forma seu caráter será formado. Nunca em tempo algum perca sua honra e seu caráter.

Com a alma apaixonada, segui-la-ei,
A minha Pátria amada, fiel serei!

            Albino não sabia o que dizer, olhava nos olhos do seu Chefe para sentir tudo que ele dizia e não perder uma só frase, uma só palavra. Conversaram por mais de meia hora. Ele sabia que o próximo sábado seria só dele. Seria o dia que faria a promessa nos Escoteiros. Nunca pensou que haveria tanta responsabilidade. Já tinha visto a Promessa do Rodriguinho, pois na tropa poucos novos eram aceitos. Não porque não queriam, mas sim porque dificilmente alguém saia da tropa a não ser quando iam para os seniores. Quando seu Chefe falou da Lei Escoteira Albino silenciou. Não sabia por que, mas tinha medo dela. Medo? Sim, ele achava muito difícil cumprir a lei. Foi para casa pensativo. Prometer junto ao pavilhão nacional e ao nosso Mestre que irei cumprir a lei? Será que manterei minha palavra já que o primeiro artigo diz que temos uma só? Difícil decisão. Albino dormiu mal naquela noite. Mas não desistiu. Nonato seu amigo de patrulha riu quando ele contou sobre isto. Meu amigo ele disse, você vai fazer o melhor possivel, nada mais que isto.

¶Promessa que um dia, eu fiz junto à tí,
Para toda a minha vida, a prometi!

            Albino resolveu buscar ajuda. Quem sabe o Pastor Leôncio poderia aconselhar. Assim o fez. O Pastor só ouviu e pouco falou. No final disse: - Albino, acredite em você. Decisões são difíceis para serem tomadas mas não podem ser postergadas. Toda sua vida será cheia de caminhos e em cada um você terá de tomar uma decisão. Está quem sabe é a sua primeira. Confie em você. Escoteiro é assim a cada dia um desafio novo. Esqueça o difícil o impossível pois ao abrir a porta de um novo dia e ver o sol brilhando é porque você se encheu de coragem e venceu seus medos. Parta e busque sua força. Ela existe. Albino saiu da casa do Pastor cheio de coragem. Ele iria cumprir a lei. Ele tinha de cumprir a lei. Seria sua força e não podia perder a honra e caráter por toda a vida. Albino fez sua promessa e ao dizer as belas palavras ele olhou para o céu e viu uma nuvem branca com alguém a lhe abanar a mão e sussurrando:

¶Eu te amarei para sempre, cada vez mais,
Senhor minha promessa, protegerás!


Falamos muito em honra, em palavra de Escoteiro, de caráter e tudo isto engloba a nossa vida no escotismo. Já dizia um celebre filósofo que palavras são palavras, nada mais que palavras. Quando no escotismo aceitamos sua filosofia precisamos analisar a lei e a promessa. Não dizer repetindo sem primeiro ter ciência do que vamos dizer e prometer. Nem sempre que faz uma promessa pensa que ela vai lhe acompanhar por toda a vida. Não importa se está ou não Escoteiro.


Este conto e muitos outros estão à disposição em PDF nas Maravilhosas Histórias Escoteiras II e III. Dois livros que não foram editados e que estão sendo muito procurados. Inteiramente grátis só por e-mail. Peça – elioso@terra.com.br

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

AS MARAVILHOSAS HISTÓRIAS ESCOTEIRAS III.


AS MARAVILHOSAS HISTÓRIAS ESCOTEIRAS III.

Aos meus amigos e amigas leitores deste blog. Agora vocês terão oportunidade de ter em seus arquivos, um livro só de histórias Escoteiras. Três semanas separando, lendo, comparando e finalmente escolhi 31 espetaculares histórias Escoteiras para o meu novo livro de histórias. Ficou pronto hoje. Histórias escolhidas a dedo. Só as mais lidas mais curtidas e mais comentadas do Facebook e dos meus blogs. Não faltaram seis histórias inéditas ainda não publicadas. 89 páginas de puro deleite e viagens fantásticas no mundo maravilhoso dos Escoteiros. Primeiro tivemos as Maravilhosas Histórias Escoteiras I, depois as Maravilhosas Histórias Escoteiras II e esta última bateu todos os recordes de envio por e-mail. Esta terceira eu tenho certeza que vai agradar a todos participantes do Movimento Escoteiro. Do lobinho ao Chefe, da Escoteira a pioneira. Claro pode agradar também aos nossos dirigentes... Quem sabe?

Agora se você quiser ter o seu exemplar em PDF é só ir lá ao meu e-mail e pedir. Prometo enviar no mesmo dia. Opa! É gratuito. Você não paga nada, mas olhe não peça e não deixe seu e-mail aqui. Não dá para atender você assim. Vamos lá, aguardo seu pedido. Se não gostar reclame com Baden-Powell, ele é o culpado, pois juntamente com Deus me fez um Escoteiro!


elioso@terra.com.br repetindo elioso@terra.com.br

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

A lenda de Tiger Joy, o pássaro preto cantador.


Lendas Escoteiras.
A lenda de Tiger Joy, o pássaro preto cantador.

“Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas assum preto, cego dos óio
não vendo a luz, ai, canta de dor.
Tarvez por ignorança
ou mardade das pió
furaro os óio do assum preto
para ele assim, ai, cantá mió”.
Humberto Teixeira/ Luiz Gonzaga

             Zito Francesco era um bom Escoteiro. Não era faroleiro e nem mal educado. Almoxarife na Patrulha Gralha ele fez história. Uma história que até hoje é contada pelos Escoteiros do sertão do Piaui. Poderia dizer que Zito Francesco era um gentleman, de uma maneira tal que alguns se incomodavam. Mas ele tinha um defeito, defeito que muitos jovens ainda não aprenderam que fazer o bem sem olhar a quem é vida dentro do Espírito Escoteiro. Seu hobby favorito era ouvir o cantar dos pássaros. Sabia de cor e salteado quando algum cantava. Era comum a patrulha em reunião ou em marcha de estrada ele parar e dizer: - Parem! Ouçam, é um Rouxinol da montanha! Todos já conheciam os pássaros cantores por causa de Zito Francesco. Podia ser um Uirapuru, um Rouxinol, um Curió, um Sabiá Laranjeira ou um Pintassilgo. Ficou dois dias na Mata do Roncador a procura de um Inhapim, que muitos diziam estar em extinção. Mas ficou dez dias na Mata do Azulão só para ouvir o Tuiuiú cantar.

            Era amado pela tropa, pelos chefes e em seu lar seus pais sentiam uma vibração boa quando estava à família toda reunida. Não foi um Escoteiro que fez carreira. Mal chegou a Segunda Classe. Poucas especialidades. O cantar dos pássaros o prendiam mais que o sonho de ser um Correia de Mateiro ou mesmo um Cordão Dourado. A vida ia passando, as chuvas de verão chegaram e os acampamentos diminuíram de intensidade. Zito Francesco não se incomodava. Ele tinha aonde ir e viver seu sonho aventureiro. Gostava da chuva, e elas lhe faziam muito bem, pois ele sabia que nas chuvas de verão ao aproximar-se a primavera era a época onde os pássaros cantavam melhor. Ninguém se preocupava quando ele passava de mochila e Chapelão, com a borrasca no seu auge em direção a Mata do Jaú. Sabiam que dois ou três dias depois ele voltava sorrindo, cantando baixinho a imitar seu pássaro preferido.

