As pessoas tomam caminhos diferentes em busca da felicidade e da
satisfação. O fato de que o caminho de alguém não coincida com o seu não quer
dizer que vocês se perderam. (H. Jackson Browne)
O ultimo Grande Uivo – É
difícil dizer adeus...
Em nossa vida
estamos sempre dizendo adeus. Não é um adeus para sempre. Mas para crescer
temos que deixar para trás aqueles que amamos e nunca deixaremos de amar. Todos
nós um dia deixaremos o nosso lar, sem perceber dizemos adeus aos nossos pais,
nossos irmãos, mas continuamos junto a todos eles sempre na mente e no coração.
Um dia vamos partir para mais longe, mas o longe é tão perto que nos manteremos
unidos em qualquer tempo. Muitas vezes sentimos saudades do passado, buscamos
lá no fundo da memória cada ato, cada ação e isto nos trás um bem tremendo.
Dizem que recordar é viver. Acredito sim. Lembrando Drummond ele dizia que
fácil é dizer “oi” ou “como vai?” Difícil é dizer “adeus”... Fácil é abraçar, apertar
a mão. Difícil é sentir a energia que é transmitida... Fácil é querer ser
amado. Difícil é amar completamente só...
Realmente é
difícil dizer adeus. Uma palavra que não gostamos de usar. No escotismo estamos
sempre dizendo adeus. Um adeus diferente, pois estamos a poucos passos daqueles
que despedimos. Mas aquela saudade gritante ainda machuca quando partimos para
a Cidade dos Homens. Se um dia fomos lobos o nosso amor a nossa Alcateia, a nossa
Akelá, nosso Balu, Kaa, Baguera ou Raksha ficará para sempre em nosso coração.
Se ali vivemos uma vida cheia de amor, nada poderemos fazer para que um dia
cada um de nós fique para trás. Vai chegar a hora de dizermos adeus. Faz parte
do nosso crescimento? Sim faz parte. Iremos deixar para trás um pedaço de nós.
Não foi assim que disseram? O homem ao homem! É o desafio da Jângal! Já parte
aquele que foi nosso irmão. Ouvi, então, julgai, ó vós, gente da Jângal,
respondei: - Quem irá detê-lo então?
Tantos anos, um
tempo simples cheio de amigos e sem querer sabemos que o homem vai ao homem,
mesmo que saibamos que na Jângal está a nossa trilha, ninguém mais vai poder
nos seguir. Nem mesmo Shere Khan. Permanece aquela dúvida cruel de menino lobo,
a lembrar de que Mowgly queria ter morrido nas garras dos Dholes, quando sua força
esvaiu-se e ele sabia que não foi veneno. Dia e noite ouvia um passo duplo no seu caminho. Quando voltava à cabeça
sentia que alguém se esconde atrás. Procurava por toda parte atrás dos troncos,
atrás das pedras, e não encontrava ninguém. Chamou e não tinha resposta, mas sentia
que alguém o ouvia e se guarda de responder. Ele se lembra de tudo. Sabia que tinha de partir. Se Baloo,
Akelá disse que ele iria um dia partir para a Alcateia dos homens não tinha
como fugir. Não era a lei? Não foi Kaa quem disse que homem vai para os homens?
Mesmo que a Jângal não mais o expulse? É não adiantava mesmo que os irmãos Gris
uivem furiosamente dizendo – Enquanto vivermos ninguém, ninguém mesmo ousará!
Ele sente que
já está com saudades. Estão todos prontos para o Ultimo Grande Uivo. Quantas
vezes ele os fez? Quantas vezes ele gritou melhor, melhor, melhor e melhor?
Quantas vezes a Akelá no centro do círculo de braços abertos olhou para ele e
ele sabia o que responder? Tudo agora vai acabar para sempre? Mas ele se
lembrava das palavras de Bagheera dizendo que ele deveria seguir novos caminhos
– Senhor da Jângal, lembra-se que Bagheera te ama, vai em paz. O Grande Uivo
terminou. Era a hora da passagem. Passagem? Ele iria partir? Dizer adeus? Olhou
além da floresta e viu os homens meninos o esperando. Ele já os conhecia. Ficou
varias luas com eles. Foi bem tratado, aprendeu a dizer o Grito da Patrulha,
aprendeu o novo lema à saudação. Aprendeu muitas coisas...
