As aventuras do Escoteiro Juquinha e o malvado Topyath, o Gorila
Imortal.
Juquinha
está de volta. Depois de suas estripulias no Vale dos Sonhos e quando resolveu
fazer uma festa de natal para uma família pobre, ele volta agora a toda. O mesmo
Juquinha. Ainda gordinho. Ainda sonhador. Mas aquele Escoteiro que não desiste
nunca. A patrulha já não levava tão a sério seus sonhos impossíveis. Respeitar
sim. Juquinha todos sabiam tinha um coração de ouro. Sempre a dividir o que
tinha com alguém. Lino agora era o monitor da Patrulha. Romildo passou para os
seniores. Todos conheciam suas qualidades na cozinha. Diziam a boca pequena que
era o maior cozinheiro escoteiro de todos os tempos. O único que fazia belos
fornos nos acampamentos e claro, deliciosos bolos de chocolate, baunilha e
tantas gostosuras quem sabe melhor que em suas casas.
A
Patrulha estava em reunião. O Chefe da Tropa deu vinte minutos para que eles
dessem continuidade nas etapas de progressão. Muitos estavam atrasados. Um
ensinava o outro e Lino o Monitor ensinava a todos. Juquinha pediu a palavra.
Sempre fora muito educado. Nunca gritou ou foi indelicado com ninguém. –
Monitor: - Eu fiquei sabendo que lá na Colina dos Pastores tem uma gruta
enorme. Sei de fontes fidedignas que nesta gruta está enterrado um
"Velho" baú cheio de tesouros incríveis. Têm taças, colares, cruzes
de ouro, tudo o que se podem pensar, fora as pedras preciosas. Queria propor a
Patrulha ir lá acamparmos no próximo feriado. Tiramos uma tarde e vamos
explorar a gruta e quem sabe voltaremos ricos? – Todos deram boas gargalhadas.
Neneco um Escoteiro novato deu um tapinha em suas costas e disse – Só vou se
você fizer um gostoso bolo de chocolate! E todos caíram na risada.
O Chefe
Carlos ficou sabendo da conversa de Juquinha. Ele estava de olho nele. Juquinha
na última vez que sumiu em busca do tal Vale dos Sonhos, ou melhor, Vale
Encantado como ele disse deixou a tropa em polvorosa. Ficaram uma tarde e uma
noite a procurar por ele. Todos ficaram com medo que algum acidente grave
pudesse acontecer a ele. – Juquinha, estou sabendo do seu novo sonho – Não
Chefe, não é sonho. Zorrito me contou. E quem é Zorrito? – Meu amigo Chefe. Ele
me procura sempre quando estou dormindo. – Juquinha, não vou estragar sua
amizade com Zorrito, mas se você me aprontar mais uma sou obrigado a levar você
a Corte de Honra e depois vou falar com seus pais. Garanto-lhe uma suspensão
por meses. Juquinha assustou. – O que diria para Zorrito? Que não iria à Gruta
do Gorila?
Juquinha
procurou Nilo na casa dele. Explicou de novo tudo. Ele precisava de pelo menos
um para ir com ele. Isto porque alguém precisava distrair Topyath enquanto ele
pegava algumas pedras preciosas. – E quem é Topyath? Perguntou Nilo. O Gorila.
Mas dizem que é fácil enganá-lo. Está lá a mais de mil anos! – Juquinha, acho
que você está procurando ser expulso da tropa. O Chefe Carlos já me preveniu.
Ele como todos nós adoramos você. Mas um dia você vai colocar alguém em perigo
e isto nós temos de evitar. E foi embora dizendo que ele estava proibido de
continuar com aquelas tolices.