             A história de tudo que aconteceu ninguém até hoje soube explicar muito bem. Juan Maneco seu Monitor contou que ele ao passar em frente à Barbearia do Fagundes uma das poucas existentes em Barra Vermelha, viu uma aglomeração de gente em volta da porta. Fizeram silêncio e ele ouviu o canto triste de um Pássaro Preto. Triste, choroso, aflito em sua gaiola azul a olhar para o nada. Zito Francesco viu os seus olhos opacos, sem destino, com dois buracos negros como se tivesse sido furados, sem olhar para ninguém. Ele estava cego. Seus olhos ficaram marejados de lágrimas. Era penoso, era angustiante ver que existia alguém capaz de furar os olhos de um lindo passado como aquele só para vê-lo cantar diferente. Zito Francesco não ficou ali a ouvir o cantar do Pássaro Preto. Foi para casa penalizado e choroso pelo pobre pássaro. Ficou dias sem falar com ninguém. Na reunião do sábado seguinte todos estranharam sua tristeza. – O que foi Zito? Todos perguntavam. Ele não disse nada. Se coração estava machucado. Para ele era uma maldade tão cruel como matar alguém.

             Um Chefe um dia lhe disse que matar alguém é tirar tudo que ele tem e o que ele poderia ter um dia. O Pássaro Preto perdeu tudo que tinha ao perder a visão e nunca mais na vida teria nada. Seu cantar era para lembrar o tempo que viveu a voar pelos céus. Uma tarde a mãe de Zito Francesco foi à casa do Monitor de sua patrulha a procura dele. – Não sei Dona Mercedes. Ela procurou o Delegado Tonhão. Cidade pequena impossível sumir assim. Uma semana, um mês, dois três. Zito Francesco o Escoteiro nunca mais apareceu. Quem sabe estaria ligado ao sumiço do Pássaro Preto do Barbeiro Tobias? Ninguém sabia explicar. O pássaro desaparecera da noite para o dia de sua gaiola azul. Enfim a vida passa, as nuvens passam, e as histórias continuam a ser contadas. Muitos juraram que o viram com o Pássaro Preto na Floresta Negra. Reviraram a floresta e nada. Outros estranharam porque uma nuvem de pássaros pretos saia pela manhã e voltava à tarde para a Floresta Negra. À noite ninguém se arriscava a entrar lá. Histórias, ah! Quantas histórias fizeram de Zito Francesco.

              Uma tarde de outono eu e minha patrulha Pico da Neblina passamos por Barra Vermelha. Tinhamos amigos lá no Grupo Escoteiro. Ficaríamos lá aquela noite e no dia seguinte o destino era Águas do Ventos Sul, uma cidade onde um Grupo Escoteiro estava iniciando. Em uma gostosa Conversa ao Pé do fogo na sede do grupo e tantos assuntos rolaram. Escoteiros quando se encontram matam as saudades e deixam chegar os sorrisos gostosos de bons companheiros. Foi Neco Sartano Sub Monitor da Gralha quem contou a história de Zito Francesco. Fazia dois anos que ele sumira. Ninguém nunca mais ouviu falar nele e os poucos que o viram disseram que era um fantasma da Floresta Negra. A conversa foi até lá pelas tantas. Preferimos armar a barraca no pátio da sede, pois o local era excelente. Após a partida de todos eu sabia ao olhar o semblante de cada escoteiro sênior da patrulha que não podíamos partir sem antes saber o que aconteceu lá na Floresta Negra.

              Tínhamos tempo. Nossa jornada era de doze dias e nada que perder dois ou três dias poderia fazer falta. Levantamos cedo. Nossas tralhas foram amarradas nas bicicletas e partimos. Vimos do alto do Monte Sultão a Floresta Negra. Não era grande e era linda. Achamos uma clareira e ali montamos nosso campo. Era notável o silencio da floresta e nenhum cantar dos pássaros nativos. Foi à noite que tudo começou. Um pio angustiado de um Pássaro Preto se fez ouvir. Logo foi acompanhado por milhares de outros Pássaros Preto. Ficamos estáticos. Ninguém falava nada. Não era uma sinfonia de pássaros a cantar, parecia mais uma melancólica canção cantada por tantos pássaros que ninguém via. Um brilho azul reluziu no caminho que chegamos. Um vulto Escoteiro, só vimos o chapéu e um choro convulsivo. Se for Zito Francesco não sabíamos. Assim como chegou partiu adentro da Floresta Negra. O silêncio se fez novamente. A Floresta parecia mergulhar numa mudez penosa e triste. Alguns segundos depois só um pássaro se fez ouvir. Tinha que ser o Tuiuiú com sua melodia majestosa. Uma calma gostosa voltou a vibrar naquela noite sem luar, mas com lindas estrelas no céu.

              Dormimos sem sobressaltos e pela manhã partimos. Nunca em minha vida tive uma noite como aquela. Onde a tristeza foi substituída pelo cantar da floresta e de um lindo pássaro que quando canta fica preso na garganta de quem pode ouvir e sentir uma felicidade imensa. Antes de partir fizemos uma oração para Zito Francesco. Não esquecemos também Tiger Joy o pássaro Preto cego pela maldade dos homens. Quem sabe ele devia ter nascido soturno, calado sem voz e assim estaria hoje vendo a natureza em flor? O desabrochar da Primavera? Ou até mesmo um outono suave ou um verão onde ele poderia voar pelos campos verdes onde os pássaros voam ao sabor do vento como se fossem entes mágicos a trazer para os homens o que eles ainda não tem: A paz e amor no coração! 


“Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)
Assum Preto, o meu cantar.
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus”.

domingo, 17 de agosto de 2014

A canção que fiz para ela, o vento levou.


Lendas Escoteiras.
A canção que fiz para ela, o vento levou.

Nunca pensei que você me deixaria desse jeito, sem dormir direito. Imaginei que fosse um passatempo qualquer, uma aventura de amor, mas meu coração me enganou. 
E agora meu mundo é seu mundo, seu corpo em meu corpo é um só, é um sentimento maior. Eu te amo como nunca amei ninguém, te quero como nunca quis um dia alguém, você mudou a minha história.

Todo dia, a todo o momento estás presente no meu pensamento, perco a noção do tempo só por causa de você. Amo-te muito.
              Eu tive dois amores na vida. Amei quem não devia amar e amei por sentir por dentro a alegria de ser, de pertencer e viver junto a amigos que me faziam feliz. Ser Escoteiro sempre foi meu sonho, não aquele sonho que a brisa leva, e um dia volta com o vento. Era um escotismo gostoso, franco, amigo, sincero e leal. Mesmo com a adversidade de ela ter aparecido em minha vida nunca reclamei aos meus amigos, das noites gostosas e mal dormidas e das refeições enfumaçadas dos maravilhosos acampamentos. Poderia dizer que o escotismo foi mais que um sonho, nele eu era como o vento e podia voar, voei pelos campos, pelas montanhas, voei a noite pelas estrelas e vivendo as maravilhas de cada lugar. Antes que ela aparecesse na minha vida, eu tinha outro amor, gostava de cantar. Diziam que eu tinha uma bela voz, e mesmo arranhando o velho violão que meu pai me presenteou eu conseguia nos fogos de conselho, nas noites maravilhosas de uma conversa ao pé do fogo, cantar para meus irmãos de patrulha, de outras patrulhas e eles adoravam.