Ele não sabia se
chorava ou se dizia adeus quando se despediu de cada um. Mão por mão. Aquela do
coração firme como a dizer: - Estarei sempre aqui e vocês estarão sempre aqui
no meu coração. Olhou para Kaa e lembrou que ela chorava e que era difícil
arrancar a pele, mesmo que Baloo também chorasse e pedia que antes de partir ele
o chamasse. Venha até a mim sábia rãnzinha e ele quase rompeu em soluços
naquela despedida dolorida. Não se esqueça de mim. Ele lembrava quando estava
partindo e Kaa repetia – “Somos todos, eu e você irmãos de sangue”. Seus olhos
estavam molhados de lágrimas. Tinha de partir, sabia que está era sua sina seu
destino. Ainda deu para ouvir os soluços e os gritos do Lobo Gris que de olhos
erguidos para o céu dizia – Onde me aninharei doravante? Pois agora os caminhos
são novos...
Era seu último Grande
Uivo. Mais uma vez olhou lobo por lobo. Nunca mais iria esquecer aquele dia.
Hora de partir. Sempre é uma hora difícil de dizer adeus. Mais uma vez ele se lembrou
das palavras do seu irmão o lobo Gris – “Filhote de homem, senhor da Jângal,
filho de Raksha, meu irmão de caverna, O teu caminho é o meu caminho. A tua
caça é a minha caça e a tua luta de morte é a minha luta de morte”. E ele
completou gritando para a Alcateia quando partiu - “Boa caçada grande povo da
Jângal”! Não tinha mais nada a dizer. Mais uma vez deu seu ultimo adeus e
ouvindo a canção do lobinho ele partiu para seu novo mundo. Akelá o levou até a
trilha que o levaria a cidade dos homens. Segurou sua mão esquerda e disse –
Você sempre será bem vindo ao nosso meio. Quem foi um lobo sempre será um lobo.
Vá com Deus e que na cidade dos homens você seja feliz como foi aqui!
O Monitor e o Chefe o
esperavam na trilha da cidade dos homens. Com sorriso saudoso e venturoso ele
apertou a mão do Chefe e do seu Monitor. Agora teria uma patrulha, agora ele
teria de agir como homem. Sabia que todos iriam ajudá-lo na nova vida. Pois ali
disseram eles que seriam um por todos e todos por um. Olhou para trás, acenou
para a Akelá e os lobinhos. Seu coração bateu forte. Que vontade de voltar de
dizer que não queria ir. Mas agora não era um homem? Suas passadas deviam ser
para frente e voltar seria um retrocesso. Pensou consigo como era difícil dizer
adeus. Difícil mesmo, mas agora era um homem. Disseram para ele que o homem
mais sábio e mais digno de confiança é o que aceita as coisas como são. Ele
agora tinha uma nova vida. Sabia que não seria fácil, pois nada neste mundo é
fácil. Mowgly não era mais o mesmo quando partiu. Seu coração doído iria se
regenerar. Foi saudado por todos na Tropa Escoteira, na cidade dos homens. Fez
questão de apertar a mão de todos. Havia aprendido que o Escoteiro é amigo de
todos e irmãos dos demais escoteiros.
“O abutre Chill conduz a noite incerta, e que o morcego Mang ora liberta
- É esta a hora em que adormece o gado, Pelo aprisco fechado. É esta a hora do
orgulho e da força unha ferina aguda garra. Ouve-se o grito: Boa caça aquele Que
a Lei da Jângal se agarra”.
Quem pergunta
permanece ignorante durante somente cinco minutos, mas quem não pergunta será
um ignorante para sempre. (provérbio chinês)
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