“Diário
de bordo: data estelar 1513.1. Nossa posição, órbita do planeta M-113. A bordo
da nave Enterprise, Sr. Spock, temporariamente no comando. No planeta, ruínas
de uma civilização antiga e parece que alguns escoteiros estão lá fazendo
acampamento. Nossa missão, saber quem são estes tais de escoteiros”.
O
Escoteiro Juquinha e sua fantástica viagem a bordo da USS Enterprise.
Não tem jeito. Juquinha não deixava de
sonhar. Voces já devem conhecê-lo. Alguém
o descreveu como um Escoteiro sonhador, vivendo nas nuvens e procurando viver o
impossível. Ele um dia disse que foi no Vale dos Sonhos, onde encontrou
escoteiros como ele, vivendo em um lindo local cheio de arco íris, pássaros,
muitos peixes e animais vivendo pacificamente. Depois fez uma incrível boa ação
na noite de natal. Agora conta para toda a sua Patrulha que pretende viajar na
nave USS Enterprise do filme Jornada nas Estrelas. O Monitor da Patrulha e o
Chefe por diversas vezes disse a ele que era apenas um filme, uma série com histórias
de ficção cientifica. Juquinha sempre foi gordo, não tanto, mas bem rechonchudo.
Era um amigão na Patrulha. Pau para toda obra. Infelizmente devido ao seu
corpanzil não conseguia acompanhar a patrulha. Nunca desistiu. Mesmo ficando
para trás nas jornadas ele parava, descansava e prosseguia.
Nos
acampamentos tentaram para ele varias funções na Patrulha. Aguadeiro, bombeiro,
lenheiro e até intendente. Nada. Acertaram quando fizeram dele o cozinheiro.
Excelente. Todos adoravam e até a chefia que não fazia refeições com as
patrulhas de vez em quando lá estavam para comer o que Juquinha tinha feito.
Ficou famoso quando aprendeu a fazer fornos de barro e surpreendeu a Patrulha
com um belo bolo de chocolate. Agora só vivia falando na tal viagem
interestelar. Quando chegava a sede dava o Sempre Alerta a todos e remendava –
Vida longa e próspera! Assim cumprimentava o Senhor Spock ele dizia.
Em um
acampamento achou uma bela casca de uma arvore, cortou em forma de quadro e
escreveu – “Audaciosamente indo, onde nenhum homem jamais esteve”. No fogo de
Conselho, recitou para todos em forma de história como era a nave e o nome dos
seus personagens. Capitão Kirk, Senhor Spock, Leonard Mc Koy (o médico) o
Senhor Scott o engenheiro da nave, Sulu o timoteiro, Uhura a oficial de
comunicações e o navegador russo o senhor Chekov. Contou rindo que uma vez a
nave visitou o Brasil e em cima da Baia da Guanabara se chocou com um Urubu e
teve que fazer um pouso forçado. O Dr. Mc Koy perguntou: - Que país é este? Todos
deram belas risadas.
Em casa sua
mãe estava preocupada com sua nova “trekkers mania”, pois Juquinha ficava em
seu quarto o dia inteiro lendo tudo que encontrava sobre a série criada por
Gene Roddenberry. Apesar de suas notas escolares serem sempre as primeiras ela
comentou com seu pai sobre sua nova mania. Ele uma pessoa calma e sempre amigo
de Juquinha, disse para ela não se preocupar. Era uma mania que logo ia passar
como todas as outras que ele um dia também sonhou. Todo dinheiro que ganhava
limpando carros, quintais e fazendo aqui e ali trabalhos manuais, Juquinha
procurava a loja de Souvenir e comprava uma miniatura ou alguma lembrança da série.
Refez todo seu quarto como se fosse a Ponte de Comando da nave. Juquinha estava
mesmo obcecado. Claro o escotismo fazia parte da sua vida, mas ele queria mesmo
era ficar pelo menos algumas horas passeando na Enterprise.
