Os seniores, os chefes, as autoridades, a lambança e o Tiro de Guerra.
Não sei se devia contar. Os sisudos do escotismo que me leem podem não gostar. Paciência. Só não viveu quem não tiver feito alguma lambança gostosa para contar. Eu quando lembro dou enorme gargalhadas e daria minha vida para voltar novamente ao passado, risos. Toda vez que me lembro destes fatos que aconteceram me vem à lembrança a piada já velha e conhecida: Mas escorpião disse o peixe no meio do rio, você me picou! Prometeu que não ia fazer. Disse que não sabia nadar, agora vamos morrer os dois! – Paciência meu amigo peixe. Faz parte da minha sina! Risos.
Duas lambanças, ou melhor, lembranças. Tem mais. Mas hoje só essas duas. Um dia quem sabe conto outras. E acreditem se quiser. Risos.
Primeira – Conselho Regional, 1973, cidade do interior de Minas Gerais. Mais de cento e cinquenta escotistas e diretores presentes. Sábado onze da noite. Trabalhos do dia encerrado. Voltamos ao hotel a pé, estava eu minha esposa, o Escoteiro Chefe (sempre comparecia) sua esposa, um juiz de direito, um médico, três dentistas (estes nunca faltam no escotismo) um coronel do exército, e vários escotistas da plebe (risos, uns pobres coitados como eu). Em dado momento a turma andando no passeio junto a um muro, avista lindas e soberbas goiabas.
Noite de lua cheia. Goiabas enormes. Junto ao muro, dezenas de pés carregados de gostosas e apetitosas goiabas. Na frente uma saliência próxima ao muro. Todos subiram. Encheram os bolsos de goiabas. Enormes, maduras, divez (semi-maduras, assim eram chamadas na época.). O dono vê tudo, chama a policia. Chegam o sargento e dois soldados – Desçam todos! Estão presos! Vamos descendo. Eu, o Escoteiro chefe, o juiz de direito, o médico, o coronel do Exército, os dentistas, as mulheres, a plebe e os últimos assustaram o sargento. Padre Mello? (o padre da cidade) O Senhor Também? E o Sr. Dr. Marins? (o vice-prefeito da cidade).
Todos riram. Os ladrões de goiabas foram para o hotel. Outros para suas casas. O Conselho continuou no domingo. Antes do encerramento o proprietário do lote onde estavam às goiabeiras veio pedir desculpas. – Olhem, falou, quando tudo terminar estão convidados a apanhar quantas goiabas quiserem, claro desta vez pela porta da frente!
Segunda – 1957. Patrulha Sênior, éramos seis. Um acampamento de três dias. Sexta, sábado e domingo. Levamos tudo em nossas bicicletas. De manhã observamos que um pelotão do Tiro de Guerra (unidade do exército que existia e acho que ainda existe nas pequenas cidades) estava montando barracas a uns quinhentos metros onde estávamos. (bem próximo ao Rio Doce). O Arlindo achou à tarde na beira do rio, uma enorme (grande mesmo) abobora amarela. Precisou da ajuda de outros dois para levá-la até ao acampamento.
No sábado seguinte, estávamos em reunião quando o Capitão Leopoldo do Tiro de Guerra pediu ao chefe para falar conosco. Um medo danado. Formados em linha, em posição de sentido, os seis bravos escoteiros seniores tremiam como varas verdes. O capitão fez uma pequena inspeção nos uniformes, nos olhou, pensou e falou:
E como digo no final das minhas historias,
E quem quiser que conte outra.
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