Juquinha
quando colocava alguma coisa na cabeça não desistia. Continuou frequentando as
reuniões, tomando belos tombos nos jogos pelo seu corpanzil que tinha mais
gordura que tudo. Mas ele enfrentava qualquer um. Mesmo sabendo que iria perder
ele não desistia. Ia bem na progressão. Todos achavam que ele ia conseguir
fácil o Lis de Ouro. No final da reunião o Chefe Carlos disse que no feriado
não iria ter reunião e a jornada da tropa não ia acontecer. Aconteceu um
imprevisto e ele pretendia fazer um curso Escoteiro na capital. A tropa ficou
triste, mas sabiam que era para uma boa causa. Juquinha vibrou. Agora posso
programar minha ida a Colina dos Pastores sem que ninguém desconfiasse. Não
queria ir sozinho, mas não podia confiar em ninguém da Patrulha.
Juquinha
fez algum muito feio. Mentiu para seus pais. Esqueceu que o Escoteiro tem uma
só palavra, e não contou que o acampamento do feriado fora cancelado. Procedeu
como se fosse com a tropa. A sede ficava a dois quarteirões e seus pais não
tinham o costume de levá-lo até lá. Saiu no sábado cedo. Levou a ração B para
dois dias. Pretendia voltar no domingo. Foi sozinho. Puzt! Sozinho mesmo. Nunca
tinha feito isto. Ele tinha muito medo do escuro. Pensou muito em não ir. Sabia
que ia dar galho na volta. Mas a sede de aventura foi maior e o Zorrito vivia
azucrinando seu ouvido para ir. Ele nunca conversou com Zorrito. Ele apareceu
assim em um sonho como a empurrá-lo para uma aventura tremendamente perigosa.
Ele sabia que Zorrito era produto de sua mente, mas então como podiam
conversar?
Pegou a Rua
que levava ao Curtume do Zezuel para evitar passar no centro da cidade. Foi
beirando o Ribeirão da Chapada até a estrada do Capitão. Ele sabia que tinha de
andar mais uns oito quilômetros até a subida da Colina dos Pastores. Às duas
horas da tarde ele começou a subida. Era gordo. Mole para andar. Subia duzentos
metros e parava. Às seis da tarde resolveu parar. Não sabia onde estava. Levou
só uma lona. Custou a achar uns gravetos e acendeu um fogo. Fez uma sopinha só
para ele. Rápido. Era mestre nisto. Começou a ouvir os ruídos da noite. Seus
olhos ficaram arregalados. Um medo terrível. Claro que ele dizia para todos os
escoteiros que não tinha medo. Em seus sonhos ele enfrentava com coragem.
Mentira. Agora o medo estava à flor da pele. Para onde olhava via uma figura.
Achou que estava cercado de demônios de todos os tipos.
Abriu o saco de dormir. Enfiou dentro
dele e se enrolou todo. Precisava dormir. Tinha de dormir. Sentiu que alguém
puxava seus pés. Começou a gritar, alto, gemia, pedia pelo amor de Deus! Chamou
sua mãe, seu Chefe. Não parava de gritar. Abriu os olhos e viu que era Zorrito.
Maldito pensou. Porque não apareceu antes? Vamos Juquinha. Agora é a hora.
Vamos aproveitar que o Topyath está dormindo. Juquinha tomou coragem e foi com
Zorrito. Quem de longe observasse veria Juquinha conversando sozinho. Logo ele
avistou a entrada da gruta. Pequena. Mal cabia ele passar deitado na entrada.
Quando saiu do outro lado era enorme. Enorme mesmo. Um grande lago no meio.
Caia uma pequena cascata do lado norte. Juquinha sorriu. Lindo este lugar.
Poderia dormir aqui todas as noites pensou.
Tudo
acabou para Juquinha. Viu do outro lado do lago Topyath. Era um Gorila enorme.
Grande. Imenso! Estava em pé. Olhos vermelhos, cor azulada que lhe dava um
aspecto tétrico. O Gorila não se mexia. Estava imóvel olhando para ele. Parecia
uma estátua. Zorrito apareceu ao seu lado e disse que aquele era o Topyath.
Contou-me que ele tinha mais de 1.000 anos. Topyath parecia ter um magnetismo
em seu olhar. Juquinha começou a ficar tonto. Sem perceber caminhou na direção
do gorila na trilha do lado do lago. Ficou de frente para ele. Juquinha
desmaiou. Acordou sonolento em outra gruta. Quem sabe o prolongamento da
primeira. Estava em um cercado de pedras. Seria fácil pular e fugir, mas ele
Viu Topyath a menos de setenta metros. Viu também vários outros gorilas.