Juquinha
tinha os pés no chão. Ele mesmo não duvidava disto. Sabia que era um desejo
impossível, mas assim como um dia foi ao Vale dos Sonhos, porque não podia
também ir à nave? E assim o tempo foi passando. Juquinha sonhando, indo a
escola, nos escoteiros, acampando, excursionando, fazendo aquilo que gostava.
Mas sua mente estava voltada sempre para o Capitão Kirk. Não foi ele quem disse
que nunca deixe de aprender? Não era ele que tinha centenas de livros em seu
alojamento na nave e dizia que todos devem sempre buscar novos conhecimentos? Em
uma reunião de Patrulha ele disse para o Monitor Roberto – “Roberto, uma das
vantagens em ser um Monitor, um líder, é ser capaz de pedir conselhos, claro
sem necessariamente ter que segui-los”! Risos. – E quem disse isto? Perguntou
Roberto – O capitão James Kirk.
- Juquinha
não parava de falar. – Ele para mim disse coisas muito importantes para os
escoteiros. Um dia na Ponte de Comando quando uma nave amiga dos Romulanos se
aproximou da Enterprise, ele falou para toda a tripulação – “Precisamos saber explorar mais e aprender”. Incentivar
a criatividade e a inovação, ouvindo os conselhos das pessoas que tenham
opiniões diferentes. Precisamos ocasionalmente descer nas trincheiras com os
membros da nossa equipe para entender suas necessidades e conquistar sua
confiança e lealdade. Também, aprender a mudar radicalmente quando as
circunstâncias assim o exigir. Todos ficaram estupefatos com as palavras de Juquinha.
Em casa sem ninguém saber pediu a Dona Laurinda costureira que fizesse o
uniforme Dourado dos tripulantes da nave, isto porque ele se achava que devia
frequentar a Ponte de Comando e só eles usavam o dourado. E assim a vida de
Juquinha ia vivendo. Todos aprenderam agora sua nova mania, sua nova loucura e
riam muito de tudo. Até um tricorde (comunicador) que dizia servir para um
teletransporte ele comprou. Um acampamento na Fazenda Ouro Negro de um pai de
um Escoteiro de outro grupo foi o melhor que aconteceu na vida de Juquinha.
Aproveitaram as férias de julho e ficaram por lá cinco dias. Claro,
Juquinha viu ali a oportunidade de sua vida. Quem sabe ao caminhar pelo bosque,
ou pela pequena floresta de pinheiros ele se encontrasse com o Capitão Kirk? Ou
mesmo com o Senhor Spock? Enquanto isto não acontecia a Patrulha de Juquinha
fez miséria em seu campo. Duas barracas suspensas uma em cima da outra. Um belo
refeitório, com uma mesa firme e bancos reclináveis. Tudo fora bem bolado. As
tampas das fossas eram aberta automaticamente com os pés, com cipós
entrelaçados fizeram uma linda esteira que colocaram no pórtico, por sinal com
mais de três metros de altura e lá em cima uma torre de observação.
No terceiro dia pela manhã, o Assistente entregou para os monitores uma
carta prego. Para ser aberta às 14 horas em ponto daquele dia. Um alvoroço. O
que seria? Sempre fora assim com as cartas prego. Todos ansiosos esperando às
duas da tarde. Juquinha fez um almoço dos Deuses. Um arroz soltinho, uma bela
polenta com carne moída e ainda mostrou a todos os doces de leite que tinha
feito. Almoçaram, limparam o vasilhame e esperaram a hora certa de abrir a
Carta Prego.
Duas em ponto. Aberta a carta dizia – Voces tem 10 minutos para
separarem o seguinte material e partirem rumo a sudoeste, até atingir a base do
morro das Palmeiras. Devem levar – Um caldeirão, pratos, talheres, tudo para
fazerem uma sopa de macarrão. Devem chegar lá por volta de 16 horas e trinta
minutos. Montem uma cabana com capim colonião, pois lá tem muito e uma equipe
deve transmitir de vinte em vinte minutos por semáforas, tudo que está vendo do
alto da serra e o que voces estão fazendo. As 18 hs, fazer uma sopa que deve
ficar pronta impreterivelmente às 19 horas. Todos devem jantar e guardar o
material mesmo sem lavar, pois a água utilizada será dos cantis.
