O requintado e saboroso Bolo de Chocolate de Carminha
O bolo e a festa
Feito de chocolate,
Com recheio de coco
O chamam de prestígio
Uma cobertura deliciosa
Com uma textura sem igual;
Encho-me a boca dele,
Humm! Que sabor,
Ai quero mais...
Tomo um gole de guaraná,
Hummm! Delicioso!
Mais uma garfada de bolo,
Escorre o chocolate
Que misturado ao coco do recheio
Mistura-se a saliva
E derrete em meio à vontade
Humm! Queres um pedaço?
Um dia, caminhando pela rua, vi um senhor que tentava por todas as formas, fazer o seu carro funcionar, sem o conseguir. Nem por isso deixou de acreditar que o carro iria funcionar. Chamou um mecânico e, em poucos minutos, lá estava o carro funcionando como nunca. Se alguém disser que existe a possibilidade de você progredir na vida, realizar os seus sonhos, materializar os seus projetos, pelo menos pare um pouco para pensar, antes de responder que é impossível. A vida, com certeza, é muito melhor do que a que você está viver. E é bem maior do que você imagina. Na verdade os outros não são mais que você. É você que se está a diminuir. Se uma pessoa se deita na rua, pode-se queixar de que os outros passam por cima dele? O que deve fazer é levantar-se e seguir o seu caminho. E claro, pode também comer um pedaço de um gostoso Bolo de Chocolate!
Porque este inicio? Porque me lembrei de Carminha. Com seus dez anos crescera assustadoramente. Quem a visse diria que ela poderia ter 12 ou 13 anos. Tinha os cabelos negros, crespos, olhos castanhos e um porte firme, sempre com um sorriso nos lábios. Uma simpatia! Carminha era lobinha da alcatéia Sambhur (animal forte, elefante ou um grande tigre ou touros selvagens). Era uma alcatéia nova, fora fundada há oito anos. Poucos lobinhos na época, mas agora não. A alcatéia estava agora com 12 lobinhos e 10 lobinhas. Carminha entrou com oito anos, amor a primeira vista entre ela e a alcatéia. Carminha era chamada carinhosamente na sua matilha cinzenta de Raksha.
Carminha lembrava sempre do seu primeiro dia. Fora apresentada a alcatéia e fizeram o Grande Uivo em sua homenagem. Ela achou aquilo o máximo. Ali mesmo no seu pensamento, jurou que nunca mais iria sair do escotismo. Ela adorava as reuniões. Cada uma diferente da outra. Os jogos então eram sua paixão, mas logo descobriu que poderia crescer e ter muitos distintivos colocados em sua camisa.
Mas Carminha estava diante de um grande dilema. Enorme mesmo. As duas coisas que ela mais gostava na sua vida de lobinha. O Acantonamento anual do Distrito, onde centenas de lobinhos e lobinhas estariam reunidos e a festa de aniversário de Isabel, sua prima. Sem contar é claro o delicioso Bolo de Chocolate que Carminha ficava horas e horas admirando quando sua tia fazia com um sorriso no rosto. Como era gostoso! Delicioso. Um sabor sem igual. Carminha esperava todos os anos só para admirar a feitura e depois sentar calmamente, olhar seu “pedaço” e ir saboreando cada colher.
E agora para sua infelicidade, as duas coisas iam acontecer ao mesmo tempo. Ela estava com a maior indecisão em sua vida. O que fazer? A noite ajoelhou aos pés da cama e pediu a Deus para lhe mostrar o caminho. Mas qual caminho? Ela queria ir ao acantonamento e também estar no aniversário de sua prima e o bolo... Ah o bolo! Ele surgia incessantemente em sua mente todo o tempo. Ficar sem o Bolo de Chocolate? Sua boca enchia de desejos, pois só de pensar em cada garfada de bolo, o chocolate escorrendo, o coco no recheio, sentia sua saliva derretendo, incrível, que vontade de comer o Bolo de Chocolate!