              Podia dizer que nos meus catorzes anos eu tinha tudo que um jovem Escoteiro poderia ter. A felicidade de um pai e mãe queridos, uma escola onde todos me amavam, uma patrulha que nos considerávamos irmãos. Todos sorriam para mim e eu valorizava aquele sorriso. Não era o melhor, mas também não era o pior. Tudo na minha vida era só felicidade até o dia que ela apareceu. Impossível alguém sentir o que eu senti, era apenas um Escoteiro Primeira Classe no alto dos meus catorze anos. Dizem que meninos não amam, não sabem o que é uma paixão, não sente no corpo o calor de quem ama, não tem ainda mente formada para sonhar sonhos de amor. Foi em um sábado de reunião que ela chegou. A primeira Escoteira da Patrulha Leão. Todos ficaram boquiabertos com seu sorriso, com sua voz, com sua beleza e sua maneira de jogar os cabelos compridos para trás e sorrir. Nossa primeira Escoteira e meu primeiro e único amor.

                 À noite na varanda da minha morada, não toquei no violão. Na varanda deitado na rede do meu pai eu olhava para o céu e pensava: Quem é você? Será alguém que nunca vi e que apareceu na minha vida assim do nada? Você que um dia levou meus sentimentos como se tudo o que tivesse guardado na vida fosse meus sábados Escoteiros e solitários depois que você chegou? Custei para dormir. Minha mãe lá pelas tantas quase me carregou no colo até meu quarto onde consegui dormir. – Escoteiros! – o Chefe dizia – Esta jovem é Lisabel, será a primeira Escoteira da tropa. Teremos muitas outras! Ninguém falou nada, só Josué que me cutucou e disse: - Sabe Richard, ela não trará a felicidade para ninguém. Josué era um visionário. Ela não ficou muito tempo. Três anos talvez? No primeiro ano eu fazia planos, planos incríveis de me apresentar. Apresentar como? Ela me conhecia, sabia meu nome, sorria para mim com aquele estilo maroto como a dizer que nem amizade lhe interessava.

                   Nos acampamentos eu não era mais o mesmo. Ajudava a patrulha sim, mas sempre a pensar e sonhar com ela. Sua voz gritava para mim com um grito o seu nome ao vento. Lisabel!  E meu pensamento queria encontrar seu olhar no ar, ver seus olhos da cor da noite perdidos no luar. Eu fiz uma canção para ela. Demorou. Fechava os olhos e pedia um favor à brisa da madrugada, leve tudo que for necessário, ando cansado sem saber o que dizer, eu preciso mudar e daqui para frente vou levar apenas o que couber no meu bolso e no meu coração. Na melodia eu pedia ao vento que varresse tudo para longe... Sentava-me no alto da montanha, pois eu sabia que lá ventava forte. Sábio é o mar que nas idas e vindas sabe ser imensidão.

                  Lisabel partiu do Grupo Escoteiro e da cidade. Foram quase cinco anos três no escotismo e dois olhando de longe sua janela da casa onde morava. Não me entreguei como um Escoteiro apaixonado. Minha vida continuou mesmo depois que fui feito gerente do Banco da cidade. Só pensava nela. O escotismo que um dia completou fases da minha vida já não era mais o mesmo. Não parti, não deixei para trás minhas raízes Escoteiras. Todas as noites pegava meu violão e na varanda do meu lar eu cantava a canção que fiz para ela. Eu ouvia o vento e ele me ouvia. Ele dançava no meu corpo, flutuava como uma pluma. Voava até o topo da árvore e quando batia o vento, caía novamente. Rotina de sempre, todos os dias o mesmo percurso. Eu me acostumei com a forma que o vento me consolava, dava vontade de voltar todos os dias, mesmo sabendo que meu destino era grama fresca.

                  O tempo e o vento. Palavras que fizeram sonhos, livros históricos, e que me fazia viver sem rumo sem pensar. Cada ano era uma lembrança. Aquilo era uma doença em minha mente. Ela tinha partido, nunca mais ia voltar e porque não esquecer? Trinta anos, quarenta, sessenta. Ainda no Grupo Escoteiro. Não casei, não amei mais ninguém. Agora amava o escotismo e ela onde estivesse. Na minha canção eu escrevi – Se não era para ficar, para que você apareceu na minha vida? Bobagem. Canção que não cantei para ninguém. Devia ter dito para ela mesmo de longe e sussurrando – Lisabel, você apareceu na vida, como amiga foi chegando, de mansinho ganhou minha confiança e logo ganhou o meu coração... Mas ela partiu para sempre.

                  A ideia não foi minha. Foi do Chefe Pascoal. Levar um pouco de amor e carinho em uma casa de repouso de idosos. Uma boa ideia eu achei, pois já me considerava um idoso. Quem sabe a melhor ideia que não foi minha. Meu Deus! Que surpresa! Ela estava lá. Acabrunhada, cabelos brancos, sorriso perdido no tempo. Não reconheceu ninguém. Nem se lembrou dos seus velhos tempos de Escoteira. Cheguei de mansinho. Acariciei seus cabelos, ela levantou os olhos sorriu e nada disse. Meu amor que nunca tinha esquecido agora estava ali na minha frente. Velha, alquebrada, doente. Mas eu só via a Lisabel do passado. – Perguntei na secretaria quem era responsável por ela. Ninguém disse a enfermeira. Tomei uma resolução, ia cuidar dela para toda a vida. Custou muito à papelada ser aprovada. Eu já cuidava de minha mãe acamada e agora tinha Lisabel para cuidar.

                      Ela as noites de luar sentava comigo na varanda e eu cantava para ela. De olhos fechados não sabia se ela entendia a canção, se a melodia entrava em sua mente ou se apenas sentia a brisa da noite e o vento passar. De vez em quando ela me olhava com seus olhos miúdos, deixava uma lágrima rolar pelo rosto, eu chorava por dentro e não parava de cantar: - “Quando você apareceu na minha vida, eu era apenas um alguém sem saber aonde ir, o tempo passou, e você tomou meu coração”. - Sei que um dia ela vai partir. Sei que um dia eu poderei ir também. Mas confesso que agora era feliz. Lisabel estava ali, junto a mim e mesmo sem dizer que me amava me fazia o Escoteiro mais feliz do mundo! 


O amor deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Longo é o caminho para ser feliz.


Lendas Escoteiras.
Longo é o caminho para ser feliz.

“Nunca esqueci Santillana del Mar. Minha mente e minha alma recordam sempre da minha casa, da minha rua, do hotel e seu bar com pedras. Minha mãe dizia que era um lugar bucólico e que tudo ali era como antigamente. “Mas meus sonhos sempre me levam de volta a minha cidade que tanto amei”.