Uma carta prego no ponto. Das boas como se diz. E no final da carta
dizia – Às 20 horas iniciaremos a competição de Morse, com todas as patrulhas
transmitindo ao mesmo tempo. Ganha a que conseguir decifrar o maior número de
mensagens e também passar o maior numero para as demais patrulhas. Às 21 horas
e trinta minutos iniciar descida. “Às 23 horas devem estar de volta e iremos
fazer um Conselho de Tropa para analisar o grande jogo realizado”. Beleza!
Sabiam que iam tirar de letra. Lembrou-se de Juquinha. Ele não conseguiria
acompanhar na subida. Não tinha erro. Ele sabia o caminho e disse que mesmo que
ficasse para trás que eles não se preocupassem. Ele chegaria.
No horário determinado partiram. Nem bem andaram dois quilômetros e
Juquinha começou a ficar para trás. Tudo
bem, ele sabia de cor e salteado o caminho e era dia ainda com muito sol.
Juquinha parou por duas vezes. Menos de dez minutos cada uma. Quando faltava
setecentos metros para atingir o ponto determinado ele sentiu-se cansado. Melhor
parar e quem sabe um cochilo de dez minutos? Nem bem começou a cochilar levou o
maior susto. Eis que surge a sua frente nada mais nada menos que o Senhor
Spock! Impossível! Não podia ser ele. Mas o uniforme, suas orelhas pontudas e o
olhar enigmático não deixava a menor dúvida.
- Meu nome é Doutor Spock, não sei onde estou.
Quem é você?
- Cacilda! O Doutor ou senhor Spock falando
português?
- O senhor está no planeta terra, em um país
chamado Brasil.
- Spock franziu a testa, fez um gesto no seu
tricorde e falou – Capitão, aqui tem um garoto com um uniforme esquisito e diz
que estamos no planeta terra. – Pois não capitão. Iremos agora. Spock pegou no
seu braço e disse que ambos iriam ser telestransportados para a nave
Enterprise. Urra! Disse Juquinha. Em segundos chegaram à sala de teletransporte.
Foram direito para a Ponte de Comando. Juquinha estava de boca aberta. Nossa
mãe! E não é que consegui? – Entraram e ele avistou a sala de comando. Era o
máximo. Na parte central, num nível mais alto ficava a cadeira de comando e lá
estava ao capitão Kirk. Logo a sua frente em diversos comandos, Chekov e Sulu.
Hhura em um computador da ultima geração estava como sempre responsável pelas
comunicações. O Doutor Spock (ele achava que era Senhor Spock) disse – Kirk encontrei
este mocinho.
Juquinha olhava espantado
para o Capitão Kirk. – Quem é você? Ele perguntou. – Juquinha, Cozinheiro da
Patrulha Raposa. Kirk olhou para Spock que franziu a testa. – Escoteiros. Agora
me lembro disse Spock. Em 1900 um General Inglês chamado Robert Stephenson
Smyth Baden Powell na Inglaterra. Parece-me que era um movimento de jovens.
Cresceu tanto que em menos de 30 anos passaram dos trinta milhões no mundo. –
Kirk olhou para Juquinha. E vou lhe dizer mais Kirk, os maiores astronautas
americanos eram escolhidos a dedo e era exigido ser Escoteiro além de possuir
uma tal Eagle Scout. Acho que devemos a eles o inicio da era espacial.
Kirk ia falar quando Chekov
gritou alto. - Uma nave Kllngons se aproxima. – Chekov, podemos nos esconder
neste planeta? - Muito interessante senhor. — responde Sulu, ocupado em manter
a Enterprise nas proximidades da parte mais densa dos anéis sem permitir que a
nave seja capturada por uma das naves Kllngons. Acho que não senhor me preocupa
a gravidade do planeta gigante e, também, sem perturbar demais o movimento
natural dos blocos de gelo o que poderia conduzir a um desastre.
