Acalma-te e serve.
Não fizeste o Sol que te ilumina.
Não fabricaste o ar que respiras.
Não criaste o solo em que te apóias.
Não teceste a vestimenta das flores que te rodeiam.
Não pares de trabalhar.
A vida te pede o bem que se te faça possível.
O impossível virá de Deus.
Não fizeste o Sol que te ilumina.
Não fabricaste o ar que respiras.
Não criaste o solo em que te apóias.
Não teceste a vestimenta das flores que te rodeiam.
Não pares de trabalhar.
A vida te pede o bem que se te faça possível.
O impossível virá de Deus.
Lendas
Escoteiras.
Pirilampo,
um Beija Flor no verde Vale de Nagoya.
Não faz muito tempo quem sabe uns
trinta ou quarenta anos. Já não era mocinho e meus anos ultrapassavam as trinta
primaveras. Éramos mais de doze e menos de quinze. A quantidade não lembro-me
bem. Foi até um acampamento gostoso, só de chefes. Tinhamos feitos outros e não
pertencíamos ao mesmo grupo e isto nada significava para a fraternidade e
irmandade que existia entre nós. Programa? Duas patrulhas, dois compôs,
trabalhando e se divertindo com seus patrulheiros. Eu era um Guanambi, e quando
me disseram o que era fiquei perplexo – Chefe, Guanambi é um beija-flor! Tudo
bem, eu admirava os pequenos voadores a procura de seu néctar das flores. Eles
entre os pássaros poderiam ser considerados príncipes ou quem sabe Reis? Sabia
que tinham todas as cores e nunca parei para observar melhor. Onde estávamos
acampados uma calma enorme se fazia acontecer no campo. Uma gostosa passarada a
cantar seus cantos maravilhosos, o som intermitente de uma pequena cascata,
grilos que anunciavam tempo bom e formigas indo e vindo sem pressa com suas
cargas enormes.
As noites para nós eram belas. Não
havia pressa para nada, que o jantar ficasse pronto quando estivesse pronto. O
banho da tarde no pequeno remanso refrescou o corpo de tanto sol que pegamos,
só por tentar se aproximar pé ante pé de um esquilo. Não dava para mexer e o
suor corria naquele sol escaldante das três horas da tarde. Um jantar supimpa e
aos poucos os chefes iam chegando na Pedra do Conselho, nome pomposo que
dávamos a conversa ao pé do fogo. Um nome roubado dos lobos, mas que seria
devolvido tão logo o acampamento terminasse. O Cantor logo deu o ar da graça.
Terra do Belo Olmeiro. Linda canção dos caçadores de pele dos lagos canadenses.
– ¶“Terra do belo olmeiro, lar do castor, lá onde o alce airoso é o senhor”...
Uma letra de tirar o folego. Alguém contou uma piada. Uma piada Escoteira. Ali
a pureza nos pensamentos palavras e ações tinham seu lugar ao sol, ou melhor, à
noite.
O bule de café e outro de chá a
beira do fogo tinha visitantes frequentes. Todos nós esperávamos que Cabelos Vermelhos pedisse a palavra. Alto,
forte nós sabíamos que ele sempre tinha uma bela história para contar. – Ficou
em pé, olhou para o céu, sentou novamente e com uma voz clara começou mais uma
bela história para nosso deleite. - Era uma vez... Há muito tempo, eu era
menino de calças curtas e recém admitido na tropa. – Cada um de nós nos
refestelamos no banco tosco e nenhum som mais se ouviu a não ser o crepitar do
fogo e olhar pequenas fagulhas dengosas a subir aos céus. A voz de Cabelos
Vermelhos era sonhadora, ele sabia como contar uma história. A principio
sentado, mas a gente já sabia que ele ia ficar em pé, ia gesticular pular e
cantar. Era seu dom. ele sim era um contador de histórias. – Naquela época,
dizia Cabelos Vermelhos a nossa inocência, o nosso amor e a fraternidade nos
dava oportunidade de conviver com os animais com os pássaros e até os repteis
eram nossos amigos.