Menores. Mas brincavam em volta dele.
Juquinha
não sabe quantos dias ficou ali. Sempre vigiado. Zorrito tinha desaparecido.
Maldito pensou Juquinha. Trouxe-me para esta enrascada e desaparece. Juquinha
não sabia o que fazer. Um dia viu que um barulho parecendo um terremoto começou
a acontecer na gruta. Viu que não havia gorilas brincando. Viu que Topyath
sumira. Era sua hora. Pulou as pedras do seu cercado e procurou uma saída.
Encontrou uma. Nem bem andou cem metros e parou embasbacado. A sua frente
tesouros imensos. Um pequeno salão que brilhava com o ouro, diamantes, esmeraldas,
turmalinas. Tinha de tudo. Juquinha não se fez de rogado. Pegou uma enorme taça
de ouro e colocou na mochila. Pegou uma turmalina e uma esmeralda. Sentiu um
enorme safanão em suas costas. Meu Deus! Era Topyath!
Saiu
correndo. Nem olhou para trás. Caiu em um riacho enorme com grandes
corredeiras. Ele sabia nadar. Boiou. O riacho o levou por vários quilômetros
dentro daquela montanha. Uma enorme cachoeira a sua frente. Não tinha como
evitar, caiu, caiu e acordou com o Lino seu Monitor gritando. Acorde Juquinha
acorde. Pare de berrar! Atrás de Lino estava sua Patrulha e o Chefe Carlos.
Olhavam para ele furiosos. – Os pais de Juquinha deram falta dele na segunda.
Ele não apareceu. Era dia de aula. Correram a casa do Chefe Carlos. Ele sabia
onde tinha ido parar o Juquinha. Chamou a Patrulha. Foram de carro até a
subida. Não foi difícil encontra-lo dormindo. Sabiam que ele não aguentava
andar muitos quilômetros. Juquinha olhou para o relógio. Meio dia. Dormira dois
dias e meio. Não falou nada. Maldito Zorrito.
Chegou em casa e ouviu o que não queria. Ele merecia. Chefe Carlos só
disse que sábado ele esperasse as providencias que seriam tomadas. Jogou o
bornal em um canto do quarto. Chorou por uma semana. Amava o escotismo. Se o
expulsassem ele preferia morrer. Se apenas dessem uma suspensão tudo bem.
Juquinha era religioso. Rezou muito. Foi na missa das seis da tarde na terça,
na quarta, na quinta e na sexta. O Chefe na quinta conversou com seus pais. Não
contaram para ele o teor da conversa. Pela manhã de sábado foi fazer a limpeza
na mochila e no bornal. Encontrou uma taça de ouro, uma enorme turmalina enorme
e outra grande maior ainda, mas era uma esmeralda.
Juquinha foi suspenso por sessenta dias. Guardou nestes dois meses o seu
segredo. Zorrito nunca mais apareceu. Um ano depois conversou com seu pai.
Contou a história. Mostrou o tesouro que trouxe. Sei pai vendeu tudo. Ficaram
ricos. Deram uma boa parte ao grupo que terminou a bela sede que construíram.
Chefe Carlos ficou pensativo. Resolveu voltar lá com Juquinha. Foi com sua
Patrulha e mais três chefes. Vasculharam tudo e não encontraram a tal gruta.
Revisaram palmo por palmo. Nada. Não sabiam o que pensar. Voltaram à tardinha.
Como sempre ele era o último da fila. Parou para descansar. Olhou para uma
pedra enorme no alto das colinas. Lá estava. Zorrito e Topyath acenando para
ele e abaixo deles a entrada da gruta! Sorriu. Assustou-se com o Chefe Carlos o
chamando. Estava dormindo de novo!
À riqueza trás a felicidade?
Prefiro viver na pobreza com
felicidade e amor, do que viver na riqueza cheios de interesses, invejas, e sem
amor e felicidade.
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