A coragem
se expressa no olhar daqueles que usam o terror para acalentar a própria alma,
não transferindo sofrimento algum para as pessoas.
O Lobinho Naldinho e a terrível Casa do Espanto.
Naldinho
estava na janela olhando de soslaio para que ninguém o visse da casa em frente
a sua. Já havia seis dias que ele fazia isto. Sua mãe e seu pai achavam que ele
estava dormindo. Dormia cedo. As nove já subia para o seu quarto. Mas desde o
dia que foi fechar a janela por causa de um vento súbito ele viu três formas
pessoas em forma de fumaça descer pela chaminé da casa vizinha. Naldinho tinha
nove anos. Era lobinho da matilha verde. Já tinha dois anos de lobinho. Todos
gostavam dele. Há um ano era o primo da matilha. Conseguira a Primeira Estrela
e pensava que até o fim do ano receberia a segunda estrela. Sabia que pelas
onze ou onze e meia às assombrações iriam aparecer. Todos os dias era assim.
Naldinho lembrava
quando ao chegar da escola não viu a placa na casa que fora de Dona Matilde.
Seu Geraldo morrera e ela resolveu ir embora morar com a filha. Colocou a casa
a venda. Naldinho ao beijar a mãe perguntou quem era os novos vizinhos. Sua mãe
disse que não viu ninguém. Não houve mudança. Durante muitos dias a casa ficou
fechada até que na noite fatídica Naldinho viu as aparições entrarem pela
chaminé. Logo notou que havia barulho e janelas fechavam e batiam. Luzes da cor
violeta e roxa toda hora piscavam na casa. Isto acontecia até altas madrugas.
Naldinho não sabia quando terminavam. O sono chegava e ele ia dormir. No
primeiro dia comentou com sua mãe. Ela como sempre disse que ele estava vendo
muito filme de terror. Engano. Naldinho nunca viu nenhum.
Na reunião de sábado comentou com
Princesa, a sua segunda (o nome dela era Paty) sobre o acontecido. Ela
acreditou. Sapinho o terceiro da matilha também (Norberto). Eram os três que
ficavam mais juntos, pois alem de serem da mesma matilha estavam na mesma
classe na escola. Naldinho queria levá-los a ver a descida dos fantasmas
noturnos, mas era impossível naquela hora. Nenhuma mãe deixaria eles ir lá. Uma
semana tentou ver se as mães deixavam os dois dormir lá de uma sexta para um
sábado. Deram uma desculpa de um trabalho para a matilha. Uma das mães
perguntou a Mirtes, a Akelá e ela não se lembrava de nenhum trabalho. Deu em
nada.
No sábado
após a reunião, Naldinho propôs aos dois irem até a casa e tentar entrar.
Sapinho tremeu e disse que tinha medo. Princesa apesar de ter duvida topou na
hora. Nem bem a reunião terminou saíram correndo, pois se atrasassem na chegada
em casa ia ser um Deus nos acuda! Procuram alguma janela aberta e com surpresa
viram que todas estavam abertas e as portas também. Entraram. Sala vazia. Sem
móveis. Cozinha nada. Subiram ao andar superior. Um cheiro de queimado. Um
quarto. Nada, vazio. Segundo quarto uma surpresa. Cordas, velas, uma
machadinha, um facão, potes cheios de uma coisa vermelha (seria sangue?) e
muitos gravetos num canto. Assustaram-se.
No segundo
quarto outra surpresa. Uma cama sem estrado. Um emaranhado de arame farpado
fazia às vezes de colchão. O que era aquilo? O que significava? Sapinho começou
a tremer e chorar baixinho. Pedia insistentemente para ir embora. Naldinho
resolveu descer e ao chegar embaixo um barulhão. As janelas se fecharam
automaticamente. As portas estavam trancadas. Tentaram abrir e nada. Meu Deus!
E agora? Sentaram em um cantinho debaixo da escada e ficaram ali tremendo de
medo. Viram as sombras aparecerem pela saída da chaminé. Sapinho chorava
baixinho. Princesa de olhos arregalados. Naldinho achou que era o Chefe.
Levantou-se e disse – Eu não tenho medo! Sou lobinho! O lobinho é forte! – As
sombras riram. Pegaram os três e os levaram ao andar de cima onde em um quarto
foram amarrados. Umas das sombras tomou vida. Um enorme tigre dentuço. – Você é
o Shere Khan?
Não tinha
jeito. As sombras iam fritá-los na fogueira. Pedir socorro não adiantava.
Gritar também não. Mas Naldinho não desistiu. Fechou os olhos e pediu a Deus, a
Jângal, aos seus irmãos lobos que não os deixassem morrer. Um clarão enorme
aconteceu! Quase cegou os olhos dos três lobos. Quando abriram viram um enorme Urso,
uma enorme Pantera a gritar para Shere Khan: - Você não desiste mesmo não é seu
Tigre Manco! Vamos lhe dar uma lição. Shere Khan deu enormes gargalhadas e
sumiu na fumaça. Bagheera a Pantera Negra os soltou. Baloo o urso grandalhão e
amigo os aconselhou – Nunca façam o que sabem ser errado. Voces conhecem a Lei
do Lobinho – “O Lobinho ouve sempre os velhos lobos”. E os dois também
desapareceram.
Voltaram para
suas casas. Ainda tremendo deram o “Melhor Possível” um para o outro se se
foram. Naldinho aprendeu a lição. Nunca mais tomou iniciativa sem antes
aconselhar com seus pais, sua professora, e seus chefes. Uma semana depois nova
placa anunciava a venda da Casa do Espanto. Desta vez Naldinho não quis nem
saber quem iria comprar, quem iria morar e dormia cedo. Muito cedo. As máximas
da Jângal nunca mais seria esquecida. Naldinho agora andava de olhos e ouvidos
bem abertos, nunca deixou de pensar primeiro nos outros, andar sempre limpo,
dizer sempre a verdade, e claro, dar boas risadas de tudo pois o lobinho é como
Akelá levando sua Alcatéia com alegria e sempre procurando o caminho para o
sucesso de todos!
Quando sorris transformas o mundo de terror, num mundo cheio de cor, por isso nunca deixes de sorrir para detonar todos os monstros que te invejam.
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