Lendas Escoteiras.
A canção que fiz para
ela, o vento levou.
Nunca pensei que você me deixaria desse jeito, sem dormir direito.
Imaginei que fosse um passatempo qualquer, uma aventura de amor, mas meu
coração me enganou.
E agora meu mundo é seu mundo, seu corpo em meu corpo é um só, é um sentimento maior. Eu te amo como nunca amei ninguém, te quero como nunca quis um dia alguém, você mudou a minha história.
Todo dia, a todo o momento estás presente no meu pensamento, perco a noção do tempo só por causa de você. Amo-te muito.
E agora meu mundo é seu mundo, seu corpo em meu corpo é um só, é um sentimento maior. Eu te amo como nunca amei ninguém, te quero como nunca quis um dia alguém, você mudou a minha história.
Todo dia, a todo o momento estás presente no meu pensamento, perco a noção do tempo só por causa de você. Amo-te muito.
Eu tive dois
amores na vida. Amei quem não devia amar e amei por sentir por dentro a alegria
de ser, de pertencer e viver junto a amigos que me faziam feliz. Ser Escoteiro
sempre foi meu sonho, não aquele sonho que a brisa leva, e um dia volta com o
vento. Era um escotismo gostoso, franco, amigo, sincero e leal. Mesmo com a
adversidade de ela ter aparecido em minha vida nunca reclamei aos meus amigos,
das noites gostosas e mal dormidas e das refeições enfumaçadas dos maravilhosos
acampamentos. Poderia dizer que o escotismo foi mais que um sonho, nele eu era
como o vento e podia voar, voei pelos campos, pelas montanhas, voei a noite
pelas estrelas e vivendo as maravilhas de cada lugar. Antes que ela aparecesse
na minha vida, eu tinha outro amor, gostava de cantar. Diziam que eu tinha uma
bela voz, e mesmo arranhando o velho violão que meu pai me presenteou eu
conseguia nos fogos de conselho, nas noites maravilhosas de uma conversa ao pé do
fogo, cantar para meus irmãos de patrulha, de outras patrulhas e eles adoravam.
Podia dizer
que nos meus catorzes anos eu tinha tudo que um jovem Escoteiro poderia ter. A
felicidade de um pai e mãe queridos, uma escola onde todos me amavam, uma
patrulha que nos considerávamos irmãos. Todos sorriam para mim e eu valorizava
aquele sorriso. Não era o melhor, mas também não era o pior. Tudo na minha vida
era só felicidade até o dia que ela apareceu. Impossível alguém sentir o que eu
senti, era apenas um Escoteiro Primeira Classe no alto dos meus catorze anos.
Dizem que meninos não amam, não sabem o que é uma paixão, não sente no corpo o
calor de quem ama, não tem ainda mente formada para sonhar sonhos de amor. Foi
em um sábado de reunião que ela chegou. A primeira Escoteira da Patrulha Leão.
Todos ficaram boquiabertos com seu sorriso, com sua voz, com sua beleza e sua
maneira de jogar os cabelos compridos para trás e sorrir. Nossa primeira
Escoteira e meu primeiro e único amor.
À noite na varanda da minha morada, não
toquei no violão. Na varanda deitado na rede do meu pai eu olhava para o céu e
pensava: Quem é você? Será alguém que nunca vi e que apareceu na minha vida
assim do nada? Você que um dia levou meus sentimentos como se tudo o que
tivesse guardado na vida fosse meus sábados Escoteiros e solitários depois que
você chegou? Custei para dormir. Minha mãe lá pelas tantas quase me carregou no
colo até meu quarto onde consegui dormir. – Escoteiros! – o Chefe dizia – Esta
jovem é Lisabel, será a primeira Escoteira da tropa. Teremos muitas outras!
Ninguém falou nada, só Josué que me cutucou e disse: - Sabe Richard, ela não
trará a felicidade para ninguém. Josué era um visionário. Ela não ficou muito
tempo. Três anos talvez? No primeiro ano eu fazia planos, planos incríveis de
me apresentar. Apresentar como? Ela me conhecia, sabia meu nome, sorria para
mim com aquele estilo maroto como a dizer que nem amizade lhe interessava.