                 Eu estava com onze anos quando meus pais morreram de maneira trágica. Nunca me contaram porque eles estavam naquele ônibus maldito. O que iam fazer em Zaragoza ninguém nunca me disse. Um pavoroso desastre provocado por uma explosão de uma bomba levou para sempre quem eu sempre amei e respeitei. Completava oito anos quando tudo aconteceu. Todos tentaram esconder de mim todo o trágico acontecimento. Lembro que chorei muito e não sei por que daí em diante nunca mais sorri. Ainda não sabia o que era viver, deixar de viver ou sumir para sempre. Acharam para meu próprio bem que não deveria mais morar ali em Santillana Del Mar. Encontraram uma tia minha que morava no Rio de Janeiro. Nem condições financeiras ela teve para ir me buscar. O “Cuerpo Nacional de Policía” me embarcou um mês depois no “Aeroporto de Barajas” numa tarde cinzenta e olhe, nunca viajei em um avião e mesmo com a atenção das “Aeromozas”, lindas educadas, impecáveis em seus uniformes nem isto conseguiu me fazer sorrir. Ao meu lado uma senhora de idade, de nome Ana Lucia conversou comigo em toda a viagem. Eu escutava nada dizia. Meus pensamentos eram sombrios e nada fazia para esquecer meu pai Lorenzo e minha mamãe Luna.

                  O avião taxiou em Cumbica, e eu nem prestava atenção a nada. Minha tia me esperava no saguão de espera. Abraçou-me beijou e disse: Bem vinda a São Paulo Polliana. Nada mais disse. Pegou minha pequena sacola de roupas e fomos juntas para minha nova morada. Ela não tinha carro e pegamos um ônibus até o centro onde fomos para o Bairro Bom Jardim onde ela morava. Quer saber? A cidade não me chamou a atenção, nada chamava. Minha mente de sete anos estava presa a minha linda Santillana Del Mar. Meu pai e minha mãe estavam presentes a cada instante e eu sempre me lembrava de sua voz seu jeito de sorrir e minha mãe? Ah! Quantas saudades. Não posso negar que Lavinia minha tia fazia tudo por mim. Mas quando as noites chegavam eu ia para o meu quarto, deitava, começava a pensar e as lágrimas apareciam. Saudades, ah! Meu Deus quantas saudades.

                   Ia para a escola todos os dias. Aprendi fácil o português e acho que todos me entendiam. Não me enturmei com ninguém. Dona Laurita a professora era simpática e sorria sempre para mim. Um dia me perguntou por que eu não sorria e eu nada disse. Não tinha o que dizer. Não ia contar minha história a uma estranha. Foi numa quinta feira que durante a aula Dona Laurita pediu a atenção de todos. Entram dois jovens pouco mais velhos que eu. Ele e ela portavam lindos uniformes de cor caqui, um chapéu enorme que logo colocaram sobre o coração. Um lenço Verde e Branco que lhes dava um aspecto de gravata. Não sabia quem eram eles. Foi Dona Laurita que os apresentou – Joel e Larissa. Eles são Escoteiros do Grupo São Romão. Vieram aqui hoje para dar um testemunho. Irão lhe explicar o que é escotismo e dizer que hoje 23 de abril é o dia deles.

                Larissa era simpática, um sorriso lindo, falava com voz de anjo e pela primeira vez eu prestei atenção. Convidaram seis alunos para uma brincadeira. Chamavam de Serafim. Todos ficaram um ao lado do outro esbarrando ombros, e Joel com cara feira gritava ao primeiro: - Você conhece o Serafim? E ele dizia – Não. Respondia o Joel – aquele que fica assim e fazia uma careta. O primeiro repetia para o segundo que repetia para o terceiro até o último. Primeira cara feia, depois torto para a esquerda, depois meio abaixado e por ultimo Joel sorrindo dizia – aquele que faz assim! Dava um empurrão no primeiro e a fila caia toda no chão. A classe explodiu de tanto rir. Eu queria rir, tentava, fazia força, mas nada. Não consegui. Larissa viu que eu não sorria. Dirigiu-se até a mim e me convidou para ser uma delas. Olhei para aquela menina mais velha que eu e pensei – Porque não?  

                Tia Lavinia foi comigo em um sábado. Era lindo tudo aquilo. Um deles jurou a bandeira, colocaram nele um lenço e fui apresentada a todos na ferradura. Não me senti importante e nem pensei que minha vida ia mudar, mas como mudou e como mudou! Durante cinco meses permaneci com sempre fora. Olhava as pessoas, os meninos e as meninas Escoteiras, aprendi a dar um abraço, a dar um aperto de mão esquerda e a fazer o sinal Escoteiro e a continuar sem sorrir. No primeiro acampamento estranhei muito. Dormir em uma barraca, fazer pioneirias, comer uma péssima comida (depois acostumei). Que saudades de uma Paella ou de uma Tortilha de Patatas que minha mãe fazia. Mas isto era passado. No segundo dia Larissa a Monitora me convidou a dar um passeio com ela no bosque. De mãos dadas fomos a passear próximo ao lago e ela só apontou um lindo cisne que navegava calmamente sobre as águas. Já era tarde e o por do sol jogava raios vermelhos sobre o lago fazendo um belo espetáculo da natureza.

                  Levantamos subimos uma pequena trilha e ela me mostrou a lua nascendo atrás de um arvoredo. Lindo, a coisa mais linda que tinha visto. Durante muito tempo nada falamos. Ela baixinho começou a declamar: - Um rastro de lua, na rua de rastros, depois que a chuva parou! Olhei para ela espantada e ela sorriu. Olhou-me no fundo dos olhos e disse: - É fácil apagar nossos rastros, sejam bons ou maus, mas a consciência está sempre de prontidão nos cobrando. Difícil mesmo é caminhar sem pisar no chão da realidade. Voltamos ao campo de patrulha e eu pensava nas suas palavras. Comecei a ver que minha vida não era uma redoma de vidro onde eu me prendia para não sair mais. Se Larissa pensava que eu estava presa ao passado ela estava certa. Nos dois últimos dias me soltei mais. Na penúltima noite estávamos todas em volta do fogo em frente a minha barraca e alguém começou a cantar a Arvore da Montanha, depois cantamos A Santa Catarina e quando alguém com uma voz doce e suave começou a cantar Adeus Montes e Vales Queridos eu comecei a chorar.


                  Desta vez não chorava pelo meu passado. Chorava porque aquela música tocou meu coração. Lembrei sim de Papai e Mamãe e em meu pensamento eu os agradeci por ter feito de mim o que era. Não podia mais ficar com o coração partido. Eu não queria mais correr sem saber aonde ir, eu queria sorrir na certeza que a minha dor se foi para sempre. Eu iria chorar com certeza, pois a vida é assim, dia de sol dia de chuva. Minhas amigas de patrulha me olharam embevecidas. Sorriram para mim e eu sorri para elas. O céu cheio de estrela me apontou uma lá ao longe que seria minha guia para sempre. Cantei com elas a última canção da noite – Em silêncio acampamento, este canto vinde e ouvir, são fagulhas da fogueira que nos dizem, Escoteiros a Servir! Amo mesmo ser Escoteira. O escotismo me mudou e fez de mim uma nova pessoa. Obrigado meu Deus!


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O último acampamento do chefe Escoteiro.


Conversa ao pé do fogo.
O último acampamento do chefe Escoteiro.

