Há quem diga que
todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância.
O que interessa mesmo não é à noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância.
O que interessa mesmo não é à noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.
Muito além do por do
sol.
Uma linda história de
amor.
Charles tinha
sonhos, sonhava em brincar em sorrir e cantar. Não gostava da escola. Mas sua
mãe insistia. Ela dizia que iria partir um dia e ele ficaria só. Ele não
deveria ser dependente de ninguém. Não entendeu bem, mas passou a prestar mais
atenção às professoras. Charles ficava na porta de seu barraco esperando sua
mãe chegar. Ela saia cedo, fazia o café deixava no forno seu almoço e quando
chegava fazia o jantar. Ele chegava cedo da escola almoçava e ficava na porta
do barraco sonhando acordado. Sonhava em ter um vídeo game para brincar. Uma
televisão para ver, pois a sua queimou e não tinham dinheiro para consertar.
Isto ele até achava bom, pois depois da janta, sua mãe já de banho tomado eles
sentavam nas velhas poltronas da saleta e ela tricotando contava para ele belas
histórias. Ele amava as histórias de sua mãe.
Foi por elas que
ficou sabendo do seu pai. Uma noite chuvosa ela contou com lágrimas nos olhos o
seu passado. Ele não entendeu bem, mas ela o abraçou no final da história e o
beijou varias vezes no rosto. Tentava no outro dia lembrar-se do que ela
contou. – Eles moravam em uma fazenda, em uma cabana de sapê, seu pai fazia
empreitadas para o dono da fazenda. Consertava cercas, capinava, limpava os
currais e quando podia dava uma mão na vaquejada que se realizava anualmente.
Um dia ele fazia uma cerca ao lado do Rio Verde e uma enorme tempestade se
formou. Um raio caiu sobre ele que morreu na hora. O Senhor da fazenda um mês
depois foi até lá dizendo que precisava da casa. Casa? Uma cabana simples de
pau a pique – Eu preciso de alguém para ajudar na lide da fazenda - disse. Seu
marido se foi já tenho outro arrumado e preciso que a senhora desocupe.
Fazer o que? Ela partiu para a cidade grande.
Dormiram ao relento por vários meses. Ele tinha três anos. Ela lutou para
conseguir seu barraco na favela do Engenho. Não conseguiu uma creche para ele e
muitas vezes o levava a tiracolo escondido. Era faxineira. Trabalhava em cinco
residências por semana. Sua mãe contava estas histórias e outras que ele ria
sem parar. Nunca esqueceu a do Neguinho do Pastoreio. Um dia na escola Norberto
um menino rico apareceu de uniforme. – Que é isto perguntou. – Sou Escoteiro
não sabia? Charles gostou do uniforme. Perguntou a sua mãe se ele podia entrar.
Ela riu e disse que não era para eles, lá só tinham ricos e brancos. Charles e
sua mãe eram negros. Charles nunca se preocupou com sua cor. Nunca na sua
ingenuidade de menino de onze anos sentiu que não tinha seu lugar na sociedade.
Charles foi aceito
no dia da visita ao Grupo Escoteiro. Os chefes foram simpáticos e ele gostou da
sua Patrulha Lobo. Em pouco tempo se enturmou. Agora tinha duas alegrias o
Escoteiro e as histórias de sua mãe que ela nunca se esquecia de contar para
ele. A televisão ainda estava quebrada. Consertar como? Um dia na patrulha
ficou sabendo que ele era “adotado”. Não entendeu. Sua mãe tentou explicar que
o Grupo Escoteiro pagava suas despesas. – Mãe, mas porque não pagaram para o
acampamento nacional? Eu não fui, pois não pude pagar a taxa, a senhora mesmo
disse que seria impossível. Ela sorriu e disse para ele não se preocupar. Um
dia ele mesmo iria sem depender de ninguém. Bem Charles não se preocupou com
isto. Sabia que mesmo sendo negro era bem amado por todos na sua tropa. Ia
acampar excursionar, brincava, cantava e fazia coisas impossíveis com bambus e
alguns metros de sisal.
Charles cresceu.
Passou para os seniores. Já não era tão dependente. Passou a estudar a noite e
trabalhava durante o dia na loja do seu Odorico. Ele quase não o aceitou, mas
depois de muita insistência em trabalhar outros dias ele foi aceito. Ele não
queria ser impedido de aos sábados participar do seu querido Grupo Escoteiro. Ganhava
metade de um salario mínimo, mas ajudava muito sua mãe. Ele amava os seniores,
e ali se sentia realizado. Martinho o Chefe abriu a tropa para as meninas.
Vieram três agora a tropa tinha duas patrulhas completas com seis cada uma. Não
se enturmou com nenhuma delas. Ele arredio em sem assuntos pouco ria ou falava
com uma a não ser o sempre alerta rotineiro. Um sábado Nathalya foi apresentada
a tropa. Cabelos vermelhos cortados no ombro, um rosto lindo um corpo sonhador.