Nos preparamos para mais um
acampamento de verão. Dizem que no verão as chuvas caem mais forte, mas nós não
nos importávamos. Não foi Edson quem disse que tudo passa, a chuva passa,
tempestades passam. Até furacão passa difícil é saber o que sobra? Sabe amigos,
nos amávamos a chuva. Dizíamos para nós mesmos que não importa a chuva que
cai... Pois após as tempestades eu tenho encontros com o sol! Nossos
preparativos foram rapidamente realizados. Em uma bela manhã partimos rumo ao verde
Vale de Nagoya. Era um dos vales mais lindos que conhecíamos. Era lá que o sol
quando nascia nos dava um sorriso e quando se ponha deixava escrito no céu –
Que a lua e as estrelas cuidem de vocês como eu cuidei. Não choveu a não ser
uma pequena garoa no terceiro dia. O nosso programa nos dava tempo para belas
construções e explorações de grutas que lá havia as dezenas.
Foi em uma tarde bolorenta,
daquelas que dá vontade de cochilar e não acordar que vi um Beija Flor em cima
da mesa do refeitório. Semblante triste asa caída me olhou choroso e disse –
Olá Escoteiro, foi bom ver vocês. Estou partindo do Vale de Nagoya aqui nunca
mais voltarei. – Olhei espantado para o Beija Flor e sem precisar perguntar ele
continuou. Meu nome? Pirilampo. No passado diziam que eu tinha luzes que
piscavam que eu levava o sorriso aos meus irmãos. Hoje Escoteiro, hoje não sou
nada aqui neste vale que um dia foi florido e hoje não é mais. Vou as escarpas,
voo rasante pelas cascatas no vale, tento subir mais alto para descobrir flores
que agora não existem mais. Você meu amigo Escoteiro sabe como somos. Temos o
dom de voar em marcha-ré e de permanecer imóveis no ar. Você sabe que podemos
voar a velocidade do som e que adianta tudo isto?
Olhei o Pirilampo e não
disse nada. A patrulha já tinha observado que o Vale de Nagoya já não era mais
o mesmo. As flores desapareceram com as queimadas dos sitiantes, onde havia um
bosque com uma nascente cristalina desapareceu. As árvores eram vendidas pelo
melhor preço para servirem de carvão e nas usinas siderúrgicas produzirem o
ferro ou o aço para as máquinas infernais. Vi nos olhos de Pirilampo pequenas
gotas de lágrimas que caiam. – Pois é Escoteiro, os sitiantes acreditam que nós
somos anjos, que podemos voar em suas terras, que nosso néctar nunca ia se
acabar. Eles mesmos inventaram o meio de nos dar água com açúcar como isto
fosse substituir nosso néctar. Eles não sabem que quando o sol esquenta
fermenta a água açucarada e ela tem nos feito tanto mal que alguns de nós morremos
em poucos dias.
Tenho de partir, meus irmãos já
foram. Eu sou o último beija flor do Vale de Nagoya. Não sei se aqui voltaremos,
pois acredito que o Vale de Nagoya se foi para sempre. Não queria ir sem me
despedir de vocês. A vida aqui no vale me ensinou a dizer adeus às pessoas que
tenho amizades e vocês ficarão para sempre em meu coração. Adeus Escoteiro, que
as gotas de chuva de hoje possam lavar os pensamentos ruins e alegrar os olhos
de vocês para sonhar com um futuro, um Vale de Nagoya novamente seja um vale
florido, cheio de Beijas Flores no céu.
Pirilampo levantou voo e se foi. Não deu uma revoada em cima do nosso campo de
patrulha. Partiu como se quisesse esquecer aquele vale de agora e lembrar
sempre como foi em um passado distante.
Cabelos Vermelhos se calou.
Todos nós estávamos calados. Não havia o que dizer. Alguém com os olhos vermelhos
perguntou – E aí Cabelos Vermelhos, como é hoje o Vale de Nagoya? – Aquele
Chefe contador de histórias nos olhou, fechou os olhos e disse: - O homem
destrói a natureza na justificativa de sobreviver, a natureza luta para
sobreviver, para garantir a sobrevivência do homem!
"Afogue
a tristeza nas ondas da alegria;
Enxugue
as lágrimas no manto do sol e faça brilhar um sorriso nos lábios.
A boca que vive a chorar desaprende a sorrir.”.
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