Contos de
Natal
O natal do
fantasma Simão o Caolho!
“Se você errou Se você
errou, peça desculpas...
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?”
É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?”
Manezinho estava de olhos
arregalados. Nunca sentiu tanto medo na vida. Ele nunca deveria ter concordado
com Zózimo seu amigo deste que nasceu. Afinal poderiam ter esperado o dia
seguinte e não após as dez da noite encontrar sua patrulha que acampava no
Riacho da Lontra. Eles amavam acampamentos e sempre querendo aproveitar o máximo.
Liberato o Monitor saiu as duas de sexta um dia após o natal. Eles não puderam
ir, precisavam participar de uma cerimônia na igreja. Combinaram de chegar lá
por volta da meia noite. O acampamento duraria até segunda, pois era feriado
municipal emendando com natal. Ambos vieram ao mundo no mesmo dia e na mesma
hora. Eram vizinhos de parede e meia. Sua mãe amicíssima da mãe dele. Ambas
lutavam para sobreviver, ambas perderam o marido para a capital. Disseram que
lá iriam melhorar de vida e mandar uma carta para elas encontrarem com eles.
Carta que nunca chegou. Passavam a maior parte do tempo juntos enquanto suas
mães saiam para trabalhar. Eles se divertiam, faziam brincadeiras e quando
entraram na pré-escola foi como se nova vida se formasse.
Um belo dia viram uns lobinhos
brincando na praça, ficaram lá por horas e um deles contou como eles deveriam
fazer para entrar também. As mães sempre bondosas foram com eles ao Grupo
Escoteiro. O tempo foi passando e Manezinho e Zózimo amando aquela nova vida
Escoteira. Faziam tudo juntos tanto nos lobos como quando passaram para a
tropa. Só aceitaram a passagem se ficassem na mesma patrulha. Já com seus treze
e quase quatorze anos fizeram juntos a Jornada. Receberam a primeira classe no
mesmo dia. Para eles era escotismo na terra e Deus no céu. Suas mães tanto
insistiram que eles fizeram o catecismo juntos e ambos agora eram coroinhas
ajudando nas missas salvo quando iam fazer atividade Escoteira. Deixaram isto
bem claro para o Padre Nonô. Agora estavam ali, só os dois na Estrada dos
Afonsos. Uma pequena estrada de terra com cercas de arame farpado dos dois
lados. Já haviam percorrido três quilômetros. Faltavam outros quatro. Lembraram-se
da curva do Demônio. Deus meu! Eles iriam passar lá por volta da meia noite!
“Se você sente algo diga... É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar”?
Zózimo olhou para Manezinho.
Seus olhos esbugalhados nada diferiam do seu amigo. Ele se lembrava de como morreu
na curva do Demônio o Simão, que todos chamavam de caolho. Não fazia muito
tempo quem sabe uns dois anos. Simão era um pobre coitado sempre a sorrir e a
fazer continência para os Escoteiros. Nunca falou palavrões conforme os loucos
de algumas cidades falam. Só vivia sorrindo e isto enfureceu Norberto, Tonico e
Malaquias. Norberto tinha 19 anos um vagabundo, mas filho do prefeito Ladislau.
Tonico era filho de Dona Iracema advogada de todos os grandões da cidade.
Malaquias era um coitado. Não era nada apenas um puxa-saco dos dois amigos. Um
dia se enfezaram com Simão o Caolho. Disseram que ele se fez de bonito com
Dolores convidando-a para um passeio. Não deu outra. Jogaram ele na picape e o
levaram até a curva do Demônio onde o mataram a pauladas. Lá já havia uma cruz
de outro que morreu do mesmo jeito. Ninguém sabe quem foi, mas os três
amanheceram em suas camas mortos com as mãos e as línguas cortadas.
Todo mundo conhecia a lenda
da curva do Demônio. Nas noites de lua nova ninguém passava por lá. Se fosse
era para encontrar com a figura fantasmagórica de Simão o Caolho. Eles olharam
para o céu. – Diacho disse Manezinho, a lua era nova! Deram as mãos pedindo a Deus que os
protegessem naquele dia de natal. Não deu outra, lá na frente Simão o Caolho,
parecendo um espantalho jogava pedras em três figuras horrendas presas no arame
farpado da cerca divisória. Simão quando os viu parou. Eles tremiam feito varas
verdes. – Deus do céu, protegei aos seus filhos deste demônio! Disse Tonico.
Simão olhou para eles – Chorava – Não entendem meu infortúnio? Eles me tiraram
a vida! Não devem pagar pelo que fizeram? Os presos no arame eram horrendos.
Todos eles sangrando, gritando para parar, pedindo perdão. Simão não parecia
gostar do que fazia. Era uma alma atormentada e mesmo não querendo só fazia por
vingar.
“Se alguém reclama de você,
ouça... É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você”?
Mas quem disse que é fácil ouvir você”?
Não se apiedem deles! – Disse
Simão. Eles tiraram minha vida! Eles tiraram tudo que eu tinha e o que eu
poderia ter um dia. Não devem pagar? Simão não ria como os fantasmas faziam.
Era um sorriso triste, não dava gargalhadas. Estava sofrendo e não sabia como
evitar. Zózimo e Manezinho não sabiam o que dizer. Pensando em sua promessa,
onde diziam que ajudar o próximo sem esperar nada era a obrigação de um
Escoteiro. Ajoelharam – Olharam para Simão – Manezinho se lembrou de uma
passagem na bíblia que leu muitos vezes – “E aproximou-se (Jesus_ um leproso
que, rogando-lhe e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres bem
pode limpar-me).” – E completou – Se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de
nos, e ajuda-nos. E Jesus disse-lhe? Se tu pode crer, tudo é possivel para os
que crêem! Uma forte luz aconteceu. Manezinho e Zózimo ficaram estupefatos! –
Uma criança sorria no ar, olhou para Simão, sorriu para ele. – Com uma voz doce
e amiga disse – Simão, tudo na vida tem um começo e um fim. Sem o perdão você
não vai conseguir ir para o céu! Um trovão se fez ribombar nos céus. Os três
malfeitores se soltaram. Ajoelharam e chorando disseram – Perdoa Senhor!
A claridade em volta da
curva do Demônio era um balsamo para aqueles vencidos e vencedores. Ouviram a
voz do menino clara e em bom som: - Ide, procurem ajuda na seara do Senhor! – E
você Simão, sei que choras se perdoou também será perdoado! – Um clarão enorme
aconteceu. O céu voltou a ficar cheio de luzes das estrelas. Não havia mais
ninguém ali. Simão e seus matadores se foram. Competia agora eles fazerem por
merecer. Manezinho e Zózimo partiram para seu acampamento. Sabiam que agora a
curva do Demônio acabou. Eles a chamariam a curva do Menino Jesus. Do alto da
montanha viram o campo da patrulha. Iluminado, lá embaixo os patrulheiros em
volta do fogo declamavam: -. Noite de Paz... Na
noite mais linda encantada, um menino que de luz é revestido, vem trazendo a
esperança desejada, mas nem sempre é por nós reconhecido!
- Sempre alerta patrulha! Ainda cabe
mais um neste fogo! E todos sorriram e uma enorme estrela apareceu no céu. Os
Escoteiros agora estavam protegidos pelo menino Jesus!
“Se alguém te ama, ame-o... É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida... Mas, com certeza, nada é impossível”...
“Se alguém te ama, ame-o... É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?
Nem tudo é fácil na vida... Mas, com certeza, nada é impossível”...
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