Ela no final da reunião conversou com Charles. Ele vermelho não sabia onde
colocar as mãos, os pés nada. Conversaram banalidades.
David o
Monitor sempre ficava ao lado dela. Charles olhava o par e olhava para o chão.
Sabia que nunca ela poderia ser sua namorada. Em uma excursão no Vale Florido
eles deram uma parada próxima a uma linda cachoeira. Sentaram nas pedras e
extasiados admiravam a maravilhosa obra da natureza e de Deus. Ela o convidou
para sentarem em uma sombra onde uma linda Copaíba se destacava. Sentaram ali e
ela alegre e gentil contou muitas coisas sobre a sua vida. Charles ficou sem
jeito de falar sobre ele. Era negro ela branca ruiva de cabelos vermelhos. Ela
insistiu e ele se abriu com ela. Ela nada disse. Ele sabia que agora a tinha
perdido para sempre. Sua vida pobre e sem futuro não iria interessar a ela. O
apito do Chefe tocou três vezes. Reunir. A hora maravilhosa daqueles momentos
mágicos havia acabado. Eles levantaram e para surpresa de Charles Nathalya o
abraçou e o beijou. Ele não sabia o que fazer. Não foi um beijo dos que seus
amigos se gabavam. Foi um beijo lindo, um roçar de lábios poder olhar nos
olhos, sentir o perfume que ela exalava e sem querer acariciou seu rosto, seus
cabelos e de novo o apito do Chefe.
Foi um êxtase de
momento. Uma quimera de segundos, mas que Charles nunca mais esqueceu. Na
semana seguinte Nathalya não veio. Na outra também não. Charles torcia as mãos,
olhava para o portão e quando a reunião terminou tentou achar a casa dela.
Ninguém sabia o Chefe disse que ela não voltaria mais. Era escoteira em outra
cidade e veio passar uns dias com sua tia. Não lembrava onde era a cidade e nem
conhecia sua tia. Ela tinha pedido para participar das reuniões enquanto
estivesse aqui. Charles tomou um choque. Uma dor incrível cravou em seu
coração. Sua mãe o abraçou e ambos ficaram assim por um bom tempo com os olhos
molhados de um choro que não saia. Charles nunca encontrou outra moça para
namorar. Não se interessava. Nunca iria tirar o momento mágico do afago e do
beijo entre ele e Nathalya.
O tempo passou.
Charles cresceu. Formou-se como Técnico Mecânico. Sua mãe velhinha não trabalha
mais. Charles comprou uma linda casinha para ela. Mobilou e perguntou se queria
uma televisão. Ela disse: Minhas histórias ou a televisão? Ele sabia o que iria
escolher. Charles continuou Escoteiro, mas preferiu ficar colaborando sem ser
um chefe. Durante toda sua vida uma vez por mês Charles devagar sem correr vestia
seu uniforme, embarcava em um ônibus e descia próximo ao Vale Florido. Sentava
na sombra da Copaíba e sua mente ia ao passado distante que nunca esqueceu.
Lembrava tudo que Nathalya naquele dia mágico lhe contou. Sorria quando se
lembrava. Depois de horas ficava de pé, fechava os olhos e via Nathalia a sua
frente o beijando. Meu Deus! Incrível esta visão virtual. Visão de um grande
amor que nunca morreu. Estava vivo na sua mente para sempre.
Hoje aos setenta
anos Charles ainda pega o mesmo ônibus e lá está ele com seus passos trôpegos a
procurar seu Vale Florido. No mesmo local na mesma árvore, naquela Copaíba que
assistiu o desenrolar de um grande amor ele agora com dificuldade sentava
naquela sombra e sonhava. Disse para si mesmo que ninguém mais iria beijá-lo,
ninguém faria esquecer o beijo que um dia elevou seu espírito aos céus. Um dia
Charles se foi. A Copaíba sentiu sua falta. O perfume que ela deixou em sua
sombra nunca mais se esvaiu. Nas suas exéquias Charles sentiu uma luz azul
brilhante a lhe convidar para pegar sua mochila, seu chapéu de abas largas, sua
bandeira e subir para a cidade dos sonhos para uma grande excursão. Todos os
Escoteiros estavam lá, seus amigos de outrora que ainda estavam vivos e ela,
ela mesmo, Nathalya com seus cabelos brancos foi prantear um amor do passado
que nunca esqueceu!
Nunca diga te amo
se não te interessa.
Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.
Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém se não quiser vê-lo se derramar em lágrimas por causa de ti.
A coisa mais cruel que alguém pode fazer é permitir que alguém se apaixone por você quando você não pretende fazer o mesmo.
Nunca fale sobre sentimentos se estes não existem.
Nunca toque numa vida se não pretende romper um coração.
Nunca olhe nos olhos de alguém se não quiser vê-lo se derramar em lágrimas por causa de ti.
A coisa mais cruel que alguém pode fazer é permitir que alguém se apaixone por você quando você não pretende fazer o mesmo.
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