Para alguns de nós, adultos, era uma decisão fácil de tomar. Afinal não temos mais os sonhos de uma menina, que vivia ainda seu belo conto de fadas. Quem um dia quando criança não se sentiu assim? Uma dúvida atroz, cruel para elas, desumana. Mario Quintana escreveu que só as crianças e os velhos conhecem a volúpia de viver dia-a-dia, hora a hora, e suas esperas e desejos nunca se estendem além de cinco minutos..., não sei se concordo com ele. Dizem ainda que as crianças acham tudo em nada e os homens não acham nada em tudo!
Aquele sábado de reunião foi um tormento para Carminha. Logo após a cerimônia de bandeira, ela se esqueceu das palavras que devia ser dita no Grande Uivo. A Akelá a escolheu para responder – melhor, melhor, melhor e melhor? Sim, melhor, melhor, e melhor! E ela nada. Estava muda. Seu pensamento estava no Bolo de Chocolate e no acantonamento. Todos ficaram intrigados, Carminha sempre era a mais alegre, mais participante e parecia estar nas nuvens. A Kaá fez um jogo de abertura já conhecido e que Carminha adorava. A Baratinha e o inseticida.
(No começo do jogo é sorteado um lobinho que será o inseticida, os demais participantes serão as baratinhas. As baratinhas devem tentar atravessar de um lado do campo para o outro, já o inseticida deve tentar topar nas baratinhas. No soar do apito as baratinhas devem atravessar. As baratinhas que forem pegas se transformarão em inseticidas. O jogo acaba quando todas as baratinhas se tornam inseticidas ou quando restar apenas uma baratinha. Aconselho a utilizar os muros como os pontos das baratinhas, lá elas estarão salvas, e não poderão ser transformadas em inseticidas.)
A reunião transcorreu normal, e Aninha não participava. Estava alheia a tudo. Mas quando Hathi contou uma parte da história de Mowgly Trégua das Águas, foi que prestou um pouco mais de atenção. Dizia Hathi:
- A Lei da Jângal – que é a mais velha lei do mundo, atende a quase todos os acidentes que possam acontecer para o Povo da Jângal. Código mais perfeito, o tempo e os costumes nunca fizeram. Mowgly vez por outra ficava impaciente com as constantes recomendações de baloo, o urso pardo, que sempre lhe dizia:
- “Esta é a lei que vigora em nossa selva e que é antiga como o céu” Como o cipó envolve a árvore, a Lei do Lobinho envolve a todos nós. E depois que tiveres vivido tanto quanto eu, irmãozinho, verás que todos os filhos da Jângal obedecem ao menos uma lei, e não vai ser um acontecimento agradável de ver. Essa lição entrou por um ouvido e saiu pelo outro, porque o menino nunca tinha passado problema sério. Hathi continuou contando e desta vez Carminha prestava muita atenção.
Carminha procurou no final da reunião a Akelá e expôs para ela sua duvida, seu tormento, mas acreditem o aconselhamento da Chefe não ajudou em nada a Carminha. Em casa falou com sua mãe e esta não se mostrou muito interessada no tema. Carminha estava decepcionada. O que fazer? Como agir? Vou para o acantonamento? Não vou e participo do Bolo de Chocolate? Carminha dormiu naquela noite e nas seguintes um sono ruim, sem sonhos, sem perspectivas.
Não havia como fugir. Ela tinha de ir ao acantonamento. Afinal sua vida também fazia parte da Alcatéia. Ela não poderia decepcionar sua matilha cinzenta. Sabia que a lembrança do Bolo de Chocolate iria se manter viva durante todo o tempo que estivesse acantonada, mas não havia outra saída. O Sábado chegou. Com uma dor no coração Carminha embarcou com a Alcatéia rumo ao acantonamento.
Chegaram e logo o Balu fez o jogo do labirinto, (trançou-se entre as arvores um sisal esticado a um metro de altura e cada lobo de olhos vendados teria que percorrer o labirinto). Logo após a montagem do campo. Um lanche e foram introduzidas no tema da atividade. A primeira etapa da disputa (história de Mowgly), a segunda (Caçada aos amuletos perdidos) e foram para o almoço. Carminha ainda tinha na mente o seu bolo de chocolate.