                Essa história foi-me narrada por um Comissário Distrital muito meu amigo, quando o visitei em sua residência a muitos e muitos anos atrás. Era comum visitá-lo. Nos conheciamos desde o tempo da patrulha senior. Juntos nós fizemos belas atividades Escoteiras. No seu distrito havia um chefe Escoteiro bem antigo, bem "Velho" alíás. Ficou toda a vida em um só Grupo Escoteiro e era amado e bem considerado por todos. Deixou de frequentar por problemas de saúde. Com 82 anos claudicava, tremia, respira mal e sua vóz quase não se entendia. Um dia resolveu lembrar o passado. Comprou um pequeno balão de oxigênio, que dava para seis dias, preparou um bornal para ele, de maneira a não atrapalhar o que iria fazer.

               Isso mesmo. Seu último acampamento. Ele queria fazer um antes de morrer. Ria e contava para todo mundo. Ninguém acreditava. Mas ele era teimoso. Muito obstinado. Sua esposa horrorizada tentou demovê-lo da idéia. Não conseguiu. Chamou os filhos (eram três) nada obtiveram. Vieram amigos escoteiros, desistiram em pouco tempo. Chegaram à conclusão que se ele não fosse morreria alí na sua casa em poucos dias. Quem sabe bem tutorado ele podia ir? Claro os filhos sem ele saber iriam vigiá-lo de longe. Um deles era médico. Assim ficou combinado.

              Chefe Zezé (como era conhecido) preparou tudo com calma. Tirou sua mochila do baú, seu uniforme, ele mesmo lavou e passou. Sua manta de fogo de consêlho, seu chapéu de tres bicos, ainda prensado no porta-chapéu. Colocou seu tope que comprou em 1947, seu penacho azul de dirigente (tinha o verde e amarelo de Diretor Técnico, e os demais de outras sessões, hoje não se usa mais). Engraxou sua botina de campanha, olhou seu meião com carinho, a jarreteira deixou no lugar. Não iria usar. Pediu à esposa que pregasse os seus barretes na camisa cáqui. As medalhas ele levaria consigo, mas guardadas na mochila. Seria seu troféu de campo.

               Estava ainda lá sua faca escoteira, limpa e com saudades viu que ainda possuia o talco que colocou antes de embainhar. Seu facão limpo, sua machadinha pequena e lá bem escondido em um canto do baú, sua bússola silva. Olhou tudo, viu que o cinto de couro ainda estava firme, e a fivela brilhando. Até mesmo uma bandeira nacional bem antiga ele levou. Sua mente só via o acampamento que iria fazer. Tinha de ser superior a todas as noites de acampamento que fizera. Nem mais e nem menos. Deveria marcar sua vida para sempre. Não levaria seu lenço de insígnia. Iria com o verde e amarelo quando fez a primeira promessa. Lembrou do seu primeiro acampamento de lobos (na época lobinhos acampavam), sua promessa escoteira, sua patrulha senior, e vários amigos que junto a ele fizeram com que as matas, florestas, campinas, serras, montanhas e tantos lugares fossem incrustados para sempre na sua memória.

            Disse que iría na semana seguinte. As margens do Rio da Serpente. Sozinho. Não queria companhia. Todos os filhos sabiam onde era. Já tinham ido lá com ele várias vezes. Sorriram e não disseram nada. Ele preparou tudo com carinho. Ração C para três dias. Capa leve de chuva. Uma lona simples e macia para montar um pequeno toldo de sua cabana (ia fazer uma), seus remédios, seu inalador, e no bornal o bujão de ar. Pelo telefone comprou a passagem. Eram quatros horas de viagem. Pediu a seus filhos para o levarem à rodoviária. Estava uniformizado. Na entrada subiu sozinho. Deu até logo e disse que não precisava de ajuda. Subiu as escadas com dificuldade. Fingiram não o observar. Viram quando ele entrou no ônibos. Um dos filhos seguiu de carro atrás. O filho chegou à cidade de destino primeiro. Sabia que dali até a as margens do rio seriam mais quatro quilometros. Ele disse que iria alugar um animal. Cavalo ou burro. Não dava para subir a pé.

           O ônibos chegou. Desceram todos. Surpresa! Chefe Zezé não estava no ônibus! O motorista disse que ninguém tinha viajado com aquelas características. O filho ligou para os outros. Todos se dirigiram para a cidade de destino. Reunião de família. O que fazer? Onde estaria seu pai? Onde? Procuraram por todos os lugares, por toda a parte. Nada. Um dia, dois três. Se ele resolveu dar um golpe e seguir sozinho a outro lugar, pois sabia que aonde ia seria vigiado, deveria estar de volta à noite do terceiro dia. O dia amanheceu. A familia desesperada. Policia acionada. Busca em todos os lugares. Bombeiros, elicópteros. Nada. Chefe Zezé sumiu! Não sabiam mais o que fazer. A polícia desistiu. Ninguém quis mais procurar. Seus filhos precisavam voltar à luta. Tinham seus empregos. Esposas, filhos. A vida continua.

           Duas semanas depois a esposa do chefe Zezé, parou de chorar. Os olhos vermelhos inchados. No décimo quinto dia, receberam um recado. Um telegrama. Um vaqueiro disse ter visto um homem parecido conforme foto nos jornais na serra do Canta Galo. Todos os filhos foram para lá. Bem longe. Mais de nove horas de viagem. Serra desconhecida para eles. A cidade pequena. Alguns tinham visto quando ele chegou quinze dias atrás. Conseguiram um guia, encontraram o vaqueiro. Arrumaram cavalos e subiram a serra. Local ermo e de difícil acesso. Tinham medo, muito medo do que iriam encontrar. Avistaram ao longe uma fumaça branca subindo aos céus. Pequenas esperanças. Quem sabe está vivo? Chegaram ao local. Viram-no enconstado em uma árvore, como se estivesse desfalecido. Correram até ele. Respirava e parecia dormitar. Abriu os olhos, sorriu. Como me encontraram disse?
           O filho médico o examinou. Achou estranho. Sua respiração parece ter melhorado. Viu o bujão de ar ainda cheio. Ele não tinha utilizado. Ele se levantou, olhou para o céu, para as arvores, um pássaro preto em um galho voou. Alguns outros se juntaram a ele. Todos voando em volta do chefe Zezé. Borboletas surgiram. Azuis, vermelhas, verdes e amarelas. E então vamos? - Disse. Com sua cabeleira vasta e caindo na testa, cantava a pleno pulmões – Avançam as patrulhas, ao longe, ao longe! Adeus meus amigos, ou melhor, até breve, eu voltarei, disse ele olhando os pássaros, a mata, o riacho e não viram mais nada.

            Arrumou sua mochila, sempre com calma e bem arrumada nas costas gritou! - À frente tropa! Bandeiras ao vento! Marche! Agradeceu a oferta de ir a cavalo. Andava como uma lebre. Incrivel pensavam. Mais acima dois quatís acompanhavam e mais ao longe dois lobos guarás do rabo curto também. Uma passarada foi com eles até a cidade. Uma figura o chefe Zéze. Dizem que na cidade todos bateram palmas. Os pássaros quando ele entrou no automóvel do filho, cantaram alto. Mas o que houve com ele? Perguntei ao distrital. Olhe, soube pela esposa que tinha um livro e anotou tudo que aconteceu. Uma especie de diário. Ela me emprestou. Soube que já com seus 91 anos tem uma saúde de ferro. Não toma mais remédios. Voltou ao Grupo Escoteiro. Sempre colaborando. Fui para casa e nem bem cheguei “apoitei” em minha poltrona favorita. Lí com sofreguidão e pressa tudo o que o "Velho" Escoteiro escreveu.