Mantenha o rumo. Diminua
para dobra quatro. Ligue o alerta para toda a tripulação. – Kirk virou para
Juquinha e disse – Bem vindo da bordo da Enterprise, mas não podemos ficar com
você aqui jovem escoteiro. Uma frota dos Kllngons se aproximando e vamos ter
que enfrentá-los. Juquinha tentou argumentar, mas Chekov o pegou pelo braço e
em minutos estavam na sala de teletransporte. – Desculpe jovem, mas aqui vai
virar um inferno daqui a pouco. Estará melhor na terra.
Nem deu tempo para Juquinha
falar nada. Em segundos lá estava ele no mesmo ponto onde tinha tirado um
cochilo. Juquinha estava boquiaberto. Afinal ele conseguiu ir na nave USS
Enterprise. E o melhor conheceu a nata da tripulação. Pouco importava se
acreditassem ou não. Levou o maior susto. No chão estava um uniforme completo
dos tripulantes da nave. Um tecido especial que só seria fabricado 4.000 anos
depois. E agora? Pegou sua mochila e cantando seguiu morro acima.
Juquinha não comentou nada
com a Patrulha. Ele era um bom sinaleiro e assumiu o posto de sinais. Os demais
ficaram cumprindo as determinações da Carta Prego. Foi maravilhoso. Fez uma
sopa que todos repetiram e não sobrou nada. Não era bom em Morse. Ficou como
estafeta. Retornaram todos juntos. Para baixo todo santo ajuda. O acampamento
foi o máximo. Juquinha queria comentar sobre sua viagem na Enterprise. Preferiu
calar. No fogo de Conselho resolveu vestir o uniforme da nave. Encantado viu
que ele se acertava sozinho em todo seu corpo. Todos admiraram e quiseram saber
onde comprou. Dona Laurinda, a costureira fez, e riu.
Quase ao terminar o Fogo do
Conselho pediu para ser o Contador de Histórias da noite. Começou contando sua
viagem na nave Enterprise. Contou como ela era. Contou sobre a ponte de
comando. Descreveu o Capitão Kirk e o Doutor Spock. Falou de todos que lá e
estavam. Explicou que mandaram ele de volta por causa de naves Kingston que
iriam enfrentar. Contou de maneira tal que todos prestaram muito atenção.
Quando terminou recebeu uma palma cubana forte e gritante. Riu de alegria e
quando já ia sentar, viu que em um bolsos da sua camisa estava um tricorde bem
pequeno. Ele deu um sinal longo e uma voz cavernosa falou – Adeus meu caro
Juquinha, um Escoteiro. Que fala é o Capitão Kirk. Continue sempre um grande
Escoteiro. Tenho certeza que um dia poderá ser um de nós em uma nave espacial. Estamos
chegando no Sistema Estelar de Bernal. Um dos onze planetas, Bernal IV da
classe M. Vamos descer e ajudar uma população nativa e humanoide assim como
voces. Os Kingston fugiram. Seja feliz Spock disse que achou você um jovem de
ouro.
O tricorde se calou. A tropa
estava calada e assustada. Ninguém falou nada. O Chefe olhava para Juquinha e
perguntou. O que é isto? Juquinha riu e disse – apenas uma gravação do capitão
Kirk. Nada mais que uma gravação. E começou a dar belas gargalhadas fazendo com
que toda a tropa o acompanhasse. E ele rindo junto com seus amigos em sua
barraca disse – “Não importa aonde vá, lá você está e é bom ter um pretexto
para apreciar a paisagem de vez em quando”!
Bem vindos a bordo da Enterprise!
E quem quiser que conte outra...
“Espaço, a fronteira final.
Estas são as viagens da nave estelar Enterprise em sua missão de cinco anos em
busca de estranhos novos mundos, novas vidas e novas civilizações.
Audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve.”
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