O acantonamento seguiu o previsível. Um tempo livre, uma preparação para a Insígnia Mundial de Conservacionismo, outros jogos, lanche, um ótimo jogo (Batalha entre lobos) e todos foram para o banho. Carminha conheceu Rodrigo, um lobinho da matilha azul, de outra alcatéia do distrito e ficaram grandes amigos. Carminha contou seu problema e Rodrigo entendeu perfeitamente. Solidarizou-se com ela em tudo.
Logo após o jantar, Carminha viu que sua alcatéia fora chamada sem a presença das outras e ela não soube o porquê. A Akelá a chamou em particular e pediu para ela ir à cozinha e pegar uma colher para ela. Carminha foi correndo. Ela era sempre assim. Disseram uma vez para ela que o escoteiro não anda, voa! E ela levava isso a sério. Mal chegou à cozinha e lá estavam sua mãe, sua tia, sua prima Beatriz e mais outras dez amigas de Carminha. Uma enorme surpresa. Sua tia disse – Carminha, vamos agora fazer o bolo de chocolate e você vai me ajudar!
A vida nos reserva tantas surpresas, coisas que a gente jamais imagina que vai acontecer. Pode ser lugares que nunca imaginaríamos ver, sentimentos que jamais pensamos em sentir, é poder comer o Bolo de Chocolate, ver sendo feito, junto a amigos do colégio e filhos dos vizinhos ali reunidos era um sonho! A vida é mesmo maravilhosa. Foi um aniversário que ficou para sempre na lembrança de Carminha. Incrível mesmo. Carminha se deliciou com o Bolo de Chocolate. Como era gostoso! E ali naquele acantonamento ele tinha um sabor todo especial.
E olhe, antes de cantarem os parabéns, lá veio toda a alcatéia e junto aos amigos cantaram como nunca. Carminha estava tão maravilhada que esqueceu que o aniversário não era dela e sim da sua prima Beatriz. Correu até ela e a abraçou dizendo. - Amo você minha prima, seja feliz como eu estou sendo agora. E as duas ficaram ali abraçadas por um bom tempo. Não muito, pois era hora de Carminha comer seu pedaço de Bolo de Chocolate. O Bolo de chocolate de seus sonhos!
Foi a primeira vez que Carminha enfrentou suas dificuldades. Aprendeu com ela. A vida a partir daí seria outra para Carminha. Como escrito no início do conto, a vida, com certeza, é muito melhor do que a que você está a viver. E é bem maior do que você imagina. Ela sabia agora que tudo tinha mudado. E para melhor. Manteve seus sonhos vivos, acreditou neles e quando foi convidada para fazer a trilha escoteira ela não se fez de rogada.
Carminha hoje caminha para os seus catorze anos. Já tem seu projeto em andamento para conseguir o Liz de Ouro. E ela vai conseguir, disto tenho certeza, e durante todos estes anos, ela não perdeu nenhum aniversário da Beatriz. O Bolo de Chocolate se manteve como uma tradição e o seu pedaço ela comia saboreando colher por colher. Carminha aprendeu que existem dois objetivos na vida, o primeiro o de obter o que desejamos e o segundo de desfrutá-lo. Dizem que somente os mais sábios realizam o segundo.
O escotismo é isto. Sonhos se tornando realidade. Amor retribuído em surpresas e amizades. A cada dia, a cada reunião, ou acampamento vamos recebendo passagens maravilhosas que ficam marcadas em nosso coração. Carminha como eu vive o escotismo intensamente. Cada um com uma visão, ela mais jovem e eu um pouco mais velho e ambos sabemos que temos orgulho em participar, viver, amar, sonhar, e acreditar que nosso movimento nos traz tudo àquilo que alguém pode pensar em ter. Não sei, mas acho que o escotismo é minha vida ou quem sabe minha vida é ser escoteiro!
E quem quiser que conte outra
Seja feliz do jeito que você é não mude sua rotina pelo o que os outros exigem de você. Simplesmente viva de acordo com o seu modo de viver.
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