            Que doce leitura. Linda. Que aventura! Que inveja do chefe Zezé. Quanto daria para estar no lugar dele. Vivam comigo essa explêndida historia de um "Velho" que se transformou através de um acampamento só dele. Cheio de amigos, amigos que todos nós gostariamos de ter. Amigos sinceros, leais, sem interesses, e que não ficavam azucrinando com aquelas palavras chatas que ouvia. "Velho" gagá, babão, seu lugar é em casa. - Preparei tudo. Meu plano fora traçado. Combinei com um chapa carregador de malas, para colocar um chapéu parecido com o meu, e levar minha mochila até o ônibus. Fingiu que entrava e deu meia volta. Embarquei duas horas depois. Não fui para as margens do rio da Serpente. Sabia que iriam me monitorar. Queria liberdade.

      – Cheguei à cidade de Catuava, e lá aluguei uma mula. Para 20 dias. Arrumei tudo e parti para a Serra do Canta Galo. Vi em mapas e li sobre ela. Linda. Achei um local maravilhoso. Um pequeno bosque, mais ao longe uma mata linda, próximo uma cascata, águas limpídas, bem arejada. Neste dia montei minha cabana. Ficou “joia” Toda de galhos e folhagem verde. À tarde construí uma mesa e o fogão suspenso. Que saudades das que eu fazia no passado. Uma fossa de liquido, outra de detrito e retirado uns 50 metros um WC. O vento soprava do meu campo para ele. Almocei linguiça na brasa. Dois pães. Um suco. Mais tarde fiz um café. Saudades do meu café mateiro. Atrás de umas folhagens avistei dois quatís. Olhavam-me espantados. Sorri e eles se aproximaram. Daí para frente seriam meus amigos para sempre. Notei que um pássaro preto me encarava. Sorri para ele. Ele cantou uma canção e pousou em meu ombro. Outros pássaros se aproximaram. Comecei a conversar com eles. A noite chegou. Uma coruja veio e também pousou no meu ombro. Arrumei alguns galhos e fiz uma fogueira.

         Foi minha primeira noite. Antes de dormir lembrei que não tinha tomado meus remédios. Não sentia falta. Não usei mais. O ar entrava em minhas narinas de maneira agradável e apetitosa. O sono veio. Nem olhei as estrelas, nem a brisa gostosa que soprava. Deitei e dormi não sem antes agradecer a Deus pela vida maravilhosa que me dava. Há muito tempo não dormia assim. Sonhei coisas lindas canções lindas. Acordei com o cantar da passarada na mata. Os dias foram passando. Eu não queria contar. Estava vivendo os mais belos dias da minha velhice. Horas? Não tinha interesse. Minha ração começou a acabar. Achei na beira do riacho uma boa plantação de “taioba” adorava taioba. Comi taioba por três dias. Um pequeno remanso e vi trairas e lambarís bocarra. Lindos, fáceis de pegar. Peixe frito no almoço e na janta. Um pé de maracujá. Minha sopa preferida. Depois dois pés de mamão carregados. Maduros e verdes. Vagem mais abaixo do riacho. Amigos alí era um édem. Poderia ficar a vida inteira neste paraíso.

         Não sei como, a tarde um casal de capivaras apareceu. Ficaram em volta do meu campo por dois dias. No segundo nasceram três capivarinhas. Um espetáculo incrivel. Mas o melhor mesmo foi à amizade que fiz com dois lobos guarás. Eles me seguiam aonde ia e o pássaro preto nunca me abandonou. Uma tarde vi um homem a cavalo. Fui encontrado. Deixei lá meu amigo pássaro preto, a coruja “buraqueira”, que me acompanhou todas as noites quando deitava na relva e ficava a imaginar como seria o universo. Valeu. Disseram-me que foram quinze dias. Dias maravilhosos. Quantos amigos eu fiz lá. E olhe só eu falava e eles educadamente me ouviam. Ainda vou voltar lá, O caminheiro e a Midiata, nome que dei aos lobos guarás eu sei que estarão lá me esperando. Até hoje no meu quinta lá estão na castanheira em frente a minha casa, os sabiás que cantavam na serra e hoje cantam para mim todas as tardes. Sei que acham que sou louco. (Risos) não sou. Que pensem assim. Não me importo. No próximo verão irei voltar. Saudades da minha serra querida, dos meus amigos, bons tempos que não quero que termine nunca mais.


          Fiquei ali na minha poltrona por muito tempo. Parecia um conto inexplicável, contado de uma maneira tão simples, tão pulcra, que muitos iriam dizer que se tratava de uma fábula. Que seria uma história inverossimel mal contada e que o chefe Zezé nunca existiu. Será?


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Nico Fulgêncio para você não existe perdão!


Os anjos existem e muitas vezes não possuem asas, então passamos a chamá-los de amigos.

Lendas Escoteiras.
Nico Fulgêncio para você não existe perdão!

                         - Olha Senhor Nico Fulgêncio, vou ser sincero, afinal o senhor já passou dos sessenta anos e isto que o Senhor tem aqui em nossa cidade não podemos fazer nada. Um tumor tomou conta do seu cérebro e se não tratar em uma cidade grande o Senhor não terá mais que um ano de vida! – Nico Fulgêncio olhou para o doutor, franziu a testa e não disse nada. Ele se lembrava de estar sentado na Praça Santo Estevão sentiu uma tontura e nada mais lembrava. Deve ter caído e o levaram ao hospital proximo. Sorriu para o Doutor e foi embora. Há tempos ele sentia esta tontura, ela chegava e ele tinha de sentar. Agora piorou ele caia onde andava. Maria Mercês sua vizinha o olhou e perguntou o que ouve. A Ambulância o trouxera até se barraco na Rua B sem número. Ele sorriu e disse ser apenas uma tontura, nada demais.

               Nico Fulgêncio era negro, magro, não sabia ler nem escrever. Trabalhou muitos anos de vigia na Fábrica de Doces e um dia o mandaram embora. Havia oito anos que estava desempregado. Não tinha muitos amigos e através deles ainda sobreviveu com a ajuda que lhe davam. Nico pensou em acabar com sua vida, mas porque faria isto? Só porque o médico disse? Nico Fulgêncio tomou uma resolução. Numa mala velha ele encontrou uma mochila que Juventino lhe deu. Velha mas que serviria para seu intento. Colocou lá as roupas que lhe restavam, uma fronha, um cobertor Velho e uma capa azul escura que ganhou quando vigia na empresa. Na despensa quase nada, mas ainda achou um pouco de arroz, feijão, tinha uma carne seca e quatro pães velhos. Embrulhou tudo e colocou na mochila. Andava sempre com chinelo de dedo e tinha uma “alpercata” das antigas. Nem fechou a casa. – Donde vai seu Nico Fulgêncio? – Embora para a cidade grande Dona Maria Mercês. Olhe, o barraco é seu tudo que encontrar lá também. Nunca mais vou voltar!