Nos
acampamentos eu não era mais o mesmo. Ajudava a patrulha sim, mas sempre a
pensar e sonhar com ela. Sua voz gritava para mim com um grito o seu nome ao
vento. Lisabel! E meu pensamento queria
encontrar seu olhar no ar, ver seus olhos da cor da noite perdidos no luar. Eu
fiz uma canção para ela. Demorou. Fechava os olhos e pedia um favor à brisa da
madrugada, leve tudo que for necessário, ando cansado sem saber o que dizer, eu
preciso mudar e daqui para frente vou levar apenas o que couber no meu bolso e
no meu coração. Na melodia eu pedia ao vento que varresse tudo para longe...
Sentava-me no alto da montanha, pois eu sabia que lá ventava forte. Sábio é o
mar que nas idas e vindas sabe ser imensidão.
Lisabel
partiu do Grupo Escoteiro e da cidade. Foram quase cinco anos três no escotismo
e dois olhando de longe sua janela da casa onde morava. Não me entreguei como
um Escoteiro apaixonado. Minha vida continuou mesmo depois que fui feito
gerente do Banco da cidade. Só pensava nela. O escotismo que um dia completou
fases da minha vida já não era mais o mesmo. Não parti, não deixei para trás
minhas raízes Escoteiras. Todas as noites pegava meu violão e na varanda do meu
lar eu cantava a canção que fiz para ela. Eu ouvia o vento e ele me ouvia. Ele
dançava no meu corpo, flutuava como uma pluma. Voava até o topo da árvore e
quando batia o vento, caía novamente. Rotina de sempre, todos os dias o mesmo
percurso. Eu me acostumei com a forma que o vento me consolava, dava vontade de
voltar todos os dias, mesmo sabendo que meu destino era grama fresca.
O tempo
e o vento. Palavras que fizeram sonhos, livros históricos, e que me fazia viver
sem rumo sem pensar. Cada ano era uma lembrança. Aquilo era uma doença em minha
mente. Ela tinha partido, nunca mais ia voltar e porque não esquecer? Trinta
anos, quarenta, sessenta. Ainda no Grupo Escoteiro. Não casei, não amei mais
ninguém. Agora amava o escotismo e ela onde estivesse. Na minha canção eu
escrevi – Se não era para ficar, para que você apareceu na minha vida? Bobagem.
Canção que não cantei para ninguém. Devia ter dito para ela mesmo de longe e
sussurrando – Lisabel, você apareceu na vida, como amiga foi chegando, de
mansinho ganhou minha confiança e logo ganhou o meu coração... Mas ela partiu
para sempre.
A ideia
não foi minha. Foi do Chefe Pascoal. Levar um pouco de amor e carinho em uma
casa de repouso de idosos. Uma boa ideia eu achei, pois já me considerava um
idoso. Quem sabe a melhor ideia que não foi minha. Meu Deus! Que surpresa! Ela
estava lá. Acabrunhada, cabelos brancos, sorriso perdido no tempo. Não
reconheceu ninguém. Nem se lembrou dos seus velhos tempos de Escoteira. Cheguei
de mansinho. Acariciei seus cabelos, ela levantou os olhos sorriu e nada disse.
Meu amor que nunca tinha esquecido agora estava ali na minha frente. Velha,
alquebrada, doente. Mas eu só via a Lisabel do passado. – Perguntei na
secretaria quem era responsável por ela. Ninguém disse a enfermeira. Tomei uma
resolução, ia cuidar dela para toda a vida. Custou muito à papelada ser aprovada.
Eu já cuidava de minha mãe acamada e agora tinha Lisabel para cuidar.
Ela
as noites de luar sentava comigo na varanda e eu cantava para ela. De olhos
fechados não sabia se ela entendia a canção, se a melodia entrava em sua mente
ou se apenas sentia a brisa da noite e o vento passar. De vez em quando ela me
olhava com seus olhos miúdos, deixava uma lágrima rolar pelo rosto, eu chorava
por dentro e não parava de cantar: - “Quando você apareceu na minha vida, eu
era apenas um alguém sem saber aonde ir, o tempo passou, e você tomou meu
coração”. - Sei que um dia ela vai partir. Sei que um dia eu poderei ir também.
Mas confesso que agora era feliz. Lisabel estava ali, junto a mim e mesmo sem
dizer que me amava me fazia o Escoteiro mais feliz do mundo!
O amor
deveria perdoar todos os pecados, menos um pecado contra o amor. O amor
verdadeiro deveria ter perdão para todas as vidas, menos para as vidas sem amor.
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