                  Nico Fulgêncio colocou um boné Velho, e saiu sem se despedir de ninguém. Sem saber ele agora seria um daqueles andarilhos de beira de estrada que sempre encontramos por ai. Ninguém na cidade perguntou aonde ia. A cidade o considerava um eterno desconhecido. Quando partiu era meio dia. Pegou a Estrada para Maceió. Asfaltada. Andou a tarde toda e já noitinha parou embaixo de um pé de Pequi enorme. A barriga doía de fome. Viu que tinha arroz e feijão, mas esqueceu da panela. Comeu um bom pedaço da carne seca e um pão velho e dormiu sob as estrelas. Acordou com o sol nascendo e partiu. Donato um dia lhe disse que fora de ônibus a São Paulo e demorou quatro dias para chegar. E a pé? Ele riu, não era importante. Eram quatro da tarde quando avistou uns meninos Escoteiros brincando em volta de umas barracas. Parou e ficou olhando. Gostava do que via. Ele gostava da alegria de um sorriso e as crianças são mestres. Um carro da policia parou ao seu lado. Meteram ele lá dentro e o levaram preso. O acusaram de molestador de menores.

                  Nico Fulgêncio ficou preso oito dias. O delegado com muito custo foi conversar com os Escoteiros da cidade e eles disseram ter visto o andarilho, mas ele não fez mal a ninguém. O soltaram. Pelo menos ele teve duas refeições na cela. Nico Fulgêncio partiu como tinha traçado seu destino. Na saída da cidade novos Escoteiros o procuraram. Deram-lhe um saco de comida. Ele riu. – Preciso de uma pequena panela disse. Um deles pegou sua bicicleta e partiu em alta velocidade. Pouco tempo depois ele chegou com a panela. Partiram dizendo a ele Sempre Alerta! Lá foi ele estrada a fora. Andou até escurecer. Achou melhor ficar por ali. Não se sabe como surgiu uns Escoteiros maiores. Eram rapazes cantando estrada a fora. Pararam ao lado dele para descansar e lanchar. Foi convidado. A vida estava sendo boa com Nico Fulgêncio. Eles partiram e ele dormiu com a barriga cheia.

                   Foram quatro meses para chegar próximo a Maceió. Aprendeu a ganhar comida nas casas que encontrava a beira da estrada. Aprendeu e sofreu com o vento e a chuva e teve um dia que achou que sua hora tinha chegado. Desmaiou e acordou em um pequeno hospital. Em volta dele duas meninas e quatro meninos Escoteiros. De novo? Eles sorriram e perguntaram como estava. A enfermeira disse que foram eles que o trouxeram. Dez dias e teve alta. Os meninos Escoteiros o acompanharam até o final da cidade. De Maceió chegou a Recife. Bela cidade. Em uma rua viu a meninada escoteira correndo para sua sede. Ele agora se achava um deles e entrou no pátio, deu Sempre Alerta e todos responderam. Os Chefes ficaram de olho. Ele contou em uma roda cheia de meninos e meninas de onde veio e para onde ia. Contou também dos meninos Escoteiros que encontrou. Não deu outra. Lá vinha uma enorme mochila cheia de víveres que eles o presentearam.

                     Nico Fulgêncio um ano depois chegou a Belo Horizonte. Ele sabia agora que aqueles meninos foram sua salvação até ali. Ele parecia atrair os Escoteiros, pois onde passava e andava sempre encontrava um deles. Parou próximo a Rodoviária e viu muitos deles ali esperando a hora do seu transporte. Claro que ele se apresentou e sempre era motivo de abraços e saudações. Nunca fora Escoteiro, mas admirava aqueles meninos que sempre estavam dispostos a ajudar. Pé na estrada e lá foi ele para São Paulo. Oito meses o andarilho gastou na Fernão Dias. Quando chegava a Guarulhos ele ficou estarrecido. Estava escurecendo e ele viu um homem enorme atacando uma Escoteira. Ele sabia o que ele ia fazer. Soltou sua mochila e saiu correndo em cima de malfeitor. Levou um tiro nas costas e outro no ombro. Policiais que chegaram e não sabia o que estava acontecendo a não ser a Escoteira que pedia socorro.

                      Nico Fulgêncio foi levado ao Hospital de Guarulhos. Assustou quando viu um enorme contingente de meninos e meninas Escoteiras. Todos querendo abraçá-lo, pois sabiam do acontecido. O tiro entrou pelas costas e saiu pela frente. Nico Fulgêncio não correu risco de vida. O médico gentil que se apresentou como Chefe Escoteiro disse para ele que mais doze dias poderia ir embora – Parabéns Senhor Nico Fulgêncio, o senhor está com uma saúde de ferro! Mas Doutor! E o tumor em meu cérebro? – Que tumor senhor Nico, o senhor não tem nada. Lagrimas correram pelos olhos de Nico Fulgêncio. Quando saiu o Chefe Wantuil lhe ofereceu um emprego de vigia no Grupo Escolar onde funcionava a sede. Os meninos e as meninas Escoteiras bateram palmas e se Nico nunca teve um amigo agora ele tinha e muitos. Jovens alegres que lhe deram tudo na sua longa jornada.

A vida de Nico Fulgêncio se transformou e ele sempre quando ia para a sede nas reuniões onde ajudava em tudo que eles pediam ele se lembrou de uma canção do Padre Marcelo que dizia:

Tem anjos voando neste lugar.
No meio do povo e em cima do altar.
Subindo e descendo em todas as direções,
Não sei se a igreja subiu ou se o céu desceu
Só sei que está cheio de anjos de Deus.
Porque o próprio Deus está aqui.

                  Afinal Nico Fulgêncio um Velho que não morreu e viveu por muitos e muitos anos, um caminheiro de muitos mil quilômetros de estrada percorrida, teve a felicidade de ver meninos Escoteiros que sabem ajudar sem olhar a quem. E então Nico Fulgêncio na sua simplicidade sorriu, e pensou – Os anjos também são Escoteiros!

Seja um anjo para alguém, dê asas à sua vida, mostre a ele quer é possível voar!




quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Dia do chefe escoteiro


OBRIGADO SENHOR POR ME PERMITIR SER UM CHEFE ESCOTEIRO.

A todos vocês que me seguem em meu blog, e se é um Chefe Escoteiro, aceite meu abraço, meu Sempre Alerta e meus parabéns. Fui um de vocês e hoje sei que o escotismo nunca morrerá por tantos chefes abnegados a fazerem pelos jovens o que BP nos ensinou. PARABÉNS!

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Um sonho de liberdade.


Conversa ao pé do fogo.
Um sonho de liberdade.

        Jacob desde pequeno sonhava em ser Escoteiro. Sua cidade Ramallah na Palestina nunca teve um Grupo Escoteiro. Eles viviam em sobressalto devido às divergências entre países e Jacob não entendia o porquê eles não davam as mãos e fossem viver em paz e como irmãos. Jacob nasceu em Flores da Cunha uma pequena cidade no interior de Pernambuco. Um dia seu pai juntou a família e partiu para a Palestina. Disse que lá era seu lugar. Seus avós nasceram lá e lutaram até a morte para serem livres. – Livres? E quem é livre? Jacob pensava. Ele mesmo tinha lido em um livro que a verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão. Jacob nos seus onze anos era um sonhador. Nunca imaginou viver em uma cidade onde o medo de morrer era uma constante. Medo? Mas qual palestino tinha medo? Eles sempre não diziam que dariam sua vida pela liberdade de sua terra?

      No inicio a curiosidade e o modo de vida chamou a atenção de Jacob. Viu sua mãe e sua irmã Natividad mudarem completamente. Agora viviam fechadas dentro de casa e quando saiam colocavam véus para ninguém poder reconhecê-las. Assim ele pensava. Alguns meses depois acostumou com tudo. Gente andando para qualquer lado com um fuzil no ombro e gritando palavras de morte ao usurpador. Jacob não entendia nada. Lembrava-se de sua terra onde nasceu, uma cidade cheia de paz e harmonia. Lembrava-se das histórias que seu pai contava e como ele ria quando viajava nos seus pensamentos vivendo as aventuras escoteiras de seu pai. Ele tinha sido Escoteiro. Contou que fora Monitor de patrulha, fizeram centenas de acampamentos, beberam água da fonte, nadaram contra a correnteza para pegar peixes grandes com a mão na época da piracema. Jacob com seus olhinhos miúdos não os tirava do pai. Adorava seu pai quando contava histórias de escoteiros e Jacob vibrava.

     Jacob sonhava quando chegasse a Ramallah ia ser um Escoteiro. Ele aprendeu com seu pai as leis e a promessa. Um dia seu pai lhe mostrou o uniforme e Jacob pediu humildemente ao seu pai para vesti-lo. Foi autorizado, mas só dentro de casa. Nunca na rua ou nos montes próximos. Ele tentava entender esta guerra sem fim. Seu pai lhe disse que as Terras lhes pertenciam. Era a Terra Prometida. Ia do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão. Havia mais de cinco milhões de judeus vivendo lá, e chamavam a terra de Israel. Outros tantos árabes que se julgavam donos da terra, que chamavam Palestina também acharam que eram os donos da terra. Diziam seus antepassados que chegaram lá primeiro. Seu pai dizia que eles lutavam pela liberdade. Dizia que para ter a liberdade teriam de lutar muito. Seria uma luta difícil, pois só se alcança quando nosso estado de consciência nos torna imune aos sofrimentos de nossa consciência. Um bom Palestino ele dizia devia ser imune aos sofrimentos, do orgulho, do ciúme e da vaidade. 

         Eleazar tinha dezenove anos. Ele era um soldado Israelense. Morava em um kibutz de nome Kfar Aza. Era bem próxima a Faixa de Gaza. Eleazar era brasileiro. Morava em Terra Nova uma cidade ao norte da capital do estado do Paraná. Nasceu lá. Tinha uma vida tranquila e feliz. Pudera, Eleazar era sênior e sem ninguém saber amava Angelina. Angelina era Guia e todos queriam ser seu príncipe encantado. Eleazar tinha conquistado o Lis de Ouro e partia agora para o Escoteiro da Pátria. Eleazar sonhava em casar com Angelina e ter sua casinha pintada de branco com muitas flores. Teriam muitos filhos também. Sonhos de menino homem que ainda não tinha abandonado a puberdade. Um dia estava com ela de mãos dadas. Levou uma pancada nas costas. Era o senhor Mujahid o Pai dela. Um homem mau. Soube que foram embora da cidade. Voltaram a sua terra na Palestina.

       Quando Eleazar fez dezoito anos procurou o Consulado de Israel. Queria ir para lá e garantiu que seria um bom soldado. Sempre foi um Escoteiro. Conhecia as técnicas de travessias, da camuflagem, de campismo e sempre fora obediente e disciplinado. Dois meses depois Eleazar foi embora para Israel. Sua mãe nunca aceitou sua ida. Seu pai calado não disse nada. Eleazar só tinha uma missão, encontrar Angelina. Ele iria atrás dela onde quer que fosse. Seu amor era grande demais para esquecer. Iria dizer ao senhor Mujahid que não tinha ódio. Ele era um Escoteiro, puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações. Passaram-se seis meses e nenhuma noticia de Angelina. Ele ia disfarçado de cidade em cidade na Palestina e nada. No Kibutz era bem considerado e todos o achavam um bom soldado.

       Um dia Eleazar vestiu seu uniforme Escoteiro. Gostava de vestir. Sentia-se bem com ele e sempre ia para os montes próximos e lá recordava de sua juventude, de seus sonhos do seu amor que como o vento se foi para nunca mais voltar. Ele gostava de deitar em baixo de uma Oliveira e ver as estrelas brilhando no céu. Seu instinto lhe mostrou que alguém se aproximava. Olhou com atenção. Era um menino de uniforme escoteiro. Impossível pensou, ali não tinha nenhum grupo escoteiro. Ele não sabia que era Jacob, o filho de um palestino que desobedecendo às ordens do pai subiu na montanha com uma pequena bandeira do Brasil que ele achou nas coisas do pai. Cada um viu o outro por um prisma. Um achando que encontrou um irmão Escoteiro e outro desconfiado do adulto uniformizado com um fuzil engatilhado.

           Aharon era um bom piloto.  Serviu na Força Aérea Brasileira por muitos anos. Deixou Guaratinguetá e foi para São José dos Campos como piloto de testes dos novos caças encomendados pela FAB. Gostava do que fazia e muito mais do Grupo Escoteiro Flores Vermelhas onde ajudava na Alcateia. Um dia um Major da força Aérea da Palestina disse que precisavam de bons pilotos para treinar a nova esquadrilha de caças que compraram. Seria por cinco anos e o salário era muito bom. Não titubeou e partiu. Um ano depois ele sentia muitas saudades de sua terra e de seu grupo Escoteiro. Em uma inspeção de rotina na fronteira ele estava em um Super Tucano EMB-314 da Embraer ele avistou o impossível. Dois Escoteiros se abraçando no Monte Ararat. Quem seria? Um era um Escoteiro e o outro devia ser um Chefe. Fez um voo rasante para dar as boas vindas e dar o seu sempre alerta. Uma bateria de mísseis israelenses viu a aproximação do Tucano em baixa altitude e abriu fogo.

             O Super Tucano explodiu e atingiu os dois Escoteiros que se confraternizavam naquele monte onde diziam Noé aportou sua Arca. A história termina. Cada um tinha um sonho que não se realizou. No céu uma nuvem azul e branca levou três Escoteiros cujos destinos ninguém nunca pensou que poderiam ficar juntos para o céu. Um dia quem sabe teremos liberdade suficiente para podermos decidir nosso destino conforme nossos sonhos. Todos ansiamos desde muito cedo na vida por mais liberdade. Quando ainda muito jovens, a liberdade é, para nós, essencialmente relacionada à realização de nossos desejos. Queremos fazer tudo, experimentar tudo, sem sermos tolhidos em nossos anseios de descoberta do mundo por quem quer que seja. 
Escotismo, um sonho de liberdade!


Era uma vez... Em uma montanha bem perto do céu...

Bem vindo ao Blog As mais lindas historias escoteiras. Centenas delas, histórias, contos lendas que você ainda não conhecia....